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Artigos de Opinião

Artigo de opinião de Augusto Falcão—-Agosto em chamas

E acaba agosto com uns dias frescos, mas recordam-se da minha última crónica? Foi sobre os incêndios; naquela altura havia 3 grandes ocorrências: Ponte da Barca, Arouca e Penamacor;

E vai daí que agosto nos prega uma grande partida; calor quase todo o mês; consequência disto?

Grandes incêndios; incêndios com vários dias de duração, com muitas horas de diretos nas televisões que mostravam o HEROÍSMO das populações, muitas vezes sem ajuda, a tentarem salvar os seus pertences; Bombeiros que lutavam com um verdadeiro inferno de chamas, que teimava em não dar tréguas; relatos imensos da descoordenação entre terreno e comando, eram o prato de cada dia; em qualquer canal de televisão era uma chuva de especialistas sobre incêndios florestais, onde havia desde especialistas de comunicação até comandantes de Bombeiros, que no fundo, ainda cestão entre os técnicos com credenciação para falar das operações de combate.

Mas era um verdadeiro desfile de estrelas; recordo-me particularmente de alguém dizer que tinha passado 1 semana no interior do País e que conhecia o território de que se falava…

Omitiu-se que mais de 90% dos incêndios nascentes foram dominados à sua nascença porque esses não dão direito a imagens catastróficas, nem a um rol de especialistas poderem debitar sempre ou quase sempre a mesma mensagem;

Recordo-me de quando era miúdo, de ir com os meus avôs para as hortas que povoavam a nossa paisagem; todos tinham um bocadinho que terra para plantar; essas terras cuidadas eram bons tampões ao incêndios; também me recordo de que tudo o que se podia apanhar no meio das matas, tudo era aproveitado para as lareiras aquecerem as casas; matas limpas também dificultam a propagação dos incêndios; e também me recordo que havia mais castanheiros e carvalhos e menos pinheiro e eucalipto, árvores estas que são mais resistentes ao fogo, mas também ardem, ao contrário do que também ouvi dizer numa televisão nacional; foi um momento de humor….

Ora a vida mudou; o clima também; e se estes dois fatores mudaram a nossa paisagem, o nosso território também mudou; tornou-se mais seco e quente; e se as terras deixaram de ser tratadas, a carga combustível como aumenta, aumenta também a intensidade dos incêndios; se juntarmos a isto um isqueiro ou uma trovoada seca ( o apurar das causas dos incêndios são da responsabilidade das autoridades policiais) vamos ter um incêndio; e se juntarmos todas as estrelinhas certas teremos um incêndio muito difícil de controlar;

Mas até aqui não há novidades; todos nós sabemos isto; e basicamente foi isto que o rol de especialistas e comentadores debitaram nas televisões; diagnósticos já feitos há bastante tempo, e sempre repetidos de ano para ano, porque todos os anos andamos a falar nisto; e quando caem as primeiras pingas, a nossa comunicação social tão expedita a dar voz a um desfile de especialistas, também esquece o assunto; até dá a sensação que haver fogos dá jeito as televisões senão o que noticiar? Os mergulhos do Presidente da República no Algarve?  Afinal estamos na silly season certo?

Afinal não precisamos de mais diagnósticos; porque eles estão todos feitos;  precisamos é de ação; precisamos de o governo arregace as mangas e se ponha a trabalho; coloque em prática os planos de prevenção e limpeza do território, começando pelas propriedades do estado; que crie legislações exequíveis e não feitas a “martelo” após a ocorrência ( casa roubada, trancas na porta); que crie um sistema de combate simples e descomplicado para que as necessidades fluam cadeia acima sem ser preciso (“requerimentos em papel selado) como se dizia antigamente; que as Câmaras e juntas assumam as suas responsabilidades nas suas áreas de influência , relativamente às limpezas dos terrenos, mesmo em ano de eleições ( sei que é pouco eleitoral, mas é um mal necessário); não precisamos é do passa culpas sistemático que existe neste País; sim, porque os investigadores dos incêndios afirmam que o futuro próximo vai ser com incêndios mais difíceis de extinguir… precisamos de ação e não de palavras e grupos e comissões de estudo: porque parece-me que tudo está estudado e com recomendações; tudo o resto é empurrar os problemas com a barriga e deixar o problema para o próximo ano.

Espero pelo ano que não se fale nisto… mas estou cada vez mais a desistir.

Tenham cuidado; evitem comportamentos de risco; sigam os conselhos das autoridades….

Um bom setembro.

Augusto Falcão

 

Artigo de opinião de Luís Miguel Condeço—-Arder por dentro

Outra vez!

Voltou a viver-se neste mês de agosto um cenário de fogo quase permanente. As imagens repetem-se: aldeias cercadas pelas chamas, populações em fuga, habitações destruídas, animais mortos, bombeiros exaustos. Mas, para lá da destruição visível, há feridas silenciosas que se instalam e que perduram além do rescaldo, como o impacto dos incêndios na saúde das populações.

Segundo o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, arderam já este ano cerca de 234 mil hectares, o valor mais elevado desde 2017, quando as tragédias de Pedrógão e de outubro desse ano marcaram para sempre a memória coletiva dos portugueses. Só em agosto, registaram-se dezenas de grandes incêndios, incluindo o megaincêndio que deflagrou em Arganil, responsável pela maior área ardida deste ano. E mais importante, a perda de vidas humanas que se somam a esta tragédia, contando-se oito mortes diretamente associadas ao fogo.

Os números ajudam a perceber a dimensão do problema. Entre 2010 e 2025, a área florestal perdida soma 1,97 milhões de hectares, o equivalente a 60% de toda a floresta portuguesa. Distritos como Coimbra, Viseu e Castelo Branco concentram mais de 320 mil hectares ardidos na última década, refletindo a vulnerabilidade crónica do interior. Não se trata apenas de hectares de pinhal e eucalipto, mas de comunidades expostas a uma ameaça repetida, que compromete a sua saúde e qualidade de vida.

A ciência é clara, a exposição ao fumo e às partículas finas libertadas pelos incêndios aumenta os riscos de doenças respiratórias e cardiovasculares. Tosse, falta de ar (dispneia), agudizações de asma ou agravamento da doença pulmonar obstrutiva crónica tornam-se frequentes nas semanas mais críticas. Idosos, crianças e pessoas com doenças respiratórias são os mais atingidos, mas ninguém fica imune. E de forma oficiosa, sabemos que as unidades hospitalares das zonas afetadas registam sempre picos de procura nestes períodos, confirmando que os incêndios florestais são também um problema de saúde pública.

Há, contudo, um outro impacto que raramente ocupa o espaço mediático, ou que por pequenos “fogachos” vai sendo abordado por alguns especialistas nos programas televisivos, e que nos faz “arder por dentro” – o impacto na saúde mental das populações. Quem vive a ameaça das chamas, quem perde a casa ou os terrenos agrícolas e florestais, carrega cicatrizes emocionais profundas. Ansiedade, insónias, depressão e até perturbação de stress pós-traumático são cada vez mais identificados em comunidades atingidas. E também as equipas de socorro e emergência, como os bombeiros, submetidos a uma pressão contínua e muitas vezes desumana, estão igualmente em risco.

O combate aos incêndios exige meios no terreno, mas também uma estratégia integrada do sistema de saúde. É urgente investir em programas de vigilância respiratória para grupos vulneráveis, criar equipas de apoio psicológico nas zonas afetadas e assumir que cada grande incêndio é também uma crise de saúde pública. Ao mesmo tempo, não podemos esquecer a prevenção: mais de 70% das ignições em Portugal têm origem em atividades humanas, desde queimadas agrícolas ao fogo posto. Sem educação, fiscalização e políticas de ordenamento, os números não se irão alterar.

O verão de 2025 deixa, mais uma vez, a lição dolorosa de que os incêndios não se medem apenas em hectares perdidos. Medem-se em vidas interrompidas, em corpos fragilizados pela poluição, em mentes marcadas pelo medo. A floresta pode regenerar-se com o tempo. As pessoas, sem apoio, não. E é por elas que este combate não pode nunca terminar, mesmo quando a última chama se apaga.

Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

Artigo de opinião de Luís Miguel Condeço—Educação Assexuada

Em Portugal, a Educação Sexual é legalmente obrigatória desde 2009. No entanto, quem acompanha a realidade escolar percebe rapidamente que sua implementação é mais teórica do que prática, e mais desejada do que efetivamente realizada. Na maioria das escolas, tópicos relacionados à sexualidade, no seu sentido mais amplo e humano, aparecem esporadicamente, entre uma aula de ciências naturais e uma sessão pontual com um profissional de saúde. A sexualidade ainda é vista como um risco a evitar, e não como um direito a ser vivido. Essa é a grande contradição da Educação Sexual em Portugal: sendo um dever do Estado, permanece uma tarefa negligenciada.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a sexualidade é “um aspecto central do ser humano ao longo da vida”, influenciada por fatores biológicos, psicológicos, sociais, culturais, éticos e espirituais. Na escola portuguesa, essa centralidade frequentemente é negada, e a sexualidade permanece como um tema secundário, muitas vezes considerado desconfortável, sendo relegada a atividades extracurriculares ou a abordagens improvisadas na educação.

A Lei n.º 60/2009, de 6 de agosto, ainda vigente, determina que a Educação Sexual seja ensinada do 1.º ao 12.º ano, inserida na disciplina de Cidadania e Desenvolvimento (no 2º e 3º ciclos) ou por meio de projetos transversais. Contudo, e após mais de uma década depois da sua publicação, o Ministério da Educação admite que muitas escolas não cumprem totalmente a lei. Entre os obstáculos estão a falta de gabinetes de apoio ao aluno, recursos humanos insuficientes, escassez de tempo letivo ou espaço físico, além de equipas pedagógicas pouco preparadas e quase nenhum envolvimento de encarregados de educação.

Para além disso, a abordagem dominante continua excessivamente centrada na componente biológica da sexualidade: gravidez, infeções sexualmente transmissíveis, puberdade; descurando os afetos, os valores, a identidade, a igualdade de género, os direitos sexuais e reprodutivos, a intimidade, o prazer e a responsabilidade. A Educação Sexual é assim reduzida a uma lógica de prevenção do risco, muitas vezes enviesada por preconceitos, ausente de uma perspetiva emancipadora.

Manuel Damas, sexólogo português, afirma que “a sexualidade e os afetos são essenciais na formação do ser humano e as escolas têm uma função determinante na desconstrução de tabus e mitos”. De facto, mais do que ensinar a evitar riscos, a escola deve educar para viver, para compreender o corpo, respeitar o outro, assumir os desejos com responsabilidade, reconhecer a diversidade de identidades e expressões. A adolescência, com as suas descobertas e contradições, exige informação rigorosa, espaço para o diálogo e uma pedagogia dos afetos. Esconder a sexualidade é condenar os jovens à ignorância e à culpa.

Estudos e relatórios internacionais demonstram que os programas de Educação Sexual Compreensiva contribuem para o adiamento do início da vida sexual, redução do número de parceiros, maior uso de contracetivos, e talvez mais importante, para o desenvolvimento de relações mais saudáveis e menos violentas. Estes programas reconhecem a sexualidade como parte da dignidade humana e promovem atitudes mais inclusivas, diminuem a homofobia, a discriminação e a violência baseada no género.

A falta de um programa nacional bem estruturado, que seja substituído apenas por “orientações” e uma grande liberdade para cada escola, levará a uma grande disparidade na aplicação da lei. Contudo, poderemos contar com escolas que criam projetos sólidos, trabalhando em parceria com profissionais de saúde, organizações não governamentais e serviços comunitários.

Um exemplo de boa prática nesta área é o projeto “Devagar que tenho P®essa”, da Escola Superior de Saúde de Viseu, que promove a literacia em saúde sexual e afetos junto de alunos do ensino básico (2º e 3º ciclos), através de sessões educativas, formação de professores e materiais pedagógicos. Esta iniciativa preenche lacunas deixadas pelo sistema, mostrando como a escola pode, de facto, educar para a sexualidade de forma estruturada, respeitosa e transformadora.

É tempo de resgatar a dimensão pedagógica da sexualidade e afirmar o papel da escola como espaço de formação integral. Para isso, é urgente investir na formação dos professores, envolver os pais, criar equipas multidisciplinares efetivas, integrar os alunos nas decisões e garantir que todas as escolas do país, de forma sistemática e sustentada, assumam a Educação Sexual como prioridade. Não como um apêndice, mas como parte essencial da Educação para a Saúde, da Educação para os Direitos Humanos e, em última análise, da Educação para a Vida.

Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

Artigo de Opinião de Augusto Falcão—Temperaturas elevadas

Chegou o calor; e nestes últimos dias um calor acima do normal, mesmo em tempo de verão;

E pelas previsões, o tempo quente irá continuar para mal dos de sempre; espantou-me que nada tivesse ocorrido na primeira vaga de calor; os incêndios que deflagraram foram de pouca monta se a memória não falha;

Mas, e ainda estamos no início desta vaga de calor, e já os serviços noticiosos abrem com grandes incêndios em vários pontos do País.

À hora que escrevo isto, há pelo menos 3 grandes ocorrências em Portugal; Arouca, Ponte da Barca e Penamacor; e durante os próximos dias logo veremos, até porque o calor, de acordo com as previsões não dá sinal de querer abrandar;

Mais uma vez, as nossas televisões em horário nobre, enchem-nos de veículos de bombeiros, de bombeiros a tentar extinguir as chamas, de populações em desespero, e que veem os seus bens a serem reduzidos a cinzas em questões de minutos.

Mais uma vez…, mas eu recordo-me de o ano passado, termos visto a mesma coisa; e há dois anos também, e há três… e se formos por aí a fora, iremos regressar ao fatídico ano de 2017, onde os incêndios de junho e outubro criaram a página mais negra da nossa história moderna….

E todos os anos, vemos as mesmas imagens; e revoltam-nos; dizemos que tudo tem que mudar; os políticos esses apressam-se a debitar umas frases feitas (há muito tempo) esquecendo-se depois de tudo o que disseram; do governo à oposição, todos debitam uma qualquer verdade, que um dia foi produzida numa daquelas comissões que se criam depois de alguma catástrofe (lembra-se de Pedrógão?) mas que depois não saem disso mesmo – de comissões e de uma página num relatório.

Aliás, lembram-se da mais alta figura da Nação ter visitado Pedrógão e que numa imagem comovente abraçou um idoso que tinha ficado sem a sua casa? Essa individualidade disse que tudo iria ser reconstruído; pelo que li, esse idoso já não está entre nós, mas a sua casa também não foi reconstruída.

Palavras leva-as o vento; todos reclamam e todos concordam na análise; todos aceitam que é preciso mudar; mas onde o poder realmente reside nada muda; em público diz-se umas coisas “giras”, mas depois nos gabinetes onde o verdadeiro “status quo” existe a ordem é para nada fazer porque tudo tem de ficar igual; ou então muda-se algo, na superfície porque na sua essência tudo fica igual;

No início da “época balnear” ou época de incêndios, juntam-se todos, numa exposição de veículos, operacionais e equipamentos, para dar a noção de segurança e que tudo está a postos; mas a verdade é que apesar do esforço de todos os que a esta hora combatem as chamas em Portugal,  tudo voltará ao seu rumo normal depois da tempestade de fogo terminar; a terra estará negra, as cinzas ocuparão o lugar do verde da mata e daqui a uns anos tudo estará igual e pronto para arder…

E o que nos vai ainda valendo é este esforço, destes operacionais que tudo darão para que o mal maior não suceda…

Tenham cuidado; evitem comportamentos de risco; sigam os conselhos das autoridades….

Um bom agosto.

Augusto Falcão

Artigo de Luís Miguel Condeço—O lado certo da guerra

Da Guarda a Beja, dista (em linha reta) sensivelmente o mesmo, que de Gaza ao país europeu mais próximo (Chipre). Este conflito, infelizmente também é nosso, como a guerra na Ucrânia! E ainda há poucas semanas, se evidenciava a mortandade dos dois conflitos, ultrapassando o milhão e meio de vítimas (mortos e feridos). E na Europa, a história vai-se repetindo com muito frequência e amplitude.

Há pouco mais de século e meio (24 de junho de 1859), a violência das guerras atingia níveis sem precedentes. No norte de Itália, o empresário suíço Jean‑Henri Dunant acabado de chegar a Castiglione delle Stiviere, foi surpreendido pela sangrenta batalha de Solferino, confronto brutal entre exércitos austríacos e franco‑sardos que durou aproximadamente nove horas. Acredita-se que o número de feridos e mortos, ultrapassou os 40 000 soldados, que nos dias seguintes chegaram a Castiglione, transformando a localidade num hospital improvisado. Os residentes esforçavam-se por ajudar os feridos da batalha, e Dunant colaborava nesse esforço, impressionando-o os cuidados prestados pelas mulheres da vila a soldados aliados e inimigos, não olhando à farda que envergavam. Esse esforço espontâneo inspirou‑o a escrever Un souvenir de Solférino, em que sublinhou a urgente necessidade de criar uma associação permanente para cuidar dos feridos em tempos de paz e guerra.

De facto, a batalha de Solferino deu origem a um movimento global de ajuda humanitária e à regulamentação da proteção dos feridos e dos civis em guerra.

Em 1863, Dunant reuniu‑se com diversas personalidades e representantes de dezasseis estados europeus em Genebra, criando o Comité Internacional das Sociedades de Ajuda aos Feridos, antecessor do Comité Internacional da Cruz Vermelha. No ano seguinte (1864), realizou‑se a conferência diplomática que originou a Primeira Convenção de Genebra, intitulada “Sobre a melhoria do destino dos militares feridos em campanha”. Nesta convenção, assinada por doze países (incluindo Portugal), surgiu pela primeira vez o símbolo que conhecemos hoje, a cruz vermelha sobre fundo branco, que deveria ser utilizada pelos membros do Comité.

 

O símbolo da Cruz Vermelha (e, mais tarde, do Crescente Vermelho e do Cristal Vermelho) tornou‑se um farol de esperança em campos de batalha, sob a proteção jurídica das convenções. Os emblemas identificam quem está exclusivamente ao serviço da humanidade, e quem deve permanecer intocados pelo conflito.

As Convenções de Genebra estabeleceram normas básicas do Direito Internacional Humanitário, como o tratamento sem discriminação de feridos e dos doentes, a proteção dos hospitais e dos profissionais, e o respeito pela neutralidade médica. Foram adotadas mais três convenções (1906, 1929, 1949), que estenderam a proteção aos náufragos, regularam os direitos e o tratamento dos prisioneiros de guerra e introduziram proteções explícitas para civis. Os protocolos de 1977 e de 2005 adaptaram o Direito Humanitário a conflitos armados não‑internacionais e introduziram símbolos alternativos com o mesmo valor legal.

O Comité Internacional da Cruz Vermelha, formalizado em 1876, assume o papel de guardião destas convenções. Conjuntamente com o Crescente Vermelho agrupa 191 sociedades nacionais e mobiliza cerca de 80 milhões de pessoas, reafirmando-se como organismo “neutro, imparcial e independente”. Atua exclusivamente com base no Direito Humanitário, promovendo o respeito por estas normas, visitando detidos e prisioneiros, prestando cuidados médicos diretamente em zonas de conflito e instaurando diálogo diplomático quando necessárias negociações para permitir ajuda humanitária.

O impacto destas conquistas não se limitou a legislações ou a símbolos, a Cruz Vermelha foi laureada com o Prémio Nobel da Paz por três vezes (1917, 1944 e 1963), reconhecendo a sua ação vital durante as guerras mundiais e ao longo de um século de intervenção humanitária. Assim como, o seu fundador Jean-Henri Dunant (juntamente com Frédéric Passy), recebeu o primeiro Prémio Nobel da Paz em 1901.

Hoje, vemos ataques a estruturas e instalações prestadoras de cuidados de saúde, sequestros e mortes de profissionais de saúde, ou bloqueios de ajuda humanitária, e nunca é de mais referir a importância dos princípios inerentes ao Direito Internacional Humanitário. Reafirmar o legado de Dunant e das Convenções é insistir que, mesmo na guerra, há regras. E as regras existem para salvar vidas. Este é o lado certo da guerra.

Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

 

Artigo de Augusto Falcão—–Temperaturas elevadas repentinas

Chegou o calor; e nestes últimos dias um calor acima do normal, mesmo em tempo de verão;

Apetece a praia, ou o rio, estarmos à sombra, e bebermos umas cervejas frescas numa qualquer esplanada de um qualquer café onde quer que a gente se encontre; e sim sabe bem beber umas cervejas fresquinhas, na esplanada, estar na amena cavaqueira entre amigos. E nada disto fará mal, se for com dentro dos limites do aceitável; até porque ao contrário do que muita gente possa achar, a cerveja acaba por nos fazer urinar com frequência, o que promove a perda de líquido pela urina, logo beber umas cervejas sim, com alguma regra.

Nestes dias, devemos tentar beber muita água, ou outros líquidos não alcoólicos de preferência, de forma que possamos manter uma hidratação adequada, já que pelo mecanismo da transpiração acabamos por perder água e a sua reposição é sempre necessária; não me atrevo a dizer quanta água cada um deverá beber por dia, até porque isso depende da pessoa em causa; mas uma coisa vos devo dizer; nestes dias bebam muitos líquidos; mantenham-se frescos e hidratados, de forma a prevenir a perda substancial de líquidos, quer pelo suor, quer pela urina; evitem sair à rua durante as horas de maior calor; se tiverem que o fazer, usem roupas frescas, levem água para ir bebendo e usem chapéus; a nossa saúde começa em nós e não devemos achar que os médicos, os Centros de Saúde, os Hospitais servem para curar os nossos erros; até porque, antigamente, além de não haver estas ondas de calor extremo como há hoje ( ou se calhar até havia; a gente chamava isso era verão) não havia a quantidade de informação disponível que há hoje; logo as pessoas deveriam estar mais informadas acerca dos perigos destas ondas de calor, e igualmente importante das medidas preventivas que devem adotar durante estes períodos;

Por isso escrevo estas linhas para relembrar aos nossos leitores estas medidas de autoproteção durante estes dias de calor extremo:

Bebam líquidos, mesmo sem terem sede, de preferência não alcoólicas e com baixo teor de açúcar; comam fruta fresca também; evitem sair à rua durante as horas de maior calor; em caso de necessidade usem roupas frescas, levem água para ir bebendo, chapéus e usem protetor solar;

Aos nossos idosos, tenham muito mais cuidado com estas recomendações já que eles são mais sensíveis ao calor extremo que os adultos, pelo que, protejam-se ainda mais. A quem cuida de idosos, ofereçam água frequentemente já que esta população pode não sentir a sede, logo não manifestam a intenção de querer água; estas medidas são válidas para as crianças também;

Caso possam e tenham possibilidade, a página WEB da Direção Geral da Saúde tem uma página dedicada a este tema muito mais completa; eu apenas deixei aqui algumas das muitas recomendações que esta página tem;

Por fim, um apelo; verão é sinónimo de praia; de férias, de descanso, de festas populares; mas também é sinónimo de incêndios; e este verão, talvez, não seja exceção; deixo aqui um apelo:

Tenham comportamentos adequados quando em espaço florestal ou rural, de acordo com as indicações das autoridades. Vamos tentar evitar incêndios rurais, porque por cada incêndio, perde-se sempre alguma coisa, nem que sejam mato e giestas; além disso, e talvez sempre mais importante, vidas vão ser colocadas em risco; bombeiros e população em geral; a possibilidade de termos um 2017 é real e os académicos referem isso; vamos evitar os comportamentos negligentes ou minimizar os descuidos;

Boas férias e bom julho.

Augusto Falcão

Artigo de opinião de Vítor Santos—-O desporto merece mais do que esta hipocrisia coletiva

A época desportiva 2024-2025 está a acabar e não há muitos motivos para festejar.

Os casos de violência no desporto persistem e são, cada vez mais, o espelho da sociedade em que nos tornámos. É grave, e devíamos preocupar-nos. Vários casos como os que se têm repetido deveriam obrigar quem de direito a refletir seriamente e a agir com firmeza. Mas continuamos a fingir que não é connosco.

Não é um exclusivo português, é verdade. Mas é em Portugal que vivemos e é aqui que devemos intervir. Já o escrevi antes: nada, absolutamente nada, justifica a violência – e só nos indignamos quando ela nos toca diretamente.

A sucessão de episódios é clara. O ambiente tóxico em muitos espaços desportivos tornou-se banal. No desporto de formação, onde o ego já ocupa demasiado espaço,
há situações que exigem a presença das autoridades para proteger crianças e jovens.

É isto que está em causa.

Há ainda demasiados profissionais que repetem comportamentos inaceitáveis – e que continuam impunes. Cabe aos clubes e às entidades reguladoras penalizar quem
insiste em manchar o jogo com atitudes vergonhosas. A isto juntam-se adeptos que invadem os campos, confrontam árbitros ou atletas e, por vezes, cometem verdadeiros
crimes, aos olhos da lei e da ética desportiva. Ainda assim, estas atitudes são frequentemente romantizadas, como se fossem sinal de paixão pelo clube. Não são.
São atos de descontrolo, de incitamento ao ódio, de falta de civismo e, pior ainda, de um exemplo tóxico que se tolera e, em certos casos, até se aplaude.

É inadmissível ver atletas a pisarem adversários, a encostarem a cabeça aos árbitros, a simularem faltas ou a provocarem sistematicamente. Todos podemos ter um mau
momento. Mas quando o comportamento se repete, deixa de ser um acaso – passa a ser um padrão. E isso não se pode aceitar.

As redes sociais, longe de serem um espaço de reflexão ou debate, tornaram-se amplificadores da violência e do ruído. Dão palco a quem não gosta verdadeiramente
de futebol – e até a quem não percebe nada de desporto. Promovem o extremismo, o insulto, a intolerância. O que se publica nas redes ou se discute em programas de
entretenimento com o futebol como pano de fundo não tem credibilidade. E muitos dos protagonistas desses espaços nem sequer aparecem quando o erro os favorece.
O erro faz parte do jogo. Sempre fez e sempre fará. Por muito que custe aceitar determinados lances ou decisões, não é com escândalo nem com histeria que se
melhora o desporto. É com trabalho. É com cultura desportiva. É com ética – ou seja, com respeito pelo jogo e pelos seus valores.

De pouco serve indignarmo-nos quando perdemos e celebrarmos sem pudor quando ganhamos sem mérito. O desporto merece mais do que esta hipocrisia coletiva.

Vitor Santos

Embaixador do Plano Nacional de Ética no Desporto

Artigo de opinião – Dia Mundial do Ritmo Cardíaco assinalado-Fibrilhação Auricular

Fibrilhação Auricular: A doença silenciosa responsável por um terço dos AVC em Portugal

O coração pode, por vezes, apresentar alterações na sua atividade elétrica, originando o que chamamos de arritmia. A mais comum e clinicamente relevante é a fibrilhação auricular (FA).

Nesta condição, o coração bate de forma irregular e descoordenada, especialmente nas aurículas (as cavidades superiores do coração), que deixam de contrair de forma eficaz. Isso favorece a formação de coágulos no interior do coração, que podem ser libertados para a circulação e causar a obstrução de uma artéria. A consequência mais grave é o acidente vascular cerebral (AVC) isquémico, causado pela interrupção do fluxo sanguíneo a uma parte do cérebro.

A FA é uma doença frequente: afeta cerca de 2,5% da população portuguesa com mais de 40 anos e mais de 6% acima dos 60 anos. Esta arritmia aumenta em cinco vezes o risco de AVC isquémico e é responsável por cerca de um terço dos AVCs em Portugal. Além disso, os AVCs associados à FA são habitualmente mais graves, com maior risco de incapacidade permanente ou morte.

A FA também está associada a outras complicações graves, como a insuficiência cardíaca e a demência.

Entre os principais fatores de risco para o desenvolvimento de FA encontram-se: envelhecimento, hipertensão arterial, diabetes, obesidade, apneia do sono, doenças cardíacas, tabagismo e consumo excessivo de álcool, entre outros.

Em muitos casos, a FA é assintomática. Quando se manifesta, pode provocar palpitações (sensação de batimento acelerado ou irregular), tonturas, cansaço ou até desmaios. O diagnóstico requer a realização de um electrocardiograma (ECG) ou Holter-ECG (registo contínuo durante 24 horas).

Após o diagnóstico, na maioria dos casos é recomendada a toma de anticoagulantes para reduzir o risco de AVC. Existem também medicamentos e procedimentos minimamente invasivos que ajudam a controlar os sintomas e a prevenir complicações.

A adoção de um estilo de vida saudável e o controlo dos fatores de risco vascular são fundamentais para prevenir o aparecimento da FA. Em caso de sintomas, procure avaliação médica. Se lhe for prescrito um anticoagulante, não interrompa a terapêutica sem indicação médica.

Prof. João Pedro Marto
Neurologista na ULS Lisboa Ocidental e membro da Sociedade Portuguesa do AVC

Artigo de opinião de Augusto Falcão: A esperança de um País melhor

E pronto; no dia 18 de maio, lá cumprimos o nosso dever de ir votar; umas eleições que ninguém queria, mas que todos queriam; umas eleições em que todos se acusavam mutuamente de terem provocado, mas que todos provocaram; o sonho de cada partido era o mesmo: chegar e vencer; todas as sondagens davam a vitoria à AD, ficando o PS em 2.º e o Chega em 3.º; os nossos comentadores de serviço na televisão debitavam comentários sobre a dimensão da vitória da AD e sobre o 2.º lugar do PS, e que o País iria sair ingovernável destas eleições que afinal ninguém queria, nem ninguém tinha provocado; e no meio de tantas acusações uma coisa era certa; não fomos nós eleitores que quisemos ou provocamos estas eleições;

O que nós fizemos, foi num qualquer sofá assistir incrédulos, que pessoas, supostamente de bem, bem formados, agissem como meninos birrentos e mimados em busca do poder que somente o povo lhes pode conceder; e nós, que em nada contribuímos para esta situação, lá fomos chamados a votar e a pagar mais umas eleições que supostamente ninguém quis nem ninguém provocou.

E no fim da noite, espante-se; a vitória da AD confirmava-se; e o espanto da noite; o PS podia perder o 2.º lugar para o Chega; e no fim da noite ambos ficaram empatados em número de deputados ficando o segundo lugar dependente do círculo da eleição onde o Chega o ano passado ficou até bem classificado.

Os dias seguintes, foi ver um desfile de comentadores nas televisões, rádios e dos OCS, a tentar justificar a derrota estrondosa do PS e o resultado espetacular ( nas palavras de um comentador da CNN Portugal) do Chega; crucificou-se o líder derrotado, como único responsável pela derrota do PS, e seguimos em frente; a seguir foram à procura do motivo do resultado do Chega; e mais uma vez, assistimos ao mesmo erro clamoroso; os eleitores do Chega são incultos que não percebem o alcance dos ensinamentos que os comentadores das televisões e rádios vertem sobres eles, tentando guiá-los pela escuridão que o mundo vive; esses comentadores, alheados na sua maioria, do mundo real que o País vive, e onde o comum cidadão vive, continua sem entender, que sem soluções reais para esses problemas vai haver sempre milhares de “fascistas”, “racistas”, “xenófobos” e afins a votar num partido da extrema radical,  que é o herdeiro de todos os males do mundo que advêm de Hitler e outros, esquecendo alegremente os herdeiros dos milhões de mortos que são os partidos herdeiros do comunismo.

E como todos os males do mundo, advêm apenas do Chega, diz uma senhora comentadeira (perdoem-me a expressão) no púlpito da liberdade que a democracia onde todos votamos lhe concede que o Povo quando vota nem sempre tem razão; talvez segundo ela necessitamos de campos de reeducação para nos ser ensinadas as virtudes do mundo segundo os olhos dela;

Lamento dizer isto a todos eles; abril é isto; os defensores que rasgam as vestes pela liberdade de abril, e bem, entendam que abril é isto; o povo votou e na sua imensa e infinita sabedoria votou em quem acha que é a melhor solução para os problemas diários que eles enfrentam e que esta turba de comentadores pagos a peso de ouro pelos OCS para debitar umas palavras em horário nobre sobre tudo e todos, e que são formados em tudologia, afinal de contas não percebem o que nós eleitores comuns precisamos ou os problemas que enfrentamos diariamente.

O povo votou; está votado; aceitemos a decisão do povo com elevação e espírito democrático; e não; o povo tem sempre razão; agora somente pedimos que estes novos atores se entendam, como adultos, e que criem para os meus filhos e netos um País melhor. Que sejam merecedores da honra de nos representarem.

Augusto Falcão

ARTIGO DE OPINIÃO-“As palavras têm História – e nós esquecemo-nos disso”Paulo Freitas do Amaral

As palavras têm História — e nós esquecemo-nos disso.

Quantas vezes usamos expressões como “Maria vai com as outras” ou “ficou a ver passar navios” sem pensar no que realmente significam? A verdade é que muitas destas frases feitas, que hoje usamos no dia a dia quase por hábito, nasceram de momentos marcantes da História de Portugal. E se quisermos que as novas gerações percebam que a língua é um espelho da nossa identidade, temos de lhes contar estas histórias — simples, vivas e com verdade. Ler Mais »