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Avisos e Liturgia do 31º Domingo do Tempo Comum- Ano B

No Domingo passado, no texto evangélico, vimos como os apóstolos Tiago e João, perante a pergunta “Que quereis que Eu vos faça?”, responderam que queriam poder, sentar-se à direita e à esquerda do Mestre. A pergunta repete-se no evangelho deste Domingo dirigida ao cego Bartimeu, mas também dirigida a cada um de nós. Também o Senhor me pergunta: “Que queres que Eu te faça?”. Cada um responderá partindo das suas necessidades, como o cego, que vive de pedir caridade, que suporta a suspeita sobre os pecados que terá cometido, ele ou os seus pais, e que provocaram a sua cegueira. Recordemos que no mundo judeu a doença era tida como consequência de algum pecado. Este homem tem fé, porque, aos gritos, dirige-se a Jesus dando-lhe o título de Filho de David e faz o seu pedido: “Tem piedade de mim”. Que oração tão simples e tão sincera! Por vezes, as súplicas e as justas reclamações dos pobres são reprimidas. O texto diz que “muitos repreendiam-no para que se calasse”. Não era a preocupação de não aborrecer o Mestre que os fazia ter este comportamento. Os ouvidos de Jesus estavam sempre atentos para escutar e acolher as súplicas e reclamações dos pobres. “Jesus parou e disse: Chamai-o”. Não te esqueças que Jesus também escuta o teu pedido! Este texto evangélico permite-nos apreciar o valor da comunidade que também se sente interpelada, e convertida, pela decisão de Jesus de chamar aquele pobre cego que estava aos gritos. As pessoas rejeitavam o cego, pecador e pobre, porque estava a incomodar, porque não tinha o direito de se manifestar e porque, sendo considerado pecador, não tinha direito a Deus. Contudo, a voz do cego expressa a sua fé enraizada na convicção de que Jesus é o Filho de David, o Messias. É isto que lhe dá força para insistir. O seu pedido é escutado por Jesus, que o manda chamar, dizendo, assim, às pessoas que todos têm o direito a ser escutados e acolhidos por Ele. Com esta acção educa e repreende todos aqueles que queriam excluir aquele pobre. Então, as pessoas dizem ao cego: “Coragem! Levanta-te, que Ele está a chamar-te”. E qual é o pedido daquele homem a Jesus? “Mestre, que eu veja”. Desejamos sempre que Deus atenda e realize os nossos pedidos pessoais e das pessoas que mais gostamos. Recordemos o argumento dos responsáveis da sinagoga de Cafarnaum para que Jesus curasse o servo do centurião: “Satisfaz o seu pedido, porque ele gosta muito de nós e até nos construiu a sinagoga”. Tantas vezes, usamos o mesmo argumento para sermos escutados com as seguintes palavras: “até é boa pessoa”, “está sozinha, coitada”, “ajuda toda a gente”, “é muito simples”, “tem os filhos no desemprego”, “está doente”, “é um miserável, não tem nada”! “Logo ele recuperou a vista e seguiu Jesus pelo caminho”. Através de uma narração tão simples esconde-se uma breve explicação do caminho a fazer para cada um se encontrar com Jesus Cristo e seguir os seus passos. É cego quem não descobriu Jesus Cristo como Mestre e como Senhor. Em primeiro lugar, o cego Bartimeu só reconhece Jesus como Filho de David, como Messias. Mas Jesus está atento e disponível a deixar-se encontrar pelos que O procuram, como fez com Zaqueu. Depois, chamou o cego que atirou fora a capa, ou seja, desprendeu-se de tudo o que lhe pudesse impedir de ir ao encontro de Jesus. Deu um salto, libertado da miséria e respondeu a Jesus dando-lhe o título de Rabbuni, mestre, senhor, pedindo-lhe a fé: “Que eu veja”, ou que eu tenha fé. De imediato, Jesus percebeu o cego, como também me percebe a mim com prontidão: “Vai: a tua fé te salvou”. Assim, temos um final feliz: o cego recuperou a vista, abriram-se-lhe os olhos da fé, e seguiu Jesus como solução para a sua pobreza. E qual era o caminho que o cego percorria para seguir Jesus? Era o caminho para Jerusalém, para viver com Jesus a sua paixão, morte e ressurreição. No seu texto evangélico, a seguir à cura do cego Bartimeu, S. Marcos narra a entrada de Jesus em Jerusalém, recordada todos os anos no Domingo de Ramos. Também Jesus me chama a segui-Lo por este caminho.

31-10-2021

LEITURA ESPIRITUAL

No Monte Sinai, Moisés disse ao Senhor: «Mostra-me a tua glória». Deus respondeu-lhe: «Farei passar diante de ti toda a minha bondade, mas tu não poderás ver a minha face» (Ex 33,18ss).] Experimentar este desejo parece-me porvir de uma alma animada pelo amor à beleza essencial, uma alma a quem a esperança não para de conduzir da beleza que já viu para aquela que está para além. Este pedido audacioso, que ultrapassa os limites do desejo, almeja pela beleza que está para além do espelho, do reflexo, para a ver face a face. A voz divina satisfaz o pedido, recusando-o simultaneamente: a magnanimidade de Deus concede-lhe a satisfação do desejo mas, ao mesmo tempo, não lhe promete repouso nem saciedade. É nisto que consiste a verdadeira visão de Deus: quem para Ele eleva os olhos nunca mais cessa de O desejar. É por isso que Ele diz: «não poderás ver a minha face». O Senhor que tinha respondido a Moisés exprime-Se da mesma forma aos seus discípulos, clarificando o sentido desta simbologia. Ele diz «Se alguém quiser vir após Mim», (Lc 9,23) e não: «Se alguém quiser ir à minha frente». Ao que Lhe faz um pedido a respeito da vida eterna, propõe o mesmo: «Vem e segue-Me» (Lc 18,22). Ora, aquele que segue caminha virado para as costas daquele que o guia. Portanto, o ensinamento que Moisés recebe sobre a maneira pela qual é possível ver a Deus é este: ver a Deus é segui-Lo para onde Ele conduzir. Com efeito, aquele que não conhece o caminho não pode viajar em segurança se não seguir o guia. Este precede-o, mostrando-lhe o caminho; por isso, quem o segue não se desviará do caminho se se mantiver virado para as costas daquele que o conduz. Com efeito, se se deixar ir ao lado ou de frente para o guia tomará uma via diferente da indicada. Por isso, Deus diz àquele a quem conduz: «Não poderás ver a minha face», o que significa: «Não olhes de frente o teu guia» porque, se assim fizesses, correrias num sentido que Lhe é contrário. Como vês, é importante aprender a seguir a Deus: para aquele que assim O segue nenhuma contradição do mal se poderá opor ao seu caminhar. (São Gregório de Nissa, c. 335-395, monge, bispo, A Vida de Moisés, II, 231-233, 251-253 (a partir da trad. de cf. SC Iter, pp. 265ss.).

 

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Ano B - Tempo Comum - 31º Domingo - Boletim Dominical II

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