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Liturgia do III Domingo da Quaresma- ano C

 

Estamos imersos numa sociedade, onde existem imensas situações que reclamam a nossa atenção: o cuidado dos idosos, a intolerância, tantas formas subtis de ódio, a violência das palavras e dos juízos de valor, a desconfiança, um certo espírito de vingança ou de querer que aqueles que cometeram alguma injustiça paguem duramente pelos seus actos. Todos os dias temos conhecimento de novas tragédias naturais ou provocadas pela violência da guerra ou do terrorismo. À nossa volta, entre os nossos amigos e pessoas mais próximas, encontramos situações de sofrimento causadas pela doença e pelo abandono. Diante deste cenário, não podemos ficar indiferentes.

Mas perante esta realidade, onde está Deus? Deus não está longe nem indiferente aos sofrimentos do mundo. Se há alguém que não pode suportar o sofrimento da humanidade é o nosso Deus. O diálogo que Moisés tem com o Senhor revela claramente a sensibilidade de Deus ao sofrimento dos homens e o Seu desejo de os libertar. Disse o Senhor: “Eu vi a situação miserável do meu povo no Egipto; escutei o seu clamor…conheço, pois, as suas angústias. Desci para o libertar das mãos dos egípcios e o levar deste país para uma terra boa e espaçosa, onde corre leite e mel”.

Através de uma sarça ardente, Deus chamou Moisés e este respondeu-lhe: “Aqui estou”. O Senho suscita vocações para trabalhar na construção de um mundo melhor, mais justo e mais fraterno. Poderíamos pensar que a conversão que nos proposta pela Quaresma é somente uma mudança interior, um olhar mais espiritual da vida. Mas não é assim. Moisés descobre que tem uma missão que é dada por Deus e que o fará sair do conforto de apascentar o seu rebanho. O compromisso dos cristãos deveria ser como uma sarça que arde no nosso coração e que nos envia a responder com as nossas capacidades às pessoas que têm de ser acolhidas e atendidas. Um gesto solidário, uma palavra amiga, uma informação, um olhar de simpatia e de cordialidade. Tudo isto pode ser feito através das instituições sociais caritativas, da amizade, escutando, visitando, ou de actividades políticas desinteressadas e não-eleitorais.

Para que tal aconteça, há que cultivar a atitude da mão estendida, ou seja, trabalhar juntos pelo bem comum. A política favorece a paz se reconhecer as capacidades de cada pessoa. Haverá algo mais belo do que uma mão estendida? Esta atitude é desejada por Deus para dar e receber. Deus não quer a mão estendida para matar ou fazer sofrer, mas para que se ajude a viver. Com o coração e a mente unidos, também a mão pode tornar-se um instrumento de diálogo.

Perante as desgraças ou as injustiças, temos a tentação de desviar o olhar ou ficar indiferentes, pensando que nada temos a ver com isso. Será que estamos dispostos a mudar esta maneira de pensar e de agir e colaborar com as nossas humildes forças em mudar as coisas e construir uma sociedade melhor? Se não somos solidários, se não formos sensíveis, todos poderemos sofrer as consequências. Por vezes, como diz Jesus, podemos ser como a figueira da parábola que não dava fruto. Porém, o vinhateiro disse: “Senhor deixa-a ficar ainda este ano, que eu, entretanto, vou cavar-lhe em volta e deitar-lhe adubo. Talvez venha a dar frutos”.

Que frutos podemos dar? Sentir a dor dos outros como própria. Estar consciente de que as injustiças irão ser resolvidas, trabalhar com generosidade pelos outros sem esperar recompensa. Assumir as responsabilidades da vida com entusiasmo. Deus é paciente e quer o nosso bem. É vontade de Deus que sejamos instrumentos ao serviço das causas humanitárias. Não podemos desviar o olhar e fugir na hora de servir os outros. Não podemos pensar que já fazemos o suficiente e que está tudo bem. O Senhor inunda-nos de graça e de ternura. Esta é a certeza que nos deve acompanhar durante o tempo da Quaresma. O Deus compassivo e misericordioso conta connosco para que o seu amor libertador chegue a todos os corações e confins da terra.

 

20-03-2022

LEITURA ESPIRITUAL

«Talvez venha a dar frutos no futuro»: imitar a paciência de Deus

 

Irmãos bem-amados, Jesus Cristo, Nosso Senhor e Deus, não Se contentou em ensinar a paciência por palavras; também a demonstrou com os seus actos. Na hora da Paixão e da cruz, quantos sarcasmos ultrajantes escutados com paciência, quanta troça injuriosa suportada, a ponto de ser cuspido, Ele que, com a sua própria saliva, tinha aberto os olhos a um cego (Jo 9,6); viu-Se coroado de espinhos, Ele que coroa os mártires com flores eternas; bateram-Lhe na face com as palmas das mãos, a Ele que concede palmas verdadeiras aos vencedores; foi despojado das suas vestes, Ele que reveste os outros de imortalidade; foi alimentado com fel, Ele que dá o alimento celeste; foi dessedentado com vinagre, Ele que dá a beber o cálice da salvação.

Ele, o inocente, Ele, o justo, ou antes, Ele, que é a própria inocência e a justiça, foi contado entre os malfeitores; falsos testemunhos esmagaram a Verdade; Aquele que deverá ser o juiz foi submetido a julgamento; a Palavra de Deus foi conduzida ao sacrifício, calando-Se. A seguir, quando os astros se eclipsaram, quando os elementos se perturbaram, quando a terra tremeu, Ele não falou, não Se mexeu, não revelou a sua majestade.

Tudo suportou até ao fim com constância inesgotável, para que a paciência completa e perfeita tivesse o seu auge em Cristo. E, depois de tudo isto, acolherá os seus carrascos, se se converterem e se se voltarem para Ele: graças à sua paciência, não fecha a sua Igreja a ninguém. Aos adversários e aos blasfemos, eternos inimigos do seu nome, não apenas lhes concede o perdão, se se arrependerem das suas faltas, mas recompensa-os com o Reino dos Céus.

Seria possível indicar alguém mais paciente, mais benevolente? A mesma pessoa que derramou o sangue de Cristo é vivificada pelo sangue de Cristo. Tal é a paciência de Cristo, e se não fosse tão grande, a Igreja não teria o Apóstolo Paulo. (São Cipriano, c. 200-258, bispo de Cartago e mártir, «Os benefícios da paciência», 7).

http://www.liturgia.diocesedeviseu.pt/

 

 

 

 

 

 

 

Conferência Episcopal Portuguesa – Orientações para o Culto e atividades pastorais

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