Foram cinco as semanas que a liturgia dedicou ao capítulo 6 do Evangelho de S. João, conhecido como o discurso do pão da vida. O texto do evangelho deste Domingo é a parte final deste discurso. Perante estas palavras, surgiu a reacção das pessoas: umas a favor e outras contra Jesus. “A partir de então, muitos discípulos afastaram-se e já não andavam com Ele”. Todavia, Pedro, em nome dos outros discípulos, responde à pergunta de Jesus, “Também vós quereis ir embora?”, com as seguintes palavras: “Para quem iremos, Senhor? Nós acreditamos e sabemos que Tu és o Santo de Deus”. Esta profissão de fé de Pedro, em nome dos Doze, tem a mesma convicção da decisão que tomaram os israelitas perante a proposta de Josué, como nos relata a primeira leitura: “Longe de nós abandonar o Senhor para servir outros deuses!”. Realidades semelhantes aconteceram e acontecem no decorrer da história: algumas pessoas não aceitam a fé, outras acreditam em Cristo, Filho de Deus, com uma adesão incondicional. Quanto à Eucaristia, como já foi reflectido no Domingo passado, há pessoas que a desprezam, e outras que encontram nela o alimento mais importante da fé.
Ao longo destes cinco Domingos dedicados ao discurso do pão da vida, apercebemo-nos que o grande erro de muitos que escutavam Jesus foi pensarem somente num pão material, enquanto Ele falava de um pão que sacia outras fomes e necessidades das pessoas. É isto que acontece hoje: crentes e não crentes falamos linguagens diferentes, e quando a vida se reduz somente à satisfação dos bens materiais é muito difícil acreditar e trabalhar por outros valores que não terminam neste mundo. Hoje encontramo-nos imersos num supermercado de ofertas sobre diversas maneiras de entender a vida e os valores. Pedro, na sua intervenção, dizendo que Jesus tem “palavras de vida eterna”, faz uma proposta que hoje, numa sociedade repleta de palavras vazias de significado e descontextualizadas, é uma ousadia e atrevimento…por isso, muitos não o ouvem! A segunda leitura deste Domingo, da carta de S. Paulo aos Efésios, leva-nos a pensar sobre o matrimónio. Não vamos discutir o aspecto literário e o vocabulário da mesma…será para outros momentos! Mas pensemos somente neste ponto: quantas promessas de matrimónio para toda a vida, diante do altar do Senhor, se desfizeram e diluíram? Há tantas palavras mentirosas, conformistas, enganosas e falsas…
Que conclusão tirar desta reflexão que se prolongou durante cinco Domingos sobre o discurso do pão da vida, contido no capítulo 6 do Evangelho de S. João? É importante e urgente sentir e fazer sentir a Eucaristia como sacramento e celebração, e como identificação com Cristo morto, ressuscitado e vivo no meio de nós, porque esta é a nossa identidade cristã. Participar na Eucaristia é interiorizar e assimilar a maneira de pensar e de agir de Jesus. “Comer a carne e beber o sangue de Cristo” é uma expressão simbólica da união e da fusão com a sua vida. Assim como os alimentos se fazem carne e sangue do nosso corpo, a Eucaristia nutre de Cristo a nossa vida espiritual. A Eucaristia é uma experiência muito íntima e um encontro pessoal, ao mesmo tempo comunitário, com Cristo ressuscitado e presente no meio de nós.
22-08-2021LEITURA ESPIRITUAL
Voltemos de novo à Última Ceia. A novidade que ali se verificou, estava na nova profundidade da antiga oração de bênção de Israel, que desde então se torna a palavra da transformação e nos concede a participação na “hora” de Cristo. Jesus não nos deixou a tarefa de repetir a Ceia pascal que, de resto, como aniversário, não é repetível a nosso bel-prazer. Deixou-nos a tarefa de entrar na sua “hora”. Entramos nela mediante a palavra do poder sagrado da consagração uma transformação que se realiza mediante a oração de louvor, que nos coloca em continuidade com Israel e com toda a sua história da salvação, e ao mesmo tempo nos dá a novidade para a qual tendia por sua íntima natureza aquela oração. Esta oração chamada pela igreja “oração eucarística” realiza a Eucaristia. Ela é palavra de poder, que transforma os dons da terra de maneira totalmente nova na doação de si da parte de Deus e envolve-nos neste processo de transformação. Eis por que chamamos a este acontecimento Eucaristia, que é a tradução da palavra hebraica beracha agradecimento, louvor, bênção, e assim transformação a partir do Senhor: presença da sua “hora”.
A hora de Jesus é a hora em que o amor vence. Por outras palavras: foi Deus que venceu, porque Ele é Amor. A hora de Jesus quer tornar-se a nossa hora e tornar-se-á a nossa hora se nós, mediante a celebração da Eucaristia, nos deixarmos envolver por aquele processo de transformações que o Senhor tem por finalidade. A Eucaristia deve tornar-se o centro da nossa vida. (Bento XVI, Homilia da celebração eucarística da XX Jornada Mundial da Juventude, 2005).
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Ano B - Tempo Comum - 21º Domingo - Boletim Dominical II