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Centenário do Viseu e Benfica

Corria o ano de 1924 e Alfredo Rodrigues Gaspar tinha tomado posse como
Presidente do Ministério de Portugal há meia dúzia de dias. Durante esse curto
mandato de 138 dias, em Viseu zangaram-se alguns compadres, daqueles que já
davam uns chutos no couro esférico do football, pois a bola de meia já não era
suficientemente dura para uns pés tão habilidosos com a redondinha. No distrito havia
404.864 pessoas, das quais 221.491 eram fêmeas, de acordo com a terminologia da
época, e que, diga-se, estariam longe de ligar à bola, pelo que se depreende que a
contenda terá começado entre alguns dos 183.273 varões que do distrito fizeram casa.
Rezam as boas línguas de Edmundo de Oliveira – que por acaso até foi um dos varões
da contenda – que, na altura, uns tais "Galitos" de varões de Aveiro, na expectativa de

se deslocarem até Viseu, decidiram desafiar os melhores da cidade para o desafio do
ano.
Bem dito, bem feito, e Edmundo de Oliveira, do Grupo União de Futebol, convidou
para os treinos da pelada Abel Leonídio, do Sport Ribeira Viriato, que, com mais meia
dúzia de varões dos dois lados, fizeram aquela que terá sido a primeira seleção de
Viseu, já que os "Galitos" eram bem maiores do que o nome pareceria indicar. Uns
verdadeiros Galos, portanto! As sessões de preparação corriam bem e conta
Edmundo de Oliveira que até banho com duche tinham, sendo a bola do Ribeira
Viriato e as farpelas do União. O estágio estava perfeito até ao dia em que bateram
com o nariz da porta do balneário do União e a bola do Viriato tinha levado um sumiço,
sem que o chefe lusitano algo tenha feito para isso. Afinal, as direções de ambos os
clubes assim tinham decidido.
Abertas as hostilidades, a que nenhum dos 82 polícias existentes no distrito podia pôr
termo, e juntaram-se os craques do agora football sem bola e sem camisolas ali para
os lados da Cava de Viriato, pois estavam indignados com a decisão não explicada
das direções dos clubes, embora, diga-se especulando, que, segundo o Anuário de
1924 do Instituto Nacional de Estatística, naqueles tempos a estupidez era doença e
até havia um varão internado no Manicómio Bombarda de Lisboa com esta maleita.
Foi no Café Avenida que o estágio se fez e o craque Alferes António Carlos, também
ele agora sem bola e sem camisola, marcou o golo da independência e, como num
lançamento em profundidade, chutou a ideia de formar um novo clube. Edmundo de
Oliveira defendeu a ideia e devolveu com um nome: Sport Lisboa e Viseu, a filial
número 3 do Sport Lisboa e Benfica. Foi a 1 de Agosto de 1924, há 100 anos, quando
uma pipa de 500 litros de vinho custava 1344 Escudos e os suplementos energéticos
eram retirados dos 113.274 kg de óleo de fígado de bacalhau pescados nas ilhas do
Açores, por armações de baleia durante todo esse ano.
Não sabemos se, com isto, os Galitos chegaram a defrontar estes Viriatos, pois estão
gastas as páginas dos 27 jornais que existiam em todo o distrito. Ou se terão vindo no
único comboio que em 1924 descarrilou na Linha do Vouga, felizmente sem feridos ou
mortes a lamentar e carregar nas duas únicas carretas funerárias de mão existentes
em tão grande distrito.
O resto da História já muitos saberão: O Sport Lisboa e Viseu deu lugar ao Sport Viseu
e Benfica e felizmente hoje há muito mais jornais para relatar tantos e tão ecléticos
feitos de um Clube Centenário.
Parabéns pelos 100 anos, Sport Viseu e Benfica! Venham 100.

Texto de Tiago Nascimento

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