a) Ainda em Tempo Pascal, este Domingo coloca diante de nós um acontecimento da vida de Jesus: a sua ascensão ao céu. Como nos diz o livro dos Actos dos Apóstolos (1ª leitura), Jesus, quarenta dias depois da sua ressurreição, subiu ao céu. Durante muito tempo na Igreja, esta solenidade foi celebrada na quinta-feira passada, respeitando a exactidão cronológica. Actualmente, foi transferida para o domingo para que todos os cristãos pudessem celebrar este mistério da vida de Cristo que, dada a sua importância, é referenciada no Credo. É bom não esquecer que não se trata de um acontecimento isolado, mas intimamente ligado à Páscoa. Na liturgia deste domingo, é-nos recordado também este momento da vida de Jesus na Oração Eucarística e no Prefácio próprio. Seria oportuno proclamar a Oração Eucarística I ou III, porque ambas fazem referência na “anamnese” à ascensão do Senhor.
b) O mistério da ascensão do Senhor (Jesus sobe ao céu e senta-se à direita do Pai) coloca-nos diante da glorificação de Cristo. A glória velada (escondida) de Jesus Cristo na sua humanidade durante as suas aparições depois da ressurreição, entra no domínio celeste, manifestando toda a sua potencialidade. Jesus foi constituído Senhor, participando no poder e na autoridade de Deus. São Paulo diz na segunda leitura: “colocou (Jesus) à sua direita nos Céus, acima de todo o Principado, Poder, Virtude e Soberania, acima de todo o nome que é pronunciado, não só neste mundo, mas também no mundo que há-de vir”. O Prefácio da Ascensão I explica resumidamente esta ideia: “Jesus Cristo, Rei da glória, vencedor da morte e do pecado, subiu hoje ao mais alto dos céus, ante a admiração dos Anjos, e foi constituído mediador entre Deus e os homens, juiz do mundo e Senhor dos senhores”; como também o “Memento” das orações eucarísticas I e III: “Jesus Cristo, vosso Filho Unigénito, colocou à direita da vossa glória a nossa frágil natureza humana unida à sua divindade”.
c) O mistério da ascensão do Senhor coloca-nos também diante da glorificação da humanidade. Em Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, foi exaltada a natureza humana assumida pelo Verbo de Deus. Assim, a ascensão faz-nos compreender “a esperança a que fostes chamados, os tesouros de glória da sua herança entre os santos e a incomensurável grandeza do seu poder para nós os crentes” (2ª leitura). Também na eucologia deste domingo encontramos esta ideia: “onde já se encontra convosco, em Cristo, a nossa natureza humana” (oração depois da comunhão), “subiu aos céus, para nos tornar participantes da sua divindade” (Prefácio da Ascensão II), “colocou à direita da vossa glória a nossa frágil natureza humana unida à sua divindade” (“Memento” do Cânon Romano). A glorificação da humanidade é expressa, metaforicamente, na imagem paulina do corpo no qual Cristo é a cabeça: “tendo-nos precedido na glória como nossa Cabeça, para aí nos chama como membros do seu Corpo” (oração colecta); “subindo aos céus, como nossa cabeça e primogénito, deu-nos a esperança de irmos um dia ao seu encontro, como membros do seu Corpo, para nos unir à sua glória imortal” (Prefácio da Ascensão I).
d) Antes de subir ao céu, Jesus envia os seus discípulos a evangelizar por todo o mundo: “Ide e ensinai todas as nações, baptizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a cumprir tudo o que vos mandei” (evangelho). A missão é fundamental e essencial na vida do cristão. Nós somos testemunhas do Ressuscitado e devemos anunciá-Lo a todos os povos. É isto que Jesus nos pede: “recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém e em toda a Judeia e na Samaria e até aos confins da terra” (1ª leitura). No dia da ascensão, os anjos disseram aos discípulos: “Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu?”. Ser cristão não é somente ter uma grande amizade com Jesus, mas também ser enviado.
LEITURA ESPIRITUAL
«Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos»
Aquele que desceu à Terra – e só Ele sabe como -, antes de voltar para o Céu – como? só Ele o sabe -, tomou aqueles que amava e levou-os ao alto de um monte […] para lhes elevar a cabeça e o espírito. […] O Senhor, abrindo os braços como asas, cobriu, qual águia, o ninho de que cuidava ternamente (cf Dt 32,11) e disse aos seus: «Protegi-vos contra todos os males à minha sombra (cf Sl 90,1): assim como Eu vos amei, amai-Me vós também. Não Me separarei de vós: permaneço convosco, e ninguém poderá fazer-vos mal» (cf Mt 28,20; Rom 8,31). […]
Com estas palavras, o Senhor provocou grande dor nos seus apóstolos. Talvez tenham até chorado, dizendo: […] «Vais abandonar-nos, vais separar-Te daqueles que Te amam? […] Isso angustia-nos, porque o nosso maior desejo é estar sempre contigo. Procuramos o teu rosto […]; não há outro Deus além de Ti (cf Sl 26,8; Is 45,5). Não Te afastes daqueles que Te amam, fica connosco e diz-nos: “Não Me separarei de vós: permaneço convosco, e ninguém poderá fazer-vos mal”».
Vendo a dor daqueles que O amavam, o Senhor consolou-os como um pai consola os filhos: «Não choreis, amigos, porque não estamos em tempo de lágrimas […]. Esta é a hora da minha alegria; para ir ter com meu Pai, tomo asas e repousarei na minha tenda (cf Sl 138,9), pois fiz do firmamento do céu uma tenda […], como diz Isaías: “Deus formou o céu como uma abóbada e como uma tenda onde Ele habita” (Is 40,22), Deus, que diz aos seus: “Não Me separarei de vós: permaneço convosco, e ninguém poderá fazer-vos mal”».
«Por isso, estai alegres e radiosos, tende um ar feliz, “cantai um cântico novo” (Sl 97,1), pois tudo aquilo que vai chegar, chega para vós. Eu desci do Alto por amor a vós, e andei pela Terra para vos agradar e ser acolhido por vós. É também por amor a vós que volto para o Céu, a fim de dispor do lugar onde estarei convosco, pois “em casa de meu Pai há muitas moradas” (Jo 14,2) […]. Vou, pois, preparar-vos uma morada para vos receber e não Me separarei de vós: permaneço convosco, e ninguém poderá fazer-vos mal» (São Romano, o Melodista (?-c. 560), compositor de hinos, Hino 48 para a ascensão, 2-4, 7-8; SC 283).

Cartaz elegante branco de festa da misericórdia – 2