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Avisos e Liturgia do 24º domingo do Tempo Comum- Ano A

 

Pedro é um discípulo curioso que procura aprofundar a mensagem de Jesus. Através das suas incompreensões, das suas perguntas e da sua ousadia, o Mestre explica com mais clareza os mistérios do Reino. Neste Domingo, encontramos este discípulo inquieto pelas vezes que tem de perdoar. Talvez tivesse alguém que o ofendesse continuamente e que tivesse de perdoar para além do número que pede a lei judaica. Coloca esta questão a Jesus e, como sempre, este ultrapassa com a sua resposta as expectativas de Pedro.

O rei da parábola evangélica sentiu compaixão daquele servo que lhe devia uma fortuna, deu-lhe a liberdade e perdoou-lhe a dívida. O perdão é uma das manifestações mais radicais e puras do amor e de Deus, que é amor. O refrão do salmo responsorial introduz-nos na essência de Deus, “que é clemente e compassivo, paciente e cheio de bondade”. Quando alguém faz a experiência do pecado, Deus deseja a sua conversão e propõe-lhe caminhos para reorientar novamente a vida. O salmo 81 mostra-nos o desgosto de Deus perante o pecado do seu povo: “Mas o meu povo não quis ouvir-me; Israel não quis obedecer”; e, ao mesmo tempo, expressa o desejo do seu regresso: “Se o meu povo me tivesse escutado! Se Israel tivesse seguido os meus caminhos!”. Santa Teresa de Jesus diz-nos como antes da sua conversão Deus a avisava na oração e através de algumas pessoas para que deixasse o pecado e voltasse para Ele (cf. Livro da Vida, 7,8-9). Podemos, então, entender que quando um pecador se converte, a inquietação do coração do Pai transforma-se em alegria.

O perdão de Deus é-nos oferecido de uma forma total e gratuita. Perdoa a dívida ao servo e dá-lhe liberdade sem nenhuma condição. Este modo de perdoar de Deus está no centro da mensagem de Jesus. Oferece sempre aos pecadores a graça libertadora da sua misericórdia sem qualquer cláusula. Assim aconteceu com Levi, com a mulher pecadora, com Zaqueu…e com o servo do evangelho deste domingo. Quando bebemos no manancial da misericórdia de Deus, a nossa vida fica curada. Quando se é perdoado por Deus, descobre-se com humildade a nossa debilidade de espírito e vive-se agradecido Àquele que nos dá a fortaleza. Santa Teresa de Jesus narra em muitas ocasiões o excesso de amor de Deus que viveu na sua vida ao acolher o Seu perdão: “Olhem o que Ele fez comigo; cansei-me mais depressa de O ofender que sua Majestade de perdoar-me. Nunca se cansa de dar nem se podem esgotar as suas misericórdias” (Livro da Vida 19,15).

13-09-2020

Quem já experimentou o perdão de Deus, sente vontade em viver perdoando em todas as ocasiões em que é ofendido. Por isso, Jesus diz a Pedro que tem de perdoar “setenta vezes sete”, ou seja, sempre. O perdão é uma atitude que define a vida do cristão. Não há ofensa tão grande que não possa ser perdoada com a ajuda daquele que perdoou na hora da morte aos que o tinham condenado injustamente. Jesus alerta-nos para uma irregularidade que pode acontecer na nossa vida. O servo da parábola, depois de ter sido perdoado pelo rei, não foi capaz de perdoar a um dos seus companheiros que lhe devia somente cem denários. E nós? Depois de fazermos a experiência do perdão do Pai, somos capazes de perdoar aos que nos ofendem? Talvez celebremos com frequência o perdão do Pai, mas sem o valorizar. Será que também pensamos que merecemos o perdão, tendo em conta as nossas boas obras? “O senhor, indignado, entregou-o aos verdugos, até que pagasse tudo o que lhe devia”. Jesus avisa-nos que o perdão que Deus nos dá reclama forçosamente o nosso perdão ao irmão: “Assim procederá convosco meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar a seu irmão de todo o coração”.

 

Deus à procura do homem perdido

 

Como a fraqueza dos homens não é capaz de manter um rumo firme neste mundo escorregadio, o bom médico mostra-nos o remédio para os nossos desvios, e o juiz misericordioso não nos recusa a esperança do perdão. Compreende-se assim que São Lucas tenha apresentado em sequência as três parábolas da ovelha perdida, da dracma perdida e do filho que estava morto e regressou à vida; fê-lo para que este triplo remédio nos comprometa a cuidarmos das nossas feridas.

Alegremo-nos, pois, pelo facto de a ovelha que se tinha perdido em Adão ser reerguida em Cristo. Os ombros de Cristo são os braços da cruz; foi lá que depus os meus pecados, nesse madeiro encontrei repouso. Aquela ovelha é única na sua natureza, mas não nas suas pessoas, porque todos nós formamos um só corpo, mas somos muitos membros. Por isso está escrito: «Vós sois o corpo de Cristo e membros dos seus membros» (1Cor 2,27). Pois «o Filho do homem veio salvar o que estava perdido» (Lc 19,10), quer dizer, todos os homens, uma vez que «todos morrem em Adão, tal como todos voltam à vida em Cristo» (1Cor 15,22).

Também não é indiferente que a mulher se alegre por ter encontrado a moeda: é que nessa moeda figura a imagem de um príncipe. De igual modo, a imagem do Rei é o bem da Igreja. Nós somos ovelhas; peçamos, pois, ao Senhor que nos conduza à água do descanso (Sl 22,2). Nós somos ovelhas; peçamos para ser conduzidas às pastagens. Nós somos a moeda; mantenhamos o nosso valor. Nós somos filhos; corramos para o Pai. (Santo Ambrósio, c. 340-397, bispo de Milão, doutor da Igreja, Sobre o evangelho de S. Lucas, 7, 207)

 

http://www.liturgia.diocesedeviseu.pt/

Ano A - Tempo Comum - 24º Domingo - Boletim Dominical II

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