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Avisos e Liturgia do IV Domingo do Tempo Comum- ano A

 

Para o Tempo Comum do ciclo A, a Liturgia propõe para a nossa reflexão extractos do Sermão da Montanha. Uma parte deste texto aparecer-nos-á também na quarta-feira de Cinzas. O evangelista S. Mateus, segundo os estudos exegéticos, organiza a sua narração em cinco sermões, colocando Jesus em diversos contextos e a falar para pessoas diferentes. O primeiro sermão é conhecido como o Sermão da Montanha que é mais uma página programática da sua mensagem. Muitos fiéis que participam nas nossas celebrações estão habituados a ler os textos de uma maneira fragmentada, tal como acontece na liturgia. Por isso, seria bom lembrar de que o evangelho forma uma unidade e os que extractos que se apresentam obedecem a uma determinada sucessão com a finalidade de apresentar a mensagem de Jesus, estando relacionados uns com os outros. O evangelho forma uma unidade literária e de conteúdo.

O centro da nossa fé está Jesus. É Ele que queremos seguir, porque é Ele que nos dirige a sua palavra e que se dá como alimento de vida eterna na Eucaristia no aqui e agora da nossa vida. A nossa relação, individual e comunitária, será mais profunda, mais radical, mais cheia de afecto e de amizade se nos aproximarmos cada vez mais de Jesus e da sua palavra. Nunca conseguiremos conhecer totalmente Jesus, estar perto dele e ser seus discípulos em pleno. A introdução do Sermão, onde Jesus é apresentado como o novo Moisés, no cimo do monte, sentado como faz um Mestre, preparado para apresentar ao seu povo a “nova Lei”, um texto programático, fala-nos da presença de multidões e “rodearam-no os discípulos”. Até agora o texto só nos apresentou quatro (domingo passado), e é necessário chegar ao capítulo 9º para se ler a vocação de Mateus e ao início do capítulo 10º para a eleição dos Doze. Estes são os primeiros discípulos que Jesus instruirá. Hoje somos nós, os que preparamos a celebração e que depois participaremos dela, a escutar as palavras e as instruções de Jesus.

A mensagem de Jesus começa com uma palavra que repetirá nove vezes: “Bem-aventurados”. Hoje e sempre, o mundo procura e propõe caminhos concretos para alcançar a felicidade. Em alguns momentos, a sua proposta para chegar à felicidade corresponde com a proposta de Jesus; outras vezes, não. Contudo, o desejo de felicidade é a base para apresentar a proposta de Jesus. Um caminho de felicidade a ser percorrido enfrentando múltiplos caminhos e situações (cada bem-aventurança). O mais importante é saber a orientação que se quer dar à vida. Neste sentido, a última bem-aventurança resume o efeito dos comportamentos adoptados “por minha causa”, porque ultrapassa os critérios e as consequências de seguir Jesus. “É grande nos Céus a vossa recompensa”.

 

29-01-2023

LEITURA ESPIRITUAL

«Deles é o reino dos Céus»

 

«Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus.» Sim, bem-aventurados aqueles que rejeitam os fardos sem valor, mas cheios de peso, deste mundo; aqueles que não querem ser ricos, a não ser pela posse do Criador do mundo, e só por Ele; aqueles que, nada tendo, por Ele tudo possuem (2Cor 6,10). Pois tudo possuem estes que possuem Aquele que tudo contém e de tudo dispõe, estes de quem Deus é a parte e a herança (Nm 18,20). «Nada falta aos que O temem» (Sl 34,10): Deus dá-lhes tudo o que sabe ser-lhes necessário; e se lhes dará a Si mesmo um dia, para que eles encontrem a alegria. Glorifiquemo-nos, pois, meus irmãos, pelo facto de sermos pobres por Cristo, e esforcemo-nos por ser humildes com Cristo. Pois não há coisa mais detestável nem mais miserável que um pobre orgulhoso.

«O reino de Deus não é uma questão de comer e beber, mas de justiça, paz e alegria no Espírito Santo» (Rm 14, 17). Se sentimos que temos tudo isto em nós, proclamemos com segurança que o reino de Deus está dentro de nós (Lc 17,21). Ora, aquilo que está dentro de nós pertence-nos verdadeiramente; ninguém nos pode arrancar. É por isso que, quando proclama a bem-aventurança dos pobres, o Senhor não diz: «deles será o reino dos Céus», mas: «deles é o reino dos Céus». E é deles, não apenas por um direito firmemente estabelecido, mas também por um penhor inteiramente seguro, que já é uma experiência da felicidade perfeita. E não apenas porque o reino foi preparado para eles desde o começo do mundo (Mt 25,34), mas também porque eles já começaram a entrar na sua posse: eles já possuem o tesouro celeste em vasos de barro (2Cor 4,7), já trazem a Deus no seu corpo e no seu coração. (Beato Guerric de Igny (c. 1080-1157), abade cisterciense, Sermão para a Festa de Todos os Santos, 3.5-6).

 

Avisos e Liturgia do III Domingo do Tempo Comum – ano A

O texto do evangelho deste Domingo tem a preocupação de afirmar que em Jesus se cumpre a mensagem de libertação e de paz para os gentios da “terra de Zabulão da terra de Neftali”, “caminho de mar, além do Jordão”, duas tribos de Israel, que estavam sob o domínio assírio. O profeta Isaías anuncia a destruição do jugo assírio: verão uma grande luz, portadora de paz e deixarão de habitar nas trevas. Como esta passagem nos recorda a luz do Natal do Senhor! Na noite de Natal, o profeta Isaías anunciava o nascimento de um menino da linhagem de David, que vem restabelecer a liberdade e a casa de David, garantia de paz e de harmonia para todos os povos. O “dia de Madiã” refere-se à vitória de Gedeão e recorda que a libertação virá, graças à intervenção divina, que trará a paz. Além da terra de Neftali e de Zabulão, o evangelho fala da Galileia, terra de fronteira, de encruzilhada de povos, ou seja, o povo judeu (o povo escolhido) relaciona-se com povos pagãos que acreditam noutros deuses. Todos estes povos são convidados a ser o povo de Deus, um povo de povos. Segundo o evangelista Mateus, é a partir da Galileia que se inicia o anúncio da Boa Nova do Reino. Mas também é para a Galileia que, depois da ressurreição, Jesus convida a ir os seus discípulos, para, daí, os enviar a todos os povos. Jesus situa-se na fronteira, na encruzilhada, na periferia. No evangelho, encontramos três momentos. O primeiro momento introduz a actividade de Jesus com um comentário a revelar o cumprimento da profecia, a visão da luz, e o surgir de um reino de justiça e de paz. O segundo momento narra o chamamento e a resposta dos irmãos Pedro e André, e dos irmãos Tiago e João. É um momento de conversão, ou seja, de mudança de estilo de vida perante o anúncio de Jesus. O terceiro momento descreve a actividade de Jesus em toda a Galileia: o anúncio da “boa nova do reino” e as curas de todas as doenças e enfermidades entre o povo. Enquanto a missão de João Batista, o profeta do deserto, se vai desvanecendo, levanta-se “uma grande luz” que realizará a esperança messiânica anunciada por Isaías em favor dos povos oprimidos. A prisão de João assinala o início da missão de Jesus. Cafarnaum, situada na terra de Neftali e de Zabulão, é o centro de irradiação da missão. Já não estamos no deserto, no lado oriental do Jordão, passagem para a terra prometida; mas em Cafarnaum, “o outro lado do Jordão”, onde já resplandece a luz. Jesus começa a revelar-se como servo do Senhor e como “luz das nações”, anunciando que “está próximo o reino dos Céus”. Para acolher esta mensagem, é necessário arrependimento, conversão. O convite à conversão é acolhido pelos irmãos pescadores que Jesus vê e chama. Jesus propõe-lhes uma nova missão em relação ao seu estilo de vida: seguir Jesus é ser pescadores de homens, ou seja, é salvar todos os homens e mulheres. Para esta missão, é necessário caminhar na luz para que não vivamos com medo e dominados pelas injustiças. Nós temos a certeza de que não caminhamos sozinhos, mas com Jesus, como companheiro de viagem que, sempre nos convida a não nos desviarmos da rota que Ele nos indica. Este esforço chama-se conversão. Quando Jesus nos chama, agrada-lhe muito a nossa prontidão, disponibilidade e desprendimento. Finalmente, Jesus quer discípulos com um coração totalmente entregue a Ele, sem receios e medos. Não lhe agradam conflitos, divisões, porque isso não ajuda na credibilidade do anúncio da Boa Nova. A principal raiz dos problemas e das divisões é a vontade de criar uma Igreja “à minha maneira, segundo os meus critérios, ao meu estilo”, tentações tão presentes na Igreja de hoje. Deus não quer sectarismos, mas quer que as feridas e as mágoas sejam sublimadas pela comunhão e por uma linguagem de tolerância, de respeito e de delicadeza, pois é o que requer uma Igreja que é o Corpo de Cristo.

 

22-01-2023

LEITURA ESPIRITUAL

«Para aqueles que habitavam na sombria região da morte, uma luz se levantou»

 

Cristo, digna-Te acender pessoalmente as nossas candeias, Tu que és o nosso Salvador; fá-las brilhar sem fim na tua morada e receber de Ti, luz eterna, uma luz indefectível. Que a tua luz dissipe as trevas e, através de nós, faça recuar as trevas do mundo. Peço-Te pois, Jesus, que acendas a minha candeia com a tua própria luz, e que assim, com essa claridade, eu possa ver o Santo dos Santos, onde Tu, Pai Eterno dos tempos eternos, dás entrada nos pórticos desse Templo imenso (cf Hb 9,11ss).

Que, sob a tua luz, nunca deixe de Te ver e de dirigir para Ti o meu olhar e o meu desejo. Então, só Te verei a Ti no meu coração, e na tua presença a minha candeia ficará para sempre acesa e ardente. Dá-nos a graça, visto que batemos à tua porta, de Te manifestares a nós, Salvador cheio de amor. Compreendendo-Te melhor, que não tenhamos amor senão para Ti, só para Ti.

Que sejas, noite e dia, o nosso único desejo, a nossa única meditação, o nosso pensamento contínuo. Digna-Te derramar em nós todo o amor necessário para que possamos amar a Deus como convém. Enche-nos do teu amor, até que não saibamos amar-Te senão a Ti, que és eterno. Então as águas caudalosas do céu, da Terra e do mar não poderão apagar em nós tão grande caridade, como lemos no Cântico dos Cânticos: «As águas caudalosas não conseguirão apagar o fogo do amor» (8,7). Que se realize em nós, pelo menos em parte, esse crescendo de amor, pela tua graça, Senhor Jesus. (São Columbano, 563-615, monge, fundador de mosteiros, 12.ª Instrução espiritual, 2-3).

 

Avisos e Liturgia do II Domingo do Tempo Comum – ano A

  1. a)         Terminado o tempo litúrgico do Natal, iniciamos os Domingos do Tempo Comum. O evangelho deste Domingo está relacionado com o da Festa do Baptismo do Senhor. Se na semana passada ouvíamos a narração do Baptismo de Jesus segundo S. Mateus, hoje escutamos um fragmento do evangelho de S. João no qual João Baptista dá testemunho de Jesus a partir do episódio narrado por S. Mateus. Este evangelho é a introdução da narração dos factos e das palavras de Jesus que são o conteúdo do Tempo Comum, orientado este ano por S. Mateus (ciclo A) que retomaremos no próximo Domingo. A leitura e a meditação do início da vida pública de Jesus leva-nos a sentir que estamos a iniciar um caminho, tendo como objectivo seguir Jesus como aqueles discípulos que foram chamados e enviados por Ele. É importante neste domingo destacar a ideia que aparece em todas as leituras: chamados e enviados.
  1. b)        O discípulo é aquele que se sente chamado por Jesus, ou seja, eleito por Deus. O profeta Isaías, na primeira leitura, diz: “E agora o Senhor falou-me, Ele que me formou desde o seio materno, para fazer de mim o seu servo… vou fazer de ti a luz das nações”. O salmista expressa a sua disponibilidade para acolher o convite: “Eu venho, Senhor, para fazer a vossa vontade”. São Paulo, na segunda leitura, diz que se sentiu “escolhido, por vontade de Deus, para Apóstolo de Cristo Jesus”, dirigindo-se à comunidade de Corinto como aqueles que “foram santificados em Cristo Jesus, chamados à santidade”. No evangelho, João Baptista conta a experiência que o levou a reconhecer Jesus sem qualquer hesitação: “É d’Ele que eu dizia: ‘Depois de mim vem um homem, que passou à minha frente, porque era antes de mim’. Tudo o que aconteceu no baptismo de Jesus (a voz do Pai e o dom do Espírito Santo) tornou claro a João que “Ele é o Filho de Deus”. Cada um tem a sua experiência de Deus, geralmente não tão espectacular como a de João Baptista, mas com um sentimento de que Deus o escolheu, de que Jesus o chamou.
  1. c)         O chamamento divino supõe sempre uma missão, um envio “para reunir Israel… para restaurares as tribos de Jacob e reconduzires os sobreviventes de Israel… para que a minha salvação chegue até aos confins da terra (primeira leitura); “proclamei a justiça na grande assembleia, não fechei os meus lábios, Senhor, bem o sabeis” (salmo); “escolhido para Apóstolo” (segunda leitura). Trata-se, pois, de dar testemunho, de transmitir aos outros aquela experiência que vivi, que me transformou e que não posso guardar somente para mim. João Baptista partilha o que sente: “Eis o Cordeiro de Deus… eu vi e dou testemunho”. É um duplo movimento (chamados e enviados) que todos estamos convidados a fazer e que nos é recordado no início do ciclo litúrgico do Tempo Comum. É um resumo de como seguir Jesus pelo caminho da vida, ou seja, de como ser cristão.
  1. d)        O chamamento e o envio de Jesus, o fundamento da identidade de um cristão, é para todos os que seguem o Senhor. Todos somos “Igreja de Deus, consagrados por Jesus Cristo e é muito importante que nos sintamos unidos a todos aqueles que invocam o nome de Jesus Cristo, Nosso Senhor”. Que a saudação de S. Paulo não passe despercebida a cada um de nós: “A graça e a paz de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo estejam convosco”.

15-01-2023

LEITURA ESPIRITUAL

«Ó Cordeiro de Deus, escondido entre os homens!»

Ó inconcebível bondade de Deus, que nos protegeis a cada passo, seja dado contínuo louvor à vossa misericórdia por não Vos terdes irmanado com os anjos, mas com os homens; é um milagre do insondável mistério da misericórdia. Toda a nossa confiança está em Vós, nosso Irmão primogénito, Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem.

O meu coração estremece de alegria ao ver como Deus é bom para nós, homens, tão miseráveis e ingratos, e, como prova do seu amor, nos oferece uma dádiva inconcebível, isto é, a Si mesmo, na pessoa de seu Filho. A esse mistério de amor, não o conseguiremos compreender por toda a eternidade. Ó humanidade, porque pensas tão pouco no facto de Deus Se encontrar verdadeiramente entre nós?

Ó Cordeiro de Deus, nem sei o que primeiro admirar em Vós, se a vossa mansidão ou a vossa vida oculta; se o vosso aniquilamento pelo homem ou esse incessante milagre da vossa misericórdia que transforma as almas e as ressuscita para a vida eterna. Embora estejais tão escondido, o vosso ser omnipotente revela-Se aqui mais do que na própria criação do homem. E, apesar da vossa misericórdia omnipotente actuar na justificação do pecador, essa vossa acção é silenciosa e oculta (Santa Faustina Kowalska (1905-1938), religiosa, Diário (Fátima, Marianos da Imaculada Conceição, 2003), § 1584).

http://www.liturgia.diocesedeviseu.pt/

Liturgia de Natal- ano A

No dia de Natal, todos estamos à espera de ouvir a narração do nascimento de Jesus. Além desta narração, aparece-nos em grande destaque um outro texto: o prólogo de São João, ou seja, o primeiro capítulo do evangelho de São João, um texto agreste, duro, difícil de entender à primeira vista. Todavia, damos conta que este texto é como uma torrente que desagua descontroladamente na seguinte frase: “E o Verbo fez-se carne e habitou entre nós”. Este é o fundamento para dizermos uns aos outros: Feliz Natal!

Deus quis montar a sua tenda mesmo ao nosso lado, aqui mesmo! José e Maria vão a uma hospedagem e não há lugar para eles, conformam-se com um estabulo, e João diz que Deus veio morar entre nós. Deus quer estar no meio de nós, não se importa de ir e vir, esperando que, um dia, lhe abramos a porta da nossa vida; não se importa se está calor ou frio, se é recebido numa casa digna ou numa tenda, ou num curral, ou numa arrecadação. Cristo acomoda-se, instala-se, todo um Deus se acomoda à nossa realidade, por mais pobre que seja. É isto que faz o Natal ser feliz! Não é somente famílias reunidas, muitas prendas, refeições alegres e abundantes. Mas tu que estás a passar um mau momento, a morte próxima de um familiar, a doença de alguém, alegra-te, porque junto de ti, está Ele. Os nossos pecados não são impedimento para Jesus; Ele quer somente estar connosco e fazer-nos companhia; e isto é que transforma a nossa vida!

Nós não estamos a festejar somente um momento ocorrido há muitos séculos, mas também a celebrar a presença de Jesus ao nosso lado, sendo solidário com todos. É uma tal solidariedade, é um tal amor que Aquele que hoje é um bebé nos braços de uma jovem mãe, será, anos mais tarde o Senhor das Dores, morto no regaço da sua mãe: este menino nasce para oferecer a sua vida por todos nós, se porventura lhe quisermos dar guarida.

É assim que os cristãos devem viver o Natal. Por isso, tende cuidado, porque somos tentados a viver outro natal, outros hoje vivem outro natal. Nem todos olham para o presépio, que fica abafado com tantas prendas à sua frente. Há pessoas que vivem o Natal sem ver o Menino Jesus no presépio, que juntam a família em nome da família e não em nome de Jesus. Mas, Jesus teima em nascer todos os anos e a ser Emanuel, Deus Connosco. É quase obrigatório fazer e contemplar o presépio. Porquê? Porque no presépio, não reina o “faça-se o que eu quero”, mas “faça-se segundo a tua vontade”, não reina a superficialidade e a facilidade, mas a perseverança e a confiança. Diante de uma gravidez inesperada, reina o discernimento para não haver decisões precipitadas.

Que prenda dar ao Menino Jesus? Mas Ele já tem tudo! Este ano, Jesus deseja encontrar em cada pessoa um coração novo para nascer, para O acolher; um coração agradecido porque o Amor de Deus ajuda-nos a vencer as nossas dificuldades; um coração disponível para dizer “Eis-me, aqui; faça-se segundo a tua vontade”; um coração desprendido das coisas que nos afastam de Deus.

É Natal, e continua a ser Natal quando Deus quer e quando o homem quiser, ou seja, enquanto houver homens e mulheres que acolham o Verbo de Deus nas suas vidas, montando, assim, Deus a sua tenda entre nós, a sua morada no meio de nós.

 

25-12-2022

LEITURA ESPIRITUAL

«E o Verbo fez-Se carne»

 

Cristo veio do Pai, veio do Verbo, veio do Espírito Santo, dado que toda a Trindade operou a sua concepção e a sua encarnação. Com efeito, vir do extremo da Trindade significa ter sido concebido por acção desta mesma Trindade. É por isso que está dito: «Ele vem do extremo do Céu» (cf Sl 18,7). O Filho único, gerado do Pai na eternidade, saiu de sua Mãe gerado no tempo; permanecendo invisível junto do Pai, viveu visível entre os homens. Para Ele, sair do Pai foi entrar na história, aparecer visivelmente e tornar-Se aquilo que não era naturalmente pela sua relação com o Pai.

Porém, coisa admirável! Ele veio daquele de que não Se afastou, saiu daquele em quem permaneceu, de tal maneira que permaneceu inteiramente na eternidade e inteiramente no tempo. Estava por inteiro no Pai e ao mesmo tempo por inteiro na Virgem; por inteiro na sua majestade e na de seu Pai, ao mesmo tempo que por inteiro na nossa humanidade.

Podes percebê-lo com uma comparação: a palavra inicialmente gerada pelo coração passa por completo para a voz, de tal maneira que chega na perfeição aos outros, não deixando por isso de permanecer por inteiro no teu coração; da mesma maneira, o Verbo de bondade, que brotou do coração do Pai, saiu para fora dele sem deixar o Pai. (Santo Amadeu de Lausana, 1108-1159, monge cisterciense, bispo, Homilia mariana, III, SC 72).

Foto:Elo de Comunhão

 

Avisos e Liturgia do IV Domingo do Advento- ano A

Chegámos ao último Domingo do Advento. À nossa volta, tudo está preparado para celebrar a solenidade do nascimento de Jesus. Mas, procuremos não cair em distracções, vivendo estes dias festivos sem dar conta da presença do Senhor. Não fiquemos carentes da proximidade de Deus.

Os especialistas dizem que as pessoas carentes de algum dos cinco sentidos, desenvolvem mais os outros, até ao ponto de compensar o que lhes falta. Na vida interior, acontece o mesmo. Quanto mais indiferente estiver o coração, menos sensível será a tudo e a todos. Isto acontece com pais e filhos, com casais, com empresários e operários, com sacerdotes e paroquianos…Para darmos conta da presença de Deus na nossa vida, é necessário estar vigilante e atento e não nos enfartarmos de palavras, de imagens ou de emoções. É importante que nos esvaziemos, que nos privemos de algumas coisas para estarmos mais atentos a tudo o que acontece à nossa volta. Deus pode estar muito perto de ti, mais perto do que tu pensas, mas ao estares tão preocupado com os teus problemas e inquietações, o que a todos acontece com frequência, não dás espaço aos sinais que, certamente, o Senhor vai deixando à sua passagem.

A atitude de Acaz é um alerta para todos. Acaz andou a vida inteira à procura de Deus, e quando o Senhor quis tornar-se acessível, ele ficou assustado. Isto não pode acontecer connosco que andamos uma vida inteira a pedir sinais a Deus da sua misericórdia, do seu amor ou do seu perdão. Por vezes, andamos tão cheios de ocupações e de preocupações, que não temos nem um minuto sequer na nossa preenchida agenda, nem um lugar na nossa vida, nem um sentimento no nosso coração! Muitas vezes, as nossas ocupações cegam-nos.

O Senhor deu-nos e dá-nos um sinal. Isto não podemos negar! Podemos olhar para o outro lado e repetir mil e uma vezes que não O vimos, podemos querer justificar-nos que Deus já não passa na nossa vida e no nosso mundo há muito tempo! Mas não é verdade. Deus dá-nos sinais evidentes, sinais inequívocos do seu amor por nós. Mas se não vemos os sinais, talvez seja, agora, o momento para nos esvaziarmos de algumas coisas para darmos espaço a Deus. Ele não é muito exigente, não precisa de muitas coisas, só pede um cantinho no nosso coração e na nossa vida.

Que belo exemplo encontramos na figura deste Domingo, São José. Andou esquecido durante tanto tempo, mas também ele é muito importante para a concretização do mistério da Encarnação. A José foi confiada a missão de proteger o maior tesouro dado por Deus, o Seu Filho, Jesus Cristo. No texto do evangelho, José é apresentado como “justo”, ou seja, “santo”. E porquê este título tão sublime a alguém de quem tão pouco fala a Sagrada Escritura? Em primeiro lugar, pela sua discrição. José é o homem do silêncio. Mas o silêncio de José não é um silêncio vazio; é no silêncio onde escuta a voz de Deus no seu íntimo. Ao dar conta da gravidez de Maria, sua noiva, sem a condenar, refugia-se no silêncio, na solidão, na escuta orante do Senhor. Só quem vive assim pode obter respostas de Deus. José não toma decisões precipitadas, mas deixa que o Espírito Santo o oriente. Em segundo lugar, porque José tem algo específico de um crente: a obediência. Para um cristão, que procura fazer a vontade de Deus em todos os momentos da vida, escutar significa obedecer. José aceita, sem restrições, a sua missão de guardar um tesouro. Mantendo-se discreto, alheio a possíveis críticas, e abdicando dos seus sonhos enquanto marido de Maria, José sabe que acima dos seus sonhos está um projecto de Deus para a Humanidade.

José mostra que nós somos mais do que os nossos projectos ou sonhos; somos instrumentos de Deus para um projecto maior, ao serviço de uma Palavra grávida de esperança para a Humanidade. Sem aparecer muito, José foi grande. Falando pouco, diz-nos muito. Hoje somos convidados a imitá-lo. O Menino que está para nascer é o tesouro que Deus nos confia e, como José, devemos acolher, proteger e cuidar.

 

18-12-2022

LEITURA ESPIRITUAL

«Pôr-Lhe-ás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados»

 

Diz o profeta Isaías: «Olhai: a jovem está grávida e vai dar à luz um filho, e há de pôr-Lhe o nome de Emanuel» (7,14). O nome do Salvador, «Deus connosco», dado pelo profeta, refere-se às duas naturezas da sua única Pessoa. Com efeito, Aquele que é Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos, é também o Emanuel do fim dos tempos, o «Deus connosco». Tornou-Se assim no seio de sua Mãe, porque Se dignou aceitar a fragilidade da nossa natureza na unidade da sua Pessoa, quando «o Verbo Se fez carne e habitou entre nós» (Jo 1,14).

Ele começou de forma admirável a ser o que nós somos sem deixar de ser quem era, assumindo a nossa natureza sem perder o que era em Si mesmo. «Maria teve o seu filho primogénito e deram-Lhe o nome de Jesus» (Lc 2, 7.21). «Jesus» é o nome do Filho nascido da Virgem, nome que indica, segundo a explicação do anjo, que Ele salvará o povo dos seus pecados. Será Ele que, evidentemente, salvará também da destruição da alma e do corpo os seguidores do pecado.

Quanto ao nome «Cristo», é título de dignidade sacerdotal e real. Sob a antiga Lei, os sacerdotes e os reis eram chamados cristos, devido ao crisma [que recebiam]. Essa unção com óleo santo prefigurava o Cristo que, vindo ao mundo como verdadeiro Rei e Sacerdote, foi consagrado: «Deus ungiu-O com o óleo da alegria, preferindo-O aos Seus companheiros» (Sl 44,8). Por causa dessa unção ou crisma, Cristo em pessoa e aqueles que participam da mesma unção – quer dizer, da graça espiritual – são chamados «cristãos». Por ser o Salvador, Cristo pode salvar-nos dos nossos pecados; por ser Sacerdote, pode reconciliar-nos com Deus Pai; por ser Rei, digna-Se dar-nos o Reino eterno de seu Pai. (São Beda, o Venerável, c. 673-735, monge beneditino, doutor da Igreja, Homilias para a Vigília do Natal, 5).

 

Avisos e Liturgia do III Domingo do Advento- ano A

 

Ao terceiro Domingo do Advento, é dado, já há alguns séculos, o nome do Domingo da alegria, o qual está muito bem atribuído. Falta já pouco tempo para as festas natalícias, mas os enfeites e melodias que se ouvem nas ruas e nas nossas casas vão já antecipando o ambiente festivo. Faltam poucos dias, mas são suficientes para tomar consciência do que iremos celebrar, porque há cristãos que, pouco a pouco, se deixam influenciar por uma imagem de Natal que não é muito própria de alguém que acredita em Deus.

Se nas últimas duas semanas reflectíamos e rezávamos com o nosso pensamento orientado para o futuro, nestes dias começamos a olhar para o que aconteceu em Belém. O nascimento de Jesus marcou um antes e um depois na História. Deus fez-se menino, assumiu a fraqueza humana. E isto é motivo de grande alegria. Mas há mais! Ao fazer-se um de nós, fez-nos um pouco divinos. Isto não é fábula, é a realidade! Para Deus, nada do que é nosso lhe é estranho e, ao assumir a nossa condição, assume toda a nossa realidade: a boa e a má e, depois, fará justiça. Como afirma Santo Ireneu: “A glória de Deus é o homem vivo. Por causa do seu amor infinito, Cristo tornou-se naquilo que nós somos, para fazer plenamente de nós aquilo que ele é”.

Quantas pessoas vivem situações que não provocaram, que não queriam, das quais não são responsáveis por elas existirem! Recordemos as vítimas de acidentes, das doenças, do abandono das suas famílias. Quem os ajuda, os defende e os apoia? São aqueles que estão mais próximos e que são verdadeiros amigos generosos. É isto que nos falam as leituras deste Domingo. Devemos estar alegres, porque Deus é este Amigo que está perto, que apoia, ajuda e defende. Não há maior alegria do que saber e experimentar que alguém nos quer bem, nos entende, nos ouve, que sofre com as nossas aflições e que se alegra com os nossos regozijos. Esta é uma das razões para celebrar o Natal. “Deus connosco” não é um nome pomposo ou exagerado que os profetas deram ao Messias, mas é uma realidade tão forte que somente uma palavra não pode conter.

A alegria é uma particularidade próprio do cristão, fundamentada na certeza que Deus está connosco, está próximo, ama-nos, cuida de nós. E neste domingo esta alegria parece assemelhar-se à de uma mulher grávida que espera ansiosamente o seu filho. “Espera com paciência a vinda do Senhor”, afirma Tiago na sua leitura. Paciência e esperança são hoje desafios concretos para melhor viver a expectativa da vinda do Senhor

No Evangelho, Jesus elogia João: “Entre os filhos de mulher, não apareceu ninguém maior do que João Baptista”. Hoje, como João, cada um deve ser precursor, ou seja, preparar o caminho para alguém, neste caso, Jesus. Ser cristão não se resume a acreditar que Jesus é o Filho de Deus. Ser cristão implica imitar o Mestre, sabendo que Lhe será sempre inferior. A verdadeira missão de João foi ser um provocador. Com as suas palavras, abanou as consciências, fez perceber a gravidade dos erros das pessoas do seu tempo, alertou para a necessidade de mudar de vida. João foi um inconformado da sociedade. Quando João enviou os seus discípulos para perguntar a Jesus se era o Messias, o Esperado, Jesus respondeu com as suas obras: “Os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a Boa Nova é anunciada aos pobres”. Em Jesus, cumpre-se a profecia de Isaías: Ele vem para fortalecer as mãos fatigadas, robustecer os joelhos vacilantes e dar esperança aos corações perturbados.

Assim, como devemos viver a proximidade do Natal? Cada um deve ser precursor desta vinda próxima do Senhor. Para muitas pessoas, as mãos continuam fatigadas, os joelhos teimam em não querer avançar no caminho, os corações continuam quebrados e dilacerados pelo ódio, injustiça e incompreensão. Enquanto houver “dor e gemidos”, devemos continuar a gritar como salmista: “Vinde salvar-nos, Senhor”. Jesus é Aquele que veio, que vem e que há de vir. Não deveremos esperar outro. Ele é a verdadeira alegria. Levemos a alegria de Jesus aos nossos irmãos com as nossas palavras e acções.  

 

11-12-2022

LEITURA ESPIRITUAL

«Entre os filhos de mulher, não apareceu ninguém maior do que João Baptista. Mas o menor no reino dos Céus é maior do que ele»

 

Veneremos a compaixão de um Deus que não veio julgar o mundo, mas salvá-lo. João, o percursor do Mestre, que até então desconhecia este mistério, logo que percebeu que Jesus era verdadeiramente o Senhor, clamou àqueles que tinham vindo pedir o baptismo: «Raça de víboras» (Mt 3,6), porque me olhais com tanta insistência? Eu não sou o Cristo. Sou um servo e não o Mestre. Sou um simples súbdito, não sou o rei. Sou uma ovelha, não o pastor. Sou um homem, não um Deus. Curei a esterilidade da minha mãe vindo ao mundo, mas não tornei fecunda a sua virgindade; fui tirado de baixo, não desci das alturas. Emudeci a língua do meu pai (cf Lc 1,20), não manifestei a graça divina. […] Sou miserável e pequeno, mas depois de mim virá Aquele que é antes de mim (cf Jo 1,30). Ele vem depois, no tempo; mas anteriormente estava na luz inacessível e inefável da divindade. « Aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu, e não sou digno de levar as suas sandálias. Ele baptizar-vos-á no Espírito Santo e no fogo» (Mt 3, 11). Eu estou subordinado; Ele é livre. Eu estou sujeito ao pecado, Ele destrói o pecado. Eu ensino a Lei, Ele traz-nos a luz da graça. Eu prego como escravo, Ele legisla como mestre. Eu tenho por leito o chão, Ele os Céus. Eu dou-vos o baptismo do arrependimento, Ele dar-vos-á a graça da adopção. «Ele baptizar-vos-á no Espírito Santo e no fogo». Porque me venerais? Eu não sou o Cristo (Homilia atribuída a Santo Hipólito de Roma (?-c. 235), presbítero, mártir, Sermão sobre a Santa Teofania; PG 10, 852).

 

Avisos e Liturgia do II Domingo do Advento – ano A

Na liturgia do Advento há duas personagens que nos acompanham e que são exemplo para nós: Maria e João Baptista. Os dois prepararam intensamente a vinda de Jesus. O texto do evangelho deste Domingo centra-se na actividade de João Baptista no deserto da Judeia. A sua mensagem é simples e clara: “Arrependei-vos, porque está perto o reino dos Céus”. Simples não quer dizer fácil. Em primeiro lugar, porque mudar não é fácil. Em segundo lugar, porque não nos são dadas receitas precisas para ajudar a fazer esta mudança. Cada um tem de ser criativo na sua vida para que a mudança aconteça. Mudar custa, tomar decisões também. Preferimos que alguém nos diga claramente o que temos de fazer, que normas devemos cumprir. Mas, Jesus não é pessoa de dar receitas. Como João Baptista, desperta-nos, convida-nos, encoraja-nos com ternura para transformarmos a nossa vida.

Há um aspecto interessante: a mensagem de João Baptista, como também a de Jesus, é bem acolhida pelas pessoas simples e humildes, que estão cansadas das palavras vazias dos seus mestres e dos seus governantes que dizem e não fazem. Em João, a sua maneira de vestir, as suas palavras e as suas acções são coerentes. Fala para as pessoas com sinceridade, não tem medo das consequências que possa ter. Por isso, tantos vão ao seu encontro e pedem-lhe para serem baptizados. João Baptista procura que cada um assuma o que é, faça uma revisão de vida. Aqui não contam os títulos, os prestígios da sociedade, a condição social, nem a religião. Para João, o mais importante é a comparação entre o que uma pessoa é e o que faz com o que poderia ser e fazer.

Esta mensagem de João faz surgir, no tempo do Advento, um convite à conversão, a mudar. Se não mudarmos, Jesus passará adiante na nossa vida, não nascerá na nossa vida. Quem está convencido que é perfeito, que já sabe tudo, que não precisa de se purificar e renovar, não necessita do Advento, muito menos do Natal. O seu Advento e o seu Natal serão uma rotina, da mesma forma que se repetem os dias da semana ou as estações do ano. Fica cristalizado, sempre na mesma, não cresce, não avança na vida, é indiferente a tudo o que acontece à sua volta com as pessoas. Todavia, ser cristão não é isto. Ser cristão é viver com esperança. E a esperança só é possível se acreditarmos que a vida pode ser melhor, apesar das dificuldades e sofrimentos.

O profeta Isaías é um mensageiro da paz e da esperança. As palavras de Isaías, na primeira leitura, escritas para o povo de Israel que vive no exílio, estão recheadas de esperança. Esperança de paz, de harmonia da humanidade com tudo à sua volta, ilustrada com a imagem de uma boa convivência entre os homens e os animais. Ser homens e mulheres de esperança significa acreditar que a paz é possível. Mas esta esperança só será credível se, ao mesmo tempo, houver acções que promovam a paz.

Neste Domingo, somos convidados à conversão e a endireitar os caminhos do Senhor, para que Ele possa vir até nós e entrar nos nossos corações e nas nossas vidas. E bem precisamos de nos converter: das nossas divisões, dos nossos egoísmos, das nossas guerras e invejas, das nossas injustiças e faltas de solidariedade, da nossa indiferença ao mal que reina à nossa volta. Mudar a nossa vida torna visível e palpável o Reino de Deus entre nós. O Advento é esta espera activa do Messias e do seu Reino que está próximo.

 

 

LEITURA ESPIRITUAL

«Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas»

 

É evidente para todo o leitor que João não pregou apenas, mas também conferiu um baptismo de penitência. Não pôde, no entanto, dar um baptismo que remisse os pecados, pois a remissão dos pecados só nos é dada no baptismo em Cristo. Por isso o evangelista diz que ele «pregava um baptismo de arrependimento para a remissão dos pecados» (Lc 3,3); não podendo ele próprio dar um baptismo que perdoasse os pecados, anunciava esse, ainda por vir. Tal como as suas palavras de pregação eram precursoras da Palavra do Pai feita carne, assim o seu baptismo precedia o do Senhor, como sombra da verdade (Cl 2,17).

Este mesmo João, interrogado sobre quem era, respondeu: «Eu sou a voz daquele que grita no deserto» (Jo 1,23; Is 40,3). O profeta Isaías chamara-lhe «voz», pois ele precedia a Palavra. Aquilo que gritava é-nos ensinado a seguir: «Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas». O que faz aquele que prega a fé verdadeira e as boas obras, senão preparar a estrada nos corações dos ouvintes para o Senhor que vem? Possa a graça penetrar nestes corações, iluminá-los com a luz da verdade.

Acrescenta S. Lucas: «Todos os vales sejam levantados, todas as montanhas e colinas sejam abaixadas». Que designam aqui estes vales, senão os humildes, e os montes e as colinas, senão os orgulhosos? Com a vinda do Redentor, segundo a sua própria palavra, «quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado» (Lc 14,11). Pela fé no mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo feito homem (1Tm 2,5), aqueles que nele crêem receberam a plenitude da graça, enquanto os que se recusam a crer foram humilhados no seu orgulho. Todos os vales serão levantados porque os corações humildes, ao acolherem a palavra da santa doutrina, serão cumulados pela graça das virtudes, segundo o que está escrito: «Das fontes fez jorrar rios, que serpenteiam nos vales» (Sl 104,10). (São Gregório Magno (c. 540-604), papa, doutor da Igreja, Homilias sobre o Evangelho, nº 20).

 

 

IMACULADA CONCEIÇÃO

Durante estas semanas de Advento, o exemplo de Maria é maravilhoso para estimular a nossa esperança. Esta mulher não teve uma vida fácil, como podemos ter a tentação de pensar. Aparecer grávida sem estar casada; ter que contar a José, seu noivo, esperando que ele acreditasse contra toda a lógica e com medo de ser repudiada e apedrejada; ficar sozinha tão nova; ver o seu Filho sem casar e ser tido por todos como louco; ver o Seu Filho ser torturado até à morte, suspenso numa cruz: não são momentos de uma vida fácil. Mas isto foi a vida desta mulher. É verdade que nós podemos ver a sua vida de outra maneira, porque já conhecemos o final da história (a ressurreição de Jesus, o sonho de José a sua própria assunção…). Mas, pensais que foi fácil para esta mulher acreditar que Deus estava sempre com ela? De facto, não foi. Não foi fácil e, em alguns momentos, deve ter tido medo. Porque não é fácil ver Deus ao teu lado nas situações mais difíceis. Quantas mulheres sofrem e morrem por causa das barbaridades da violência doméstica! Quantas viúvas vivem sozinhas, abandonadas e esquecidas pela família, até por alguns dos filhos! Como viverão os pais que vêm morrer os seus filhos de acidente, de doenças incuráveis, vítimas dos vícios e da vida pervertida? Nestas circunstâncias, será fácil sentir a proximidade da mão de Deus? Sabeis porque é que Maria é exemplo para nós? Porque sempre manteve a esperança, a esperança em Deus e na sua poderosa força. Uma força que dá vida, que faz justiça, que liberta, apesar de muitas vezes, não percebermos nem sentirmos a claridade da sua presença.

Celebrar a Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria é proclamar que Maria foi concebida sem pecado original. Não se trata de celebrar a concepção virginal de Jesus, mas afirmar que Maria foi preservada de toda a mancha de pecado desde o primeiro momento da sua existência, preparada para ser a Mãe do Redentor. Maria foi escolhida por Deus para a missão de ser Mãe de Jesus, mas esta escolha não lhe retirou a liberdade da resposta e a sua adesão ao projecto de Deus. Maria não nasceu a saber já a sua missão. Ela foi educada na sua família para a fidelidade a Deus, na educação dada pelos seus pais e na sua intimidade com o Senhor. E quem assim vive facilmente aceita os projectos divinos, quando eles são revelados. Maria percebe que o sonho de Deus é maior do que os seus sonhos e projectos pessoais. Ao ouvir a mensagem do Anjo, Maria perturba-se. É surpreendida pelo anúncio, muitas perguntas e incertezas surgiram naquele momento. Não há tempo para muitas reflexões; a urgência da Encarnação da Palavra Eterna exige prontidão. Então, Maria coloca-se nas mãos de Deus, pergunta o que deve fazer. A Maria somente se pede o consentimento, porque Deus não força as nossas respostas nem condiciona a nossa liberdade. Então, a prontidão, mais que disponibilidade, torna-se obediência e generosidade: “Faça-se em mim segundo a tua palavra”. A sua vida não é mais sua: Maria é toda de Deus, consagrada à sua vontade santa.

O “sim” de Maria não é apenas um “sim” a Deus, é também um “sim” à Humanidade. O seu “sim” inverte a desobediência de Eva. Agora, Maria torna-se a “Nova Eva”, a Mãe de todos os viventes redimidos em Cristo. Por Ela veio ao mundo o Salvador do Mundo. Maria é o modelo daquilo que Jesus sonha fazer em cada ser humano: escolheu-nos, “antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, em caridade, na sua presença”. Que o Senhor possa igualmente fazer maravilhas na nossa vida, como fez na vida de Maria.

 

04-12-2022

LEITURA ESPIRITUAL

Alegre-se a gloriosa Virgem Maria, tua Mãe!

 

Bendiga-Te a santa glória da tua divindade, meu Deus e minha doçura, com a qual Te dignaste encher e cumular durante nove meses as castas entranhas da Virgem Maria. Bendiga-Te o elevado poder da tua divindade, que Se inclinou sobre as profundezas deste vale virginal. Bendiga-Te a engenhosa omnipotência, ó Deus altíssimo, que difundiu tanta virtude, graça e beleza sobre a rosa virginal, a ponto de Tu próprio a desejares.

Bendiga-Te a tua admirável sabedoria, cuja graça abundante fez com que toda a vida de Maria, no seu corpo e na sua alma, fosse conforme à tua dignidade. Bendiga-Te o teu amor forte, sábio e doce, que fez com que Tu, flor e esposo da virgindade, Te tornasses Filho de uma virgem. Rejubilem em Ti, por mim, o mui digno coração e a alma da gloriosíssima Virgem Maria, tua Mãe, que para tal escolheste com vista às necessidades da minha salvação, a fim de que a sua maternal clemência me fosse acessível.

Rejubilem em Ti os fidelíssimos cuidados que tiveste comigo, concedendo-me uma tão poderosa e boa advogada e patrona, por quem posso facilmente obter a tua graça, e em quem, confiadamente o creio, me reservaste a tua eterna misericórdia. Rejubile em Ti este admirável tabernáculo da tua glória, que Te serviu dignamente oferecendo-Te uma habitação sagrada. (Santa Gertrudes de Helfta, 1256-1301, monja beneditina, Exercícios VI, SC 127).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Avisos e Liturgia do XXXIV Domingo do TEMPO COMUM – ano C

CRISTO-REI

Temos de ser muito cuidadosos quando afirmamos que Jesus Cristo é rei, o Rei do universo. Na Bíblia, a figura dos reis não é excessivamente gloriosa, e o próprio rei David, não seria um bom exemplo a seguir em todos os aspectos da sua vida. Na primeira leitura encontramos esta frase: “Tu apascentarás o meu povo de Israel”, o que nos convida a senti-la como dirigida a nós, em função da nossa condição real recebida no baptismo. Por causa desta nossa condição real, todos os nossos irmãos nos são confiados para que deles cuidemos. Por isso, temos de ser cidadãos preocupados com a sociedade, não só com o que se refere à política, mas também com tudo o que se refere àqueles que nos rodeiam e com todos os que vivem neste mundo, ou seja, temos de cuidar da Criação. A figura do pastor é utilizada, muitas vezes, na Bíblia como metáfora para designar os governantes, aqueles que têm a missão de cuidar e de orientar o povo. Porém, sabemos que nem sempre é assim, porque nem sempre cumprem com eficácia e amor a sua missão e, pior ainda, dispersam e desorientam o rebanho, actuando de maneira insensata. Estes pastores governam-se a si mesmos. Deus decide que Ele mesmo será o pastor do povo, congregando-o, protegendo-o, pastoreando-o e enviando verdadeiros pastores: “Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, que vos conduzirão com inteligência e sabedoria” (Jr 3,15). Assim, afirmamos que um rei é um pastor segundo o coração de Deus.

Ser pastor do povo é a missão de cada cristão, mas ao estilo de Jesus Cristo, exercendo a sua condição real com mansidão, sendo Bom Pastor como Ele. Um Pastor que procura a ovelha perdida, que conhece as ovelhas pelo nome. Jesus Cristo não quis ser um rei como os outros, não governa como os reis da terra, servindo-se dos súbditos. Jesus é um rei que serve o seu povo. A realeza de Jesus Cristo manifesta-se, de maneira surpreendente, no madeiro da cruz. É pregado na cruz que diz que a sua realiza consiste na entrega aos outros. É na cruz que se revela como Messias, como Cristo, como Ungido para levar até ao fim o plano da salvação da humanidade que o Pai lhe confiou. É na cruz que Ele nos pede que O imitemos na sua entrega, como expressão da sua amizade, porque foi Ele que nos escolheu para reinar com Ele. Na segunda carta a Timóteo, São Paulo diz o que consiste em morrer e reinar a partir da cruz: “Tudo suporto pelos eleitos…se com Ele morrermos, também com Ele viveremos. Se nos mantivermos firmes, reinaremos com Ele” (2 Tm 2, 10-12). Se vivermos o Evangelho, suportando a dor que por vezes surge, reinaremos com Ele.

Enche o nosso coração a frase de Jesus ao bom ladrão: “Hoje, estarás comigo no Paraíso”. Talvez, Jesus tenha dito “no meu paraíso”, porque o paraíso de Jesus é o do amor sem medida e sem condições. Os reis da terra imaginam, certamente, outro paraíso: o poder, a riqueza, as comodidades, o bem-estar. Mas Jesus reina a partir da cruz. As autoridades, os soldados e o mau ladrão não estavam interessados num reino à maneira de Jesus. E nós, estamos ou não interessados? Só o criminoso, que estava consciente do mal que tinha feito, conseguiu ver Jesus como Messias que reina a partir da cruz; até se dirigiu a Jesus, chamando-O pelo nome: “Jesus, lembra-Te de mim”.

Em todo o Evangelho, aparecem tantos pedidos feitos a Jesus. Talvez o pedido do bom ladrão seja o mais impressionante. Às portas da morte, o pedido é ir para Deus: “lembra-Te de mim, quando vieres com a tua realeza”. Todos nós sabemos a resposta: “Hoje estarás comigo no Paraíso”; é a promessa do Reino, do paraíso. Assumindo a consciência das nossas fragilidades e do nosso pecado, façamos o mesmo pedido do bom ladrão: “Jesus, lembra-te de mim…”. Jesus, o Juiz e Rei do Universo, julga-nos com amor e pelo amor: por amor nos criou, por amor nos salva.   

 

20-11-2022

LEITURA ESPIRITUAL

«Quando vieres com a tua realeza»

 

Abriu-se hoje para nós o paraíso, fechado há milhares de anos; neste dia, nesta hora, Deus introduziu nele o ladrão. Realizou assim duas maravilhas: abriu-nos o paraíso e fez entrar nele um ladrão. Hoje, Deus devolveu-nos a nossa pátria, reconduziu-nos à cidade dos nossos pais, abriu uma morada comum a toda a humanidade. «Hoje estarás comigo no Paraíso». Que dizes, Senhor? Estás crucificado, cravado com pregos, e prometes o Paraíso? Sim, diz Ele, para que, pela cruz, conheças o meu poder.

Não foi por ressuscitar um morto, por dominar o mar e o vento nem por expulsar os demónios que Ele conseguiu transformar a alma pecadora do ladrão, mas por ter sido crucificado, preso com pregos, coberto de insultos, de escarros, de troças e de ultrajes, para que tu conhecesses os dois aspectos do seu poder soberano: Ele fez tremer a criação e fendeu os rochedos (Mt 27,51); e atraiu a Si a alma do ladrão, mais dura do que a pedra, revestindo-a de honra. Jamais rei algum permitiria, ao entrar soberanamente na cidade do seu reino, que um ladrão ou qualquer outro súbdito se sentasse a seu lado. Mas Cristo fê-lo: ao entrar na sua santa pátria, levou consigo um ladrão.

Agindo deste modo, não a desonra com a presença de um ladrão; bem pelo contrário, honra o Paraíso, porque é uma glória para o Paraíso que o seu Senhor torne um ladrão digno das delícias que ali se saboreiam. De igual modo, quando faz entrar os cobradores de impostos e as meretrizes no Reino dos Céus (Mt 21,31), fá-lo para glória desse lugar santo, mostrando assim que o Senhor do Reino dos Céus é tão grande que pode restituir a dignidade às meretrizes e aos cobradores de impostos, de maneira que estes se tornam merecedores de tal honra e de tal dom.

Admiramos um médico quando o vemos curar homens que padecem de doenças consideradas incuráveis. É, portanto, justo que admiremos a Cristo quando O vemos devolver aos cobradores de impostos e às meretrizes tal santidade espiritual que se tornam dignos do Céu. (São João Crisóstomo, c. 345-407, presbítero de Antioquia, bispo de Constantinopla, doutor da Igreja, Homilia 1 sobre a cruz e o ladrão, para Sexta-feira Santa, 2; PG 49, 401).

 

Avisos e Liturgia do XXXIII do Tempo Comum- ano C

 

Ao chegarmos ao fim do ano litúrgico, voltamos a saborear o carácter escatológico dos textos de Domingo. O texto do evangelho precede a narração da paixão e revela os sentimentos dos primeiros cristãos acerca do futuro que consideram difícil e incerto, porque as primeiras comunidades cristãs já tinham vivido situações de perseguição e de martírio; muitos cristãos já tinham dado a vida por causa da fé. Depois de Jesus ter chorado por Jerusalém, anuncia a destruição do templo. Porém, Jesus convida-nos a não ter medo, a sermos perseverantes na vida cristã, a ter confiança porque Deus está connosco, ao nosso lado, nos momentos de dificuldade e nos sofrimentos. Ou seja, Jesus sofre connosco e anima os seus discípulos dizendo-lhes que, mesmo que sejam levados para a prisão e arrastados para os tribunais acusados por causa do Seu nome, Ele estará ao nosso lado, dando-nos “sabedoria a que nenhum dos nossos adversários poderá resistir ou contradizer”. Serão tempos propícios para dar testemunho e para a perseverança, tempos de afirmação da nossa liberdade. Porque somos livres, em Jesus Cristo, devemos lutar contra o mal todos os dias, contra todo o tipo de abusos, de opressões, de desprezo dos mais fracos. Todos os tempos são difíceis, mas também favoráveis.

Bem sabemos que, em tempo de dificuldades, algumas vezes aparecem salvadores espontâneos ou profetas que anunciam soluções para todas as situações dolorosas do nosso tempo. Jesus avisa de uma forma clara: “Não os sigais”. Esses novos caminhos não servem e não são autênticos se não estiverem de acordo com o Evangelho. O desafio da nossa vida é viver o Evangelho nos momentos de dificuldade com toda a humildade, sem pretender ter respostas imediatas. Na primeira leitura, o profeta Malaquias diz que os orgulhosos serão reduzidos a nada, mas os que perseveram serão felizes, porque Deus não esquece que é Pai. Malaquias propõe um mundo melhor para sair do pessimismo da experiência judaica marcada pelo exílio na Babilónia. Perante o pessimismo e os profetas da desgraça, temos muito que fazer, temos de amar a fatia de mundo que nos rodeia e não desistirmos do mundo, como faziam os cristãos que São Paulo critica na segunda leitura, como se ele já não tivesse solução. Nem sempre ganham os poderosos. Por isso, Jesus avisa-nos para não nos deixarmos enganar pelos falsos messias, procurando ver onde está realmente o Espírito do Senhor. Na carta aos Gálatas, São Paulo afirma: “há certa gente que vos perturba e quer perverter o Evangelho de Cristo. Mas, até mesmo se nós ou um anjo do céu vos anunciar como Evangelho o contrário daquilo que vos anunciámos, seja anátema. Como anteriormente dissemos, digo agora mais uma vez: se alguém vos anuncia como Evangelho o contrário daquilo que recebestes, seja anátema” (Gl 1,7-9).

Dificuldades, perseguições, catástrofes, desastres sempre haverá, e os tempos difíceis serão sempre ocasião para o martírio, para o testemunho evangélico humilde, mas convicto. Manter a esperança em tempos difíceis significa promover os valores evangélicos. Os tempos difíceis serão sempre propícios a viver uma paciência persistente que nunca perde o estilo da vida cristã, mesmo que não agrade a todos, sobretudo quando se denuncia e condena o mal que fazem aos outros. Hoje, como outrora, os cristãos são perseguidos em diversos países. Rezemos por eles, estejamos unidos a eles, porque sofrem por causa da sua fidelidade a Jesus Cristo.

Jesus não engana ninguém: não promete a facilidade, mas a felicidade; não resolve problemas, mas dá achegas para os ultrapassar; dá-nos esperança e a promessa da sua fidelidade. Um cristianismo light, relaxado, sem testemunho fiel, não convence ninguém. Confiemos sempre em Deus para vencer as dificuldades, conscientes de que nunca nos abandona. Se nos perseguem, que seja por amarmos os mais fracos, por causa do nome de Jesus Cristo e porque estamos a seguir o seu exemplo de entrega aos irmãos. “Pela vossa perseverança salvareis as vossas almas”. Sofrendo como Jesus, teremos como prémio a vida eterna.

 

13-11-2022

LEITURA ESPIRITUAL

«Pela vossa perseverança salvareis as vossas almas»

 

Aquele a quem, no tempo da prova, falta a paciência nas aflições que lhe chegam e se distancia do amor dos seus irmãos espirituais não tem ainda o amor perfeito nem o conhecimento profundo da Providência divina.

O objectivo da Providência divina é unificar, pela fé recta e o amor espiritual, aqueles que o mal separou de muitas maneiras. Foi para isso que o Salvador sofreu: para reunir na unidade (cf Jo 11,52) os filhos de Deus que estavam dispersos. Assim, pois, aquele que não suporta o que o perturba, que não sabe sofrer o que o aflige, que não assume o que lhe dói, não anda pelo caminho do amor divino e passa ao lado do objectivo da Providência. Se o amor é paciente e benévolo (cf 1Cor 13,4), aquele a quem falta coragem quado surgem as aflições, e por essa razão faz mal àqueles que o afligiram e se distancia do amor que lhes deve, não realiza o objectivo da Providência divina. É paciente aquele que aguarda o fim da prova e recebe a glória da perseverança.

O homem paciente tem grande sabedoria (cf Prov 14,29, LXX), pois leva até ao fim tudo o que lhe acontece e suporta as aflições aguardando este fim. Ora, o fim é a vida eterna, segundo o Apóstolo (cf Rom 6,22). E a vida eterna é que Te conheçam, a Ti, único Deus verdadeiro, e Àquele a quem Tu enviaste, Jesus Cristo (cf Jo 17,3). (São Máximo, o Confessor, c. 580-662, monge, teólogo, Centúria sobre o amor IV, 16-18, 23-24).

 

Programação Semanal de Missas (15 a 20/11)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Avisos e Liturgia do XXXII do Tempo Comum – ano C

Domingo XXXII do TEMPO COMUM – ano C

 

Novamente, neste Domingo, a Liturgia da Igreja convida-nos a falar sobre a ressurreição. Mas, desta vez, não falemos deste assunto como uma afirmação do Credo, ou fazendo uma longa e profunda reflexão teológica. “Creio…na ressurreição da carne”, ou “espero a ressurreição dos mortos”, proclamamos todos os domingos na Eucaristia. Neste Domingo, façamos uma proclamação de confiança e de esperança, mas não partindo dos textos aprendidos no catecismo. Professemos a nossa fé na ressurreição a partir da confiança das crianças que tudo esperam dos pais, a partir da esperança dos pobres que confiam que Deus nos ama, apesar das dificuldades da vida. Os irmãos Macabeus, homens de fortes convicções religiosas, numa altura em que se perseguia a fé judaica e os seus ritos e costumes, enfrentam e sofrem a morte, expressando que uma vida vivida segundo a Lei não podia terminar em nada. Uma vida em que se experimentou a felicidade do amor que se dá aos outros, seguindo a vontade de Deus de O amar e de amar o próximo, não pode ter um final sem sentido. O quarto irmão diz isto de uma forma belíssima: “Vale a pena morrermos às mãos dos homens, quando temos a esperança em Deus de que Ele nos ressuscitará”.

Na segunda leitura, São Paulo fala-nos da eterna consolação e feliz esperança. Esta eterna consolação não se obterá pelo esforço humano ou ascese, mas será fruto da graça de Deus, porque Ele ama-nos sem medida. A mãe dos irmãos Macabeus é uma imagem desta eterna consolação, com a sua presença e com as suas palavras de encorajamento. E como ela nos recorda Maria, a Mãe de Deus, e a Igreja: a mãe acompanha, anima, consola, está sempre ao lado dos seus filhos, animando-os perante as ameaças ou as promessas enganosas do rei (seria bom ler todo o capítulo: 2Mac 7). É Maria de pé junto à cruz, é Maria em Caná (“Não têm vinho”), é a Igreja que nos acompanha nas nossas dúvidas e dificuldades e as suaviza com o azeite da consolação e o vinho da esperança. Estas últimas palavras são pronunciadas no Prefácio Comum VIII que proclama Jesus Cristo como Bom Samaritano, um bom samaritano que cura e levanta os caídos à beira do caminho da vida e os carrega às costas. Uma atitude destas gera consolação e esperança em todos os que estão nas bermas das nossas ruas. Recordemos o que dizia Pedro: “Para quem iremos nós, Senhor? Só Tu tens palavras de vida eterna; nós sabemos e acreditamos que Tu és o Santo de Deus”.

No nosso coração, gravemos o que Jesus diz no evangelho: “Deus não é um Deus de mortos, mas de vivos, porque para Ele todos estão vivos”. Que lição aos saduceus! Eles acreditavam somente no Pentateuco e desprezavam os outros livros da Bíblia. Então, Jesus recorda-lhes uma passagem do livro do Êxodo, o chamamento de Moisés feito por Deus na sarça ardente, onde Deus se apresentou como o “Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob (Ex 3,6). Como se pode entender que aquele Deus que pedia a Moisés para libertar o seu povo se apresentasse como um Deus de personagens já mortos? Mas não podemos entender assim, porque, para Deus, Abraão, Isaac e Jacob vivem (estão ressuscitados) no seio de Deus.

Como Abraão, Isaac e Jacob, também Jesus, o Filho de Deus, vive no seio de Deus e preparou-nos um lugar junto Dele, “para que onde Eu estou, vós estejais também” (Jo 14, 1-6). Mas este lugar começamos a ocupá-lo já na nossa vida terrena, quando seguimos a vontade de Jesus Cristo: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por Mim”. Vivemos a ressurreição quando percorremos o caminho de Jesus, ou seja, quando amamos, imitando-O e sendo Suas imagens vivas no mundo que nos rodeia. No final da nossa vida, ouviremos estas perguntas: Viveste? Amaste? Como será bom abrir o nosso coração cheio dos nomes daqueles e daquelas de quem nos aproximámos! Somos filhos de Deus e irmãos uns dos outros. É assim que Deus nos vê. A verdadeira morte não consiste em deixar de viver, mas em deixar de amar.   a casa”.

 

06-11-2022

LEITURA ESPIRITUAL

«Creio na ressurreição da carne»

 

Nós cremos e esperamos firmemente que, tal como Cristo ressuscitou verdadeiramente dos mortos e vive para sempre, assim também os justos, depois da morte, viverão para sempre com Cristo ressuscitado, e que Ele os ressuscitará no último dia. Tal como a dele, também a nossa ressurreição será obra da Santíssima Trindade: «Se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus de entre os mortos habita em vós, Ele, que ressuscitou Jesus Cristo de entre os mortos, também dará vida aos vossos corpos mortais, pelo seu Espírito, que habita em vós» (Rm 8,11). A palavra «carne» designa o homem na sua condição de fraqueza e mortalidade. «Ressurreição da carne» significa que, depois da morte, não haverá somente a vida da alma imortal, mas também os nossos «corpos mortais» retomarão a vida.

Crer na ressurreição dos mortos foi, desde o princípio, um elemento essencial da fé cristã. «A ressurreição dos mortos é a fé dos cristãos: é por crermos nela que somos cristãos» (Tertuliano). «Como é que alguns de entre vós dizem que não há ressurreição dos mortos? Se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou. Mas se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã também a vossa fé. Mas não! Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram» (1 Cor 15, 12-14.20).

A ressurreição dos mortos foi revelada progressivamente por Deus ao seu povo. A esperança na ressurreição corporal dos mortos impõe-se como consequência intrínseca da fé num Deus criador do homem todo, alma e corpo. Os fariseus e muitos contemporâneos do Senhor esperavam a ressurreição. Jesus ensina-a firmemente. E aos saduceus, que a negavam, responde: «Não andareis vós enganados, ignorando as Escrituras e o poder de Deus?» (Mc 12,24) A fé na ressurreição dos mortos assenta na fé em Deus, que «não é um Deus de mortos, mas de vivos» (Mc 12,27). (Catecismo da Igreja Católica, 989-993).

 

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Programação Semanal de Missas (08 a 13/11)

União das Paróquias de Fornos de Algodres, Cortiçô, Casal Vasco, Infias, Vila Chã e Algodres.