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Retrato dos serviços de urgência da região Centro pela SRCentro

A Secção Regional Centro (SRCentro) da Ordem dos Enfermeiros (OE) realizou uma visita a 21 Serviços de Urgência (SU) da região Centro no pico do inverno. Da mesma foram compilados vários resultados, agora apresentados.

No dia 12 de janeiro de 2024, em pleno inverno, num contexto de elevada incidência de infeções respiratórias agudas na comunidade e que, há semanas, mantinha os SU sob grande pressão, a SRCentro encetou, pela primeira vez, uma visita massiva a vários SU da sua área de abrangência (excluindo as urgências obstétricas, ginecológicas e pediátricas).

Seguindo o seu desígnio fundamental: promoção da segurança e qualidade dos cuidados de enfermagem prestados à população, atendendo a estes contextos de elevada afluência e, muitas vezes, de sobrelotação de serviços, pode tornar-se difícil manter a segurança e a qualidade dos cuidados de enfermagem prestados, tornou-se fundamental assegurar a observância das regras de ética e deontologia profissional.

As visitas foram realizadas a dez Serviços de Urgência Básica (SUB), a nove Serviços de Urgência Médico- cirúrgica (SUMC) e a dois Serviços de Urgência Polivalente (SUP).

Foram objeto de avaliação: o número de admissões das últimas 24 horas; as prioridades atribuídas pelo Sistema de Triagem de Manchester (STM); os tempos de espera para a 1a observação médica; a existência de equipas de transporte, de protocolos vias verdes (Sépsis, AVC, Coronária e Trauma) e de protocolos de reavaliação/retriagem de doentes e ainda a permanência de doentes há mais de 24 horas nos SU e as dotações de enfermagem.
“Atendendo ao panorama atual dos SU (e SU de Obstetrícia e Pediátricos), e encaminhando-nos, de novo, para o aproximar do outono e inverno, com um aumento da procura e, concomitante pressão acrescida sobre os serviços e equipas de profissionais, devido a ser um momento propício a doenças respiratórias, importa divulgar estes dados no sentido de perceber os problemas instalados, aliás, há vários anos a esta parte, onde os riscos para com a qualidade e segurança de cuidados a prestar estão mais vincados”, assinala Valter Amorim, Presidente do Conselho Diretivo da Secção Regional do Centro da Ordem dos Enfermeiros. Coimbra registou o maior número de admissões: 442 (Hospital Universitário de Coimbra e Hospital Geral – Covões). Seguiu-se o Hospital Infante D. Pedro, em Aveiro, com 427 doentes admitidos, e 242 admissões no Hospital São Teotónio, em Viseu.
No dia da visita da SRC, a média de tempo de espera entre triagem e observação médica em pulseiras
amarelas era de 83 minutos. Contudo, em quatro SU não havia espera e, no extremo oposto, em Leiria a espera média era de 11h. Assinalamos que o tempo máximo para observação de pulseiras amarelas é de 60 minutos.
Aveiro foi o SU com maior afluência de utentes, sendo que o Hospital Universitário de Coimbra era a unidade com mais Enfermeiros. O SUMC de Caldas da Rainha é que teve melhor resposta instalada face à procura registada, enquanto São João da Madeira e Águeda registaram a pior resposta.
Na relação nas 24h entre o número de enfermeiros por utente, São João da Madeira e Águeda detêm o pior resultado com cerca de 11 utentes por cada enfermeiro, ao invés, o Hospital Geral (Coimbra) e Caldas da Rainha surgem com cerca de 2 utentes por cada enfermeiro.
Durante a visita aos serviços de urgência foi também avaliada a implementação de protocolos de Vias Verdes (Sépsis, Coronária, AVC e Trauma), essenciais para garantir uma resposta rápida e eficaz em situações críticas. A Via Verde AVC é a melhor estabelecida, estando presente em 13 dos 21 SU. Apenas em Coimbra e Castelo Branco existe Via Verde Trauma. Nenhum dos SUP possui Via Verde Sépsis, somente quatro dos 21 serviços detêm este protocolo. A Via Verde Coronária está implementada em dez dos 21 serviços analisados.
Dos serviços visitados, apenas dois SUB, quatro SUMC e 1 SUP dispunham de equipa de transporte. Quando estas equipas não existem, há uma sobrecarga dos restantes elementos, retirando enfermeiros de outros postos de trabalho. Muitos destes transportes demoram horas, ausentando elementos das equipas, durante grande parte dos turnos, reduzindo rácios enfermeiro doente, colocando em causa as dotações seguras,com todas as consequências que daí podem advir, tanto para doentes como para profissionais.
Quase 600 doentes estavam há mais de 24h nos SU, destacando-se pela negativa Guarda (59 utentes); Caldas da Rainha (36 utentes) e Leiria (34 utentes) entre as 24h e as 48h, dos quais, 83 aguardavam há mais de dois dias no SU. Guarda e Leiria mantêm o retrato negro nesta categoria, com 23 e 21 utentes, respetivamente. Quando o número de doentes no SU é tal que cria a necessidade de utilizar espaços físicos onde não existem postos de trabalho de enfermagem e, portanto, sem vigilância, não existem condições mínimas de segurança.
Quando existem tempos de espera para a primeira observação médica que ultrapassam as 20 horas, é impossível assegurar dotações de enfermeiros que consigam retriar/reavaliar todos os doentes, sempre que o tempo de espera excede o limite previsto, como determina a norma 02/2018 da DGS.

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