Com este Domingo, iniciamos a Semana Santa; na quinta-feira Santa, com a Missa Vespertina da Ceia do Senhor, iniciaremos o Tríduo Pascal. Nas celebrações desta semana escutaremos os três gritos que marcaram a vida messiânica de Jesus. O primeiro grito foi a proclamação do “Hossana” enquanto nas ruas de Jerusalém se agitavam ramos de oliveira por onde Jesus passava. No evangelho de sexta-feira Santa escutaremos o segundo grito quando a plebe vociferava: “Crucifica-O”. O último grito será escutado na Vigília Pascal quando a Igreja cantar jubilosamente o “Aleluia” da ressurreição.
Na celebração litúrgica do Domingo de Ramos são proclamados dois textos evangélicos. O primeiro proclama-se no rito da bênção e procissão dos ramos e o outro na Liturgia da Palavra. O primeiro anuncia profeticamente o triunfo da ressurreição de Jesus com a sua entrada triunfal em Jerusalém; o segundo descreve dramaticamente a sua paixão, crucifixão e sepultura. Os dois textos são o pórtico do Tríduo Pascal que anuncia o triunfo da ressurreição de Jesus depois da sua passagem pascal pela paixão e morte. O Messias, acolhido triunfalmente pelo povo em Jerusalém, é o Homem das dores a caminho do Calvário. O povo que grita: “Hossana”, gritará também: “Crucifica-O”. Este são os dois momentos determinantes na vida do Mestre, na espera do canto da “Aleluia”.
Jesus ouviu sempre a palavra do Pai, tendo-a sempre em muita consideração, e cumpriu a sua missão de redentor. Na sua vida, encorajou os abatidos, aproximou-se dos pobres e curou os doentes. Jesus agonizante chamou a Si as palavras do salmo: “Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonastes?”, a mesma frase que repetimos neste dia no salmo. O autor do salmo, imerso no sofrimento e com a morte iminente, experimenta o silêncio de Deus e a hostilidade dos homens. A súplica converte-se na esperança da vinda da ajuda de Deus e na gratidão festiva ao Senhor, Rei do Universo. No início da semana da paixão e morte do Senhor, esta oração sálmica introduz-nos na celebração do mistério pascal de Jesus, com a qual recordamos e celebramos as estações dolorosas da vida e paixão de Jesus até à morte, para passar do sepulcro à ressurreição. A segunda leitura recorda-nos o “itinerário” pascal seguido por Jesus Cristo num duplo movimento. Por um lado, Ele “não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a condição de servo, tornou-Se semelhante aos homens. Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte e morte de cruz”. Por outro lado, o Pai responde ao Filho, “exaltou-O e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes”, ressuscitando-O da morte. Assim, o Pai é glorificado e o mundo é salvo.
Na celebração deste domingo, escutamos dois gritos: “Hossana” e “Crucifica-O”. Diante de nós é descrito o drama mais importante ocorrido na história da humanidade, na espera da festa do canto da “Aleluia”. A vida pascal de um cristão contém três gritos. Dois deles são jubilosos e um dramático com esperança. O primeiro grito é ouvido no batismo quando passa do pecado à graça, é um grito de vitória e o terceiro escuta-se quando o cristão chega à meta e canta o “Aleluia” eterno. Entre o primeiro e o último decorre o caminho pascal de cada dia. Em cada momento da vida, cada um de nós deve saber morrer para o pecado para ressuscitar com Cristo. Morte e vida estão sempre presentes. Quem sabe morrer, o Senhor o ressuscitará no fim do caminho pascal para cantar o “Aleluia” eterno.
Hoje, não é fácil professar a fé em público. Vive-se uma espécie de catolicismo anónimo e privado. Todavia, não faltam grandes testemunhos cristãos que confessam abertamente a fé, acima de toda a ideologia e medos. O Domingo de Ramos convida-nos a sair à rua com ramos nas mãos e testemunhar a fé cristã perante a incredulidade e a indiferença religiosa. “Sair à rua com um ramo de oliveira” é defender o direito da liberdade religiosa. O ramo de oliveira e de loureiro deve ser plantado no nosso coração para que cada dia seja agitado com força, floresça em forma de cruz e dê frutos de paz e de ressurreição.
LEITURA ESPIRITUAL
Jesus entra em Jerusalém. A liturgia convidou-nos a intervir e participar na alegria e na festa do povo que é capaz de aclamar e louvar o seu Senhor; alegria que esmorece, dando lugar a um sabor amargo e doloroso depois que acabamos de ouvir a narração da Paixão. Nesta celebração, parecem cruzar-se histórias de alegria e sofrimento, de erros e sucessos que fazem parte da nossa vida diária como discípulos, porque consegue revelar sentimentos e contradições que hoje em dia, com frequência, aparecem também em nós, homens e mulheres deste tempo: capazes de amar muito… mas também de odiar (e muito!); capazes de sacrifícios heróicos mas também de saber «lavar-se as mãos» no momento oportuno; capazes de fidelidade, mas também de grandes abandonos e traições.
Vê-se claramente em toda a narração evangélica que, para alguns, a alegria suscitada por Jesus é motivo de fastídio e irritação.
Jesus entra na cidade rodeado pelos seus, rodeado por cânticos e gritos rumorosos. Podemos imaginar que são a voz do filho perdoado, a do leproso curado ou o balir da ovelha extraviada que ressoam, intensamente e todos juntos, nesta entrada. É o cântico do publicano e do impuro; é o grito da pessoa que vivia marginalizada da cidade. É o grito de homens e mulheres que O seguiram, porque experimentaram a sua compaixão à vista do sofrimento e miséria deles… É o cântico e a alegria espontânea de tantos marginalizados que, tocados por Jesus, podem gritar: «Bendito seja o que vem em nome do Senhor!» (Mc 11, 9). Como deixar de aclamar Aquele que lhes restituíra a dignidade e a esperança? É a alegria de tantos pecadores perdoados que reencontraram ousadia e esperança. E eles gritam. Rejubilam. É a alegria.
Estas aclamações de alegria aparecem incómodas e tornam-se absurdas e escandalosas para aqueles que se consideram justos e «fiéis» à lei e aos preceitos rituais. Uma alegria insuportável para quantos reprimiram a sensibilidade face à angústia, ao sofrimento e à miséria. Mas, destes, muitos pensam: «Olha que povo mal educado!» Uma alegria intolerável para quantos perderam a memória e se esqueceram das inúmeras oportunidades por eles usufruídas. Como é difícil, para quem procura justificar-se e salvar-se a si mesmo, compreender a alegria e a festa da misericórdia de Deus! Como é difícil, para quantos confiam apenas nas suas próprias forças e se sentem superiores aos outros, poder compartilhar esta alegria! (cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium,94). (Francisco, Homilia da XXXIII Jornada Mundial da Juventude, 25 de Março de 2018).
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Ano B - Tempo da Quaresma - Domingo de Ramos - Boletim Dominical II