Talvez não seja um assunto fácil de escrever; até porque tudo o que mexe com as nossas convicções costuma ser quase que assuntos proibidos de debater, ou até de um simples sussurro.
Mas, já dizia Platão, que uma vida não questionada, não merece ser vivida; todos nós já nos debatemos com situações que vão contra as nossas convicções; contra os nossos códigos de moral e de conduta; contra tudo aquilo que os nossos Pais e Avós nos passaram; mas peço ao leitor, um minuto da vossa vida, e vamos fazer um exercício de reflexão.
Tolerância é a capacidade de uma pessoa ou grupo social de aceitar outra pessoa ou grupo social, que tem uma atitude diferente das que são as “normais” no seu próprio grupo. Assim, a partir da tolerância, é garantida a aceitação da diversidade e inclusão.
Devem ter reparado que coloquei normais entre aspas; isto porque o próprio conceito de normal, não pode ser usado sem ser relativizado; a normalidade de uma ação depende do tempo e do próprio espaço onde estamos inseridos; ou seja a normalidade de um ato, pensamento, é uma noção localizada espaço-temporalmente.
A democracia como a conhecemos hoje, por exemplo, foi na sua génese muito pouco democrática, já que e a título de exemplo, o voto não podia ser exercido pela mulheres. E se nesse tempo, isto era aceite como “normal”, hoje, apesar de adotarmos a democracia, aceitamos como normal as mulheres votarem, e até achamos errado o contrário.
Ou seja, o código de valores que nós, enquanto grupo, neste caso País aceitamos como válido para todos muda consoante a sociedade evolui; aceitarmos indivíduos ou grupos que tenham valores ou atitudes diferentes das nossas já é aceitamos a diversidade e sermos tolerantes.
Mas devemos, em nome da diversidade e inclusão, aceitar normas e atos que vão frontalmente contra todo o nosso código de valores?
E se, nós, enquanto sociedade, proibirmos esse grupo de praticar esse ato, porque o consideramos errado, à luz do nosso código de valores? Somos intolerantes?
Podemos então concluir, que ser tolerante, a própria tolerância é quase que uma virtude, ou seja é uma característica, de excelência, que deve ser mantida e cultivada por cada um individualmente e por fim como um todo enquanto sociedade.
Dizer que uma sociedade é tolerante, não é propriamente fácil, pelo que se torna mais fácil dar exemplos de sociedade intolerantes; uma sociedade intolerante apresenta comportamentos de repulsa e até mesmo ódio a tudo o que lhes seja diferente.
Acho que todos concordamos que devemos então ser tolerantes; julgo que nunca foi ideia de nenhum de nós ser catalogado como intolerante, ou mesmo contribuirmos para a construção de uma sociedade intolerante;
Mas agora coloca-se a questão: deve esta tolerância ter limites? Até que ponto devemos ser tolerantes perante algo que nos causa, enquanto sociedade, repulsa ou até mesmo ódio? E se colocarmos limites a essa tolerância, estamos a ser intolerantes, como tal, não aceitamos a diversidade e a inclusão, logo não compreendemos o mundo onde estamos inseridos?
Ou pelo contrário, aceitamos tudo sem limites, de forma a termos uma sociedade completamente tolerante, aceitando que sejam praticados atos que, são totalmente contrários aquilo que nós enquanto sociedade abominamos?
Fica a questão para a próxima edição.
Augusto Falcão