Iniciamos o ano litúrgico com o tempo do Advento. Como já sabemos, é um tempo caracterizado pela espera da vinda do Senhor. O Senhor tem de vir! Em cada Domingo, a Igreja, na liturgia da palavra, propõe um percurso para ir ao seu encontro, ou melhor, para que Ele venha ao nosso encontro. Os primeiros Domingos convidam-nos a concentrar o nosso pensamento na sua vinda definitiva no fim dos tempos, à qual os cristãos chamam de vinda escatológica. Todavia, quase no fim do Advento também nos prepararemos para celebrar a sua vinda histórica, a sua encarnação, o seu Natal.
O Advento é um tempo de consolação e de esperança para caminhar sem desfalecer e para crescer na vida cristã. É um tempo que nos coloca diante do maior desejo dos cristãos: encontrarmo-nos com o Senhor. O tempo vai marcando a nossa existência e não pára por uns instantes. Ao longo da nossa vida, muitas vezes nos preocupamos com os problemas e esquecemos o essencial. Hoje, a Igreja recorda-nos e, novamente, nos convida a colocar o nosso coração nos bens do Céu tal como rezamos na oração depois da comunhão: “Fazei frutificar em nós, Senhor, os mistérios que celebramos, pelos quais, durante a nossa vida terrena, nos ensinais a amar os bens do Céu e a viver para os valores eternos”. Além disso, Jesus Cristo deixou-nos uma grande promessa que chegará com o seu regresso e recordamos na oração colecta: alcançar o Reino dos Céus. Mas como deveremos viver esta esperança da manifestação de Jesus Cristo? Encontramos a resposta no texto do evangelho deste Domingo.
Neste primeiro Domingo, o evangelista Marcos propõe uma pequena parábola que Jesus proferiu aos seus discípulos. Diz-nos que “um homem partiu de viagem; ao deixar a sua casa, deu plenos poderes aos seus servos, atribuindo a cada um a sua tarefa”. Com esta parábola Jesus afirma que, apesar do dono da casa ter saído de viagem, os seus funcionários têm de ser responsáveis e cumprir algumas tarefas. Cada um dos servos recebe uma tarefa, a qual podemos chamar de uma vocação, porque eles têm diversas tarefas e o porteiro da casa tem de os vigiar. Facilmente pensamos o seguinte: se o dono não está, os servos desleixam-se, renderão menos e não cumprirão o seu trabalho. Toda esta alegoria ajuda-nos a entender a importância que tem, para os cristãos, a responsabilidade, a fidelidade e a vigilância nestes tempos em que a Igreja tem de caminhar, muitas vezes, entre tantas dificuldades. Assíduas vezes damos conta como são postas à prova as nossas forças e sentimo-nos desamparados por um Jesus aparentemente distante. Esta parábola serve de estímulo para continuar a trabalhar no Reino de Deus, cada um a partir da sua vocação, como se Ele estivesse presente.
A última recomendação de Jesus no texto do evangelho é um imperativo: Vigiai! Diz-nos por quatro vezes este imperativo. Vigiar supõe uma postura activa e não desleixada e adormecida ou, como tantas vezes fazemos, de braços cruzados. O dono da casa pode regressar a qualquer instante. Passaram muitos séculos desde que Jesus prometeu o seu regresso. Na Igreja primitiva vivia-se com muito entusiasmo e expectativa a sua vinda definitiva. Actualmente perdemos este entusiasmo e a nossa vida cristã resume-se num “deixa correr” sem recordar a grande promessa do Senhor. A parábola deste domingo faz-nos pensar no seguinte: se o Senhor viesse hoje, encontrar-nos-ia vigilantes? Atrevo-me a dizer que em muitos casos encontrar-nos-ia a dormir, ou seja, pouco preparados para a sua chegada. Esta é a grande tentação dos nossos tempos! Acomodámo-nos de tal forma que perdemos a nossa identidade e responsabilidade cristãs até ao ponto de deixarmos de estar atentos à sua grande promessa. Neste primeiro Domingo do Advento, perante o texto do evangelho, sintamos que o Senhor pede-nos uma atitude mais coerente, activa e responsável perante a sua vinda. Necessitamos muito de descobrir a vocação que o Senhor nos deu para, de seguida, viver de uma forma activa e responsável. “Senhor, nosso Deus, fazei-nos voltar, mostrai-nos o vosso rosto e seremos salvos”. “Não se dê o caso que, vindo inesperadamente, vos encontre a dormir. O que vos digo a vós, digo-o a todos: Vigiai!”.
1º DOMINGO DO ADVENTO (ANO B) LEITURA ESPIRITUAL
“É preciso termos sempre em consideração uma dupla vinda de Cristo: uma, quando Ele vier e nós tivermos de prestar contas de tudo o que tivermos feito; a outra, quotidiana, quando Ele visita sem cessar a nossa consciência e vem a nós a fim de nos encontrar prontos por ocasião da sua vinda definitiva. Com efeito, para que me serve conhecer o dia do juízo, se estou consciente de tantos pecados? Saber que o Senhor vem, se Ele não vier primeiro ao meu coração, se não entrar no meu espírito, se Cristo não viver e não falar em mim? Então sim, é bom que Cristo venha se, antes que tudo, Ele vive em mim e eu nele. Para mim, é como se a segunda vinda se tivesse já realizado, uma vez que o desaparecimento do mundo já ocorreu em mim, porque de certa forma posso dizer: “O mundo está crucificado para mim e eu para o mundo” (Ga 6,14).
Reflecti também sobre esta palavra de Jesus: “Muitos virão em meu nome” (Mt 24,5). Só o Anticristo se apodera deste nome, ainda que isso seja para nos enganar… Em nenhuma passagem da Escritura encontrareis que o Senhor tenha declarado: “Eu sou Cristo”. Porque lhe bastava mostrar que o era, pelos seus ensinamentos e pelos seus milagres, uma vez que o Pai agia com Ele. O ensino da sua palavra e o seu poder gritavam: “Eu sou Cristo”, com mais força do que milhares de vozes teriam gritado. Portanto, não sei se podereis achar que Ele o tenha dito em palavras, mas mostrou-o “cumprindo as obras do Pai” (Jo 5,36) e ministrando um ensino impregnado de piedade filial. Os falsos messias, que são disso desprovidos, só podem usar os seus discursos para suportar as suas pretensões enganadoras” (S. Pascácio Radberto,? – c. 849)
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Ano B - Tempo do Advento - 1º Domingo - Boletim Dominical II