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Artigos de Opinião

Artigo de Sandra Correia-Associação de Pais

Associação de Pais

Sim! As rotinas do dia a dia, os horários cada vez mais apertados afastam os adultos da vida social, mas também da vida escolar. À medida que as crianças vão pulando do pré-escolar para o primeiro ciclo, deste para o segundo e para o terceiro ciclos e entram no ensino secundário, a presença dos pais e encarregados de educação na Escola vai sendo cada vez menor. É preciso motivá-los a manter um diálogo contínuo com a Escola. É preciso convencer os pais da importância de estarem mais presentes no ambiente escolar.

Há evidências que comprovam que um maior acompanhamento promove um melhor comportamento e um maior sucesso escolar. Criar um ambiente colaborativo em que os desafios são pensados e concretizados juntos – Pais e Escola – é o caminho certo para uma Educação que fomenta as raízes do futuro. A escola não faz nada sozinha. Por isso, é essencial a participação constante e muito consistente de todos os agentes envolvidos no processo educacional. Dito isto, pretendo aqui louvar o trabalho incessante da Associação de Pais e Encarregados de Educação de Fornos de Algodres (APEE), que, desde outubro, tem tido um trabalho de reconhecido mérito. Da comunicação das ementas, às informações sobre as greves, das atividades articuladas com o Agrupamento à realização de sessões de esclarecimento para os Encarregados de Educação, tudo tem sido feito para que seja ponte entre escola e pais. Diz o povo que “é de pequenino que se torce o pepino”. Se as crianças, ao longo do seu percurso escolar, observarem uma participação mais ativa por parte dos seus pais/encarregados de educação, mais tarde, enquanto pais terão o mesmo papel. Ser participativo não significa somente acompanhar o desempenho escolar dos filhos, é também dar sugestões, participar da elaboração dos documentos orientadores da Escola, participar ativamente nas atividades. Esta participação ativa não se pode restringir aos representantes dos pais no Conselho Geral ou nos Conselhos de Turma. A voz dos pais pode e deve ser ouvida através destes representantes, mas também da Associação de Pais que, de mãos dadas, colabora na concretização do Projeto Educativo da Escola. Esta colaboração e a articulação entre Agrupamento, Município e APEE só pode estimular um diálogo construtivo em prol do sucesso escolar de todos os alunos.

O Perfil do Aluno à saída da Escolaridade Obrigatória prevê, entre outros objetivos, que o aluno seja, no futuro, um cidadão capaz de pensar crítica e autonomamente, criativo, com competência de trabalho colaborativo e com capacidade de comunicação e que conheça e respeite os princípios fundamentais da sociedade democrática e os direitos, garantias e liberdades em que esta assenta. Uma eficiente e eficaz cultura de escola conseguirá concretizar estes objetivos com a participação proativa dos pais e encarregados de educação. Estou certa que os alunos, os vossos filhos, tornar-se-ão cidadãos mais ativos e mais interventivos, na sociedade, se soubermos ser espelho do que desejamos que sejam amanhã, dando voz à vossa voz. E a APEE parece-me ir no bom caminho.

 

Artigo de Vítor Santos—O povo aumenta, mas não inventa

A criminalidade nas escolas está a subir, a par da delinquência juvenil. Quando tanto se dizia que a seguir à pandemia íamos ser melhores Seres Humanos…

No desporto não é diferente. A competição-conflito está enraizada desde muito cedo nas nossas crianças. E todos sabemos que as crianças são o espelho dos nossos comportamentos.

Muitas situações não são tornadas públicas porque os clubes, no seu direito, tendem a abafar e esconder para não criarem má imagem. Mas são transversais as más práticas e quase sempre protagonizadas pelos familiares das crianças e jovens em contexto desportivo.

A violência em competições no desporto não profissional, sobretudo aquelas em que estão envolvidos escalões etários mais baixos, é fator de risco. Por muito que tentem dizer que não é assim, ou não foi assim, a verdade é que “o povo aumenta, mas não inventa”.

Esta vertente, da violência verbal e/ou física, é objeto de análise pela Autoridade para a Prevenção e Combate à Violência no Desporto e pelas comissões de crianças e jovens em risco em todo o país. Ultrapassa a justiça desportiva.

Atualmente, as crianças e os jovens apresentam características de desenvolvimento emocional cada vez mais deficitário, nomeadamente no que diz respeito à capacidade para lidar com a frustração e para controlar os próprios impulsos. Apresentam, ainda, pouca preocupação em relação ao sofrimento que provocam ao outro. Baixa autoestima, isolamento e problemas de sono são sintomas identificados. São um barril de pólvora.

A vontade de vencer é inerente à prática desportiva, mas o jovem tem de saber vencer e perder, que o mesmo é dizer que tem de saber respeitar e respeitar-se, como vencedor e como vencido, dado que a prática desportiva tem como objetivo primeiro o desenvolvimento de todos e de cada um dos seres humanos. A tenacidade de um jovem atleta tem um valor incalculável na sua formação para a vida.

Desta forma, e reconhecendo que na essência da competição existe sempre oposição, devemos olhar o adversário como o elemento que alimenta o nosso aperfeiçoamento quotidiano e nos obriga a evoluir, e nunca como um inimigo a abater. Ele é quem nos desafia e vice-versa. Mas só é adversário durante a competição. Fora dela é um colega que pratica a mesma modalidade e que devemos sempre respeitar.

O desporto é uma atividade com valores, que forma indivíduos disciplinados, e estes trabalham diariamente em busca da sua superação, respeitando as regras existentes. A ética desportiva é isto: o respeito pelo outro, pelas regras, pela modalidade (desporto) e pelo nosso corpo.

Só um desporto com esta visão será capaz de continuar a atrair praticantes, adeptos e patrocinadores. O desporto-conflito afasta tudo e todos. O “produto”, qualquer dia, nem para os paineleiros serve.

 

 

Vítor Santos

Embaixador do Plano Nacional de Ética no Desporto

Artigo de Opinião de Luís Miguel Condeço: Em maio, damos atenção ao coração!

O mês de maio ou mariano é por tradição associado às festividades cristãs, uma vez que foi neste mês que aconteceram as aparições da Virgem Maria aos pastorinhos Francisco, Jacinta e Lúcia na Cova da Iria. Mas também podemos associar este mês ao nascimento de Florence Nightingale (em 12 de maio de 1820), expoente máximo da enfermagem contemporânea, que abdicando de uma vida aristocrata, dedicou-se em pleno ao cuidado dos feridos de guerra (na Crimeia), notabilizando-se pela implementação de medidas sanitárias nos cuidados de saúde, que ainda hoje se consideram atuais. Não é à toa que mundialmente se celebra o Dia Internacional do Enfermeiro, no 12 de maio.

Mas foi ao ler um dos últimos estudos da Universidade do Porto, que decidi escrever sobre a problemática das doenças cardiovasculares. Sabemos hoje que são a principal causa de morte no mundo, representando cerca de 32% do total das mortes anuais, e no período pré-pandêmico foram responsáveis pela morte de 17,9 milhões de pessoas, segundo a Organização Mundial de Saúde.

O já referido estudo português, divulgado no mês de fevereiro deste ano e realizado em conjunto com a Sociedade Portuguesa de Aterosclerose, onde se estudaram 78.000 pessoas seguidas nos cuidados de saúde primários e hospitalares de Matosinhos ao longo dos últimos vinte anos, conclui que 39% destas pessoas têm risco elevado e muito elevado de desenvolverem doença cardiovascular (cerca de 30.400 pessoas), números que nos devem deixar muito assustados.

No sentido de alertar e sensibilizar a população portuguesa, a Fundação Portuguesa de Cardiologia (FPC) tem vindo a promover nos últimos anos a campanha “Maio, Mês do Coração”, alertando os portugueses para a problemática das doenças cardiovasculares, realçando todos os anos um ou dois fatores de risco (condição que aumenta o risco cardiovascular, ou seja, aumenta a probabilidade ter a doença). Esta campanha tem tido visibilidade na comunicação social, nos locais públicos através de cartazes e panfletos, e na internet.

A doença cardiovascular, é silenciosa, de instalação lenta, e essencialmente comportamental, pois está associada a hábitos enraizados nas pessoas e de difícil mudança, indicando por isso mesmo a FPC que 80% das mortes em Portugal podiam ser evitadas todos os anos.

Os investigadores da Universidade do Porto indicam que o tratamento “está a ser claramente insuficiente”, uma vez que apenas 5% dos doentes de risco elevado e 10% dos doentes de risco muito elevado fazem tratamento farmacológico. Mas o controlo dos fatores de risco é a melhor forma e a mais fácil de prevenir as doenças cardiovasculares, dividindo-se em fatores de risco modificáveis:

  • Açúcar elevado no sangue (diabetes)
  • Colesterol elevado
  • Triglicerídeos elevados (gorduras)
  • Hipertensão arterial
  • Obesidade
  • Fumar
  • Ingestão abusiva de bebidas alcoólicas
  • Pouco exercício físico (sedentarismo)

E fatores de risco não modificáveis:

  • Idade
  • Género
  • Genética (história familiar)

A nossa intervenção deve focar-se nos fatores de risco modificáveis, adotando os seguintes comportamentos, como: deixar de fumar, controlar com frequência a tensão arterial, manter atividade física ou realizar exercício físico com regularidade, adotar uma alimentação variada e equilibrada (diminuir a ingestão de gorduras, sal e álcool), controlar adequadamente a glicémia (açúcar no sangue) e a diabetes, reduzir e aprender a gerir o stress e a ansiedade.

Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

Artigo de Sandra Correia —-“Happy School”

Quando a escola não responde às necessidades dos alunos e aumenta a frustração dos professores, há que procurar os motivos, estar atentos ao mal-estar de ambos. Tenho ouvido constantemente colegas meus afirmarem que querem mudar de profissão, com mais de cinquenta anos, estão certos que conseguiriam outra atividade, bastava querer.

  Quanto aos alunos não os vejo felizes, passamos por experiências, em sala de aula, que são espelho do seu sentir perante a escola. Ainda que o professor crie novas experiências, novos métodos, tudo para eles, parece uma “seca” ao ponto de recusarem fazer o que não é corrente fazer. Algo está mal. É urgente tornar a Escola, um lugar onde todos se sintam felizes e realizados. São importantes as medidas pelas quais os professores estão a lutar, mas não basta. Porquê? A escola tem de acompanhar a evolução e as mudanças do mundo moderno. Hoje, os alunos têm acesso imediato às novidades, às curiosidades, aos seus interesses. Em sentido contrário, a escola mantém nos manuais, os mesmos conteúdos, nas aprendizagens essenciais. Se olharmos para os cursos profissionais, nas disciplinas teóricas, as aprendizagens são iguais às do ensino regular, quando poderiam estar adaptadas ao curso em causa. Certamente aumentaria o interesse dos alunos, pelas disciplinas de português, de inglês, por exemplo. No ensino regular, verificamos graves dificuldades na compreensão dos textos e na sua interpretação, muitos temas da área de cidadania -igualdade de género, diversidade, educação financeira, ambiente, etc.- poderiam ser abordados em muitas disciplinas, aumentando o interesse em aprender, em saber debater, argumentar e escrever. Obviamente, serão sempre fulcrais os conteúdos das disciplinas de português, história ou geografia ou matemática entre outras, relevante é torná-las cativantes para os alunos, alimentando o seu prazer em aprender e do professor em ensinar. Mas a escola não se restringe à sala de aula. Pensar a escola como um espaço de felicidade e bem-estar é promover a vontade de querer estar nessa escola. Ser feliz faz parte da resposta à pergunta “como se sente como professor?”, “Como te sentes na tua escola?” “Sou feliz!”. Uma “happy school” contribui para o sucesso dos alunos, uma vez que vai proporcionar-lhes vontade de fazer, de aprender, de saber estar, bem-estar e felicidade dos professores que, necessitam cada vez mais de ânimo e estímulo para fomentar aulas inovadoras para alunos e pais, cada vez mais exigentes. Trata-se de uma mudança de olhar, uma nova visão para a Escola, pensada nas pessoas e não apenas no produto (resultados). O resultado será sempre o mesmo, porque alunos felizes só podem conseguir melhores resultados. Vale a pena pensar nisto.

Artigo de Vitor Santos-Desporto: Insultos dão multa

Desporto: Insultos dão multa

A prática desportiva tem vindo a ser influenciada por mudanças e transformações sociais verificadas nas últimas décadas, bem como por referências modeladas pelos meios de comunicação social e pelas redes sociais.

Em resultado dessas influências, assiste-se hoje a uma generalização do conceito de competição-conflito, que é um processo social em que se acentuam as diferenças objetivas entre os clubes e se minimizam os traços comuns entre eles existentes. Entre os adeptos e os agentes desportivos, tende‑se cada vez mais a salientar as más práticas dos adversários, minimizando as qualidades técnicas e desportivas que são comuns a todos eles. Criam-se desse modo rivalidades mesquinhas que são exteriores à prática e à competição desportiva.

As entidades organizadoras e reguladoras das competições profissionais nacionais não conseguem descolar-se dos clubes “eucaliptos”. Os outros clubes também não. Não será tão cedo que teremos uma competição profissional que prestigie a modalidade e o desporto.

Os profissionais de futebol, pagos a peso de ouro, deviam ser um exemplo e não transformarem muitos jogos em arte circense. Cada profissional no seu lugar, porque os do circo não competem com os futebolistas! Estes deviam fazer o mesmo e respeitar a modalidade, o desporto e o público.

O pior é que o futebol não profissional, sénior e formação, tende a copiar o que de pior a competição máxima tem. Escudam-se atrás do “somos um clube pequeno, mas honrado”, como se os outros fossem clubes de bandidos. É a vitimização bacoca copiada dos clubes grandes. Grandes em tudo, desde número de adeptos e títulos até buscas judiciais, passivos financeiros, casos de violência e martirológios.

Os adeptos anónimos são, também eles, fatores de destabilização e promotores de ódio, só porque não querem perceber que o desporto é mais do que só ganhar. Dá‑lhes jeito o discurso do ódio por motivos financeiros ou sociais. Daí a paineleiros é um saltinho!

Outros que se dizem desportistas e têm carteira de treinador, jornalista, árbitro, dirigente, agente ou outra não são respeitadores e por isso não merecem crédito. São falsos moralistas e envergonham, porque eles não têm vergonha, qualquer cidadão bem formado. As televisões, os jornais e as redes sociais estão cheias destes paladinos da verdade e da razão – o clube deles é sempre inocente!

Seres humanos normalmente civilizados, educados e serenos transformam-se em verdadeiros hooligans através da palavra! Urge banir a violência verbal promotora de ódios. Urge educar o sonho desportivo dos nossos jovens, mostrando que nem sempre somos os melhores, mas podemos sempre dar o melhor de nós mesmos.

O número de casos desviantes nos bancadas e o número de conflitos dentro dos campos (na formação) têm aumentado. A Autoridade para a Prevenção e Combate à Violência no Desporto tem vindo a atuar e a violência verbal começa a ser punida.

 

Vítor Santos

Embaixador do Plano Nacional de Ética no Desporto

Artigo de Augusto Falcão—- Abril da esperança

Abril, é o primeiro mês totalmente varrido pela primavera. O tempo começa a aquecer, os dias tornam-se mais longos, há mais luz. O ânimo melhora, depois dos dias curtos e frios do inverno.

Mas, abril também nos traz o dia 25. Esse feriado que ainda hoje, ao fim de tantos anos, e apesar de muitas vezes me sentir desiludido com a nossa classe política, ainda me faz “arrepios na espinha” como diz a sabedoria popular.

O meu filho, esse talvez nunca vá perceber este “arrepio na espinha”; nasceu totalmente na liberdade e democracia, muitos anos depois desse dia de abril.

Eu também já nasci na liberdade de abril; dois anos depois. Mas já sou filho da liberdade e da democracia.

Mas como todos os homens e mulheres dessa geração, cresci a ouvir as histórias da minha família, que diziam sempre “antes do 25 de abril” ou “no tempo do Salazar”.

Não sou a favor do tempo do Salazar, nem do antes do 25 de abril; muito pelo contrário; aprendi na escola, que a democracia, afinal é o pior regime político, à exceção de todos os outros, segundo Winston Churchill.

Essa mesma democracia que foi defendida na antiga Grécia, pelos Atenienses e seus aliados, contra a opressão e tirania do império Persa.

Já no século passado, muitas nações desiludidas com as suas classes políticas e dirigentes, viraram-se contra os valores democráticos e preferiram ditaduras; períodos esses em que se cometeram os mais bárbaros crimes contra a Humanidade em maior ou menor escala; Hitler, Stalin, Mussolini; nessa altura pela nossa Península Ibérica, aqui ao lado, Franco travou e venceu uma guerra civil que instituiu em Espanha uma ditadura, e aqui nas nossas terras Salazar comandou os destinos de Portugal desde 1932 até 1968.

Cresci a ouvir as histórias deste Estado Novo; a memória do Salazarismo, ainda estava presente nas conversas da minha avó e do meu avô, onde a fome, a opressão, a miséria, campeavam pelo nosso Portugal; era frequente ouvir histórias de prisões feitas pela PIDE, aos opositores do regime; prisões que além de arbitrárias faziam desaparecer durante tempos infinitos os detidos, impedidos de terem acesso a advogados ou de contactar as suas famílias; cresci a ouvir estas histórias na minha família, já que tinha um familiar que sofreu estes abusos às mãos da PIDE; detido numa noite, deixou a mulher grávida,  e levado para Peniche, somente por ser comunista; quando foi libertado era Pai.

Cresci ainda a ouvir as histórias da Guerra Colonial, que hoje tanta celeuma causa entre certos grupos da nossa sociedade; cresci a ouvir as histórias do meu Pai, ex combatente, das motivações que havia na época e da propaganda do Estado Novo de que Portugal era uma nação pluricontinental e multirracial, posição essa plasmada na constituição de 1951.

Hoje, à distância de pelo menos 40 anos, recordo todas estas histórias convosco e as partilho; recordo ainda as imagens daquele dia de abril, em que Salgueiro Maia, saiu de Santarém, e rumou a Lisboa, para fazer parte da revolução.

Abril é mais que uma revolução, mais que cravos, mais que “Grândola, vila Morena” ou “e depois do adeus”.

Abril representa a vontade de mudança, de um governo ditatorial para governo do povo, pelo povo e para o povo conforme proclamou Lincoln um dia durante a sua presidência.  De mudar o estado em que as coisas estavam; porque tal como disse Salgueiro Maia, antes de sair de Santarém em direção a Lisboa:

Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os estados socialistas, os estados capitalistas e o estado a que chegámos. Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos!”

 

Augusto Falcão

Artigo de Sara Morais — A Carência do Ego: Parte 1: Aprovação e o Reconhecimento

Não é à toa que o leitor é a personagem principal da novela da sua existência, e que se sinta como um verdadeiro pináculo da criação, isto porque é dotado de Ego – um arquétipo da perfeição, que caracteriza, por si só, a personalidade de cada indivíduo. Sem este defensor da personalidade era impossível para o leitor diferenciar os seus processos interiores da realidade que o envolvem. No fundo, se o ego não existisse a noção de existência seria posta em causa.

No entanto, o “eu”, por vezes, entra em carência quando as suas necessidades e desejos são postos de parte. No imediato, surgem pensamentos ruminantes e desgastantes, que se espelham numa procura incessante pela aprovação e reconhecimento, como também uma dependência do que os outros pensam, acabando por perder a sua autoestima e ceder ao sofrimento de querer agradar a gregos e a troianos. Neste processo de hipoteca de si mesmo, o seu “eu” fica fragmentado, como se tivesse partido em vários pedaços, e a sua autenticidade – aquilo que representa a sua essência como única – perde-se como um grão de areia entre esses mesmos filamentos do ser.  E, tudo o que resta é o medo de rejeição, da crítica, o impedimento em expressar a sua opinião, o medo da rejeição de não se sentir aceite e não agradar, o que apadrinha um grande sofrimento emocional. Neste estado, o passado e o futuro tornam-se presentes e deixa de viver o tempo como ele realmente existe, e os seus problemas sobem à ribalta tornam-se estes protagonistas da sua história.

Neste seguimento, o leitor poderá reconhecer esta necessidade de aprovação e reconhecimento quando se sente inibido de partilhar a sua própria opinião sempre que estiver a conversar com outras pessoas com o objetivo de angariar aceitação e simpatia; ou por exemplo se o seu estado de humor e autoestima dependem de como foi tratado por outrem. Se for elogiado, o seu humor será, certamente, positivo, caso contrário, ficará triste e insatisfeito. Existe, também, a dificuldade em dizer “não” deixando as suas prioridades para atender as necessidades do outro. Por fim, a excessiva atenção à imagem física é comum, pois, é através desta que poderá arrecadar elogios o que acaba por sustentar o seu bem-estar.

Uma das formas para lidar com esta carência é melhorar a sua auto estima. A Hipnose Clínica permite o leitor identificar os pensamentos e explorar as crenças e atitudes irracionais em relação a este sentimento de vazio que o leva a procurar a aprovação e reconhecimento ininterrupto. Neste processo, são trabalhados vários registos que favorecem o autocuidado das suas necessidades e desejos. É validado um novo olhar sobre como o ser humano é sensível e falho e, por esse motivo, não precisa de ser perfeito, cada caminho é um caminho, de aperfeiçoamento e de crescimento. Após a tomada de consciência sobre estes aspetos, é possível que o leitor possa mudar a sua forma de pensar e de agir através da criação de novos objetivos e de um novo registo de crenças que vão alicerçar a sua autoconfiança e, consequentemente, as suas competências.

No próximo boletim de saúde poderá verificar mais sobre a autoafirmação enquanto patologia e o respetivo papel da Hipnose Clínica.

Sara Morais

Hipnoterapeuta

 

Artigo de Luís Miguel Condeço—Abril Azul

 

Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

 

A violência contra a criança é infelizmente uma realidade, manifestada de diferentes formas e em diversas sociedades. Historicamente, apresenta-se como um fenómeno social e cultural de extrema relevância, considerado por muitos como um problema de saúde pública, além do cariz judicial e criminal.

A Organização Mundial de Saúde estima que 300 milhões de crianças com idades entre os 2 e 4 anos, sofrem regularmente punições físicas ou violência psicológica infligida pelos pais ou familiares, significando que três em cada quatro crianças são alvo de violência a nível global.

Um estudo publicado no mês passado referente aos dados sobre a violência e maus-tratos infantis no Brasil nos últimos dez anos, refere que os meninos são mais suscetíveis à violência física na infância (até aos 4 anos de idade) com uma taxa de 248 crianças por 100 mil habitantes, e as meninas são mais suscetíveis à violência física na adolescência (10 aos 14 anos de idade) com uma taxa de 232 adolescentes por 100 mil habitantes. Quanto à natureza dos agressores continua a ser o núcleo familiar, o local de proveniência, com o pai (41,1%) e a mãe (39,8%) a destacarem-se negativamente.

Em Portugal, dados de 2021 indicavam que cerca de 35 mil crianças estavam a ser acompanhadas e vigiadas por sofrerem de maus-tratos, e mais de metade destas com idade inferior a 3 anos. Todos os comportamentos moldam a vida das crianças, essencialmente nos primeiros mil dias de vida.

Em 1989 no estado da Virgínia, nos Estados Unidos da América, Bonnie Finney passava os fins de semana com os seus netos como grande parte das avós que conhecemos, contudo começou a estranhar o silêncio e a tristeza dos netos, e a recusa em retirar os casacos. A violência física infligida contra eles acabou por levar à morte o neto, e deixou profundas marcas físicas e psicológicas na neta. Então para demonstrar a sua dor face aos acontecimentos trágicos de que tinham sido vítimas as crianças, esta avó colocou uma fita azul (cor representativa das equimoses visíveis na pele) na antena do seu automóvel e começou a alertar toda a comunidade para violência sobre as crianças. O “Movimento Laço Azul” que Bonnie Finney acabara de criar impulsionou a comunidade internacional para a evocação no mês de abril como o Mês Internacional da Prevenção dos Maus-Tratos na Infância, simbolizado pelo laço de cor azul.

As práticas punitivas por um comportamento inadequado caracterizaram-se no passado por palmadas, puxões de orelhas ou violência verbal, atos que são totalmente inaceitáveis. Estas práticas têm consequências várias, no entanto, destaco as mais comuns ou facilmente percetíveis pela comunidade escolar e profissionais de saúde: dificuldades na aprendizagem, ansiedade, angústia, medo, hostilidade, retribuição da violência, sequelas das lesões, e em última instância a morte.

A Universidade de Maastricht (Países Baixos) apresentou recentemente um estudo, mostrando que homens e mulheres são afetados de forma diferente pelos traumas na infância, elas mais pelos traumas emocionais e abuso sexual e eles mais pela negligência emocional e física. A exposição a maus-tratos na infância aumenta o risco de sintomatologia psiquiátrica na idade adulta.

Os maus-tratos infantis não podem ser esquecidos, apesar de ser reconhecida a sua subnotificação, e todos podemos ser agentes de mudança. Hoje a Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens, disponibiliza online um formulário para a comunicação de situações de perigo, bastando o acesso à página da internet (https://www.cnpdpcj.gov.pt/comunicar-situacao-de-perigo).

Cada um de nós tem um papel importante no direito a crescer com igualdade, “serei o que me deres… que seja amor” (frase da campanha nacional de 2021).

Artigo de Sandra Correia—Vale a pena pensar nisto?

Caros leitores, hoje, prevejo que vão desistir à quarta linha, mas se forem pais, não desistam… vão ler um artigo, superinteressante, provavelmente sobre um tema que pouco ouviram falar, na teoria e até na prática.

A avaliação dos vossos educandos.

Em julho de 2018, foi publicado um decreto-lei de suma importância para o processo de avaliação dos alunos, o Decreto-leiº 55/2018, onde o Governo assumia como prioridade a concretização de uma política educativa centrada nas pessoas que garantisse a igualdade de acesso à escola pública, promovendo o sucesso educativo e, por essa via, a igualdade de oportunidades. Assim, considerou fundamental que as principais decisões a nível curricular e pedagógico fossem tomadas pelas escolas e pelos professores. Foram, desta forma desafiadas as escolas, para, em diálogo com os alunos, as famílias e com a comunidade, poderem, por exemplo, dispor de maior flexibilidade na gestão curricular, com vista à dinamização de trabalho interdisciplinar, de modo a aprofundar, reforçar e enriquecer as Aprendizagens Essenciais; implementar a componente de Cidadania e Desenvolvimento, enquanto área de trabalho presente nas diferentes ofertas educativas e formativas, com vista ao exercício da cidadania ativa, de participação democrática, em contextos interculturais de partilha e colaboração e de confronto de ideias sobre matérias da atualidade; Fomentar nos alunos o desenvolvimento de competências de pesquisa, avaliação, reflexão, mobilização crítica e autónoma de informação, com vista à resolução de problemas e ao reforço da sua autoestima e bem-estar; apostar na dinamização do trabalho de projeto e no desenvolvimento de experiências de comunicação e expressão nas modalidades oral, escrita, visual e multimodal, valorizando o papel dos alunos enquanto autores, proporcionando-lhes situações de aprendizagens significativas ou reforçar as dinâmicas de avaliação das aprendizagens centrando-as na diversidade de instrumentos que permitem um maior conhecimento da eficácia do trabalho realizado e um acompanhamento ao primeiro sinal de dificuldade nas aprendizagens dos alunos.

Este diploma, em início de férias escolares, entrou em vigor, no dia seguinte à sua publicação.

Mais tarde, em agosto, a Portaria 223-A/2018, de 3 de agosto, para o Ensino Básico veio revolucionar os critérios de avaliação que passaram a ser definidos em função do Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória, das Aprendizagens Essenciais e dos demais documentos curriculares, de acordo com as opções tomadas ao nível da consolidação, aprofundamento e enriquecimento das Aprendizagens Essenciais. Nos critérios de avaliação deve ser enunciado um perfil de aprendizagens específicas para cada ano ou ciclo de escolaridade, integrando descritores de desempenho, em consonância com as Aprendizagens Essenciais e as áreas de competências inscritas no Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória. Os critérios de avaliação devem traduzir a importância relativa que cada um dos domínios e temas assume nas Aprendizagens Essenciais, designadamente no que respeita à valorização da competência da oralidade e à dimensão prática e ou experimental das aprendizagens a desenvolver. (retirado da lei).

Estavam os professores, os pais, os alunos e toda a comunidade “na praia”, digo eu. Este documento também entrou em vigor, no dia seguinte à sua publicação.

No regresso, em setembro, muito havia a fazer, para os professores de todas as disciplinas.

Ora, vou simplificar o discurso, até àquela data, a avaliação era quantificada numa percentagem. Todos, no final do período, aguardavam essa percentagem para saberem o nível que iriam ter. Por exemplo, um 75% daria um nível 4. Com a nova lei, a realidade foi bem diferente, trouxe mudanças drásticas.

A partir do documento “Aprendizagens Essenciais”, que determina o que os alunos devem ser capazes de fazer, (identificar, reconhecer, sintetizar, caracterizar dentro dos domínios, etc), os professores nos seus grupos disciplinares tiveram o trabalho árduo de definir a avaliação formativa por domínios da sua disciplina. Por exemplo, eu sou professora de Português, todas as minhas atividades centram-se nos domínios da Oralidade (compreensão e expressão), da Gramática, da Leitura e da Educação literária e da Escrita. E a avaliação? A avaliação passa a ser um processo e não um produto. É realizada na sala de aula, centrada em cada aluno.

Para cada domínio são definidas rúbricas descritivas que permitem ao docente de definir o que o aluno é ou não capaz de fazer.

Imaginem este caos, em 2018/2019…. Obviamente raras foram as escolas que cumpriram este desafio. Muitos professores recorreram às ações de formação para aprender e saber aplicar e muitas escolas proporcionaram formação aos seus docentes, os restantes foram como, sempre, autodidáticos, 2019/2020, surge o Covid, a era pandémica, até 2020/2021. Só nesta altura, é que começaram as escolas a debruçar-se sobre o assunto.

Tive a sorte, este ano, de ficar numa escola que aplica este processo, desde o ano passado, com todas as dificuldades e constrangimentos que dele emanam. No entanto, considero depois de um semestre, que esta avaliação permite ao aluno a centrar-se em si próprio, em descobrir as suas dificuldades e onde é melhor.

Vou calar-me sobre escolas e professores e dirigir-me a vós, pais e encarregados de educação, uma mudança tão radical deveria ter sido e deve ainda ser explicada e esclarecida pela tutela, pelas escolas aos pais. “O meu filho fazia dois testes, e agora? São testes a toda a hora!” Quantas vezes, já ouvi isto. Já me questionaram “Professora, como consegue atribuir o nível, no final do semestre?” E expliquei.

Ainda há quem diga que os professores não se dedicam uma vida inteira a sucessivas mudanças e constantes inovações.

Vale a pena pensar, nisto?

 

Artigo de Augusto Falcão— Desfibrilhação

Antes de mais nada, devo referir, que tudo o que eu escrever aqui, está devidamente referenciado nos manuais do INEM no capítulo de SBV / DAE adulto.

E digo adulto porque a desfibrilação, apesar de ser indicada em crianças, tem um peso maior nos adultos. Isto porque a grande maioria das paragens cardiorrespiratórias
em adultos tem causas cardíacas, logo passíveis de uso de desfibrilhadores, enquanto nas crianças a maioria das causas das paragens cardiorrespiratórias tem origens respiratórias.

Sendo assim, e antes de falar de desfibrilhadores e do que é a desfibrilhação vamos falar um pouco do coração.

O coração, é um órgão que conjuntamente com os vasos sanguíneos, constitui o sistema cárdio-circulatório, sistema essa que tem como função primordial enviar sangue rico
em oxigénio e açúcar ( de uma forma muito simples) para as células de todo o corpo para que, essas mesmas células possam produzir energia para que a gente possa fazer tudo
o que possam imaginar; é responsável também por receber o sangue que contém dióxido de carbono ( que resulta do uso de oxigénio nas células) e de remover os produtos
resultantes da produção de energia nas células.

O coração é um órgão musculoso, com ritmo próprio; ou seja, todo o coração é um músculo, e que ao contrário dos outros músculos do corpo, não depende de ordens do
cérebro para trabalhar; enquanto os outros músculos do corpo necessitam de ordens do cérebro, para trabalharem (ordens dadas por ritmos elétricos), o coração tem duas
“pilhas” inseridas no próprio coração, que produzem esse ritmo elétrico, que depois faz com o que coração trabalhe de forma organizada.

Ou seja, de uma forma muito simples, o coração tem dois ritmos diferentes; um elétrico que depois, se corretamente feito, se traduz num ritmo mecânica que é aquilo que nós
chamamos de batimentos cardíacos.

O coração tem ainda em termos anatómicos 4 cavidades; duas aurículas e dois ventrículos, sendo o mais importante o ventrículo esquerdo, que é o responsável pelo envio de todo o sangue oxigenado e rico em açúcar para o corpo inteiro.

Falando agora da desfibrilhação, é importante que se perceba em que contexto pode ser usada. A PCR é um acontecimento súbito, constituindo-se como uma das principais causas de morte na Europa e nos Estados Unidos da América. Afeta entre 55-113 pessoas /100,000 habitantes, estimando-se entre 350,000-700,000 indivíduos afetados
por ano, só na Europa. A análise efetuada aos equipamentos de DAE utilizados logo após uma paragem cardíaca, indica uma elevada percentagem (76%) de vítimas com um
incidente arrítmico particular: Fibrilhação Ventricular. Está demonstrado que a desfibrilhação precoce, realizada entre 3 e 5 minutos após o colapso da vítima, resulta em taxas de sobrevivência de 50 a 70%.

O International Liaison Committee On Resuscitation (ILCOR) recomenda que, em muitas circunstâncias, profissionais não médicos possam ser autorizados e incentivados a
utilizar desfibrilhadores automáticos externos e o European Resuscitation Council defende que cada ambulância seja dotada de capacidade de desfibrilhação automática externa.

O desenvolvimento técnico dos denominados “desfibrilhadores automáticos externos” (DAE) permite hoje a sua utilização segura, desde que operados por pessoal treinado
especificamente para o efeito.

Ou seja, o objetivo é que quando alguém sofrer uma PCR, a recomendação é que a desfibrilhação seja o mais precoce possível, sendo que dentro daquilo a que se convencionou
chamar a cadeia de sobrevivência, a desfibrilhação precoce é de extrema importância.

Continuarei a falar disto no próximo artigo com a introdução da cadeia de sobrevivência.