O itinerário do Advento continua no segundo Domingo deste tempo dedicado à esperança no Senhor. Ao iniciar a Eucaristia, a oração colecta deste Domingo contém dois pedidos. Por um lado, pedimos que os “cuidados deste mundo não sejam obstáculo para caminharmos generosamente ao encontro de Cristo”; por outro, pedimos que o conhecimento daquele que é a “sabedoria do alto nos leve a participar no esplendor da sua glória”. Portanto, para caminharmos ao encontro de Cristo neste Advento temos de O conhecer mais e melhor prescindindo de tudo o que na vida se converte em tentação ou distracção do que realmente desejamos: o encontro pessoal com Jesus Cristo.
Na primeira leitura, da profecia de Isaías, encontramos palavras de consolação e de esperança. O povo de Israel encontrava-se no exílio mas já sentia que estava próxima a sua libertação e o regresso a Jerusalém. Mas as palavras do profeta Isaías não são as únicas que este Domingo nos oferecem consolação e esperança para enfrentar as dificuldades da vida. A segunda leitura convida-nos a nunca perder de vista a promessa do Senhor: Ele levar-nos-á para os novos céus e para a nova terra, onde habitará a justiça. As palavras do apóstolo Pedro são pertinentes mais do que nunca num mundo onde parece que reina o caos e a injustiça. Na sociedade actual temos de sentir e de fazer sentir o desejo do regresso do Senhor para que estabeleça a ordem, a paz e a justiça. Além disso, Pedro exorta-nos a uma vida consequente com este desejo e promessa: “como deve ser santa a vossa vida e grande a vossa piedade, esperando e apressando a vinda do dia de Deus”. Com uma vida santa e piedosa anima-nos a tornar presente a realidade deste novo mundo que quer instituir com a nossa conduta. Como cristãos e coerente com a nossa fé, temos um papel fundamental para fomentar todos os valores que o Senhor deseja neste mundo novo que pretende instaurar.
O texto do evangelho deste Domingo apresenta-nos um dos protagonistas deste tempo: João Baptista. A partir da profecia de Isaías na primeira leitura, pede aos seus conterrâneos que abram um caminho para o Senhor e que endireitem as suas veredas. Tanto Isaías como João Batista sentiram a necessidade de abrir e de preparar um caminho para o Senhor; esta necessidade continua presente nos nossos dias.
João Baptista é uma voz que grita no deserto. O seu testemunho neste Domingo é um exemplo para cada um de nós. Porque João grita, se está no deserto? O mais lógico é pensar que não é necessário gritar porque no deserto não está ninguém. Mas o seu grito é um sinal de um Deus que não quer permanecer no silêncio e que quer estar presente onde há silêncio. O seu anúncio é para todos, mesmo para os que estão nos lugares mais recônditos e inacessíveis. O seu grito é o sinal de um anúncio a uma sociedade que quer silenciar a voz de Deus, deixando-O muitas vezes à margem. O testemunho de João Batista deve encorajar-nos para que a nossa voz seja potente como a dele. Será que estamos dispostos a oferecer a nossa voz para anunciar a sua vinda?
João Baptista pregava um baptismo de conversão. Depois de escutar o anúncio do profeta e perante uma promessa tão importante, a nossa vida não pode permanecer na mesma. Muitas vezes deixamos este tema da conversão para o tempo quaresmal, mas na realidade deveria ser uma constante em toda a nossa vida. Não se pode ouvir o anúncio da promessa de Cristo e continuar indiferente. A nossa vida tem de mudar, cada um de nós tem de mudar. Se no primeiro Domingo insistíamos na importância de viver uma vida vigilante, ou seja, responsável e fiel para preparar a sua vinda, neste Domingo somos convidados a fazer todo o possível para abrir o caminho para o Senhor. Como? João Baptista ajuda-nos: por um lado, devemos ser anunciadores da Sua vinda; por outro, temos de converter a nossa vida. Anúncio e Conversão ajudarão a abrir o caminho ao Senhor e a preparar a sua vinda.
LEITURA ESPIRITUAL
Tendo o povo de Deus sido reduzido à escravatura pelos pagãos e enviado como cativo para o meio dos persas e dos medos, depois de ter sofrido um longo cativeiro, o rei Ciro resolveu livrá-lo dessa servidão e reconduzi-lo à Terra Prometida. Qual poesia divina, o profeta Isaías entoou então estas palavras cheias de beleza: “Povo de Israel, consolai-vos, consolai-vos, diz o Senhor nosso Deus; a vossa consolação não será vã nem inútil. Falai ao coração de Jerusalém, porque a sua malícia chegou ao fim. E porque as suas iniquidades atingiram o máximo, serão perdoadas”. Por isso, dizia esse grande poeta ao povo de Israel: “Aplanai os vossos caminhos e endireitai as vossas veredas” (40, 1s).
Porque é que Deus diz que perdoará ao povo de Israel as suas iniquidades, se é verdade que ele atingiu o cúmulo da sua malícia? Os Padres antigos ensinam que estas palavras podem entender-se como se Deus dissesse: “Quando eles estão no auge das suas aflições e sentem vivamente o fardo das suas iniquidades nesta escravidão e neste cativeiro, depois de os ter punido pela sua maldade, olhei-os e tive deles compaixão. Chegados ao pior dos seus dias, bastou-Me o que já tinham sofrido; por isso, as suas iniquidades ser-lhes-ão agora perdoadas. Quando atingiram o cúmulo da sua ingratidão, quando parecia não terem nenhuma lembrança nem memória de Deus e dos seus benefícios, a sua iniquidade ser-lhes-á perdoada”. Quando a Providência de Deus quis mostrar aos homens a sua bondade, isso foi admirável, porque Ele não quis ser induzido por motivação alguma: movido apenas pela sua bondade, comunicou-Se aos homens de uma forma absolutamente maravilhosa.
Quando Ele veio a este mundo, era o tempo em que os homens tinham chegado ao cúmulo da sua malícia: as leis estavam nas mãos de Anás e Caifás, Herodes reinava e Pôncio Pilatos governava a Judeia; foi nesse tempo que Deus veio ao mundo para nos resgatar e nos libertar da tirania do pecado e da servidão do nosso inimigo. (São Francisco de Sales, 1567-1622).
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Ano B - Tempo do Advento - 2º Domingo - Boletim Dominical II