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Artigos de Opinião

Artigo de Augusto Falcão–“Vamos lá falar de tolerância” parte 1

Talvez não seja um assunto fácil de escrever; até porque tudo o que mexe com as nossas convicções costuma ser quase que assuntos proibidos de debater, ou até de um simples sussurro.

Mas, já dizia Platão, que uma vida não questionada, não merece ser vivida; todos nós já nos debatemos com situações que vão contra as nossas convicções; contra os nossos códigos de moral e de conduta; contra tudo aquilo que os nossos Pais e Avós nos passaram; mas peço ao leitor, um minuto da vossa vida, e vamos fazer um exercício de reflexão.

Tolerância é a capacidade de uma pessoa ou grupo social de aceitar outra pessoa ou grupo social, que tem uma atitude diferente das que são as “normais” no seu próprio grupo. Assim, a partir da tolerância, é garantida a aceitação da diversidade e inclusão.

Devem ter reparado que coloquei normais entre aspas; isto porque o próprio conceito de normal, não pode ser usado sem ser relativizado; a normalidade de uma ação depende do tempo e do próprio espaço onde estamos inseridos; ou seja a normalidade de um ato, pensamento, é uma noção localizada espaço-temporalmente.

A democracia como a conhecemos hoje, por exemplo, foi na sua génese muito pouco democrática, já que e a título de exemplo, o voto não podia ser exercido pela mulheres. E se nesse tempo, isto era aceite como “normal”, hoje, apesar de adotarmos a democracia, aceitamos como normal as mulheres votarem, e até achamos errado o contrário.

Ou seja, o código de valores que nós, enquanto grupo, neste caso País aceitamos como válido para todos muda consoante a sociedade evolui; aceitarmos indivíduos ou grupos que tenham valores ou atitudes diferentes das nossas já é aceitamos a diversidade e sermos tolerantes.

 Mas devemos, em nome da diversidade e inclusão, aceitar normas e atos que vão frontalmente contra todo o nosso código de valores?

E se, nós, enquanto sociedade, proibirmos esse grupo de praticar esse ato, porque o consideramos errado, à luz do nosso código de valores? Somos intolerantes?

Podemos então concluir, que ser tolerante, a própria tolerância é quase que uma virtude, ou seja é uma característica, de excelência, que deve ser mantida e cultivada por cada um individualmente e por fim como um todo enquanto sociedade.

Dizer que uma sociedade é tolerante, não é propriamente fácil, pelo que se torna mais fácil dar exemplos de sociedade intolerantes; uma sociedade intolerante apresenta comportamentos de repulsa e até mesmo ódio a tudo o que lhes seja diferente.

Acho que todos concordamos que devemos então ser tolerantes; julgo que nunca foi ideia de nenhum de nós ser catalogado como intolerante, ou mesmo contribuirmos para a construção de uma sociedade intolerante;

Mas agora coloca-se a questão: deve esta tolerância ter limites? Até que ponto devemos ser tolerantes perante algo que nos causa, enquanto sociedade, repulsa ou até mesmo ódio? E se colocarmos limites a essa tolerância, estamos a ser intolerantes, como tal, não aceitamos a diversidade e a inclusão, logo não compreendemos o mundo onde estamos inseridos?

Ou pelo contrário, aceitamos tudo sem limites, de forma a termos uma sociedade completamente tolerante, aceitando que sejam praticados atos que, são totalmente contrários aquilo que nós enquanto sociedade abominamos?

Fica a questão para a próxima edição.

Augusto Falcão

Artigo de Luís Miguel Condeço—(Neuro)Diferentes

Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

Hoje muitos se questionam sobre o perfil neurológico e cognitivo de alguns líderes mundiais, que enchem continuamente a nossa comunicação social com expressões, afirmações ou insinuações, que testam a forma como vemos o mundo.

A diferença das capacidades neurocognitivas sempre existiu, basta comparar personalidade como Platão e Mozart, ou Gengis Khan e Cervantes. E será porventura, aquilo que mais nos diferencia e nos torna seres únicos.

A Ciência atribui à maioria dos seres humanos, o que se designa por neurotípico, ou a pessoa que apresenta um desenvolvimento neurológico esperado e um padrão cognitivo que “encaixa” no que consideramos normal. Mas nem todos são enquadráveis neste “rótulo”, por isso se designam como neurodivergentes.

As crianças neurodivergentes, podem apresentar diferenças em várias áreas do desenvolvimento, como a cognição, a linguagem, a socialização e o comportamento, conhecendo-se como exemplos destas condições, as perturbações do espetro do autismo, o défice de atenção e hiperatividade, a dislexia, entre outras. Esta classificação não reflete uma deficiência, mas sim uma diversidade de funcionamento cerebral (dificuldades na interpretação de sinais sociais, interesses restritos, padrões de comportamento repetitivos ou uma sensibilidade sensorial elevada), que deve ser compreendido e valorizado no contexto educativo e social.

Inserida na perturbação do espetro do autismo, desde 2013 e após a publicação da 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, a Síndrome de Asperger é caracterizada por especificidades marcantes que desafiam e enriquecem a compreensão sobre o desenvolvimento infantil.

Descrita pela primeira vez em 1944, pelo pediatra austríaco Hans Asperger, que observou um grupo de crianças com comportamentos sociais diferentes, dificuldades de comunicação não verbal e interesses restritivos, a Síndrome de Asperger está presente em crianças com inteligência normal ou acima da média, apesar das dificuldades na compreensão e interação com o mundo que as rodeia.

As causas associadas a esta neurodivergência, ainda não estão bem esclarecidas, apesar de a comunidade científica aceitar que se deve a um conjunto de fatores neurobiológicos que afetam o desenvolvimento cerebral.

O diagnóstico desta perturbação é conseguido pelo esforço de uma equipa multidisciplinar, que procura identificar alterações, “dificuldades” ou descoordenações relativamente às competências comunicacionais, comportamentais, e de interação social, para que a intervenção seja o mais precocemente possível, favorecendo a evolução do quadro clínico e promovendo as potencialidades de cada criança. Não devemos, pois descurar os sinais de alerta: atraso significativo na linguagem, dificuldades no relacionamento com outras crianças, obsessão por determinados temas ou comportamentos repetitivos, dificuldade em expressar emoções, baixo nível de tolerância à frustração, e sensibilidade a ruídos, cheiros ou luzes.

Todos os anos, no dia 18 de fevereiro, várias instituições e organizações não governamentais evocam o Dia Internacional da Síndrome de Asperger, procurando sensibilizar a sociedade civil e instituições com poder de decisão, para a necessidade de investir mais nestas crianças e jovens.

É essencial garantir o bem-estar da família e o desenvolvimento da criança, apoiando-os na educação/literacia sobre a sua condição (desmistificando o “ser neurodivergente” e como isso influencia o comportamento e as necessidades da criança), nas estratégias para gerir o comportamento (ensinar técnicas sobre como lidar com situações desafiantes, crises ou resistência a mudanças), na divulgação de redes de suporte (encaminhar para grupos de apoio, reduzindo a impotência e o isolamento), e na promoção de planos de intervenção personalizados (colaborar com terapeutas e demais técnicos).

O Estado, deve investir na formação de técnicos (essencialmente profissionais de saúde) e na criação de centros de avaliação e intervenção precoce; deve garantir a educação inclusiva, provendo a escola de um ambiente acessível e acolhedor; deve disponibilizar terapias, dispositivos e benefícios fiscais, por forma a colmatar algumas das necessidades destas famílias; e por fim, implementar campanhas de sensibilização para a neurodiversidade, reduzindo o estigma e o preconceito enraizado na sociedade.

As crianças neurodivergentes enriquecem a diversidade humana e desafiam a sociedade a criar estruturas mais inclusivas e compreensivas. A Síndrome de Asperger, com as suas especificidades únicas, é um exemplo poderoso de como a neurodiversidade exige um olhar atento, empático e inclusivo.

Artigo de Sara Morais—Aprendizagem – Hipnose Clínica

A aprendizagem e a Hipnose Clínica andam de mãos dadas de várias maneiras, uma vez que a hipnose pode ser uma ferramenta poderosa para ajudar no processo de aprendizagem, no desenvolvimento de novas habilidades e na superação de dificuldades cognitivas ou emocionais que possam, de alguma forma, interferir nesse processo.

Um dos grandes desafios da aprendizagem é, sem dúvida, a concentração e o foco. A Hipnose é uma ferramenta fundamental para melhorar estas duas premissas. A própria alteração de estado de consciência é caracterizado por uma intensa concentração, foco e relaxamento induzido pelo profissional, o que possibilita ao leitor a mudança das ondas cerebrais para um padrão mais organizado, como por exemplo: as ondas alfa (associadas ao relaxamento e foco) ou beta (associadas a um estado de alerta e atenção); o que por sua vez, estimulam a libertação de substâncias como a dopamina e norepinefrina que vão, consequentemente, aumentar a atividade cerebral no Córtex pré-frontal o que permite o exercício de tomada de decisões, planeamento e controle executivo. Isto, possibilita desempenhar um papel central na concentração ao filtrar as distrações e a manter o foco na tarefa que é essencial em todos e, quaisquer, ambientes de aprendizagem, onde a atenção plena é crucial para absorver, processar e armazenar novas informações.

Contudo, a ansiedade pode irromper como um obstáculo à concentração e foco e, como resultado, contribuir para o insucesso escolar / profissional. Porém, a Hipnose Clínica pode influenciar positivamente a fisiologia da ansiedade de diversas maneiras: ajudando a reequilibrar os sistemas orgânicos e promover um estado de relaxamento e controlo emocional. Durante o processo de hipnose é ativado o sistema nervoso parassimpático, o que reduz a resposta de “luta e fuga” tão característica da ansiedade. É, também, diminuída a frequência cardíaca, a pressão arterial e promovida uma respiração mais lenta e profunda o que reduz os sintomas físicos da ansiedade, como a taquicardia, a hiperventilação e a tensão muscular. Neste alinhamento, existe uma diminuição da produção do cortisol – a hormona do stress – o que favorece um ambiente físico mais calmo e equilibrado.

Ainda, durante a hipnose, o leitor pode ser orientado pelo profissional a explorar e reprogramar os padrões de pensamento que alimentam a ansiedade. O terapeuta pode sugerir maneiras de interpretar situações de grande agitação de forma mais realista e menos ameaçadora, o que reduz a ativação emocional negativa. Esta forma de reestruturação desenvolve respostas mais equilibradas e menos ansiosas. Desta forma, a Hipnose Clínica pode ajudar a reduzir a ansiedade associada às várias situações de aprendizagem, como exames ou apresentações, criando um estado de calma e confiança.

A par destas intervenções na aprendizagem a Hipnose Clínica tem, também, um papel preponderante no que diz respeito às dificuldades emocionais que podem intervir no processo de aquisição de conhecimentos. Por vezes, as pessoas têm crenças limitantes sobre a sua capacidade de aprender ou de se desenvolver em certas áreas. A hipnose pode ajudar a identificar e a mudar essas crenças, permitindo que o leitor possa desenvolver um padrão mental de crescimento e produtividade. Por outro lado, o leitor poderá apresentar dificuldades na aprendizagem por estar relacionado a um bloqueio emocional. Neste enquadramento, a hipnose clínica ajuda aceder a essas memórias e experiências traumáticas passadas e a resolver as mesmas para que possa usufruir da sua capacidade de aprender de maneira eficiente.

Em conclusão, a Hipnose Clínica pode ser uma ferramenta valiosa no processo de aprendizagem, ajudando a melhorar o foco, a reduzir a ansiedade, a incrementar a memória, e a superar os bloqueios emocionais que possam interferir na aquisição de novos conhecimentos e habilidades.

No próximo artigo poderá verificar mais sobre o papel da Hipnose na relação intrapessoal.

 

Sara Morais

Hipnoterapeuta

 

Artigo de Vítor Santos—Porquê promover a ética e o fair play no desporto?

O desporto é um fenómeno social com uma dimensão fundamental na vida dos cidadãos, nomeadamente na população jovem, pelo envolvimento desportivo e associativo que promove e também pelo desenvolvimento de competências sociais, educativas e comunitárias, de trabalho em equipa e de diálogo entre todos os indivíduos inseridos no contexto desportivo e na comunidade.

A promoção da ética e do fair play no desporto traz diversos benefícios tanto para os indivíduos quanto para a sociedade como um todo. Em primeiro lugar, esses princípios contribuem para o desenvolvimento de carácter e valores positivos nos praticantes, como disciplina, trabalho em equipa, resiliência e respeito. Além disso, eles fomentam a integração social, proporcionando oportunidades de interação entre pessoas de diferentes origens e culturas.

A ética e o fair play também têm um impacto significativo na formação das futuras gerações. Ao serem expostos a uma cultura desportiva baseada na ética, as crianças e os jovens aprendem a importância de agir com honestidade e respeito em todas as áreas das suas vidas. Esses princípios podem ser transferidos para outros contextos, como a educação, o trabalho e as relações pessoais, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e ética.

Os valores são o fundamento da decisão e da ação, ou seja, servem de guia para que o indivíduo possa medir as consequências das suas decisões sobre os outros e sobre a comunidade.  Não nascem de geração espontânea, têm de ser trabalhados.

Ao treinador, como figura central do processo desportivo, cabe a responsabilidade de transmitir, aplicar e trabalhar os valores éticos, exercendo uma ação pedagógica, de influência, continuada e persistente, sobre instituições, praticantes, encarregados de educação e adeptos.

Fomentar a ética no desporto, numa sociedade em que a cultura, a educação e o civismo evidenciam lamentáveis lacunas, não é tarefa fácil. Os que acreditam na ética no desporto são poucos e constituem uma espécie em extinção.

Por isso, faz todo o sentido continuar a falar, e cada vez mais, dos valores e da ética no desporto como contributo para a valorização social deste, mas também como suporte decisivo ao desenvolvimento dos praticantes e, por consequência, do desporto nacional. A ética no desporto não é impeditivo para se vencer. É, e será sempre, uma mais-valia para se vencer!

Os dirigentes têm de pautar a sua conduta tendo em consideração primordial os interesses e o serviço em prol da comunidade.

Como se percebe, ainda há muito caminho a percorrer. Deixo-vos um exemplo muito simples: o facto de não haver nos balneários caixotes do lixo diferenciados para separar e descartar corretamente os resíduos, quando em casa e nas escolas as crianças e os jovens já o fazem, é uma prova gritante do muito que temos a fazer para investir na mudança de comportamentos e na promoção dos valores.

Vitor Santos

Embaixador do Plano Nacional de Ética no Desporto

Artigo de Augusto Falcão—-“Ano novo, vida nova” diz a sabedoria do povo que raramente se engana

O Ano Novo, traz sempre uma nova esperança, novos sonhos, novos planos, novos anseios; e a cada ano renovamos essa ideia, cheia de esperança, que o Ano Novo será algo melhor que o que finda.

Eu não sou imune a esses desejos; claro que sim e claro que no momento das 12 badaladas, também desejo sempre algo; e regra geral é sempre que, pelo menos o Ano Novo seja melhor que o que finda.

Muita gente, deseja dinheiro, outros saúde, outros emagrecer, outros deixar de fumar (talvez este seja um dos mais pedidos), outros querem casar, ter filhos… enfim, deixemos a imaginação fluir para pedirmos novos desejos.

Mas, quem não chega ao fim do ano, ou seja, a 31 de dezembro do Ano Novo, e não atingiu aquele sonho, aquele desejo?

Longe de mim de ir aqui dissertar acerca de como atingir esse sonho; não; guardo essa tarefa para os life coachings, esses seres iluminados que se dedicam a tentar criar êxito na vida das pessoas que os procuram.

Não; vou vos falar do que me vai no espírito; neste momento, estou sentado num sofá, a escrever estas palavras, e a ouvir uma das mais belas músicas que eu posso ouvi; o “Amazing Grace” ou Maravilhosa Graça em português é uma música muito popular no mundo anglo saxónico, escrita em 1772 pelo poeta e clérigo inglês John Newton.

Newton cresceu sem nenhuma convicção religiosa em particular, mas o caminho de sua vida foi formado por uma variedade de reviravoltas e coincidências que muitas vezes foram postas em ação pelas reações de outras pessoas; com uma mensagem de perdão e redenção, “Amazing grace” é uma das músicas mais ouvidas no mundo inteiro, e em especial no mundo anglo saxónico.

A mensagem de perdão e redenção deve tocar-nos a todos nós; num mundo cada vez mais polarizado, entre o bem e o mal, nós e eles, a ideia de perdão, aceitação e até redenção estão cada vez mais colocadas de lado na nossa sociedade; num mundo onde impera a guerra, o ódio, a não aceitação da diferença entre as pessoas, a divisão entre os bons e os maus, entre eles e nós, branco ou preto, leva – me a pensar que cada vez a moderação está a morrer, e os extremos cada vez mais ganham espaço entre nós, levando a que a sociedade caminhe para um mundo onde pais e filhos, talvez, fiquem em campos opostos, defendendo verdades que ambos os lados consideram dogmas.

Está talvez na hora, de no próximo ano, tentemos mais uma vez, esquecermos estas divisões, tentar achar que estes dogmas não podem ser discutíveis; abrir a nossa mente a coisas novas, e defendermos a nossa escolha de consciência, sem criar divisionismos, entre nós e eles…

Porque o nosso mundo, não pode ser somente preto ou branco; tem que ser as duas coisas. E ambas devem e podem viver em harmonia, numa sã convivência entre mundos e experiências diferentes…aceitemos a diferença, e o mundo será melhor em 2025 para todos nós..

Convido-vos a todos a ouvir Amazing Grace…

E um feliz ano de 2025 para todos.

Augusto Falcão

Artigo de Luís Miguel Condeço——-VSR

 

 

Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

 

Ainda há alguns dias começamos a estação mais fria do ano, o inverno, e já vários latentes e crianças padeciam das habituais infeções respiratórias da época.

O Vírus Sincicial Respiratório (VSR), é o principal responsável pela doença respiratória em crianças até aos 2 anos de idade, transmitindo-se facilmente através do contacto com secreções ou objetos que contêm o vírus. O VSR é muito contagioso, podendo sobreviver durante várias horas na pele ou superfícies, é, pois, altamente transmissível nos seios familiares e escolares. Tal como em outras patologias respiratórias, recomenda-se a implementação da etiqueta respiratória: lavagem frequente das mãos (para reduzir a transmissão de vírus), evicção de grandes concentrações de pessoas (evitar disseminação de vírus) e permanência em locais isentos do fumo do tabaco (para não agravar as infeções respiratórias).

Das doenças respiratórias mais frequentes na idade pediátrica, a bronquiolite é a mais frequente e mais comum (nos primeiros dois anos de vida), principalmente nesta altura do ano, estimando-se que anualmente 5,6 dos internamentos por cada 1000 crianças com menos de cinco anos de idade, são devido ao VSR.

Nos casos mais severos, as crianças podem necessitar de hospitalização para suporte ventilatório e hidratação intravenosa. Bebés prematuros, lactentes com cardiopatias congénitas ou imunodeprimidos, estão entre os mais vulneráveis a possíveis complicações.

A bronquiolite manifesta-se essencialmente por febre, obstrução e corrimento nasal, tosse irritativa e pouco eficaz, muitas vezes emetizante (que pode provocar vómitos), dificuldade alimentar (ingestão de alimentos e líquidos), farfalheira e polipneia (respiração ruidosa e rápida), esforço respiratório e cansaço fácil.

A doença apesar de autolimitada, pode durar entre 3 a 7 dias, podendo alguns dos sinais persistir durante vários dias ou semanas, como o caso da tosse. A atuação dos pais e cuidadores, deve centrar-se no controlo da temperatura corporal, em garantir alimentação (fracionada) e hidratação adequada, e na desobstrução das vias aéreas superiores (cavidade oral e nasal).

Atendendo a esta problemática, vários países europeus avançaram no ano transato com a vacinação de recém-nascidos, procurando protegê-los das infeções por VSR, revelando-se esse esforço compensador pela redução abrupta do número de hospitalizações.

Em Portugal, desde o dia 1 de outubro de 2024, o Ministério da Saúde em conjunto com a Direção-Geral da Saúde, disponibilizaram através do Programa Nacional de Vacinação, a imunização gratuita para o VSR de todos os recém-nascidos com menos de 6 meses de idade e de todas as crianças com menos de 2 anos de idade, que sejam de maior risco. Esta imunização é realizada através da administração de uma única dose, que garantirá a proteção durante todo o período sazonal de “circulação” do VSR.

A vacina constituída por anticorpos monoclonais (nirsevimab), previne as crianças mais pequenas de infeções graves por VSR, estimando-se que proteja cerca de 62 mil crianças no nosso país, calculando-se um investimento de 13,6 milhões de euros, que reduzirá a sobrecarga e a pressão nos serviços de saúde pediátricos, mas também no contexto familiar e social/escolar.

A vacinação pode ser efetuada na maternidade (antes do recém-nascido receber a alta hospitalar), nos centros de saúde/Unidades de Saúde Familiares (como as restantes vacinas) e em meio hospitalar (para as crianças com condições clínicas específicas).

Para além da vacinação, é essencial reforçar a sensibilização das famílias sobre as medidas preventivas, como garantir ambientes ventilados, evitar o contacto com indivíduos doentes e promover o aleitamento materno, que são algumas das ações que contribuem para a proteção das crianças.

Os profissionais de saúde desempenham um papel crucial na adesão à vacinação e assegurando o acompanhamento dos recém-nascidos e crianças em situação de risco.

Artigo de Vítor Santos—-Basta(va) uma bola para criar magia!

O Vítor era o miúdo mais traquina da Zona da Sé. Não havia dia nenhum em que não se metesse em sarilhos. A tia Lili, uma senhora já com uma certa idade, tomava conta dele enquanto os pais estavam a trabalhar.

Para variar, o Vítor não cumpriu as ordens da tia Lili e ela pô-lo de castigo… Sentado numa cadeira da sala, lá estava o Vítor sem autorização para se mexer ou falar! Mas ninguém o podia impedir de sonhar, usar a sua imaginação e inventar uma história.

Hoje está um lindo dia para dar um passeio, vou ver se encontro algum amigo lá fora para jogar à bola. À medida que se embrenhava nas ruas não via nenhum amigo para jogar, mas olhava admirado para as iluminações natalícias das casas e árvores. Eram grandes e coloridas, pensava! Então algo lhe chamou deveras a atenção. Estava longe, era uma bola vermelha e brilhava como uma Bola de Natal.

“Mas que coisa será aquela?”, pensava o Vítor, enquanto se aproximava um pouco mais. Estava decidido, ele queria aquela bola. Não importava como ia consegui-la.

O Vítor estava decidido a subir à árvore. E assim fez. Entretanto, uma pernada onde se sustentava quebrou e ele caiu. Magoou-se um pouco, mas não queria desistir e pensou para si: “Não prestei atenção onde pus os pés… Vou subir com mais cuidado!

Decidido, resolveu tentar outra vez. Nesse momento, quando nada o faria prever, começou a cair uma chuva muito forte seguida de trovões. Estava quase a conseguir quando, de repente, se ouviu um enorme relâmpago e um raio muito brilhante caiu sobre a macieira, mesmo junto a ele. O Vítor apanhou o maior susto da sua vida e, de novo, caiu da árvore.

Estava quase a desistir, mas eis que a chuva abrandava e o Vítor não conseguia parar de imaginar como aquela bela maçã vermelha devia ser deliciosa e suculenta. Por isso, mais uma vez se decidiu a subir. Depois de analisar a situação com cuidado, decidiu que o melhor seria subir com uma corda e assim fez. Mas o Vítor não estava mesmo com sorte e, no meio da subida, a corda partiu-se e ele caiu pela terceira vez…

Já eram obstáculos a mais. Veio-lhe a ideia de que, se calhar, não conseguia subir ao cimo da macieira porque a maçã devia ser mágica e não queria ser colhida. Pensou e repensou e decidiu que só lhe restava mais uma hipótese: ir buscar uma escada para subir. E se bem o pensou, melhor o fez… Depois de colocar a escada, subiu e, sorrindo, comentou:

– Com a escada parece tudo mais fácil, acho que desta vez consigo!

Finalmente chegou ao cimo da árvore. Muito contente, exclamou:

Valeu a pena o trabalho que tive. – E colheu a fruta.

Vitorioso, desceu e foi para casa. Pelo caminho, pensava no que a tia Lili lhe dissera: “Vitinho, os obstáculos existirão sempre na vida das pessoas. Lutar e tentar vencê-los é o verdadeiro desafio.

A imaginação ergue voo, desliza pelo ar e cria mundos inteiros… tudo graças a uma simples bola!

Vítor Santos

Artigo de Augusto Falcão—-Aquele dia em que todos nos lembramos de todos, mesmo daqueles que esquecemos

Aquele dia em que todos nos lembramos de todos, mesmo daqueles que esquecemos.

E, como que quase num piscar de olhos, estamos em dezembro e com este mês mais um Natal.

Confesso, que, o Natal já pouco me diz; até porque a “magia” do Natal, já não existe em mim; aquele Natal, que era passado junto à lareira, da casa dos meus avós, onde as couves eram cozidas numa panela de ferro (de 3 patas) ao lume da lareira e com água da fonte é uma recordação do passado que apenas persiste na memória dos mais velhos.

E hoje olhamos para trás, com saudade desses tempos simples, com alguma saudade, e dizemos aos nossos filhos ou aos nossos netos “no meu tempo era ….”

Sim no meu tempo, o pinheiro era verdadeiro e tinha que se deitar fora logo depois do Ano Novo, ou ficava tudo cheio de “agulhas”; e as decorações do pinheiro era algodão a imitar a neve, o presépio eram 5 figuras (o menino Jesus, a Virgem Maria, S. José, o burro e a vaca) e pouco mais.

E as famílias reuniam-se para se ver e estarem juntas. No sentido de amor de família; as pessoas gostavam de estar juntas umas das outras, pouco a família, era algo que se cultivava e se acarinhava.

Durante o ano, as famílias viam-se apenas em ocasiões especiais, e neste dia, era um dessas ocasiões; mas durante o ano, tentavam falar com os seus familiares, por carta, ou em chamadas telefónicas rápidas; sim rápidas já que tempo ilimitado de chamadas de voz, é algo recente.

Assim, quando se viam tinham mesmo a necessidade de estar juntas, e de “matar as saudades”. Porque as saudades, essa coisa tão portuguesa existia mesmo… e era sentida. E tornava-se real, porque as distâncias eram maiores; muito maiores.

E era nesses dias, que a gente se lembrava de todos, mesmo daqueles que nos lembrávamos todo o ano.

A mesa podia ser “pobre”, e não ter a fartura que hoje se tem; a ceia podia ser batatas, couve e um pedaço de bacalhau (não muito porque era caro) mas o importante que era a reunião existia…

Não quero dizer com isto, que tudo era perfeito porque não era; mas tenho a certeza de que todos nós, os que vivemos isto olhamos para trás, e mais uma vez digo e repito, temos saudades desta festa.

Sim, porque hoje veio a aproximação de todos; as viagens ficaram mais rápidas; quase todas a gente se desloca por meios próprios; e as melhorias das comunicações permitem-nos estar “juntos” em tempo quase real; ganhamos em qualidade de vida… e ainda bem; mas o que perdemos é também importante…. perdemos a proximidade real.… e por causa disso, é que naqueles dias nos lembramo-nos daqueles que nos esquecemos durante o ano..

 

Augusto Falcão

 

Artigo de Vítor Santos—–Eu já não me divirto. Eu já não gosto.

Esta é a época do ano em que muitas crianças começam a sua prática desportiva federada. Muitos sonhos legítimos acompanham essas crianças, e as expectativas, para alguns, são bastante elevadas.

Mas faz parte do processo. Todos temos o direito de sonhar e de lutar pelos nossos sonhos. Enquanto não chegarem a casa a dizer: “Eu já não me divirto. Eu já não gosto.”, está tudo bem. Só nessa altura é que rebobinamos o filme e nos damos conta do comportamento ao longo de anos e anos. Embora as famílias façam muitos sacrifícios e sejam em grande parte o suporte da prática desportiva de formação, a verdade é que a repetição de muitas atitudes inadequada leva à saturação e ao abandono do desporto pelas crianças.

Um estudo recente sobre o abandono da prática desportiva, realizado pela Universidade Pablo de Olavide em Sevilha e pela Universidade de Huelva, concluiu que 40% dos adolescentes abandonam o desporto por cansaço. O abandono da atividade física é uma verdadeira epidemia que afeta o desporto, porque este é um dos espaços onde as crianças ainda podem brincar, experimentar, decidir, errar e aprender. E estamos a privá‑las de o fazerem.

          Desenho de Paulo Medeiros

As causas desta elevada taxa de abandono são diversas, mas têm em comum uma conceção errada do desporto por parte dos pais e outros intervenientes na prática desportiva.

Na formação, exige-se demais, e isso é perigoso. Na Europa, muitas competições federadas começam aos cinco anos. Existem treinadores, clubes e instituições que dependem dos seus resultados. A especialização precoce, o excesso de competitividade, a imposição da vitória como único propósito e a pressão exercida por muitos pais e clubes fazem com que muitas crianças sofram de ansiedade e stress. Em consequência, muitas delas abandonam o desporto prematuramente.

Já não restam dúvidas de que quanto maiores são as expectativas dos pais, maiores são as probabilidades de frustração dos filhos. O desporto movimenta muito dinheiro: venda de merchandising, mensalidades nos clubes e academias, aluguer de espaços desportivos, torneios, agentes na procura de talentos… E as maiores vítimas são as crianças.

Aos pais, sugiro que se coloquem as seguintes questões: Porque é que não consigo ficar à margem do campo e simplesmente desfrutar do jogo, independentemente do resultado? Porque valorizo tanto a vitória e o sucesso? Não será melhor aprender com as consequências que essas atitudes têm?

O artigo 79.º da Constituição diz que todas as pessoas têm direito à cultura física e ao desporto e que o Estado tem de promover esta prática e prevenir a violência no desporto. Sendo as famílias o grande suporte da formação, cabe-lhes também a elas fomentar estes valores.

 

Vitor Santos

Embaixador do Plano Nacional de Ética no Desporto

Artigo de Luís Miguel Condeço—Há sonhos que morrem cedo demais

 

Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

 

A Associação Salvador tem-se distinguido nos últimos anos, pela constante preocupação em tentar que os sonhos de todos aqueles que circulam ou utilizam a via pública (caminho, estrada ou via rápida), não morram cedo demais.

Desde 2003, que Salvador Almeida desenvolve projetos ambiciosos e com enorme impacto na comunidade, relativamente à integração e melhoria da qualidade de vida das pessoas com deficiência motora. A maior parte, tal como ele, vítimas do flagelo que tem assolado Portugal e a Europa nas últimas décadas – a sinistralidade rodoviária.

Há 23 anos em Viseu, várias instituições ligadas à saúde e ao ensino, criaram o Grupo de Alerta para a Segurança, associação legalmente formalizada em 2006. Com objetivos distintos da Associação Salvador, mas com a mesma matriz: contribuir para uma cultura de segurança através das estruturas comunitárias e diminuir a taxa de morbilidade e mortalidade infantil, associadas aos acidentes rodoviários e de lazer (ou domésticos).

A segurança infantil e rodoviária, tem sido abordada de forma frequente por profissionais de saúde, profissionais da educação e forças de segurança, além da comunidade em geral. A sinistralidade rodoviária em Portugal continua a ser uma sombra persistente sobre as nossas estradas, uma tragédia que nos confronta com a perda de vidas e o sofrimento das famílias.

No último relatório (Sinistralidade a 24h e fiscalização rodoviária), dos primeiros cinco meses do ano, a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária traçava um panorama muito negro no nosso país. Apesar do esforço e melhorias pontuais, o panorama atual revela 14.658 acidentes com vítimas registados, resultando 182 vítimas mortais e mais de mil feridos graves. De salientar, o aumento do número de acidentes em alguns distritos, como é o caso da Guarda, situando-se em terceiro lugar com maior aumento da sinistralidade (15%).

Preocupada com este flagelo, a Assembleia Geral das Nações Unidas, formalizou em 2005, o Dia Mundial em Memória das Vítimas da Estrada, a ser evocado no terceiro domingo do mês de novembro. Este ano, no dia 17, pretende-se honrar as vítimas dos acidentes rodoviários, bem como prestar apoio às famílias e sensibilizar a sociedade para a importância da segurança nas estradas. A evocação é também uma oportunidade para refletir sobre medidas preventivas e políticas de trânsito que possam reduzir o número de acidentes.

E que medidas podemos implementar para reverter esta tendência?

Educação e consciencialização permanentes – a educação rodoviária deve começar cedo e ser integrada de forma contínua no percurso escolar e profissional. Mais do que nos preocuparmos com os condutores, precisamos de uma campanha robusta, capaz que chegar a outros condutores (ciclistas, motociclistas e peões), formando para a adoção de práticas seguras.

Melhoria das infraestruturas – As zonas urbanas e as vias de tráfego elevado exigem uma renovação urgente das infraestruturas. A prioridade deve estar na criação de ciclovias e percursos pedonais, reduzindo a exposição ao perigo de veículos maiores. É exigível, estradas bem sinalizadas e com iluminação adequada, assim como, manutenção contínua dos pavimentos.

Reforço da fiscalização e tecnologia de controlo – Hoje a tecnologia tem um papel essencial em várias áreas do conhecimento, sendo benéfica a sua utilização na fiscalização e controlo da velocidade.

Fomento da utilização de tecnologias de segurança – Incentivo ao uso de veículos equipados com assistência à condução (sensores de colisão, travagem automática e alertas de fadiga).

Apoio a vítimas e famílias – Embora a prevenção seja crucial, devemos também melhorar o apoio oferecido às vítimas de acidentes e às suas famílias. Mais assistência psicológica e jurídica, e programas de reabilitação física e mental para os feridos são fundamentais para uma recuperação mais célere e menos dolorosa.

A segurança rodoviária deve ser encarada como uma prioridade nacional, exigindo um compromisso político que vá além das estatísticas anuais. Cada vida perdida, é um sonho que morre cedo demais.