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Domingo XV do TEMPO COMUM – ano C

10-07-2022
O mundo e a Igreja estão cheios de bons samaritanos. Não chegam a todas as partes do mundo, nem acodem a todas as necessidades, mas fazem um bem imenso e evitam uma quantidade inimaginável de mal. Ainda são muitas as pessoas retiradas das ruas, da delinquência, da depressão, da solidão, da escravidão, da fome e das dependências. Tantas pessoas que não caíram nestes mundos de perdição! Também é importante não esquecer tantos bebés salvos, em risco de serem abortados, tantas mulheres vítimas da violência doméstica! Não se chega a toda a parte, é verdade, mas há muitas pessoas que se movimentam perante a urgência de um caso concreto: pessoas espontâneas, redes sociais, entidades da Igreja, instituições privadas e serviços públicos. Não podemos esquecer os diversos organismos que trabalham e que estão sempre alerta para atender aos problemas de alguém: serviços de emergência imediata, pessoas dispostas a acompanhar alguém até quando for necessário, especialistas que ajudam a compreender e a enfrentar um problema, instituições que dão apoio económico, peritos que elaboram projetos para prevenir futuros problemas…

Muitas atividades e serviços eclesiais poderiam ter como patrono o bom samaritano da parábola: pastoral da saúde, atenção aos que não têm casa ou casa muito danificada, ajudas com bens alimentares e roupas, pastoral penitenciária, formação e reinserção social, visitas aos idosos e doentes, atenção às mulheres e crianças em situações de fragilidade, reabilitação de toxicodependentes e outras adições, orientação familiar, acompanhamento na dor, acompanhamento espiritual…e não esqueçamos o confessionário, o lugar onde se curam as feridas da alma.

Que sentimentos experimentaram o sacerdote e o levita que passaram adiante? Frieza e indiferença? Preguiça? Remorsos? Não sabemos, mas nenhum destes sentimentos nos ajudam a crescer e a sermos felizes. É mais fácil imaginar os sentimentos do bom samaritano, porque, de certeza, já os experimentámos por diversas vezes. Em primeiro lugar, uma grande compaixão que nos faz mudar de planos para atender uma pessoa que sofre perante os outros. Depois, um interesse e uma preocupação por estar ao lado dessa pessoa enquanto durar a sua recuperação. Finalmente, se tudo correr bem, uma grande alegria e um agradecimento. O mundo e a Igreja estão cheios de bons samaritanos. Todos nós somos convidados a ser bons samaritanos. Todavia, o que muitas vezes nos priva de o ser, é que também temos uma quota parte de doutor da Lei. Aquele doutor da Lei que falava com Jesus, como podemos ver no texto evangélico deste domingo, até estava no bom caminho. Para ele era claro que o mandamento principal da Lei é o amor a Deus sobre todas as coisas e o amor ao próximo, como a si mesmo. Mas, faltavam-lhe duas coisas.

A primeira coisa que lhe faltava motivou a resposta de Jesus com a parábola do bom samaritano: “Quem é o meu próximo?”. A quem tenho de amar? Os bons? Os puros? Os que acreditam em Deus? Aqueles que são meus amigos? Aqueles que pensam como eu? Aqueles a quem lhes posso pedir alguns favores? A resposta de Jesus é certeira: tens de amar aquele que mais necessita, mesmo que o não conheças. Tens de amar sem julgar nem fazer perguntas. “Um homem descia de Jerusalém para Jericó”. Nada mais sabemos dele, nem a origem, nem a sua profissão, nem a sua classe social.

A segunda coisa que faltava ao doutor da lei era o seu interesse para amar: “receber como herança a vida eterna”. A herança é um título de propriedade. Muitas pessoas falam ainda em “ganhar o céu”. Não se dão conta que o céu é algo que recebemos sem merecer, e que todas as boas ações que se possam fazer ao longo da vida não têm comparação com a bondade infinita que é Deus e que podemos gozar o seu Reino. Com as nossas boas ações não compramos o céu. De fato, o bom samaritano, por excelência, é o próprio Jesus, que veio ao mundo para nos salvar do pecado e da morte e cuida de nós até chegarmos à plenitude da vida no seu Reino.

Agradeçamos a Deus a oportunidade que nos dá de poder participar, sem mérito algum da nossa parte, da alegria de sermos bons samaritanos uns dos outros, cumprindo o mandato da parábola: “Vai e faz o mesmo”.

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