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Liturgia do Domingo IV do Tempo Comum – ano C

 

Na Oração Colecta deste Domingo, pedimos ao Senhor que “O adoremos de todo o coração e amemos todos os homens com sincera caridade”. Este pedido pode ajudar-nos na reflexão da leitura do evangelho deste Domingo. Para adorar o Senhor com todo o coração, temos de conhecer e de saber qual é a sua vontade. O texto do evangelho deste Domingo retoma o último versículo do Domingo anterior para continuar com a narração da sinagoga de Nazaré. Recordemos que o final do evangelho do Domingo passado deixava-nos com uma grande expectativa. Jesus tinha proclamado entre os seus conterrâneos o texto em que Isaías profetizava sobre a vinda do Messias e, ao enrolar o livro, exclamou: “Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir”. Acabava de afirmar que Ele é o Messias. Todos ficaram surpreendidos com esta revelação. E, num primeiro momento, parece que até houve um certo entusiasmo perante estas palavras. O anúncio era surpreendente. O evangelista diz-nos que “todos davam testemunho em seu favor e se admiravam das palavras cheias de graça que saíam da sua boca”. E perguntavam: “Não é este o filho de José?”. Claro que sim! Com esta admiração e com esta pergunta sentimos a realidade da Incarnação. Deus fez-se homem de uma forma natural num contexto muito concreto, com uma família, com parentes e com vizinhos. Deus actua através da normalidade da vida, apesar de sempre desejarmos ser testemunhas de acontecimentos extraordinários. De certeza que aquelas pessoas sonhavam a chegada do Messias como um acontecimento espectacular. Mas não foi assim! Deus manifesta-se no silêncio e poucos imaginavam que o Messias seria um dos seus conterrâneos. Para os habitantes de Nazaré, Jesus era o filho de José, e nada mais. Necessitavam do dom da fé para nele ver o Messias. É na vivência da fé que podemos contemplar Jesus como o nosso Salvador. Todavia, as palavras que Jesus disse depois de anunciar que era o Messias, não caíram bem naquelas pessoas. Neste momento são recordados dois momentos do Antigo Testamento, em que Elias e Eliseu defendem os estrangeiros. Assim revela que a sua missão não é somente para o povo de Israel mas também para todos os povos. Até os pagãos são chamados à salvação! Não esqueçamos que o povo de Israel considerava-se como o povo predilecto e escolhido por Deus para fazer chegar a salvação. Os outros povos ficavam à margem e excluídos deste plano salvífico divino. Por isso, é que as palavras de Jesus causaram mal-estar entre os seus conterrâneos. Depois de afirmar que é o Messias, diz-lhe que a salvação profetizada por Isaías não é só para eles, mas também para todos os povos, que os judeus consideram indignos de serem amados por Deus. Mas, não deveria ser motivo de alegria este anúncio da universalidade da salvação? O povo de Israel tinha caído na tentação do egoísmo ao acreditar que era o único onde Deus actuava. Nesta tentação todos nós podemos cair se nos convencermos que somos juízes dos outros e que somos superiores aos nossos irmãos. As palavras de Jesus fazem surgir uma reacção violenta daquelas pessoas. O texto diz-nos que “levantaram-se, expulsaram Jesus da cidade e levaram-no até ao cimo da colina sobre a qual a cidade estava edificada, a fim de O precipitarem dali abaixo”. Parece que estamos a ver uma antecipação da paixão e da morte de Jesus. Fica claro que a sua missão não será bem recebida por todos. “Mas Jesus, passando pelo meio deles, seguiu o seu caminho”. Ultrapassará este momento difícil como tantos outros que irá encontrar ao longo da sua vida, vencendo até o obstáculo da morte com a ressurreição. Vencidas todas as barreiras, Jesus salvou toda a humanidade e a sua mensagem ressoou por toda a terra. No início da celebração eucarística deste Domingo, pedimos a Deus que O adoremos de todo o coração e amemos todos os homens com sincera caridade. Porquê? Porque Ele amou-nos em primeiro lugar e salvou a todos, sem fazer acepção de pessoas. A nossa missão não é ser juiz sobre a vontade de Deus, mas acolhê-la para a viver e a transmitir.

 

30-01-2022

LEITURA ESPIRITUAL

«Jesus, passando pelo meio deles, seguiu o seu caminho»

Veio até nós um médico para nos restituir a saúde: Nosso Senhor, Jesus Cristo. Vendo a cegueira do nosso coração, prometeu-nos a luz que «os olhos não viram, os ouvidos não ouviram, o coração do homem não pressentiu» (1Cor 2,9). A humildade de Jesus Cristo é o remédio para o nosso orgulho. Não duvides nunca de quem te traz a cura e sê humilde, tu por quem Deus Se fez humilde. Com efeito, Ele bem sabia que o remédio da humildade seria a tua cura, porque conhece muito bem a enfermidade e sabe como se cura. Uma vez que não podias ser tu a visitar o Médico, foi o Médico que veio visitar-te. Veio ver-te e veio em teu socorro porque sabe muito bem do que necessitas. Deus veio na sua humildade para que o homem O pudesse imitar, pois se tivesse permanecido inacessível, como poderíamos nós imitá-lo? E, sem O imitar, como poderíamos ser curados? Veio na humildade porque sabia muito bem qual o remédio que devia receitar: um pouco amargo, por certo, mas salutar. E tu? Continuas a duvidar d’Ele, de quem te oferece a sua taça, e murmuras: «Mas que Deus é este, Senhor? Nasceu, sofreu, foi coberto de escarros, coroado de espinhos, cravado numa cruz!» Miserável alma, que vês a humildade do Médico mas não o cancro do teu orgulho! E é por isso que a humildade não te agrada. Por vezes acontece aos doentes mentais baterem nos médicos; neste caso, porém, o Médico, que é misericordioso, não só não fica indignado com quem Lhe bate, como ainda cuida de o tratar. O nosso Médico não teme ser atacado por pacientes dementes. Ele fez da sua morte o remédio para eles. Com efeito, Ele morreu e ressuscitou. (Santo Agostinho, 354-430, bispo de Hipona – norte de África, doutor da Igreja, Sermão Delbeau 61, 14-18).

 

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