- a) O embolismo do “Communicantes” da Oração Eucarística I e também das outras três que se encontram no Missal Romano (e também o Prefácio Pascal I), mostra-nos a diferença que existe entre a Noite Pascal e as celebrações do dia de Páscoa: na primeira diz-se “ao celebrarmos a noite santíssima” e no segundo diz-se “ao celebrarmos o dia santíssimo”. O termo “dia” manter-se-á durante toda a Oitava da Páscoa para, depois, dar lugar ao termo “tempo”. Este pormenor tão pequeno ajuda-nos a situar a liturgia do domingo de Páscoa: não é a primeira celebração pascal, porque a Vigília foi o grande momento de explosão de alegria e de festa; é o “primeiro dia” de um dia/semana: a liturgia da primeira semana de Páscoa está no mesmo patamar de importância que a liturgia do dia de Páscoa; é o inicio de um tempo de 50 dias que pode ser celebrado como se fosse um só dia festivo. Assim, não podemos olhar para a liturgia deste domingo sem ter em conta a Vigília Pascal, a semana da Oitava e a Cinquentena. Notar-se-á pela ornamentação, pelos cânticos, pela homilia, etc. Não se pretende repetir o que se disse ou se fez na Vigília a pessoas que, talvez, não tenham participado nela. É muito importante deixar bem claro que a Noite e o Dia de Páscoa não são celebrações alternativas, mas dois momentos distintos de uma única festa.
- b) Todos os anos, a pregação pascal tem diante de si as origens da pregação cristã. É uma questão de conteúdo. A primeira e a segunda leituras são textos clássicos da pregação pascal. A primeira é kerigmática: em casa de Cornélio, Pedro faz uma síntese de todo o mistério de Jesus e da Igreja, a partir do baptismo de João até à Parusia do Juiz dos vivos e dos mortos. A segunda, da Carta aos Colossenses ou da 1ª Carta aos Coríntios, são exemplos da pregação moral, onde encontramos conselhos para viver a nova vida enraizada na participação do cristão na Páscoa de Cristo. A repetição do versículo do salmo 117 – “Este é o dia que o Senhor fez: exultemos e cantemos de alegria” – recorda-nos o mais importante desta pregação pascal. Trata-se de anunciar a obra do Senhor: a sua vitória sobre o pecado, a morte e o mal; o dom do Espírito que purifica e fortalece os corações; Ele reúne em comunhão numa só Igreja todos os filhos de Deus que andavam dispersos. Aqui, encontramos o carácter “mistagógico” e “doxológico” desta pregação, ou seja, o esforço para ajudar cada um a descobrir, através da própria celebração, a acção do Senhor Ressuscitado que vai ao seu encontro com a força do Espírito Santo.
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- c) No evangelho deste dia, S. João relata-nos o sepulcro vazio e a correria dos dois discípulos para comprovar o facto. O sepulcro vazio de Jesus é o sinal da “novidade” que Cristo crucificado introduziu na história como “primogénito dos ressuscitados”. Num primeiro momento, o sepulcro vazio causa angústia (terá sido profanado?). Mas o modo como se encontram as ligaduras no chão e o sudário enrolado à parte, leva a concluir que o que aconteceu não é idêntico com a ressurreição de Lázaro. De Lázaro, Jesus disse: “Desligai-o e deixai-o ir”. Não se trata de um regresso à vida terrena, mas de uma entrada na vida gloriosa. As aparições confirmarão que Cristo está vivo, próximo dos seus discípulos que O reconhecem na fé e no amor. Assim, o sepulcro vazio é o cumprimento das profecias (Ezequiel) e também é um testemunho silencioso da chegada da Vida, na qual os sepulcros não têm sentido nem lugar. Tanto na Noite como no Dia de Páscoa, a pregação deve respirar “mistagogia” e “doxologia” (iniciação e louvor), passando por cima de toda a apologética e de todo o moralismo. Com Pedro (na comunhão de fé da Igreja) e com o discípulo amado (porque sabemos que todos somos amados por Jesus), corramos ao Seu encontro, não angustiados por causa de um sepulcro vazio, mas alegres porque a nossa vida “está escondida com Cristo em Deus (2ª Leitura, Colossenses). Não encontraremos os sinais da sua ausência (as ligaduras e o sudário), mas a sua presença de Cordeiro Pascal imolado e ressuscitado nos sinais que expressam a sua doação de vida e de alimento: o pão e o vinho da Eucaristia.
Ver: https://liturgia.diocesedeviseu.pt/LITURGIAEVIDA/index.html