A PALAVRA PROCLAMADA E “CUMPRIDA” NA TUA VIDA
A primeira leitura deste Domingo, do livro de Neemias, confirma a célebre frase que diz que o Cristianismo é a religião do livro; esta afirmação vem comprovar que nos livros da Bíblia podemos encontrar sabedoria, força, alegria e esperança. De facto, esta leitura diz-nos que o povo israelita, como nós hoje, em assembleia, ouvia a proclamação do livro da Lei de Deus, e alguns levitas iam explicando o sentido do texto, para que todos compreendessem a leitura. Respondemos a esta leitura, com o salmo que louva a importância da Palavra: “As vossas palavras, Senhor, são espírito e vida”. Na segunda leitura, São Paulo expõe-nos a sua famosa concepção de Cristo, utilizando a imagem do corpo humano: “Assim como o corpo é um só e tem muitos membros, e todos os membros do corpo, apesar de numerosos, constituem um só corpo”. Muitas vezes, na Igreja, esta unidade na diversidade é difícil de ser compreendida. Neste Domingo, iniciamos a proclamação do evangelho de Lucas, própria deste ano, o qual, depois de um pequeno prólogo, narra o primeiro momento da vida pública de Jesus, numa sinagoga. É importante recordar a última frase deste prólogo: “para que tenhas conhecimento seguro do que te foi ensinado”. Nós consideramo-nos “amigos de Deus”, mas não quer dizer que não tenhamos de fortalecer, continuamente, a nossa fé. No prólogo, Lucas faz referência ao trabalho sério e profundo para dar estabilidade à fé das primeiras comunidades, fundamentada em Cristo morto e ressuscitado. Hoje, também temos de alimentar a nossa fé e viver, em conformidade com ela. As leituras bíblicas narram-nos duas proclamações solenes da Palavra de Deus. A primeira ocorreu durante a reconstrução de Jerusalém, na praça pública, e perante uma multidão de pessoas de todas as idades. A segunda aconteceu, num sábado, com Jesus, na sinagoga de Nazaré. Jesus é um participante activo na liturgia da sinagoga. Cresceu “em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens” (cf. Lc 2,52), convivendo com Maria e José e com a comunidade, que se reunia, semanalmente, para ouvir a Palavra. Era um ouvinte assíduo. Tinha ouvido, muitas vezes, a Palavra, tinha-a reflectido, tinha-a rezado e dialogado com o Pai, aprendendo a viver como Filho, que tem, como alimento, cumprir a vontade do Pai e obedecer a quem O enviou (Heb 5,8; Jo 4,34). Depois de ter proclamado uma leitura do profeta Isaías, Jesus faz o seu comentário e actualiza a passagem, afirmando: “Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir”. Certamente, Jesus tinha escutado este texto de Isaías muitas vezes (talvez, o tenha lido diversas vezes); o tenha meditado e sido objecto do seu diálogo filial com o Pai, até se identificar com o Enviado, o Ungido do Espírito Santo. E quais são as palavras que se referem a Jesus? “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres. Ele me enviou a proclamar a redenção aos cativos e a vista aos cegos, a restituir a liberdade aos oprimidos e a proclamar o ano da graça do Senhor”. Jesus apresenta-se como o libertador de todas as escravidões, o médico para curar todas as feridas e a luz que ilumina todas as trevas. Se a missão de Jesus foi a de atender o sofrimento humano, então, também tem de ser a missão de todos os que O seguem. A nossa missão tem de ser a missão de Jesus. Qualquer evangelização, ou acção pastoral, não será fiel ao espírito de Jesus se não lutar pela libertação de todas as escravidões dos seres humanos. A opção de Jesus pelos pobres e pelos mais necessitados não é uma mera caridade. É lutar para que a vida humana decorra segundo o projecto de Deus. E a nossa missão é levar uma boa notícia de libertação aos oprimidos, aos marginalizados, aos desprezados e a todos aqueles que se encontram no mundo da dor por culpa dos egoístas.
Ver: https://liturgia.diocesedeviseu.pt/LITURGIAEVIDA/index.html
26-01-2025paroquias agb
Leitura Espiritual
«Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura»
Quando lerdes: «Ensinava nas sinagogas e era elogiado por todos», tende cuidado de não considerar felizes unicamente os ouvintes de Jesus, julgando-vos privados dos seus ensinamentos. Se a Escritura é a verdade, a palavra de Deus não foi comunicada só outrora, nas assembleias judaicas, é comunicada ainda hoje na nossa assembleia. E não é só aqui, na nossa, é em todas as outras e em todo o mundo: Jesus ensina e procura instrumentos que transmitam os seus ensinamentos. Orai para que também eu esteja disposto e apto a cantá-lo. Assim como Deus Todo-Poderoso, ao procurar os profetas no tempo em que a profecia era necessária aos homens, encontrou, por exemplo, Isaías, Ezequiel e Daniel, assim também Jesus procura hoje instrumentos que transmitam a sua palavra, que ensinem nas sinagogas e sejam elogiados por todos. Hoje, Jesus é muito mais elogiado por todos do que no tempo em que era conhecido numa única província. (Orígenes (c. 185-253), presbítero, teólogo, Homilia 32 sobre São Lucas 4).
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O Bispo da Diocese de Viseu, D. António Luciano, esteve presente na cerimónia da tomada de posse dos órgãos sociais da Santa Casa da Misericórdia de Santar, concelho de Nelas, seguindo-se a visita aos Cuidados Continuados e à Estrutura Residencial para Idosos (ERPI).


“Quando estas coisas começarem a acontecer, erguei-vos e levantai a cabeça, porque a vossa libertação está próxima”. Não seria melhor iniciar o tempo do Advento com um texto evangélico menos aterrador? É um texto com uma linguagem apocalíptica, o qual, longe de querer gerar medo, procura revelar-nos uma grande esperança. Jesus encontra-se no templo de Jerusalém, na última semana da sua vida terrena, no designado átrio das mulheres; ali, os seus discípulos convidam-no a contemplar a sumptuosidade do templo, construído por Herodes. Olhando para essas pedras, admiravelmente esculpidas e adornadas, o Mestre afirma: “virá o dia em que, de tudo isto que estais a contemplar, não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído”. Os discípulos, para quem o templo era o sinal da presença de Deus nesta terra, ficaram cheios de medo, pensando que Jesus falava do fim do mundo. Se o templo era destruído, significava que a humanidade tinha chegado ao seu fim. Mas, o que há de mais estável que os astros do céu e o seu percurso? Na antiguidade, e hoje, contemplamos o céu e sabemos o percurso dos planetas e estrelas. É normal ver o sol, todas as manhãs, no oriente, e a lua manifestar-se nas suas fases. Ao dizer-nos que haverá sinais no sol e na lua, Jesus pretende dizer-nos que esta estabilidade do mundo irá ter o seu fim e que uma grande novidade estará para chegar. Aproxima-se um momento decisivo em que cada um terá de tomar uma decisão para a sua vida. No tempo de Jesus, o mar e as suas criaturas eram considerados como o lugar das trevas, onde habitavam as forças do mal. Ao chegar o novo Reino, estas forças iriam cair no desespero. Como também seria eliminada a forma de conceber a religião e a relação com Deus, simbolizada no templo e nos astros; também chegaria ao fim o reino do mal, que será vencido definitivamente. O Advento coloca diante nós o Natal. E o texto evangélico deste domingo diz-nos que o Natal é um momento radical. É Cristo que vem instaurar um mundo novo, onde o “velho” já não tem sentido e o “novo” é obra do Espírito do Amor. Cristo é aquele “rebento…que exercerá o direito e a justiça na terra”, como afirma Jeremias, na primeira leitura. Neste Domingo, o que Jesus nos anuncia? Não anuncia somente o que acontecerá, mas também nos diz como devemos esperar a sua vinda. Jesus lança o convite: “erguei-vos e levantai a cabeça…não suceda que os vossos corações se tornem pesados pela intemperança, a embriaguez e as preocupações da vida…Portanto, vigiai e orai em todo o tempo, para que possais livrar-vos de tudo o que vai acontecer e comparecer diante do Filho do homem”. “Erguei-vos”. Não cair na resignação diante de toda a espécie de escravidão. Não cair nas garras do pecado ou no remoer da desolação e da tristeza. “Levantai a cabeça”, sede optimistas! Advento é um tempo de espectativa alegre; recordemos que se aproxima a nossa libertação. Não podemos ficar sentados no sofá da vida, quietos, mas erguidos, com o olhar dirigido para um futuro melhor, muito melhor! É Cristo que vem ao nosso encontro. “Cristo pode nascer mil vezes em Belém, mas se não nasce em mim, nasceu em vão” (Mestre Eckhart) Então, o que fazer? Ser vigilantes é estar atentos para que o nosso coração não seja insensível aos verdadeiros valores; é não perder os critérios de Jesus, porque, se tal acontecer, ficaremos escravos das angústias da vida. Cristo convida-nos a não ficarmos bloqueados com as preocupações da vida, mas a levantar a cabeça, alargar horizontes, estar sempre alerta para contemplar a Sua vinda. Tenhamos a coragem de estar sempre em sintonia com o pensamento de Deus. O Evangelho não antecipa o fim do mundo, narra o segredo do mundo: toma-nos pela mão e leva-nos para fora de portas, a olhar para o alto, a sentir o universo pulsar à nossa volta; chama-nos a abrir as janelas de casa para fazer entrar os grandes ventos da história, a sentirmo-nos parte viva de uma imensa vida. Que padece, que sofre, mas que nasce.





