Depois de dedicar cinco Domingos ao tema do pão da vida que se encontra no capítulo 6 do Evangelho de S. João, regressamos neste domingo ao Evangelho de S. Marcos, ao capítulo 7, onde o evangelista apresenta uma oposição entre a maneira de pensar e de agir dos “fariseus e de alguns escribas que tinham vindo de Jerusalém” e o pensamento e as acções dos discípulos de Jesus no que se refere ao tema das leis e das normas. Jesus critica os fariseus que convertem em principais e importantes alguns mandamentos que, na realidade, são secundários, formando um conjunto de práticas e ritos externos que a tradição criou. Valorizam tanto alguns preceitos de somenos importância e voltam as costas ao projecto de Deus quando se relacionam com o próximo. Para Jesus, o mais importante é o comportamento e as atitudes das pessoas, ou seja, a maneira de viver e de proceder e não o simples cumprimento de algumas normas. Na atitude dos fariseus, Jesus resume a atitude de todas as pessoas que, ao longo da história, caiem na tentação de os imitar com uma citação do profeta Isaías: “Este povo honra-Me com os lábios, mas o seu coração está longe de Mim. É vão o culto que Me prestam, e as doutrinas que ensinam não passam de preceitos humanos”.
É evidente que um ritual (religioso, militar, político, etc.), por si mesmo, não muda uma pessoa. Um ritual não se pode impor nem abafar as atitudes éticas da pessoa. Para além do legalismo, está a atitude interior. A norma, a lei, é necessária mas terá de ser sempre um caminho de libertação e não de angústia e de ameaça. Por isso na liturgia deste domingo é importante destacar o salmo: “Quem habitará, Senhor, na vossa casa? O que vive sem mancha e pratica a justiça, e diz a verdade que tem no seu coração e guarda a sua língua da calúnia. O que não faz o mal ao seu próximo nem ultraja o seu semelhante…o que não empresta dinheiro com usura, nem aceita presentes para condenar o inocente”. Para a sociedade dos nossos tempos, estas palavras são pertinentes. Vivemos num mundo onde a subversão dos valores é frequente e esta realidade leva-nos a não deixar de trabalhar pelas exigências éticas que supõe a vontade de seguir Jesus. O farisaísmo no tempo de Jesus, como também hoje no nosso tempo, pretendia tapar com uma imagem exterior a sujidade que existia no seu interior. Por isso, Jesus é muito claro: “O que sai do homem é que o torna impuro”.
A denúncia de Jesus contra a maneira que tinham os fariseus de subverter os valores tem plena actualidade nos nossos dias. A tentação do farisaísmo centrada em manter uma imagem que não corresponde à realidade tem plena validade e é uma das tentações mais presentes à nossa volta. Por isso, a liturgia deste domingo é um forte apelo à sinceridade. Nem sempre somos o que parecemos e podemos cair na tentação de colocar máscaras que não deixam revelar a verdade do nosso interior e da nossa vida. Rezemos todos os dias: Livrai-nos, Senhor, de cair nesta tentação…
29-08-2021
LEITURA ESPIRITUAL
É, portanto, claro, que nos devemos esforçar por todos os meios por preparar os tempos em que, por comum acordo das nações, se possa interditar absolutamente qualquer espécie de guerra. Isto exige, certamente, a criação duma autoridade pública mundial, por todos reconhecida e com poder suficiente para que fiquem garantidos a todos a segurança, o cumprimento da justiça e o respeito dos direitos. Porém, antes que esta desejável autoridade possa ser instituída, é necessário que os supremos organismos internacionais se dediquem com toda a energia a buscar os meios mais aptos para conseguir a segurança comum. Já que a paz deve antes nascer da confiança mútua do que ser imposta pelo terror das armas, todos devem trabalhar por que se ponha, finalmente, um termo à corrida aos armamentos e por que se inicie progressivamente e com garantias reais e eficazes, a redução dos mesmos armamentos, não unilateral evidentemente, mas simultânea e segundo o que for estatuído.
Entretanto, não se devem subestimar as tentativas já feitas ou ainda em curso para afastar o perigo da guerra. Procure-se antes ajudar a boa vontade de muitos que, carregados com as ingentes preocupações dos seus altos ofícios, mas movidos do seriíssimo dever que os obriga, se esforçam por eliminar a guerra de que têm horror, embora não possam prescindir da complexidade objectiva das situações. E dirijam-se a Deus instantes preces, para que lhes dê a força necessária para empreender com perseverança e levar a cabo com fortaleza esta obra de imenso amor dos homens, de construir virilmente a paz. Hoje em dia, isto exige certamente deles que alarguem o espírito mais além das fronteiras da própria nação, deponham o egoísmo nacional e a ambição de dominar sobre os outros países, fomentem um grande respeito por toda a humanidade, que já avança tão laboriosamente para uma maior unidade.
As sondagens até agora diligente e incansavelmente levadas a cabo acerca dos problemas da paz e desarmamento, e as reuniões internacionais que trataram deste assunto, devem ser consideradas como os primeiros passos para a solução de tão graves problemas e devem no futuro promover-se ainda com mais empenho, para obter resultados práticos. No entanto, evitem os homens entregar-se apenas aos esforços de alguns, sem se preocuparem com a própria mentalidade. Pois os governantes, responsáveis pelo bem comum da própria nação e ao mesmo tempo promotores do bem de todo o mundo, dependem muito das opiniões e sentimentos das populações. Nada aproveitarão com dedicar-se à edificação da paz, enquanto os sentimentos de hostilidade, desprezo e desconfiança, os ódios raciais e os preconceitos ideológicos dividirem os homens e os opuserem uns aos outros. Daqui a enorme necessidade duma renovação na educação das mentalidades e na orientação da opinião pública. Aqueles que se consagram à obra de educação, sobretudo da juventude, ou que formam a opinião pública, considerem como gravíssimo dever o procurar formar as mentalidades de todos para novos sentimentos pacíficos. Todos nós temos, com efeito, de reformar o nosso coração, com os olhos postos no mundo inteiro e naquelas tarefas que podemos realizar juntos para o progresso da humanidade.
Não nos engane uma falsa esperança. A não ser que, pondo de parte inimizades e ódios, se celebrem no futuro pactos sólidos e honestos acerca dá paz universal, a humanidade, que já agora corre grave risco, chegará talvez desgraçadamente, apesar da sua admirável ciência, àquela hora em que não conhecerá outra paz além da horrível tranquilidade da morte. Mas, ao mesmo tempo que isto afirma, a Igreja de Cristo, no meio das angústias do tempo actual, não deixa de esperar firmemente. A nossa época quer ela propor, uma e outra vez, oportuna e importunamente, a mensagem do Apóstolo: «eis agora o tempo favorável» para a conversão dos corações, «eis agora os dias da salvação. (Concílio Vaticano II, Constituição Pastoral Gaudium et spes, 82).
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Ano B - Tempo Comum - 22º Domingo - Boletim Dominical II