O mês de maio ou mariano é por tradição associado às festividades cristãs, uma vez que foi neste mês que aconteceram as aparições da Virgem Maria aos pastorinhos Francisco, Jacinta e Lúcia na Cova da Iria. Mas também podemos associar este mês ao nascimento de Florence Nightingale (em 12 de maio de 1820), expoente máximo da enfermagem contemporânea, que abdicando de uma vida aristocrata, dedicou-se em pleno ao cuidado dos feridos de guerra (na Crimeia), notabilizando-se pela implementação de medidas sanitárias nos cuidados de saúde, que ainda hoje se consideram atuais. Não é à toa que mundialmente se celebra o Dia Internacional do Enfermeiro, no 12 de maio.
Mas foi ao ler um dos últimos estudos da Universidade do Porto, que decidi escrever sobre a problemática das doenças cardiovasculares. Sabemos hoje que são a principal causa de morte no mundo, representando cerca de 32% do total das mortes anuais, e no período pré-pandêmico foram responsáveis pela morte de 17,9 milhões de pessoas, segundo a Organização Mundial de Saúde.
O já referido estudo português, divulgado no mês de fevereiro deste ano e realizado em conjunto com a Sociedade Portuguesa de Aterosclerose, onde se estudaram 78.000 pessoas seguidas nos cuidados de saúde primários e hospitalares de Matosinhos ao longo dos últimos vinte anos, conclui que 39% destas pessoas têm risco elevado e muito elevado de desenvolverem doença cardiovascular (cerca de 30.400 pessoas), números que nos devem deixar muito assustados.
No sentido de alertar e sensibilizar a população portuguesa, a Fundação Portuguesa de Cardiologia (FPC) tem vindo a promover nos últimos anos a campanha “Maio, Mês do Coração”, alertando os portugueses para a problemática das doenças cardiovasculares, realçando todos os anos um ou dois fatores de risco (condição que aumenta o risco cardiovascular, ou seja, aumenta a probabilidade ter a doença). Esta campanha tem tido visibilidade na comunicação social, nos locais públicos através de cartazes e panfletos, e na internet.
A doença cardiovascular, é silenciosa, de instalação lenta, e essencialmente comportamental, pois está associada a hábitos enraizados nas pessoas e de difícil mudança, indicando por isso mesmo a FPC que 80% das mortes em Portugal podiam ser evitadas todos os anos.
Os investigadores da Universidade do Porto indicam que o tratamento “está a ser claramente insuficiente”, uma vez que apenas 5% dos doentes de risco elevado e 10% dos doentes de risco muito elevado fazem tratamento farmacológico. Mas o controlo dos fatores de risco é a melhor forma e a mais fácil de prevenir as doenças cardiovasculares, dividindo-se em fatores de risco modificáveis:
- Açúcar elevado no sangue (diabetes)
- Colesterol elevado
- Triglicerídeos elevados (gorduras)
- Hipertensão arterial
- Obesidade
- Fumar
- Ingestão abusiva de bebidas alcoólicas
- Pouco exercício físico (sedentarismo)
E fatores de risco não modificáveis:
- Idade
- Género
- Genética (história familiar)
A nossa intervenção deve focar-se nos fatores de risco modificáveis, adotando os seguintes comportamentos, como: deixar de fumar, controlar com frequência a tensão arterial, manter atividade física ou realizar exercício físico com regularidade, adotar uma alimentação variada e equilibrada (diminuir a ingestão de gorduras, sal e álcool), controlar adequadamente a glicémia (açúcar no sangue) e a diabetes, reduzir e aprender a gerir o stress e a ansiedade.
Autor
Luís Miguel Condeço
Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu