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Artigos de Opinião

Artigo de Augusto Falcão—Liberdade de Abril

Escrevo isto, no dia da Liberdade; eu sei que, aos vossos olhos, pareço repetitivo, mas, nunca é demais falar da liberdade.

Esperei por hoje, pensando eu, que nos discursos de tão grandioso dia, algum destes discursos me pudesse inspirar, mas chego ao fim do dia desiludido.

Nada das palavras das elites, quer locais, quer nacionais me inspira a fazer este texto.

Desloquei-me ao jardim ao lado do município para assistir às comemorações deste dia, que pertence a todos os portugueses, sejam eles de direita ou de esquerda, novos ou velhos, e assisti apenas a uma coisa: à liberdade de nos exprimirmos conforme o que nos vai na alma; substância tinham alguns, mas de resto, pouco apropriados para a data.

Sendo assim, hoje vou falar-vos do Júlio, nome fictício…

O Júlio era um homem, casado, que tinha um emprego bom (trabalhava num escritório), e não tinha filhos ainda durante o Estado Novo. Casou-se com a mais velha de três irmãs e vivia numa casinha modesta, numa aldeia do Ribatejo; trabalhava num escritório da cidade junto à aldeia onde vivia; trabalhava de segunda a sexta, sábado e domingo era dedicado a ir à missa, e junto dos cunhados.

Mas Júlio tinha um pecado; um segredo escondido; Júlio era membro do PCP, partido que operava na clandestinidade, que lutava contra a ditadura de Salazar; Júlio ajudava os membros do PCP local, a difundir a propaganda comunista.

Júlio, um belo dia, sabe que vai ser pai; Júlio todo contente, porque vai ser pai, trabalha com afinco, para que o seu filho possa ter uma infância um pouco melhor que a grande massa das crianças; ou para que pelo menos sobreviva ao nascimento.

Estava a mulher de Júlio grávida, numa noite, já de madrugada Júlio e a mulher são acordados pelo bater furioso na porta. Ao abrir a porta, Júlio é preso e levado por inspetores da PIDE.

A mulher grávida, no dia seguinte vai à sede da PIDE à cidade, onde lhe dizem que o marido está detido para responder por crimes contra o Estado, difundir propaganda comunista e nada mais lhe dizem.

Júlio é levado para Peniche, onde fica preso…  Durante a sua estadia em Peniche, a PIDE bate-lhe, tortura-o, ameaça-o de morte, para que Júlio denuncie os camaradas. Mas Júlio resiste. Nada diz, mas as mazelas já estavam feitas.

A mulher cá fora, vê o filho nascer, com o marido preso, e sem saber onde ele estava para ao menos dar-lhe a boa nova e visitá-lo.

A mulher, com o filho recém-nascido, dirige-se à PIDE mais uma vez, onde pede para ao menos ver o marido. A PIDE nada diz, nada faz.

O filho ao fazer 3 meses, é vislumbrado pela primeira vez por ele. Júlio é libertado, de Peniche, e dirige-se a casa. As mazelas dos maus-tratos da PIDE, manter-se-ão ao longo da sua vida; o acordar em sobressalto com qualquer barulho, os problemas respiratórios devido a costelas partidas mal saradas, a ansiedade profunda… as marcas dos “chicotes” nas costas… os dedos artrosados, das fraturas que os interrogatórios provocaram…

Júlio cria o filho o melhor que pode; por sorte o antigo patrão aceita-o outra vez; Júlio regressa ao escritório onde trabalhava; anos depois, Júlio, comunista convicto, mas afastado das operações clandestinas que o levara a cadeia, vê no cais de Alcântara o seu filho partir para Moçambique para a guerra colonial. Júlio, vê o seu filho regressar, mas vê o seu afilhado partir para Angola para a mesma guerra. Júlio vê o seu afilhado regressar.

Júlio vê o 25 de abril, a liberdade, e morre na liberdade, depois de ter vivido na opressão; Júlio, comunista convicto, lutou contra a ditadura; Júlio, é um personagem, que encarna, milhares de Júlios, que lutaram contra a opressão de um estado opressivo e que os livros de história não falam.

Aos milhares de homens e mulheres que lutaram pela liberdade de um povo, triste e cinzento; Abril não é só os capitães, Mário Soares, Álvaro Cunhal entre outros; Abril é também dos Júlios… massacrados e torturados e até mortos pela liberdade de um povo e de um País…

Augusto Falcão

 

Artigo de Luís Miguel Condeço — E depois…de Abril

Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

 

Falar de Abril não nos deve remeter apenas para a imagem da revolução e dos cravos, que apesar de se apelidar de pacífica levou consigo a vida de cinco portugueses. Mas não podemos esquecer os direitos, liberdades e garantias que este acontecimento trouxe à vida de todos nós.

Gostava de enaltecer o trabalho estatístico extraordinário, que a Fundação Francisco Manuel dos Santos já nos vem habituando com o seu portal Pordata. Não poderia por isso deixar de referir alguns dados que nos permitem refletir sobre os ganhos em saúde para os portugueses nestas últimas cinco décadas.

Em 50 anos, a população portuguesa aumentou cerca de dois milhões de habitantes, contudo a “nossa” pirâmide etária inverteu-se, correspondendo hoje as pessoas com mais de 65 anos de idade a 1/4 da população residente em Portugal (dois milhões e meio). Como tal, a esperança média de vida aumentou cinco anos (ambos os géneros), representando um acréscimo no consumo de cuidados de saúde – serviços e terapêutica.

Os cuidados de saúde têm sofrido constantes reorganizações nos últimos anos, mas é importante recordar que no início do século XX, apenas os “abastados” tinham acesso a cuidados médicos privados e os muito pobres à proteção do estado, prova disso é a criação da Direção-Geral da Saúde (e Beneficência Pública) por Decreto Real em 1899 e a criação da Assistência Nacional aos Tuberculosos (no mesmo ano) pela rainha D. Amélia, que possibilitou a construção de várias instalações, como o Sanatório Sousa Martins, inaugurado em 1907. Em 1971, o denominado “Movimento das Carreiras Médicas” conseguiu que fosse legislado a regulamentação das carreiras médicas, concretizando um desejo antigo, dividindo as carreiras destes e de todos os outros profissionais de saúde em saúde pública e hospitalar.

Não podemos esquecer que antes do 25 de abril (de 1974), a saúde materna e infantil era “frágil”, muito por culpa dos partos realizados fora de instituições de saúde (apenas 39% eram realizados sob cuidados médicos e de enfermagem), e à época contabilizávamos praticamente o dobro dos nascimentos (171.979) que temos hoje. A taxa de mortalidade infantil (crianças que faleciam com menos de 1 ano de idade) atingia os 38 óbitos por cada 1.000 crianças nascidas vivas.

A “fratura” com o passado e que possibilitou que Portugal proporcionasse nestas últimas décadas cuidados de saúde abrangentes e gratuitos, deve-se a um homem – António Arnaut.

O Ministério da Saúde tinha-se autonomizado da Assistência em 1973, e cinco anos depois, movido pelo espírito da Constituição da República Portuguesa, António Arnaut elabora um Despacho (“Despacho Arnaut”) que permite “a todos os portugueses o acesso gratuito aos serviços médico-sociais e aos hospitais, bem como à comparticipação medicamentosa”, o ideal do Serviço Nacional de Saúde (SNS). No entanto, o seu nascimento só iria acontecer com a Lei de Bases da Saúde no dia 15 de setembro de 1979.

Volvidos cinquenta anos, os portugueses, mas não só, todos os residentes em território nacional têm acesso a cuidados de saúde universais e tendencialmente gratuitos. Praticamente a totalidade dos partos são realizados em instituições de saúde (públicas e privadas) com o adequado acompanhamento das equipas médicas e de enfermagem. A taxa de mortalidade infantil está entre as dez mais baixas do mundo (2,6 crianças por 1.000), tendo em 2020 atingido um mínimo histórico de 2,4.

Quanto aos recursos humanos, temos hoje em Portugal mais profissionais de saúde disponíveis para a população. O número de médicos aumentou cinco vezes e o número de enfermeiros aumentou quase quatro vezes quando comparados com 1974.

Passadas cinco décadas, num novo milénio, o nosso país tem hoje um sistema de saúde eficiente, organizado (a última reorganização este ano), e próximo das populações. Os programas em vigor, como da Diabetes, Saúde Infantil e Juvenil, Saúde Mental e muitos outros, têm melhorado a saúde das populações, refletindo um compromisso político e institucional com a saúde, permitindo melhores condições de vida dos portugueses.

Não foi só Liberdade que Abril trouxe, apesar de muitas vezes nos esquecermos disso.

Artigo de opinião: TERMALISMO: A CURA PARA NÃO ADOECER

Ao redor do modesto público que já conhece a realidade das termas, começa uma cacofonia de vozes indistinguíveis. As termas, antes envoltas de luxo, com casinos eram frequentadas pelas elites como centros de lazer e recuperação onde socializavam e “matavam a sede” de uma boa conversa. Numa névoa de silêncio e reflexão, as termas transformam-se de repente num remoinho de atividades nefastas e pejorativas. A palavra Termalismo, ainda hoje é rodeada pela reputação da sua ancestralidade. Entre momentos de glória e outros depreciativos, o termalismo persiste no tempo e é na confluência de práticas ancestrais com os avanços científicos contemporâneos que o termalismo se procura reinventar.

Curiosa e despertada pelas histórias, fui experimentar a umas termas, não importa quais…. Podem ser apenas paredes e meras banheiras ou marquesas, sendo a água a sua unicidade. Permaneço imóvel numa banheira de água parada… Receio que os detalhes do testemunho sobre as propriedades terapêuticas das águas minerais, se desvaneçam da minha mente se eu me mover. Como refere Fernando Pessoa, “Há tanta suavidade em nada se dizer e tudo se entender”. Fecho os olhos, as minhas células vibram e esqueço as horas… aqui é “um lugar com tempo para tudo”. Na sala de repouso observo as pessoas a partir apressadamente, e questiono-me como podem voltar à sua rotina com tanta facilidade? Será que compreenderam a importância do termalismo como eu? Será que perceberam que esta prática ancestral pode ser a chave para uma vida mais saudável e equilibrada? Será que sabem que o termalismo pode ser a cura para não adoecer?

A sensação de comunicar termalismo toma conta de mim. O que será do termalismo? Será que conseguimos comunicar eficazmente os seus benefícios à sociedade? Na reflexão, percebo que o futuro do termalismo e, consequentemente, da saúde e do bem- estar, parece incerto… No entanto, uma luz de esperança brilha no horizonte, alimentada pela convicção de que a união entre tradição e a ciência pode abrir novos caminhos para um futuro mais saudável e equilibrado.

Determinada em contribuir para a valorização e progresso do termalismo, mantenho viva a esperança de que o termalismo continuará a ser uma fonte de cura e bem-estar
para as gerações futuras e por isso vos escrevo. A procura pela melhoria da qualidade de vida e a tendência global do inevitável envelhecimento, contribui para o crescimento do turismo de saúde e bem-estar. Paralelamente, as áreas da saúde, do turismo e do desenvolvimento regional têm sido alvo de estudo, mas maioritariamente de forma independente e desconexa, perdendo- se a oportunidade de valorização das sinergias associadas. Numa geração em que a inteligência artificial, os medicamentos e a inovação ganham destaque, é fácil esquecer o poder regenerador que reside nas profundezas da terra, nas águas minerais naturais. É hora de lembrar, de comunicar os benefícios do termalismo. A cura para não adoecer está mais próxima do que imaginamos…

A colaboração intersectorial, unindo saúde, turismo e desenvolvimento regional numa abordagem integrada é urgente. O termalismo combina na perfeição a saúde e o bem-
estar, sendo um importante elo de ligação. Nos últimos anos, têm sido realizados vários estudos que refletem a mudança de paradigma, quer na gestão dos estabelecimentos
termais, quer no perfil do seu utilizador. A necessidade de associar à vertente médica, as dimensões de qualidade de vida e de bem-estar, na linha do que é o conceito global e
contemporâneo de saúde é evidente. Esta perspetiva interdisciplinar é essencial para abordar os diversos pilares do termalismo, desde o impacto na saúde pública e bem-
estar psicológico das comunidades até à sustentabilidade ambiental. Na vertente saúde e bem-estar, o termalismo está fortemente alinhado com as tendências globais de promoção da saúde e bem-estar, valorizando não apenas os benefícios dos tratamentos termais na cura e na prevenção, mas também o seu impacto psicológico positivo, associado ao relaxamento e à conexão com a natureza. As termas recorrem a práticas de turismo e saúde sustentáveis, alinhadas com as diretrizes dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da agenda 2030, nomeadamente no Objetivo 3 – Saúde de Qualidade.

Além disso, de acordo com o despacho 8899/2019 de 07 de outubro, o termalismo encontra-se também alinhado com o Plano Nacional de Saúde e na vertente médica e
de gestão da saúde, pode contribuir para o tratamento e prevenção de patologias crónicas, bem como para uma eventual redução da despesa para o Serviço Nacional de
Saúde e para os cidadãos, nomeadamente em termos da prestação de cuidados de saúde evitáveis e dos custos com a prescrição de meios complementares de diagnóstico
e terapêutica e de medicamentos.

Ao auscultar as pessoas envolvidas no termalismo sabemos que o termalismo faz bem, sabemos que existem utilizadores que frequentam as termas há mais de 30 anos porque
sentem melhorias na sua condição física e redução na medicação, mas não chega. A literatura científica demonstra que o termalismo pode desempenhar um papel crucial
na prevenção de doenças crónicas, visto que as águas minerais naturais possuem compostos que, ao serem absorvidos pelo corpo, podem melhorar a circulação sanguínea, reduzir processos inflamatórios e fortalecer o sistema imunológico. A existência de evidências científicas de que a água mineral natural é benéfica no tratamento de patologias associadas aos diferentes sistemas: músculo-esquelético; respiratório; gastrointestinal; cardiovascular; neurológico, incluindo o sistema neurovegetativo; dermatológico e até perturbações psiquiátricas abre novos caminhos na ciência. Estes efeitos biológicos não apenas contribuem para a manutenção da saúde, mas também auxiliam na prevenção de patologias diversas. A abordagem do termalismo não se limita aos benefícios físicos, simultaneamente, motivam ao bem- estar psicológico que é igualmente importante na prevenção de doenças. A serenidade e o relaxamento proporcionados pelo ambiente das estâncias termais são elementos chave na redução do stress e na promoção da saúde mental. Este aspeto holístico dotermalismo, que engloba tanto o corpo quanto a mente, é fundamental para uma abordagem preventiva de saúde.

Contudo, é imperativo destacar que o termalismo não deve substituir tratamentos médicos convencionais, mas sim complementá-los. A integração do termalismo em
programas de prevenção de saúde requer uma abordagem multidisciplinar e oreconhecimento da comunidade médica. Neste sentido, a colaboração entre médicos,
terapeutas e investigadores é essencial para maximizar os benefícios do termalismo.

Na vertente da sustentabilidade, é também, preciso dar a conhecer medidas que demonstram que o uso dos recursos termais é efetuado de maneira sustentável, como
são o caso dos projetos District heating das Termas de Chaves e de São Pedro do Sul. Os projetos representam uma iniciativa inovadora na gestão sustentável de recursos energéticos e no aproveitamento de fontes renováveis para aquecimento urbano. Ao utilizar as águas termais como fonte de energia térmica, estes projetos visam reduzir a dependência de combustíveis fósseis e mitigar as emissões de carbono associadas ao aquecimento de edifícios municipais e hoteleiros na área envolvente. Esta abordagem sustentável contribui, também, para a eficiência energética e para a redução dos custos de energia para os utilizadores finais.

Do ponto de vista socioeconómico, as termas no âmbito da promoção do turismo de saúde e bem-estar também têm o potencial de transformar significativamente a economia local. Este impacto inclui a criação de empregos, a atração de investimentos, o incentivo de vitalidade nas economias locais, particularmente pertinentes para as
áreas do interior que enfrentam desafios como a desertificação e a estagnação económica.

Apesar dos inúmeros benefícios do termalismo, ainda enfrenta desafios significativos.
Há a questão da perceção pública, muitas pessoas ainda veem o termalismo como um luxo indulgente, em vez de uma parte legítima, complementar e eficaz para a saúde. O
Termalismo não é para velhos! O Termalismo não é caro! O Termalismo é autêntico e precisa ser visto como uma nova forma de estar na vida. O termalismo baseia-se na
utilização das propriedades terapêuticas das águas, que são ricas em minerais e outros compostos que se acredita terem efeitos benéficos para o corpo humano. As águas que
caíram há milénios são as que hoje nos confortam nas termas, oferecendo uma conexão intemporal com os poderes terapêuticos da natureza. O que distingue positivamente o
termalismo relativamente a outros produtos é a água mineral natural, que pode ser, ainda mais, potenciado se lhe acrescentarmos outros valores.

Nas últimas décadas, a oferta tem vindo a assistir a um desenvolvimento significativo em Portugal, conseguindo atingir um público muito diversificado. Atualmente, temos
mais de 40 estâncias termais ativas pelo país, a facilidade de acesso hoje, permite que a distância deixe de ser uma barreira, mas antes uma oportunidade para as frequentar. É a unicidade das águas distribuídas pelo território que começa a atrair pessoas de todo o país e além-fronteiras. As termas começam, finalmente, a ser vistas como tratamentos naturais para uma variedade de condições de saúde, seja na prevenção, no tratamento ou simplesmente pelo lazer.

A par desta evolução, consolidam-se passos relevantes para as políticas de saúde pública, nomeadamente, na fixação da comparticipação dos tratamentos termais. A
demonstração da eficácia do termalismo como um complemento aos métodos tradicionais de tratamento e cuidados de saúde começa a ser uma realidade. Para além
disso, a integração das termas nos Conselhos Municipais de Saúde, fortalecem o sistema de saúde local, através de uma abordagem mais holística, preventiva,
descentralizada e sustentável da saúde, enquanto contribui para comunidades mais saudáveis e felizes. A tranquilidade e o ambiente sereno das estâncias termais podem
ajudar a reduzir o stress e promover o bem-estar emocional.

Em conclusão, o termalismo apresenta-se como uma abordagem promissora na prevenção de doenças. A conjugação dos seus benefícios físicos e psicológicos, aliada à
crescente evidência científica dos seus efeitos preventivos, destaca o potencial desta prática milenar. Contudo, a sua eficácia enquanto ferramenta de prevenção de saúde
depende da colaboração entre a prática tradicional, a investigação científica, o governo, bem como do compromisso com a sustentabilidade dos recursos naturais e da sua
comunicação à sociedade. O termalismo não é apenas uma cura para não adoecer, é uma ponte entre o passado e o futuro da medicina preventiva.

A intenção é voltar a colocar o termalismo na chamada “Idade de ouro”. Para o efeito é preciso pensar globalmente, agir localmente e contribuir para combater a perceção
pública. Estas não são meras frases de efeito, são apenas alguns dos princípios que têm inspirado o meu trabalho e que partilho hoje com a comunidade.

Num mundo onde a saúde é cada vez mais preciosa e o bem-estar é cada vez mais fugaz, o termalismo oferece uma luz de esperança, uma nova forma de estar na vida,
com a promessa de cura e renovação para todos aqueles que procuram uma vida mais plena, saudável e um bem-estar duradouro.

Autora Vera Antunes – Técnica Superior na Universidade da Beira Interior Investigadora nas áreas da Comunicação Estratégica e Termalismo | LabCom
Sócia da GIROHC

Artigo de Augusto Falcão—- Esperança de abril

Escrevo isto, entre o Dia do Pai, o 19 de março, e o dia em que comemoramos os 50 anos da Revolução dos Cravos, o 25 de abril.

Poderia falar das virtudes, da Revolução dos Cravos, que naquela noite e dia de 25 de abril, libertou um País pobre, triste e cinzento, da opressão e tirania de uma ditadura, de uma guerra colonial que lutava em 3 frentes, de uma Polícia política que tudo censurava, torturava e reprimia aqueles que eram contra o regime, seguindo a máxima “quem não é por mim, é contra mim”, máxima essa atribuída a António de Oliveira Salazar.

Hoje quero vos falar de um menino de 8 anos. Podemos chamar-lhe Manuel, João, Duarte… enfim pode ter o nome que quiserem.

Esse menino tem 8 anos e fará 9 este ano, depois de abril.

Como todos os meninos da sua idade, esse menino, gosta de jogar à bola, e acha que o Ronaldo é o maior do mundo; gosta de andar de bicicleta de vez em quando, mas não é a sua preferência; gosta de ver vídeos no Youtube, tal como os meninos da sua idade, quase todos em português do Brasil. Anda no 3.º ano, gosta de Português e Estudo do Meio, e nem por isso gosta de Matemática. Como quase todos os meninos da sua idade, não gosta muito de sopa, nem de legumes… e adora KFC e McDonald’s; quem diria? E é do Benfica…

Parece um menino normal, para a sua idade, com gostos normais para a sua idade.

Mas este menino, tem algo especial.

Este menino, com 8 anos, sabe que quando o hino toca, deve manter-se em silêncio por respeito e colocar a mão sobre o lado esquerdo do peito; sabe a letra do Hino, e sabe o porquê das cores da Bandeira Portuguesa.

Este menino, sabe que D. Afonso Henriques foi o primeiro rei de Portugal, e nasceu em Guimarães, e que lutou contra a mãe em S. Mamede, e contra os Mouros; e que a Nação nasceu em Guimarães; este menino sabe que Dona Inês de Castro foi morta por amor e que D. Pedro foi o seu amor; este menino sabe que D. Dinis fundou a Universidade de Coimbra e instituiu o português como língua oficial do reino de Portugal.

Este menino sabe que Portugal efetuou viagens marítimas e descobriu grande parte do Mundo, que estava por descobrir. Este menino sabe que Luís de Camões escreveu “Os Lusíadas”, o grande poema épico da língua portuguesa e já o quer começar a ler.

Este menino sabe que um dia, no século vinte, Salazar governou Portugal, em ditadura, repressão, e que transformou o nosso País em um local, cinzento e triste, dominado pela PIDE, repressiva e torturadora; este menino sabe que foi em Peniche que este ditador encarcerou muitos portugueses e portuguesas pelo crime de serem contra ele, serem comunistas… este menino tinha um familiar que um dia foi acordado pela PIDE durante a noite, levado à força e só reapareceu 6 meses depois em Peniche.

Este menino sabe que milhares de jovens portugueses lutaram na guerra colonial, em Angola, Guiné e Moçambique, e que muitos perderam lá a vida; este menino tem 2 familiares que um dia, zarparam para África em nome de um Portugal, pluricontinental e plurirracial.

Este menino sabe que numa noite de abril, Salgueiro Maia, saiu de Santarém, e conseguiu com a ajuda de muitos outros soldados, libertar este País dos grilhões da ditadura salazarista…

Este menino sabe o que foi 25 de abril, sabe o que representa, na inocência da sua idade; sabe que a Revolução dos Cravos representa a liberdade de usar um isqueiro, de beber coca-cola e até comer uma pizza, algo que nesses dias sombrios dos Estado Novo era impossível. Esse menino representa a nossa liberdade futura, alguém que entende que um dia se lutou pela liberdade, e que essa mesma liberdade deve ser defendida todos os dias, contra as ameaças que contra ela existem…

Esse menino, seja ele quem for, esteja ele onde estiver, representa a nossa esperança, da nossa sociedade, que os valores de abril, da liberdade, nunca se perderão, e serão preservados para todo o sempre, pelas gerações vindouras como bases, para sempre inegáveis da nossa sociedade….

Augusto Falcão

Artigo de Vítor Santos—-O meu pai é TOP!

Sou um jovem de 15 anos. Adoro o desporto. De todas as minhas atividades é a que mais gosto. Não vou identificar-me. Creio não ser importante para o que quero dizer, que são coisas em que vou pensando, vivências que vou tendo.

Escrevo por ser mais fácil. Faço-o com orgulho. O meu pai continua a ser para mim a pessoa mais importante. Que admiro. Por isso, esta carta não pretende ser uma compilação de queixas, azedumes, ou outras manifestações e sentimentos pouco próprios de um filho desportista.

Sabem, os jovens têm um sentido de justiça muito agudo. Fazem a sua leitura das coisas, refletem sobre elas. Têm, pois, opiniões. Não sei o valor das minhas, mas mesmo assim quero expô-las.

As questões de que vos vou falar não dirão muito a alguns dos meus amigos atletas. Provavelmente não partilhariam as minhas opiniões. Mas sei que outros jovens pensam como eu. Estou certo de que as vão apreciar.

Não é do treino – o que treinar, como treinar? – que quero falar-vos. Quem sou eu para o fazer? Como pretender ensinar algo que não domino? Não tenho competências para tal.

Quero falar-vos de mim, de alguns de nós e da nossa rotina. Da dificuldade que experimento como pessoa que estuda, pratica desporto e muitas outras atividades. Que vive os problemas do seu tempo. Que tem os seus próprios problemas, dificuldades, sensibilidades, na aprendizagem do mundo.

De um mundo que os nossos pais, os adultos, pensaram para nós. À sua medida, à sua imagem. Dos seus anseios, das responsabilidades que pretendem que assumamos no futuro. Não cuidando de saber de outras coisas importantes. De nós, do nosso tempo, do tempo de sermos jovens. De como pretendemos vivê-lo.

Felizmente o meu pai não é assim. Não se comporta como os outros que gritam, insultam, humilham! Diz-me sempre para eu ser feliz com a idade que tenho. E que viva. Que não tenha pressa de ser adulto.

Desde os 7 anos que jogo futebol e continua a ter a mesma postura, a mesma serenidade e o discurso que sempre teve. Não me exige nada que eu não possa dar.

Lembro bem o primeiro dia, já lá vão quase 8 anos. Quando pela primeira vez entrei nos balneários e vesti a camisola do nosso clube. Tremendo com a emoção. Parecia mesmo a sério!

Finalmente concretizava o que tanto desejava. Fazer o desporto que gosto e logo no clube da minha terra. Que alegria, que felicidade. Obrigado, pai!

No final de cada treino espera-me no carro com um sorriso. E se eu estou triste ou angustiado com o mesmo, lança uma das suas piadas e deixa que seja eu a iniciar, caso o queira, a conversa. Nunca alimenta a raiva que por vezes trago do treinador, por não me convocar, ou de algum colega por não me ter passado a bola. Pelo contrário. Diz-me que cada momento é uma aprendizagem e que o facto de eu não ser convocado é uma ótima oportunidade para fazermos um programa em família que não é possível por haver, normalmente, jogos ao fim de semana.

Depois dos jogos, a que assiste – eu bem o vejo, do canto do olho, a bater palmas e a dar um ou outro sinal de apoio para a nossa equipa –, pergunta-me sempre se quero ir já para casa ou lanchar com ele Programa de pai e filho.  Nem uma palavra sobre o resultado e sempre várias de demonstração de apoio: “gostei do vosso jogo, da vossa entrega e alegria”.

Quando eles, pai e mãe, me levam ao treino ou ao jogo, deixam-me “entregue” ao clube, aos treinadores. Confiam neles e sabem que eu também gosto muito dos meus treinadores. Naquelas horas sou mais um dos atletas da equipa e sabem que o treinador me guia para uma experiência saudável na prática desportiva. Nem sempre ficam para assistir. Aproveitam o tempo para fazer outras tarefas.

Claro, gosto de ganhar. Como poderia não ser? Mas gosto de aprender. A fazer as coisas bem, para ser melhor. É importante jogar. Estar lá dentro como os outros. Com os amigos e companheiros. Isso sim, não troco pelas vitórias.

Sim, mais do que ser campeão, quero fazer desporto. Integrar uma equipa. Sentir-me parte dela, em todos os momentos.

Gosto de competir, gosto de ganhar, mas não entendo o desporto que se limita só a isto. A esta ideia, estes princípios, estes valores. Ou melhor, à ausência deles.

Pai, ensinaste-me em casa certos valores, atitudes, respeito pelas pessoas e pelo desporto. Mas aqui nos jogos não os revejo em outros pais. Nem em certas práticas e certos grupos pensados para vencer, que parecem entram em contradição com tudo o que aprendi contigo. Disseste-me que todos devem ter oportunidades e ninguém deve ser excluído por falta de capacidades, quantas vezes mal avaliadas; que o esforço e o empenhamento são tão importantes, talvez mais, que a vitória; que mesmo na derrota podemos sentir-nos bem, ter sucesso, desde que façamos o melhor e sintamos que demos tudo o que nos era possível.

Pai, eu sou feliz e vou continuar a jogar, mas já vejo colegas meus a desistirem porque não se sentem bem. Estão cansados e fartos de conflitos. As expetativas elevadas que tinham, e que os pais deles alimentavam, já se esfumaram. Nem acredito que deixam de fazer algo que tanto os apaixonava!

Obrigado por seres o melhor o pai do mundo.

 

Vítor Santos

Embaixador da “Ética no Desporto”

Artigo de Luís Miguel Condeço—-Até que a Voz me doa

 

 Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

É já no mês de maio que todos podemos assistir ao sempre aguardado Festival da Eurovisão, e que tantas alegrias nos traz ao recordarmos o Salvador, o Zé, o Carlos ou a Simone. E destes extraordinários artistas há uma caraterística comum, a sua voz única e cativante.

As vozes melodiosas fazem emergir em nós sensações agradáveis e de bem-estar, independentemente de se tratar de uma soprano ou de um tenor, como o Andrea Bocelli, um dos meus preferidos.

A capacidade de vocalizar sons deve-se ao complexo aparelho que possuímos e que podemos dividir em três partes distintas: os pulmões que geram um fluxo de ar e que por ação conjunta com o diafragma, expulsam o ar que passa pela laringe (onde estão as cordas vocais), e que sai pelos lábios e fossas nasais. A vibração das cordas vocais e a ação dos músculos e estruturas da cavidade oral contribuem para articular e modelar o som (voz), conferindo a sua própria unicidade a cada um de nós.

No ser humano as cordas vocais podem vibrar entre 125 ciclos por segundo no homem (voz grave), a 250 ciclos por segundo na mulher (voz aguda). Correspondendo a uma frequência (velocidade de propagação do som) entre 100 a 200 hertz nos homens e 200 a 400 hertz nas mulheres, enquanto que nas crianças a frequência da voz não é inferior a 300 hertz. É claro, que a capacidade de absorção (audição) do som atinge frequências mais elevadas, mas nunca tanto como outros mamíferos (golfinhos).

Tal como na natureza, também o homem depende da emissão de sons para comunicar, interagir ou relacionar-se, e a má utilização do seu aparelho vocal é responsável por um diverso número de doenças. Foi pelos crescentes episódios de disfonia (alterações na emissão vocal) e com o objetivo de promover a saúde do aparelho vocal e prevenir doenças da laringe, que a Sociedade Europeia de Laringologia e principalmente pela iniciativa do seu presidente português (Professor Mário Andrea), que em 2003 se começou a comemorar o Dia Mundial da Voz, no dia 16 de abril.

Proteger a voz é possível, basta que adote alguns cuidados:

  • A hidratação é fundamental, deve beber água à temperatura ambiente com frequência;
  • Reduzir a ingestão de bebidas alcoólicas e gaseificadas, assim como, as bebidas muito quentes (café e chá);
  • Não deve fumar, e os espaços com presença de fumo devem ser evitados;
  • Evitar os ambientes onde existam partículas inaláveis (pó e/ou ar condicionado);
  • Falar de forma pausada, articulando bem as palavras;
  • Evitar os ambientes ruidosos, pois vão propiciar a elevação do tom da voz;
  • Não sussurrar, pois provoca um esforço acrescido na voz;
  • Adotar estilos de vida saudáveis.

Estes cuidados não dispensam a nossa atenção quanto a sinais de alerta, que devemos ter em conta: a rouquidão (ou alterações na voz), dificuldade em engolir, sensação de corpo estranho, perda súbita de peso, falta de ar, tosse com presença de sangue, hemorragia nasal e tumefação cervical (pescoço).

Os tumores da orofaringe, laringe e traqueia devem ser alvo de uma rápida intervenção multidisciplinar, mas para isso é fundamental evitar os fatores de risco e realizar rastreios com alguma frequência. Além da vacinação contra o Vírus do Papiloma Humano, da evicção de inalação de partículas e da realização de uma correta higiene oral, não fume nem ingira álcool, pois estes dois fatores de risco aumentam 35 vezes o risco de aparecimento deste tipo de tumores.

Apesar da Maria da Fé apelar à utilização da voz até ao extremo, hoje sabemos que é essencial preservá-la e protegê-la. Podemos cantar, mesmo que os dotes artísticos não sejam inatos para todos, mas sem que a voz nos doa.

Artigo de opinião -Paulo Freitas de Amaral- A final da taça, o very-light e o erro do Presidente

O mês de maio corria, o calor apertava e o Sporting, o meu clube, vinha jogar à minha terra no final da taça de Portugal…
Tal como todos os anos, aquele dia na Cruz Quebrada era um dia de festa, fossem os finalistas da taça da terceira, segunda ou primeira divisão, os cafés e os restantes enchiam-se; a “Nova Marginal”, “o Caçador”, a “Arcada” ou a “Casinha” eram pontos de encontro e de convívio entre os locais e quem vinha de longe, ora comer num restaurante ora fazer um piquenique na mata do estádio nacional, era uma realidade que a todos enchia o coração!
Mas naquele dia, o jogo era entre os rivais Sporting e Benfica e aos meus 18 anos, tinha duas opções para ver o jogo; em casa do meu amigo Paulo Semedo junto do grupo de amigos ou ir ver ao estádio nacional o jogo; optei pela última…
Em 1996, o estádio tinha bancadas de pedra, era um pouco desconfortável, e como cheguei em cima do apito inicial, fiquei junto à claque do Sporting; a “juventude leonina”…
Quando o Benfica marcou golo, passados 30 segundos, vi uma espécie de foguete, vir quase na minha direção…e de repente vi um Homem que tinha sido atingido no pescoço por aquele foguete a morrer à minha frente…o cenário de pânico instalou-se, lembro-me de um rapaz ter tentado retirar o “projétil” do pescoço da vítima, mas de ter-se queimado na mão e de ter desistido…Os berros e os pedidos de ajuda eram ensurdecedores, até que uma maca dos bombeiros apareceu e levou o Homem…De seguida a revolta e a raiva tomou conta dos adeptos e os cânticos para pedir a interrupção do jogo sucederam-se… Alguns membros da claque foram até às redes e arrancaram-nas na tentativa de invadir o campo de futebol…entretanto chegou a polícia de choque evitando tal invasão…
O Presidente Jorge Sampaio presente no estádio nacional nada fez e ignorou o sucedido mandando prosseguir o jogo mesmo com a chegada do intervalo… Formou-se uma cratera sem multidão à volta do local onde se deu a tragédia. A cratera era visível de todo o estádio… o sangue sujava todos os assentos da dita “cratera”… era um cenário dantesco para quem sentiu como eu, que poderia também ter sido a vítima do very-light …
Abandonei o estádio durante o intervalo e durante anos não voltei a entrar num estádio de futebol….aquela morte estúpida e a decisão do presidente da república, indiferente à tragédia e ao choque, causou-me tristeza…penso que nestas situações não se pode “banalizar” a violência de qualquer adepto, ainda para mais tendo existido uma morte…
Desta final da taça de 1996 até aos dias que correm, as coisas melhoraram a nível do controlo da violência nos estádios de futebol mas, no entanto, não se evitou que o senhor que lançou o very-light mortífero em 1996 tivesse sido novamente detido num jogo no ano de 2018 entre o Chaves e o Benfica.
Muito há a fazer no âmbito do desporto para melhorar a segurança nos estádios, pois o espírito da final da taça, de convívio e harmonia no futebol, é o que todos queremos…
Haja no futuro leis e justiça com essa finalidade!

Paulo Freitas do Amaral

Artigo de Luís Miguel Condeço—Borda d’Água

Confesso que a leitura atenta dos seculares almanaques que nos apresentam prognósticos, conselhos práticos baseados na sabedoria popular, previsões meteorológicas e astrológicas, assim como as informações sobre o oceano e as marés, faz parte da minha infância e acredito que de muitos que fazem da agricultura de subsistência uma prática regular. Por isso, não são alheias às “obras” do Borda d’Água e d’O Seringador.

Contudo serão previsíveis e confiáveis esses prognósticos?

Sempre foram, mas as alterações climáticas, a poluição atmosférica e marítima, o aquecimento do planeta e a emissão de gases com efeito estufa, têm transformado radicalmente o senso comum e a sabedoria popular há muito enraizados no nosso cancioneiro.

E um dos resultados mais visíveis destas mudanças climáticas no nosso Portugal é a seca! Em agosto do ano passado, e segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, 97% do território continental estava em seca e 27% em seca extrema (situação em que a precipitação é quase nula e a disponibilidade de água no solo é francamente baixa). Apesar da preciosa chuva no início do inverno, 37,6% de Portugal continental ainda se encontrava em seca (21,4% seca fraca e 16,2% seca moderada) no mês de dezembro, desta forma, não podemos esquecer a necessidade hidrológica que a agricultura, a pecuária, a indústria e também a população sentem.

Foi desde 1992, e no âmbito da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento e Ambiente, que o Dia Mundial da Água começou a ser comemorado no dia 22 de março. Este dia pretende servir de impulso à dinamização de várias atividades que alertam para a importância deste recurso natural, criando estratégias de preservação e restauração do ciclo natural da água.

Lembro que o ser humano é constituído na sua maioria (70%) por água, e esta é fundamental para os processos de digestão, absorção, metabolismo e excreção do organismo (pois é a principal constituinte do sangue, da linfa e das secreções corporais), além da sua função no controlo térmico do corpo humano. A sua ingestão diária deve ser uma prioridade, recomendando-se que os indivíduos adultos saudáveis bebam entre 1,5 e 3 litros de água. Muitas vezes o nosso organismo “pede” essa ingestão de água, através da comum sensação de sede, mas para que tal aconteça é importante criar hábitos de beber água ao longo do dia.

Algumas organizações não governamentais internacionais, apontam para uma “crise da água” atendendo ao seu papel social, político e económico. Hoje 1 em cada 10 pessoas no mundo não tem acesso a água potável e 1 em cada 4 não têm acesso a instalações sanitárias, condições que para nós parecem tão básicas e intrínsecas à nossa vida diária.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, se tivermos em linha de conta os dados relativos à mortalidade, percebemos que todos os anos morrem cerca de um milhão de pessoas devido a doenças causadas pela ingestão de água imprópria para consumo ou por falta de higiene, e se atendermos à população infantil percebemos que a cada 2 minutos morre uma criança devido aos mesmos problemas. A acessibilidade a água potável e a instalações sanitárias condignas permitem reduzir a disseminação de doenças infeciosas e as taxas de mortalidade infantil e materna, principalmente nos países em desenvolvimento.

Quase a totalidade (97%) da água disponível para consumo humano encontra-se no subsolo, e esta representa cerca de 1/3 da água doce disponível no planeta. Razão pela qual a falta de reposição de água no solo nas grandes cidades europeias, nos deve deixar muito preocupados.

A escassez de água, como as secas ou o excesso de água, como as cheias, são a principal expressão pela qual sentiremos muitos dos efeitos das alterações climáticas. Milhões de famílias vivenciam já estas situações no seu dia-a-dia, mas é responsabilidade de todos e em qualquer parte do mundo zelar por este Bem tão precioso.

 

Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

Artigo de opinião de Sara Morais ——-Mente: A cruel e invisível prisão

A mente humana é incrível, disso não há dúvida, é um dos locais mais brilhantes que escondem, ainda, grandes mistérios e um potencial infinito. É neste “lugar” que reside toda a nossa capacidade de agir, de produzir ideias, conceitos, de raciocinar e imaginar, o que identifica a nossa singularidade perante todas as outras formas de existência na natureza. Neste sentido, o homem é, antes de tudo, livre porque detém a capacidade de agir sobre si mesmo, de propor ideais, de agir de acordo com a razão, dispondo da autodeterminação, independência e autonomia para impor limites aos impulsos do desejo e do instinto.

Embora, na prática, não seja possível aprisionar todas as conexões sinápticas cerebrais, a verdade é que, por vezes, a mente torna-se numa verdadeira prisão sem grades. A maior barreira mental afirma-se quando o leitor desenvolve em si as ideias limitantes, porque acredita na sua incapacidade, tornando-se refém e escravo de si próprio e, com isso, esgota todas as oportunidades viáveis de ser feliz.

Ao contrário do carcere físico, em que a ação libertadora poderá estar dependente de terceiros, neste caso só o leitor poderá soltar os grilhões que o prendem a uma vida de frustração plena e das mais variadas crenças limitantes. É importante assinalar que, em grande maioria das situações, o regime de crenças é desenquadrado da realidade e sustentado pela inércia do próprio leitor. E, quando há, uma tentativa real falha, o leitor cerca-se do seu fracasso inicial e investe, ainda mais, na sua ideação entorpecedora. Isto, tornar-se-á numa dificuldade em reconhecer quando está, de facto, refém dos seus próprios pensamentos, uma vez que a “verdade” que se instala parece real e absoluta.

Contudo, o fracasso não tem que ditar a sua história de vida. Até, porque, a escada do sucesso prende-se exatamente pela persistência, pelo falhar, o cair, o levantar e insistir até resultar. Exatamente, como uma pequena semente que é lançada à terra que passa pela incerteza da escuridão, pela humidade e erosão e, que no final, acaba por desenvolver as suas raízes para prosperar no seu meio envolvente. Todo processo de aprendizagem para estar bem consigo e com a vida, mora exclusivamente, dentro da sua decisão e atitude.

A Hipnose Clínica é uma ferramenta terapêutica que pode auxiliar o leitor nesta demanda. Inicialmente, são identificados os pensamentos emocionais, psicológicos e irracionais, formados através das várias experiências de interação com o meio. Seguidamente, o leitor irá desenvolver o autoconhecimento de como estas crenças afetam a sua vida. Cada pensamento tem um impacto diferenciado, por vezes, profundo na forma como exibe as suas próprias decisões e comportamentos. Esta consciencialização permite que o leitor se adapte melhor à mudança. Posteriormente, e ao adquirir este novo olhar sobre estas ideias e sensações irracionais, o leitor é convidado a mergulhar nas suas memórias para  descobrir a origem das crenças para refutar, eliminar e alterar esses padrões de pensamento. Neste seguimento, surge uma nova “programação” mental, em que consiste numa reestruturação dos significado que o leitor atribui, interpreta e aplica ao seu “eu” e ao mundo ao seu redor. Esta reorganização cognitiva pressupõe um maior auto domínio sobre a resposta emocional e, por conseguinte, permite finalmente soltar-se da mais cruel e invisível prisão: a mente.

No próximo boletim de saúde poderá verificar mais sobre as crises existenciais, os objetivos de vida e como qual a intervenção da Hipnose Clínica.

Sara Morais – Hipnoterapeuta

Artigo de Opinião de Augusto Falcão—Ainda o 10 de março

Na passada edição escrevi acerca do voto, e de como nomes sonantes que ficaram gravados nos anais da nossa história mundial se bateram e alguns, pagaram o preço mais alto pela liberdade.

Quando falo disto, ficam-me sempre na ideia as palavras que um dia Abraham Lincoln escreveu em carta à Sra. Bixby, que tinha perdido 3 filhos na Guerra Civil Americana.

Hoje transcrevo, mais uma vez essas palavras: “Rogo ao Pai do Céu, que possa aplacar a angústia da sua perda, e que lhe deixe, as afetuosas memórias dos seus entes queridos e agora perdidos, e o orgulho solene que deve sentir por ter depositado um tão grande sacrifício no altar da Liberdade” (tradução livre).

Ao longo da nossa história muitos foram aqueles que lutaram pelos valores que hoje comungamos enquanto nação; e que ao longo da história pagaram o preço mais alto pela sociedade, embora sempre imperfeita, hoje temos.

Por isso hoje, vou-vos contar a história de Fernando dos Reis, Fernando Gesteira, José Arruda e José Barneto.

Sim, 4 homens, cujo nomes, com grande probabilidade nenhum dos nossos leitores conhece. 4 homens que um dia tombaram sob as balas dos defensores da ditadura.

Fernando dos Reis, segundo o Museu do Aljube, era filho de Alice e Luís Reis, nasceu a 16 de novembro de 1950 em Arranhó, Arruda dos Vinhos. Com 11 anos, entrou para a Casa Pia, onde estudou até 1967.
Pouco se sabe sobre a vida de Fernando Reis, exceto que, era soldado da 1.a Companhia Disciplinar de Penamacor, unidade historicamente utlizada pelo Estado Novo para punir militares e elementos da oposição acusados de indisciplina.

Fernando Gesteira, era o mais novo de todos, e era natural de Vreia de Jales, Vila Pouca de Aguiar, Trás-os-Montes, e trabalhava num escritório na capital, tinha acabado de atingir a maioridade; tinha vindo para a capital para fugir a uma vida nas minas onde o seu pai trabalhava.

José Arruda, nasceu a 13 de janeiro de 1954 na Ilha de São Miguel, nos Açores; estudou na universidade católica em Braga, e terá estado ligado ao PCP e outro movimento de esquerda.

José Barneto, nasceu em 1935 em Vendas Novas, no Alentejo; Cresceu nos Olivais, em Lisboa, vivia com a mulher e os quatro filhos em Benfica e era escriturário no Grémio Nacional dos Industriais de Confeitaria.

Estes 4 homens, no dia 25 de abril, por entre notícias e emissões de rádio, acerca da Revolução dos Cravos, andavam pelas ruas de Lisboa. Tal como muitos portugueses, nesse dia, saboreavam os primeiros momentos de liberdade após décadas de ditadura do Estado Novo.

Já Marcelo Caetano se tinha rendido, no Quartel do Carmo, uma multidão, ao fim do dia, dirige-se para o edifício sede de um dos símbolos mais horrendos do regime deposto. Na rua António Maria Cardoso, era a sede da PIDE – DGS, a ferramenta de opressão do Estado Novo; aquela que usava a prisão arbitrária e a tortura como arma para defender o regime político em Portugal.

E estes 4 homens, embalados pelo cheiro da liberdade, que os cravos nos canos das armas dos militares exalavam, dirigiram-se no meio da multidão, para a sede deste símbolo de terror.

Os agentes da PIDE, cercados, e sem hipótese de fuga, com medo da multidão, abriram fogo, sobre; por entre gritos de terror e medo, feridos, 4 homens caem no chão, mortos pelas balas da PIDE; estes 4 homens são os descritos acima; mortos pela ditadura que acabara de cair, movidos pelo sentimento de liberdade porque se moveram conscientes de serem livres, de qualquer medo.

Estes são os únicos portugueses que tombaram na revolução de abril, esquecidos das páginas da história, relembrados apenas no Museu do Aljube. Os únicos que perderam a vida, no dia em que Portugal reconquistou a liberdade, e se livrou dos grilhões da tirania da ditadura.

O seu sangue merece ser honrado; a sua morte celebrada; são heróis esquecidos da nossa revolução pura e livre de sangue, que nos devolveu o direito de “apesar não concordarmos com o que outros dizem, defenderemos o direito de o dizerem até a morte”; são aqueles que em nome dos cravos da revolução. Não estão no Panteão, mas devem estar na nossa memória coletiva.

São os heróis esquecidos, entre muitos outros, como maior ou menor importância, que nos devolveram a democracia, a liberdade. Devemos honrar a sua memória votando. Seja no que for, em quem for… mas votando. Em liberdade e em democracia….

 Augusto Falcão