O Advento é um tempo de esperança, na alegria. Encontramo-nos no Domingo chamado “Gaudete” que se inspira na carta de S. Paulo aos cristãos de Filipos: “Alegrai-vos sempre no Senhor! De novo o digo: alegrai-vos”. Por isso hoje na oração colecta pedimos para chegarmos “às solenidades da nossa salvação e celebrá-las com renovada alegria”. A Igreja tem a missão de mostrar sempre esta alegria que encontra as suas raízes no acontecimento salvífico de Jesus Cristo. A palavra “alegria” é referência na celebração dominical, sem esquecer que deve ser sempre durante a nossa caminhada da fé.
Se nós, a Igreja de Cristo, não mostramos ao mundo a verdadeira alegria por termos encontrado Jesus, a alegria de ter experimentado o amor gratuito de Deus que nos perdoa, nos cura e nos dá, por Jesus Cristo, a graça e a verdade, nunca poderemos anunciar a Boa Nova. A nossa vida e o nosso exemplo nunca serão credíveis sem alegria. A liturgia da Igreja deste domingo convida a viver na alegria, mas não é aquela alegria despreocupada, indiferente e alheia aos outros, própria daqueles que somente se preocupam com o seu bem estar, porque na vida tudo lhes corre bem. Na verdade, a alegria é algo mais profundo que encontra as suas raízes na presença de Deus que nos acompanha e que nos ampara em todos os momentos.
O canto da primeira leitura do livro da profecia de Isaías deve ser entoado em toda a Igreja. É ela quem deve reconhecer com alegria que o Espírito do Senhor repousa sobre si mesma. Só assim será capaz de levar a Boa Nova aos que sofrem, de curar os corações atribulados e de proclamar a redenção aos cativos e a liberdade aos prisioneiros. Esta é a transformação que, através da Igreja, o Senhor quer trazer ao nosso mundo para o renovar, infectado pelo mal e pelo pecado. Todos nós, crentes em Cristo ressuscitado, somos portadores da verdadeira alegria, da qual o mundo está tão necessitado.
13-12-2020Neste terceiro Domingo do Advento, a liturgia da Igreja propõe-nos, novamente, o exemplo de João Baptista, que foi um homem simples e humilde, sem deixar de ser um homem cheio de alegria, porque a tinha experimentado na sua vida (saltou de alegria no seio da sua mãe com a proximidade de Jesus no seio de Maria), e, por isso, a anunciou. Não podemos ficar indiferentes às suas palavras: “no meio de vós está Alguém que não conheceis: Aquele que vem depois de mim”. Esta afirmação de João Batista é uma realidade também para nós. Quanta pobreza encontramos na nossa vida quando não somos capazes de reconhecer o Senhor! Estamos tão perto de Deus, mas não somos capazes de sentir a Sua presença e Ele fica esquecido! Ele está presente, reside no coração de cada homem e de cada mulher, nos acontecimentos da vida, nas tarefas diárias, no encontro com os outros, na presença eucarística, no amor de tantos homens e mulheres que abandonaram a sua própria vida para fazer o bem aos seus irmãos. Se recordássemos tudo isto, se estivéssemos mais atentos, certamente surgiria a verdadeira alegria, aquela que somente vem de Cristo, aquela que habitava no coração de João Baptista e que o converteu em testemunha do Advento de Deus no mundo.
Quando esquecemos tudo isto, surpreende-nos a atitude contrária à alegria, que é o maior mal do nosso mundo: a tristeza. Infelizmente são muitas as pessoas que se vêm obrigadas a viver sob o peso da tristeza. A nossa missão é levar-lhes o anúncio desta alegria para que livremente a possam acolher. Mas, cuidado, não seremos portadores da alegria de conhecer Jesus Cristo se antes não o tivermos experimentado na nossa vida. Então, como podemos viver a verdadeira alegria? Com uma vida intensa de fé graças aos sacramentos e à Palavra de Deus, cultivando a nossa vida interior para que dela desponte um testemunho activo e firme. Cada um de nós é convidado a viver numa contínua esperança na vinda do Senhor. Esta esperança deve ser vivida na alegria de pertencermos e sermos Igreja.
LEITURA ESPIRITUAL
O baptismo de Jesus é também um baptismo “no Espírito Santo e no fogo”. Lembro-me das coisas que há pouco falei e não me esqueci da explicação dada acima, mas quero trazer uma nova interpretação. Se fores santo, serás baptizado no Espírito Santo; se fores pecador, serás lançado no fogo. O único e o mesmo baptismo se tornará condenação e fogo para os pecadores indignos; mas para aqueles que são santos e com toda fé se converterem ao Senhor, receberão a graça do Espírito Santo e a salvação. “Aquele que baptiza no Espírito Santo e no fogo”, como diz a Escritura, tem “em sua mão a joeira e vai limpar a sua eira; e recolherá o seu trigo no celeiro, e queimará a palha no fogo que não se apaga”. Eu quero descobrir quais os motivos que tem Nosso Senhor para segurar “a joeira”, e por qual sopro a palha leve é levada para cá e para lá, enquanto o trigo mais pesado cai no mesmo lugar, pois, na ausência do vento, não se pode separar o trigo e a palha. O vento, eu creio, designa aqui as tentações, que, no monte confuso dos que crêem, revela que uns são palha, os outros, trigo. Pois, quando a vossa alma se deixou dominar por alguma tentação, não é a tentação que te transformou em palha, mas porque tu eras palha, isto é, leve e sem fé, a tentação te destapou a tua natureza oculta. Porém, quando enfrentas corajosamente a tentação, não é a tentação que te faz fiel e paciente, mas ela revela à luz do dia as virtudes de paciência e de força presentes em ti, mas que estavam ocultas. “Pois, diz o Senhor, tu pensas que eu tinha um outro fim, falando-te assim, senão que te fazer parecer justo?” E noutra parte: “Eu te afligi e te atingi com a penúria, para que se tornassem manifestas as coisas que havia em teu coração”. Desse modo, também a tempestade não permite que um edifício construído sobre a areia resista, mas, se queres edificar, constrói “sobre a rocha”. A tempestade, uma vez começada, não poderá derrubar o que foi alicerçado “sobre a rocha”, mas ela faz ver a fragilidade dos alicerces da casa que vacila “sobre a areia”. (Orígenes, Homilias sobre o Evangelho de Lucas)
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Ano B - Tempo do Advento - 3º Domingo - Boletim Dominical II