O REI DA VERDADE
Na profecia de Daniel, encontramos a visão de um filho do homem que, com honras reais, veio sobre as nuvens do céu (primeira leitura). Também o Novo Testamento diz que Jesus Cristo, que nos ama, que nos liberta do pecado e faz de nós “um reino de sacerdotes” (segunda leitura), virá como “Príncipe dos reis da terra” (revestido de majestade, como nos diz o salmo). Mas o seu Reino não é deste mundo; veio para dar testemunho da verdade (evangelho). O evangelho deste Domingo recorda-nos que, no momento da condenação, Jesus diz a Pilatos: “sou rei. Para isso nasci e vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade”. Mas, que relação existe entre a realeza e a verdade? Para entender isto, é necessário reflectir sobre o que significa ser rei, não no mundo actual, mas na época de Cristo, no âmbito bíblico. No povo judeu, há três elementos muito importantes: a nobreza, a sabedoria e a compaixão. A nobreza não é um título herdado, mas a forma de chamar aquele que, na batalha, vai à frente das suas tropas; aquele que sai, não só para defender os seus interesses pessoais, mas os dos seus súbditos, protegendo-os como próprios. Não fica na rectaguarda a dar ordens, mas vai à frente, dando exemplo. Outro aspecto importante é a sabedoria, muito ligada à imparcialidade. Não se trata, aqui, de saber muitas coisas, mas de enfrentar as dificuldades alheias para proferir uma sentença, procurando o mais justo, como um bom pai faz aos seus filhos. Finalmente, temos a compaixão. Ao cuidado do rei, estavam as viúvas e os órfãos, pessoas desprotegidas, que estavam à mercê da pobreza extrema. Só quem possuía estes valores é que podia ser considerado rei, de tal forma que, no decorrer da sua vida, a autenticidade convertia-se no crisol onde aperfeiçoava a verdade da sua vida. Neste Domingo, Jesus é aclamado, por todas as assembleias católicas do mundo, como rei, porque, decorrido mais um ano, reconhecemos que, em qualquer momento, Ele nos abandonou nas dificuldades, mas que sempre nos escutou, que as nossas preocupações foram as suas, e que procurou sempre satisfazer as nossas necessidades, mais do que os nossos desejos. Por isso, podemos afirmar, como o salmo: O Senhor reina revestido de majestade. Mas, reina onde? Na nossa vida! O reino das trevas é o reino das “meias-verdades”, do egoísmo, da avareza. Parece muito apetecível, porque promete satisfazer todos os nossos desejos. Mas, quando abrimos os olhos à realidade, apercebemo-nos que as promessas não se cumprem, gerando frustração. Só quem vive na verdade pode ter Cristo, como rei. “Tu és o rei dos Judeus”? Pilatos faz um interrogatório político, ou seja, situa-se ao nível dos inimigos de Jesus. Todavia, não podemos esquecer que este procurador romano, mais tarde, decidirá manter, sobre a cabeça de Jesus crucificado, a inscrição, que desagrada aos judeus: Jesus de Nazaré, rei dos judeus. Jesus está num nível superior a Pilatos. Explica qual é a sua realeza: veio ao mundo para dar testemunho da verdade (evangelho). A verdade, da qual Jesus dá testemunho, não é elaborada pela razão humana; é a que procede da Palavra de Deus, Daquele que é, que era e que há de vir (segunda leitura), Daquele que é e concede a Vida. Foi para isto que o Verbo, Cristo, veio ao mundo. Aqueles que O acolhem, recebem o poder de ser filhos de Deus (cf. Jo 1,12), ou seja, são gerados para esta Vida de Deus, pertencem à Verdade e podem esperar viver com Ele no reino do céu (cf. Oração depois da comunhão). Neste Domingo, nós, que fomos gerados para a Vida pelo baptismo, ouvimos esta palavra que ressoa constantemente neste mundo e no coração dos nossos sofrimentos e das nossas alegrias; graças a ela, Cristo faz, de todos os que a acolhem, um reino de sacerdotes dedicados a Deus (segunda leitura), com a missão de anunciar ao mundo a única realeza que nunca será destruída (primeira leitura), e que é capaz de conceder a verdadeira paz, que nunca acabará, porque o seu pacto é “por todo o sempre” (salmo). .
paroquiasagb
Leitura Espiritual
«O meu reino não é deste mundo»
Sois Rei, Deus meu, para sempre. Quando se diz no credo que vosso reino não terá fim, isto dá-me quase sempre particular consolação. Louvo-Vos, Senhor, e bendigo-Vos para sempre; enfim, o vosso reino durará para sempre! Nunca permitais, Senhor, que se tenha por bom que quem for falar convosco o faça só com a boca. Não nos devemos aproximar para falar a um príncipe com o mesmo descuido que a um lavrador ou a uma pobre como nós, pois como quer que seja que nos falem, está bem. E assim, já que, por humildade deste Rei, se eu por grosseira não Lhe sei falar, Ele nem por isso deixa de me ouvir nem de me chegar a Si, nem me lançam fora os seus guardas; porque bem sabem os anjos que ali estão a índole do seu Rei, que gosta mais desta rudeza dum pastorzinho humilde, pois vê que se mais soubera mais diria, que dos mui sábios e letrados, por elegantes arrazoados que façam, se não vão acompanhados de humildade, não é razão que, por Ele ser bom, sejamos nós descomedidas. Sequer ao menos para Lhe agradecer o que Ele sofre da vizinhança, consentindo uma como eu ao pé de Si, é bem que procuremos conhecer a sua limpeza e quem é. É verdade que, logo em chegando, se conhece, não como a senhores de cá, que em nos dizendo quem foi seu pai e os contos que tem, nada mais há a saber. Sim, aproximai-vos pensando e entendendo, ao chegar, com quem ides falar ou com quem estais falando. Em mil vidas das nossas, não acabaremos de entender como merece ser tratado este Senhor, diante de quem tremem os anjos. Em tudo manda, tudo pode; seu querer é operar. Pois razão será, filhas, que procuremos deleitar-nos nestas grandezas que tem o nosso Esposo e entendamos com quem estamos casadas e que vida havemos de ter. (Santa Teresa de Ávila, 1515-1582, carmelita descalça, doutora da Igreja, Caminho de Perfeição, 22, Edições Carmelo, 2000).
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Avisos da Unidade Pastoral das P. de Fornos de Algodres, Cortiçô, Casal Vasco, Infias, Vila Chã e Algodres
25 de novembro a 1 de dezembro