“Se não vir, não acredito”. É o critério de Tomé, perante a notícia da Ressurreição. Hoje, este critério ganha terreno na mentalidade actual. Não nos podemos convencer que é verdade tudo o que vemos ou ouvimos. Com os meios técnicos, de imagem e de som, é possível, hoje, publicar vídeos em que se coloca uma pessoa a dizer e a fazer o que nunca disse e fez. É o mundo do “deepfake” e das “fakenews”, tendo como tradução da “falsidade e dos falsos”.
No tempo de São Tomé, nada disto acontecia. Se vias alguma coisa, podias acreditar nela. Ora, a fé de Tomé foi muito além do que viu e tocou. Viu e tocou um corpo humano. Ficou surpreendido ao ouvir que Jesus estava vivo, depois de ter sido pregado na cruz. Contudo, exclamou: “Meu Senhor e meu Deus”. Reconheceu a sua soberania e a sua divindade: este é o acto de fé de Tomé. Por isso, podemos afirmar que Tomé viu, mas também acreditou. Não ficou somente pelo que via, mas descobriu a verdadeira identidade de Jesus, com quem tinha convivido durante algum tempo.
Jesus disse: “felizes os que acreditam sem terem visto”. Refere-se aos cristãos de todos os tempos que acreditaram Nele sem O terem visto. Mas, não podemos acreditar sem ter experimentado, sem nos encontrarmos com Jesus. O texto evangélico deste domingo manifesta-nos a importância da comunidade. Jesus apresentou-Se, quando os discípulos estavam reunidos. Tinham as portas fechadas, com medo dos judeus, e os corações apertados pela ansiedade e pelo desespero…, mas estavam unidos! E Jesus torna-se presente. Oito depois, aconteceu o mesmo: nova reunião e nova aparição. Vale a pena pensarmos nisto, quando custa tanto mantermos a perseverança à missa de cada Domingo. É evidente que as nossas reuniões dominicais nem sempre reúnem as melhores condições, mas desde os tempos apostólicos são a forma desejada de Jesus se tornar presente entre a comunidade reunida. Se não estamos lá, perdemos tudo isto!
Podemos acreditar sem ver, é verdade, mas não podemos acreditar sem experimentar. É oportuno, então, pensar se já experimentámos Deus, se já nos encontrámos com Jesus, se sentimos a presença do Espírito Santo. Mas, será que se sente alguma emoção especial? Deus não se engana, porque enganar-se é próprio dos seres humanos. Não é prudente deixarmo-nos levar por emoções passageiras, mas pela verdadeira experiência de Deus que deixa as marcas que encontramos no evangelho deste domingo. Em Jesus, torna-se presente o Reino de Deus, são vencidos o pecado e a morte, os seres recuperam a sua beleza original, dada por Deus, e caminham para a plenitude, onde Deus será tudo em todos. Neste encontro com Jesus, os discípulos recebem a paz e a alegria, que não são uma euforia momentânea de uma vitória inesperada, mas a descoberta de que as coisas voltam a ser como sempre deveriam ter sido, e que, agora, ninguém pode parar a nova criação que Jesus iniciou.
É esta paz e alegria que Jesus nos envia a espalhar, mediante o seu Espírito. Em Cristo, e somente Nele, o perdão e a reconciliação são oferecidos a todos, abrindo, assim, o caminho do Reino entre nós. Era isto que já começavam a experimentar os primeiros cristãos, que viviam como irmãos e partilhavam os bens e a oração. A Igreja continua a obra de Jesus, quando a comunidade vive em verdadeira comunhão, apoiada no essencial, testemunhando a alegria e a simplicidade de coração que brotam do encontro com Deus. É este rosto que a Igreja, também hoje, deve dar ao mundo.
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Flyer Parque do Perdão, Vigilia, Via Sacra e Missa Final (3)
LEITURA ESPIRITUAL
Jesus arde no desejo de ser amado
Jesus confia-lhes (aos discípulos receosos e admirados) o dom de perdoar os pecados, dom que brota das feridas das suas mãos, dos seus pés e sobretudo do seu lado trespassado. Dali sai uma vaga de misericórdia para toda a humanidade. Revivemos este momento com grande intensidade espiritual. Também hoje o Senhor nos mostra as suas chagas gloriosas e o seu Coração, fonte ininterrupta de luz e de verdade, de amor e de perdão.
O Coração de Cristo! O seu Sagrado Coração deu tudo aos homens: a redenção, a salvação, a santificação. Através do mistério deste Coração ferido, não cessa de se difundir, também sobre os homens e as mulheres da nossa época, o fluxo reparador do amor misericordioso de Deus. Quem aspira à felicidade autêntica e duradoura, unicamente nele pode encontrar o seu segredo. «Jesus, confio em Ti».
Esta oração, querida a tantos devotos, exprime muito bem a atitude com que também nós desejamos abandonar-nos confiantes nas tuas mãos, ó Senhor, nosso único Salvador. Arde em Ti o desejo de seres amado, e quem se sintoniza com os sentimentos do teu Coração aprende a ser construtor da nova civilização do amor. Um simples acto de abandono basta para superar as barreiras da escuridão e da tristeza, da dúvida e do desespero. Os raios da tua divina misericórdia dão nova esperança, de maneira especial, a quem se sente esmagado pelo peso do pecado. (São João Paulo II, 1920-2005, Homilia do 2º Domingo da Páscoa, Abril de 2001, nn. 4-6).
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