Habitualmente na liturgia da Palavra dá-se muito relevo ao texto do evangelho, mas é sempre oportuno passar os olhos e o pensamento pelas três leituras. Isaías, na primeira leitura, lança-nos um apelo e dá-nos um conselho muito importante: “Tende coragem, não temais”. Como é necessário ouvir hoje estas palavras reconfortantes e encorajadoras! Diante do quadro social e religioso que estamos a viver, a tentação do desânimo e da tristeza pode surgir. Por isso o profeta Isaías insiste: “Tende coragem, não temais. Aí está o vosso Deus; vem para fazer justiça e dar a recompensa; Ele próprio vem salvar-nos”. Na segunda leitura, o conselho da carta de S. Tiago também é muito importante: “a fé em Nosso Senhor Jesus Cristo não deve admitir acepção de pessoas. Não estareis a estabelecer distinções entre vós e a tornar-vos juízes com maus critérios?”. Isto é fundamental numa comunidade cristã. Promover a igualdade é oferecer os meios materiais e espirituais para que todos possam viver a vida dignamente. Nunca deixemos de trabalhar na construção de uma comunidade sem acepção de pessoas. No evangelho, que é um texto exclusivo de S. Marcos, encontramos a narração de um momento da vida de Jesus: Ele sai do território judeu, dirige-se para terras pagãs, onde cura um surdo com dificuldade em falar, símbolo da humanidade fechada à voz de Deus. Também cada um de nós deve sair do seu “território confortável” e ir às periferias territoriais e existenciais das pessoas, procurando aqueles que desejam encontrar Deus e escutar a sua voz.
A sorte daquele surdo com dificuldade em falar foi encontrar pessoas que o levaram a Jesus que O curou e O enviou para o meio do seu povo. Hoje existem muitas pessoas que precisam de alguém que lhe ofereça meios para recuperar a fé. Uma comunidade evangelizadora deve assumir esta missão. Todos somos enviados a evangelizar, porque todos somos chamados a percorrer o caminho do Senhor que, como o salmo nos diz, “dá pão aos que têm fome” e “entrava o caminho aos pecadores”.
Por outro lado, a cura do surdo com dificuldade em falar é um alerta para escutarmos os outros. Ser cristão é ser portador de uma palavra de esperança e não cair no pessimismo que inunda a sociedade de hoje. É importante falar, mas também escutar, o que nem sempre fazemos. Falamos muitas vezes com Deus, mas não o escutamos suficientemente; falamos com os outros, mas nem sempre os escutamos. Temos de aprender a lição: o Senhor “faz ouvir os surdos e falar os mudos”. Habitualmente, Deus fala pela boca dos outros. Então peçamos ao Senhor: pela Tua Palavra e pelo clamor dos nossos irmãos necessitados, fala, Senhor, que o teu servo escuta.
05-09-2021LEITURA ESPIRITUAL
Como podemos discernir a voz de Deus entre as mil vozes que ouvimos todos os dias neste nosso mundo. Diria: Deus fala connosco de modos muito diferentes. Fala através de outras pessoas, através de amigos, dos pais, do pároco, dos sacerdotes. Aqui, os sacerdotes aos quais estais confiados, que vos guiam. Fala por meio dos acontecimentos da nossa vida, nos quais podemos discernir um gesto de Deus; fala também através da natureza, da criação, e fala, naturalmente e sobretudo, na Sua Palavra, na Sagrada Escritura, lida na comunhão da Igreja e pessoalmente em diálogo com Deus.
É importante ler a Sagrada Escritura, por um lado de modo muito pessoal, e realmente, como diz São Paulo, não como palavra de um homem ou como um documento do passado, como lemos Homero, Virgílio, mas como uma Palavra de Deus que é sempre actual e fala comigo. Aprender a ouvir um texto, historicamente do passado, a Palavra viva de Deus, ou seja, entrar em oração, e assim fazer da leitura da Sagrada Escritura um diálogo com Deus.
Santo Agostinho nas suas homilias diz com frequência: Bati várias vezes à porta desta Palavra, até que pude compreender o que o próprio Deus me dizia; por um lado, esta leitura muito pessoal, este diálogo pessoal com Deus, no qual procuro o que o Senhor me diz, e juntamente com esta leitura pessoal é muito importante a leitura comunitária, porque o sujeito vivo da Sagrada Escritura é o Povo de Deus, é a Igreja. (Bento XVI, Discurso aos seminaristas, 17-02-2007).
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Ano B - Tempo Comum - 23º Domingo - Boletim Dominical II (1)