Na primeira leitura deste Domingo, Isaías narra-nos a expulsão de Chebna, administrador do palácio. Para ocupar o seu lugar, o Senhor chamou Eliacim, filho de Elcias: “porei aos seus ombros a chave da casa de David”, a insígnia simbólica do poder, que são as chaves. Assim, antecipa, de uma forma profética, o gesto que Jesus terá com Pedro ao dar identidade à sua vocação especifica na Igreja; mas as chaves do Reino dos Céus não são símbolo de poder, mas de serviço. Na segunda leitura, encontramos um hino de São Paulo a louvar a sabedoria insondável de Deus. Admirando e glorificando o pensamento do Senhor, que nos conduz, por vezes, por caminhos misteriosos, somos convidados, pelo evangelho, a responder, pessoalmente, à pergunta de Jesus: “e vós, quem dizeis que Eu sou”?
Antes desta pergunta, Jesus faz outra aos seus discípulos: “quem dizem os homens que é o Filho do homem”? Para responder a esta pergunta, não é necessário escrever ou consultar inúmeros livros de sociologia ou de teologia. Assim, hoje, entre as imensas respostas que poderíamos obter, encontraríamos certamente, além de uma grande indiferença, expressões como: Jesus foi um homem que quis protagonismo, foi um moralista prudente, um profeta revolucionário, um libertador, o Filho de Deus, o Salvador, Aquele que se definiu como o Caminho, a Verdade e a Vida. Mas, é a partir da nossa experiência e vivência da vida que devemos reflectir sobre quem é, o que significa, o que representa e que caminhos aponta hoje a maneira de pensar e de viver de Jesus de Nazaré. E, agora, as respostas não podem ser teóricas, nem dos livros. Não servem as palavras vazias, nem as definições não-vividas. As respostas terão de ser expressão do que brota do nosso interior, da nossa vivência, trabalhada ao longo de toda a nossa vida.
A resposta personalizada que damos à pergunta de Jesus não somente coincide com a identidade cristã de cada um de nós, mas é importante para a imagem social que poderão ter aqueles que nos rodeiam sobre a figura de Jesus. O evangelho que, hoje, as pessoas lêem é o evangelho que encontram nos cristãos que se comprometem a seguir Jesus (Cfr. Teilhard de Chardin). Assim, a imagem actual, viva, atraente e activa, ou decadente, pouco sedutora e indiferente, que as pessoas possam ter sobre a figura e os feitos de Jesus de Nazaré depende, em grande parte, de como O vivemos e O apresentamos com as nossas palavras e acções.
Mas, não haverá, hoje, pessoas, que estariam disponíveis para aceitar a pessoa e a obra de Jesus, mas desvinculando-O da Igreja? Certamente, há necessidade de fazer uma reflexão sobre o que se entende por Igreja. Todavia, bem sabemos que a Igreja é humana e pecadora, formada por homens e mulheres fracos; uma Igreja que, tantas vezes, não é a Igreja que Jesus sonhava, uma comunidade de serviço e não de poder, tal como foi confiada a Pedro.
Sobre Jesus, podemos escrever e dizer muitas coisas. Mas peçamos-Lhe que nos ajude a saber e a viver quem Ele é e, sobretudo, a experimentar quem Ele é para cada um de nós. Como Pedro, procuremos, com a vida, dizer que Jesus é, para nós, o Messias, o Filho de Deus vivo.
27-08-2023
LEITURA ESPIRITUAL
A firmeza da Igreja
Sentimo-nos cheios de segurança na cidadela da Santa Igreja. Nunca as promessas de Cristo deixaram de se cumprir; pelo contrário, mostram-se-nos ainda mais consolidadas pelas provas de tantos séculos e as vicissitudes de tantos acontecimentos. Os reinos e os impérios desmoronaram-se; povos que a glória do seu nome e da sua civilização tinha tornado célebres desapareceram. Assistimos à desagregação de nações, como que esmagadas pela própria vetustez. Mas a Igreja é, por natureza, imortal; o laço que a liga a seu celeste Esposo não se quebrará jamais, e ela não pode ser afectada pela caducidade, permanecendo, pelo contrário, florescente de juventude, sempre transbordante da força com a qual surgiu do coração trespassado de Cristo morto na cruz. Os poderosos da Terra ergueram-se contra ela; eles desapareceram e ela permanece! Os mestres de sabedoria imaginaram, no seu orgulho, uma variedade infinita de sistemas capazes, pensavam eles, de pôr em causa os ensinamentos da Igreja, de abalar os dogmas da fé, de demonstrar o absurdo do seu magistério. A história mostra-nos que tais sistemas caíram no esquecimento, arruinados em toda a sua dimensão. E, entretanto, do alto da cidadela de Pedro, a verdadeira luz resplandece com todo o fulgor que lhe foi transmitido por Cristo desde as origens, e que Ele alimenta com esta sentença divina: «O céu e a Terra passarão, mas as minhas palavras não passarão» (Mt 24,35). Por isso, dirigi os passos da vossa alma, tal como os começastes, para a firmeza desta rocha; foi sobre ela, como sabeis, que o nosso Redentor fundou a Igreja em todo o mundo, de sorte que os corações sinceros, orientando por ela a sua marcha, não se percam. (São Pio X, 1835-1914, Encíclica «Iucunda Sane»).
