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Trancoso – Ação de sensibilização dedicada ao Acidente Vascular Cerebral (AVC)

No âmbito do Eixo 4 – Atividade 1 do Plano de Ação do CLDS, realizou-se  no Auditório do Pavilhão Multiusos, uma ação de sensibilização dedicada ao Acidente Vascular Cerebral (AVC), com o objetivo de informar a comunidade sobre a importância da prevenção, da adoção de estilos de vida saudáveis e da atuação correta em caso de emergência.

A iniciativa contou com a colaboração da Unidade de Saúde Local (ULS), representada pelas enfermeiras Sofia e Claudina e pela estagiária na área da nutrição Rafaela, que abordaram temas como os sinais de alerta do AVC, a importância de uma alimentação equilibrada e os principais fatores de risco associados à doença.

Os Bombeiros Voluntários de Trancoso também marcaram presença, com a participação do bombeiro, Luís Fonseca, que abordou uma perspetiva prática dos meios de socorro disponíveis e os procedimentos a adotar perante uma situação de suspeita de AVC, reforçando a necessidade de acionar rapidamente os serviços de emergência.

𝗘𝘀𝘁𝗲 𝗣𝗿𝗼𝗷𝗲𝘁𝗼 é 𝗮𝗽𝗼𝗶𝗮𝗱𝗼 𝗽𝗲𝗹𝗼 𝗙𝗦𝗘+, 𝗣𝗲𝘀𝘀𝗼𝗮𝘀 𝟮𝟬𝟯𝟬, 𝗣𝗼𝗿𝘁𝘂𝗴𝗮𝗹 𝟮𝟬𝟯𝟬 𝗲 𝗣𝗲𝗹𝗮 𝗨𝗻𝗶ã𝗼 𝗘𝘂𝗿𝗼𝗽𝗲𝗶𝗮 “𝗢𝘀 𝗙𝘂𝗻𝗱𝗼𝘀 𝗘𝘂𝗿𝗼𝗽𝗲𝘂𝘀 𝗠𝗮𝗶𝘀 𝗣𝗿ó𝘅𝗶𝗺𝗼 𝗱𝗲 𝗦𝗶”.

Por:MT

Artigo de Sara Morais—ANSIEDADE EXISTENCIAL E A HIPNOTERAPIA

A natureza é caracterizada pela sua ciclicidade, lançamos uma semente na terra, esperamos que esta ganhe raízes para que possa germinar, crescer, florescer e morrer. Assim como as fases da lua, como o dia e a noite, como as marés…Há um ritmo inerente a tudo!  O Ser Humano como elemento natural faz parte,também, de um ciclo: nascer, viver e morrer. Durante este “viver”, o leitor cumpre a sua experiência através de uma ciclicidade de eventos como as guerras, pandemias, perdas de referências, crises económicas, afetos e desafetos, grandes e rápidas transformações sociais, doenças, mudanças de valores e comportamentos. Esta roda viva que é a vida favorece aquilo que se designa por ansiedade existencial.

A ansiedade existencial é caracterizada por uma angústia profunda alimentada pelas perguntas centrais da existência: “Quem sou eu?”, “Qual é o sentido da minha vida?”, “Como lidar com a morte e a finitude?”. Embora estas interrogações façam, naturalmente, parte da condição humana e possam impulsionar crescimento pessoal, também, quando persistem de modo recorrente ou intenso, compromete a saúde mental, pois pode criar sofrimento e favorecer o isolamento, assim como afetar o bem-estar, o sono, a motivação, relações inter e intra-pessoais, desencadear depressão ou bloqueios existenciais.

A hipnoterapia surge como uma ferramenta terapêutica que pode oferecer caminhos complementares para aliviar essa ansiedade existencial. Ao induzir um estado de relaxamento e de consciência, existe uma maior atenção e concentração e uma menor funcionalidade crística consciente o que permite a permeabilidade da mente. Neste seguimento, ao intervir na ansiedade existencial é possível trabalhar os valores pessoais, o sentido de vida, permite ao leitor entrar em contacto com o que verdadeiramente lhe é importante, assim como o que pode estar escondido ou esquecido. Esta primeira abordagem poderá aliviar o sentimento de vazio ou de desorientação existencial. Uma outra abordagem é o trabalho sobre a redução de medos profundos, como por exemplo: o medo da morte ou de morrer, medo do sofrimento ou isolamento. Neste âmbito, as técnicas utilizadas ajudam a enfrentar e as reprocessar esses medos. Ainda no modelo interventivo existem as imagens terapêuticas e metáforas que ajudam a trabalhar o sentimento de segurança e a reconciliação com o “eu”. Existe, também, práticas de auto-hipnose e auto cuidado que podem ser trabalhadas para que o leitor reúna as ferramentas necessárias para a auto regulação emocional.

Em conclusão, a hipnose não é uma “cura milagrosa”, não resolve todos os conflitos existenciais sobretudo se houver condições psiquiátricas graves associadas, ou se for utilizada sem acompanhamento. No entanto, aparece como uma intervenção promissora para aliviar a ansiedade existencial, através da facilitação de significado, redução do medo ou sofrimento, do uso de metáforas simbólicas e da criação de práticas de auto-hipnose, pode ajudar o leitor a encontrar maior sentido de vida, mais aceitação e menos angústia.

 

Sara Morais – Hipnoterapeuta

 

 

Artigo de opinião de Luís Miguel Condeço—Entre o desperdício e a fome

Dia 16 de outubro assinala-se o Dia Mundial da Alimentação, uma data que, mais do que evocativa, deverá ser um apelo à consciência coletiva. Instituído pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), este dia convida-nos a refletir sobre os desafios globais da alimentação. Nos países desenvolvidos, a atenção recai principalmente sobre a alimentação saudável e a sustentabilidade alimentar, procurando-se reduzir o consumo de produtos ultraprocessados (produzidos industrialmente e com alto teor de sal, açúcar e gorduras), valorizar a produção local e promover dietas amigas do ambiente. Mas enquanto discutimos a origem biológica de um tomate ou a redução da pegada de carbono da carne, há milhões de pessoas que continuam simplesmente a lutar pela sobrevivência.

Cerca de 673 milhões de pessoas estão em situação de fome no mundo, segundo o relatório mais recente da FAO (2024). E não se trata apenas de um dado estatístico, mas de um flagelo que destrói vidas, compromete futuros e mina comunidades inteiras. Entre as suas vítimas mais cruéis estão as crianças, que em muitos países chegam à escola com o estômago vazio e regressam a casa sem garantia de uma refeição. Em zonas de conflito, como Gaza, Sudão ou Iémen, a fome já foi classificada como “catástrofe”, traduzindo-se em milhares de mortes silenciosas, raramente mediáticas, mas devastadoras.

Este cenário contrasta violentamente com o que se passa nas sociedades desenvolvidas. Aqui, o problema não é a escassez, mas sim o excesso e o desperdício. Estima-se que um terço dos alimentos produzidos globalmente nunca seja consumido. Basta olhar para o nosso dia a dia: prateleiras cheias em supermercados, fruta descartada por imperfeições estéticas, refeições preparadas que expiram nas vitrinas e toneladas de sobras que nunca chegam a quem precisa. O desperdício é banalizado, invisível pela abundância, mas carrega consigo uma responsabilidade ética inegável.

A Direção-Geral da Saúde e outras entidades sublinham a importância de uma alimentação equilibrada, diversificada e sustentável, como parte essencial da saúde pública e da mitigação das alterações climáticas. Estas preocupações são legítimas e urgentes, precisamos de reconfigurar os nossos sistemas agroalimentares para produzir de forma mais eficiente, reduzir o impacto ambiental e proteger o futuro das próximas gerações. No entanto, não podemos cair na armadilha de acreditar que sustentabilidade é apenas um conceito associado à ecologia. Não existe sustentabilidade num mundo onde a fome persiste e mata.

O futuro da alimentação decide-se em várias frentes. Nos países mais desenvolvidos, passa por políticas de incentivo à produção local, educação alimentar e combate ao desperdício. Nos países menos desenvolvidos, exigem-se estratégias estruturais de combate à fome, reforço da agricultura familiar, acesso equitativo a mercados e apoio humanitário consistente. É urgente reconhecer que a alimentação saudável e a luta contra a fome fazem parte de um mesmo compromisso global.

Evocar o Dia Mundial da Alimentação deve servir para interpelar consciências. Não basta multiplicar campanhas sobre dietas equilibradas se não denunciarmos também a injustiça gritante de um planeta onde alguns contam calorias, enquanto outros contam migalhas. Cada cidadão pode ser parte da solução, reduzindo o desperdício em casa, valorizando os produtores locais, apoiando projetos solidários e exigindo aos decisores políticos que a fome seja tratada como prioridade absoluta da agenda internacional.

Entre o desperdício e a fome, ergue-se o maior paradoxo do nosso tempo. Como pode a humanidade, em pleno século XXI, ainda não ser capaz de garantir a todos o mais básico dos direitos, o direito a alimentar-se com dignidade.

Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

Saúde – Artigo de opinião- Vitamina B12 revelou-se um suporte essencial na gestão da dor neuropática

Dor neuropática é debilitante e afeta até 10% da população mundial

A dor neuropática é uma condição debilitante que afeta entre 6,9% e 10% da população geral[1], resultante de lesões ou disfunções no sistema nervoso. Trata-se de um dos maiores desafios clínicos na prática médica, com impacto significativo na qualidade de vida dos doentes. Apesar da sua complexidade, cresce a evidência científica que aponta para o papel fundamental da vitamina B12 no apoio à saúde neurológica e no alívio da dor[2]. Num contexto clínico cada vez mais atento aos fatores nutricionais como moduladores da dor, a vitamina B12 assume um papel central na abordagem multidisciplinar da dor neuropática.

A vitamina B12 é essencial para funções vitais do organismo, incluindo a produção de glóbulos vermelhos, a síntese de ADN (ácido desoxirribonucleico) e a manutenção da integridade do sistema nervoso[3]. A sua ligação à dor neuropática deve-se sobretudo ao papel central na produção de mielina – a camada protetora que envolve os nervos e assegura a correta transmissão dos impulsos nervosos. Quando os níveis de vitamina B12 são insuficientes, os nervos ficam mais expostos e vulneráveis a transmitir sinais de dor de forma anómala. Além disso, o défice pode desencadear processos inflamatórios e oxidativos que agravam os sintomas.

A deficiência desta vitamina pode, entre outros, manifestar-se em sinais como fadiga, alterações cognitivas, perturbações do humor e dor persistente. Está também associada ao aumento da homocisteína, um marcador inflamatório associado ao risco cardiovascular e neurológico, e à redução da produção de mielina, o que conduz a disfunções neurológicas, hiperexcitação do sistema nervoso e agravamento da dor. Se não for corrigido, o défice está também frequentemente associado a complicações mais graves, incluindo síndromes demenciais[4].

Por ser um fator corrigível, a suplementação com vitamina B12 representa uma oportunidade relevante no tratamento da dor neuropática. Estudos clínicos[5] demonstram que a administração desta vitamina pode regenerar fibras nervosas, reduzir a inflamação e aliviar a dor em diferentes condições, como neuropatia diabética, nevralgia do trigémio e dor lombar crónica. Num ensaio randomizado com doentes com lombalgia, a suplementação intramuscular reduziu em 87% a dor e em 82% a incapacidade funcional[6]. Adicionalmente, a vitamina B12 demonstrou propriedades anti-inflamatórias semelhantes às dos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs)4, promovendo analgesia de forma segura.

Segundo o Dr. Raul Marques Pereira, coordenador do Grupo de Estudos de Dor da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), “A vitamina B12 é essencial para a síntese de mielina e regeneração axonal, protegendo os nervos de danos. Atua na redução da homocisteína e modula neurotransmissores, contribuindo para o alívio da dor neuropática. A sua suplementação tem um efeito importante na função nervosa e na redução dos sintomas de neuropatia.”

A literatura científica sugere ainda que a vitamina B12 pode ter um efeito sinérgico quando associada a outras terapêuticas, como antidepressivos ou analgésicos opioides, aumentando a eficácia global do tratamento e permitindo reduzir doses elevadas dessas terapias. Além disso, a administração intramuscular tem-se mostrado segura, com efeitos adversos mínimos (como dor ou hematoma no local da injeção), reforçando a sua utilidade clínica quando bem indicada.[7].

O Dr. Raul Marques Pereira acrescenta ainda que “A vitamina B12 mostra maior eficácia em neuropatia causada por compressão nervosa, neuropatia diabética, pós-herpética e induzida por quimioterapia, especialmente com suplementação através de formas ativas de B12.”

Embora muitas vezes lembrada apenas pelo seu papel no metabolismo e na energia, a vitamina B12 desempenha um papel decisivo na integridade do sistema nervoso. O reconhecimento da sua importância, aliado a estratégias de diagnóstico precoce e suplementação adequada, pode tornar-se um passo fundamental no combate à dor neuropática e na melhoria da qualidade de vida dos doentes.

fonte:Recordati foto:DR

 

Artigo de opinião de Luís Miguel Condeço—Educação Assexuada

Em Portugal, a Educação Sexual é legalmente obrigatória desde 2009. No entanto, quem acompanha a realidade escolar percebe rapidamente que sua implementação é mais teórica do que prática, e mais desejada do que efetivamente realizada. Na maioria das escolas, tópicos relacionados à sexualidade, no seu sentido mais amplo e humano, aparecem esporadicamente, entre uma aula de ciências naturais e uma sessão pontual com um profissional de saúde. A sexualidade ainda é vista como um risco a evitar, e não como um direito a ser vivido. Essa é a grande contradição da Educação Sexual em Portugal: sendo um dever do Estado, permanece uma tarefa negligenciada.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a sexualidade é “um aspecto central do ser humano ao longo da vida”, influenciada por fatores biológicos, psicológicos, sociais, culturais, éticos e espirituais. Na escola portuguesa, essa centralidade frequentemente é negada, e a sexualidade permanece como um tema secundário, muitas vezes considerado desconfortável, sendo relegada a atividades extracurriculares ou a abordagens improvisadas na educação.

A Lei n.º 60/2009, de 6 de agosto, ainda vigente, determina que a Educação Sexual seja ensinada do 1.º ao 12.º ano, inserida na disciplina de Cidadania e Desenvolvimento (no 2º e 3º ciclos) ou por meio de projetos transversais. Contudo, e após mais de uma década depois da sua publicação, o Ministério da Educação admite que muitas escolas não cumprem totalmente a lei. Entre os obstáculos estão a falta de gabinetes de apoio ao aluno, recursos humanos insuficientes, escassez de tempo letivo ou espaço físico, além de equipas pedagógicas pouco preparadas e quase nenhum envolvimento de encarregados de educação.

Para além disso, a abordagem dominante continua excessivamente centrada na componente biológica da sexualidade: gravidez, infeções sexualmente transmissíveis, puberdade; descurando os afetos, os valores, a identidade, a igualdade de género, os direitos sexuais e reprodutivos, a intimidade, o prazer e a responsabilidade. A Educação Sexual é assim reduzida a uma lógica de prevenção do risco, muitas vezes enviesada por preconceitos, ausente de uma perspetiva emancipadora.

Manuel Damas, sexólogo português, afirma que “a sexualidade e os afetos são essenciais na formação do ser humano e as escolas têm uma função determinante na desconstrução de tabus e mitos”. De facto, mais do que ensinar a evitar riscos, a escola deve educar para viver, para compreender o corpo, respeitar o outro, assumir os desejos com responsabilidade, reconhecer a diversidade de identidades e expressões. A adolescência, com as suas descobertas e contradições, exige informação rigorosa, espaço para o diálogo e uma pedagogia dos afetos. Esconder a sexualidade é condenar os jovens à ignorância e à culpa.

Estudos e relatórios internacionais demonstram que os programas de Educação Sexual Compreensiva contribuem para o adiamento do início da vida sexual, redução do número de parceiros, maior uso de contracetivos, e talvez mais importante, para o desenvolvimento de relações mais saudáveis e menos violentas. Estes programas reconhecem a sexualidade como parte da dignidade humana e promovem atitudes mais inclusivas, diminuem a homofobia, a discriminação e a violência baseada no género.

A falta de um programa nacional bem estruturado, que seja substituído apenas por “orientações” e uma grande liberdade para cada escola, levará a uma grande disparidade na aplicação da lei. Contudo, poderemos contar com escolas que criam projetos sólidos, trabalhando em parceria com profissionais de saúde, organizações não governamentais e serviços comunitários.

Um exemplo de boa prática nesta área é o projeto “Devagar que tenho P®essa”, da Escola Superior de Saúde de Viseu, que promove a literacia em saúde sexual e afetos junto de alunos do ensino básico (2º e 3º ciclos), através de sessões educativas, formação de professores e materiais pedagógicos. Esta iniciativa preenche lacunas deixadas pelo sistema, mostrando como a escola pode, de facto, educar para a sexualidade de forma estruturada, respeitosa e transformadora.

É tempo de resgatar a dimensão pedagógica da sexualidade e afirmar o papel da escola como espaço de formação integral. Para isso, é urgente investir na formação dos professores, envolver os pais, criar equipas multidisciplinares efetivas, integrar os alunos nas decisões e garantir que todas as escolas do país, de forma sistemática e sustentada, assumam a Educação Sexual como prioridade. Não como um apêndice, mas como parte essencial da Educação para a Saúde, da Educação para os Direitos Humanos e, em última análise, da Educação para a Vida.

Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

Artigo de Opinião- “A Síndrome dos Ovários Poliquísticos não é uma sentença de infertilidade”

A Síndrome dos Ovários Poliquísticos (SOP) afeta entre 10% e 15% das mulheres em idade reprodutiva e está associada a alterações no ciclo menstrual, presença de múltiplos folículos nos ovários e, em muitos casos, a dificuldades em engravidar. Em vésperas do mês de consciencialização para esta doença, que se assinala em setembro, a Dra. Catarina Godinho, ginecologista e especialista em medicina da reprodução, destaca a importância de combater a desinformação e lembra que “a SOP não é uma sentença de infertilidade”. A médica frisa que, através de um diagnóstico precoce e acompanhamento adequado, muitas mulheres conseguem engravidar e ter uma gestação saudável.
Apesar de não ter cura, a SOP pode ser controlada. Esta é uma síndrome de origem hormonal e metabólica, com manifestações que variam de caso para caso. Os sintomas incluem ciclos menstruais irregulares, acne, crescimento de pelos em zonas típicas do corpo masculino e, em muitos casos, resistência à insulina e alterações no peso corporal. “O quadro clínico tende a surgir logo após a menarca, mas pode também manifestar-se mais tarde, sobretudo após um aumento de peso significativo. A condição é mais prevalente em mulheres com excesso de peso ou obesidade”, explica a vice-diretora do IVI Lisboa.
Segundo a Dra. Catarina Godinho, o diagnóstico precoce é essencial para controlar os sintomas, melhorar a qualidade de vida e avaliar o impacto potencial na fertilidade. Refere que “o diagnóstico da SOP assenta em critérios clínicos e laboratoriais definidos internacionalmente e inclui a avaliação da história menstrual, dos níveis hormonais, da morfologia dos ovários e da presença de sinais como hirsutismo ou acne severa”. A ecografia transvaginal, por exemplo, permite identificar o aspeto típico dos ovários com múltiplos folículos pequenos dispostos na periferia.
Fertilidade: verdades e mitos
A fertilidade é uma das principais preocupações para quem recebe o diagnóstico, e está rodeada de mitos. Um dos mais persistentes é a crença de que mulheres com SOP são inférteis. “Isso não é verdade. A SOP pode dificultar a ovulação, mas não impede a gravidez”, esclarece a Dra. Catarina Godinho. Apesar de a síndrome ser uma das principais causas de anovulação crónica, não significa que a mulher não possa engravidar. Contudo, poderá necessitar de mais tempo ou, em alguns casos, de apoio médico. “Muitas engravidam naturalmente, especialmente após mudanças no estilo de vida, como perda de peso, alimentação equilibrada e exercício físico regular. A redução de apenas 5% a 10% do peso corporal já pode ser suficiente para restaurar ciclos menstruais e melhorar significativamente a fertilidade”, esclarece a especialista.
Outro mito recorrente é o de que os contracetivos orais, usados frequentemente para controlar os sintomas da SOP, comprometem a fertilidade. Para a médica, esta crença não tem fundamento. “Os contracetivos ajudam a regular os ciclos menstruais e os níveis hormonais e proteger o endométrio, sem afetar negativamente a capacidade de engravidar após a sua interrupção”, explica.
No que se refere ao tratamento, a médica destaca que nem todos os casos exigem medicação complexa ou técnicas de fertilização in vitro. A escolha terapêutica depende dos sintomas e dos objetivos de cada mulher. Ou seja, “o tratamento da SOP deve ser sempre multidisciplinar, com abordagem clínica, apoio nutricional, acompanhamento psicológico e educação sobre a doença”.
A Dra. Catarina Godinho reforça ainda que, como a SOP não é exclusivamente um problema dos ovários, mas uma condição metabólica sistémica, frequentemente associada à resistência à insulina, há um aumento do risco de a mulher desenvolver doenças como diabetes tipo 2, hipertensão arterial e dislipidemia. Daí, a relevância de uma “abordagem que vá além da saúde reprodutiva e que contemple a prevenção de outras complicações de longo prazo”.
Para apoiar as mulheres no conhecimento da doença e no acesso a informação fiável, o IVI preparou um guia informativo que ajuda a desmistificar a SOP e a promover escolhas informadas. Saber mais sobre a síndrome é o primeiro passo para enfrentá-la com confiança e para reconhecer que, com o acompanhamento certo, o diagnóstico não é um obstáculo intransponível à maternidade.

Dra. Catarina Godinho 

ginecologista e especialista em medicina da reprodução. É vice-diretora do IVI Lisboa.

ULS Guarda – Obras de requalificação de três centros de saúde Guarda (S. Miguel), Celorico da Beira e Sabugal

Foram já publicados em Diário da República os avisos relativos a obras de requalificação de três centros de saúde da área de abrangência da ULS da Guarda: Guarda (S. Miguel), Celorico da Beira e Sabugal. O prazo para apresentação de propostas decorre até ao dia 4 de agosto de 2025.

A intervenção no Centro de Saúde do Sabugal prevê um investimento de 681.263,65 euros.

No Centro de Saúde de Celorico da Beira, o valor a investir ascende a 732.579,12 euros.

Quanto ao Centro de Saúde da Guarda – S. Miguel, o preço base da obra é de 358.225,88 euros, com um prazo de execução estimado de 66 dias.

Foi ainda publicada, na mesma data, a abertura do procedimento para a recuperação do edifício da sede da ULS Guarda, com um preço base de 2.971.922,75 euros e um prazo de execução de 300 dias.

Estes investimentos somam-se a muitos outros recentemente anunciados, permitindo a melhoria significativa das condições de prestação de cuidados de saúde, com mais conforto para utentes e profissionais.

A ULS da Guarda referiu que continua a investir e a crescer, sempre a pensar nos seus utentes.
Estas intervenções estão inseridas em candidaturas ao PRR – Plano de Recuperação e Resiliência e contam com o apoio das respetivas autarquias.

Foto:DR

EcoViver 2025 promove saúde e sustentabilidade em Viseu

O Parque Aquilino Ribeiro foi o palco da 1ª edição do EcoViver – Energia e Saúde em Movimento, um evento organizado pela Escola Superior de Saúde de Viseu
(ESSV), no âmbito do programa Eco-Escolas, em Co-organização com o Município de Viseu e outras entidades parceiras.

Com o objetivo de sensibilizar a comunidade para os desafios ambientais e de saúde pública, o evento decorreu ao longo da tarde com um programa diversificado que envolveu estudantes, docentes, não docentes e comunidade.

O evento arrancou pelas 14h30 com uma caminhada pela sustentabilidade e pela saúde, ligando a ESSV ao coração verde da cidade – o Parque Aquilino Ribeiro. A caminhada simbolizou o compromisso coletivo com estilos de vida ativos e com práticas amigas do ambiente.

A sessão de abertura contou com a presença da Vereadora do Município de Viseu Mara Almeida; do Pró- Presidente do IPV Joaquim Antunes; da Vice-Presidente da
ESSV Odete Amaral e de um dos Coordenadores do Eco-escolas da ESSV Nuno Mendes.

Um dos momentos altos do programa foi a apresentação “Vozes Jovens pela Sustentabilidade, protagonizada por jovens que moderaram o debate tendo os conferencistas abordado temas atuais como o impacto dos microplásticos (Marta Guimarães – Técnica de Saúde Ambiental na USP Viseu), o futuro das energias renováveis (Pedro Baila – Professor na ESTGV – IPV) e a poluição associada ao tabagismo (Inês Costa – Enfermeira Especialista – USP Viseu).

Seguiu-se uma tarde dinâmica com jogos pedagógicos como os “Eco-Detetives” e a “Corrida pela Água”, que mobilizaram os mais jovens em torno da proteção dos
recursos naturais. Paralelamente, os visitantes puderam explorar várias boticas temáticas (HalfArroba – Mercearia dos Sentidos, Livraria Libros&Libros, Arte da
Treta, Clube Zenith 68 e Pilates dinamizado pelo grupo de saúde Valebesteiros), e exposições sobre práticas sustentáveis, saúde e bem-estar.

O evento terminou pelas 18h30 com uma mensagem de agradecimento e um apelo à continuidade destas iniciativas que unem educação, cidadania e ambiente.

Neste dia tão especial, celebrámos em conjunto o Dia Mundial da Energia, o Dia Mundial sem Tabaco e o Dia da Criança — três datas que, embora distintas, se cruzam num ponto comum: o compromisso com o bem-estar das pessoas e do planeta.

Foto:DR

Artigo de Luís Miguel Condeço—–Candeia que vai à frente…

Há ditados populares que carregam verdades intemporais.

Apesar do gradual desaparecimento daquela luminária, que queimava lentamente as gorduras (como o azeite) e os hidrocarbonetos (como o petróleo), através da mecha, e que de uma forma geral o povo entendia que à frente alumiava duas vezes, lembra-nos do poder transformador de quem guia o caminho, iluminando não só a sua própria rota, mas também a de quem vem atrás. Esta visão luminosa, deve convidar todos a refletir sobre liderança, progresso e esperança, uma vez que vivemos “uma mudança de época” (como diria o Papa Francisco) política, religiosa e social.

Neste mês de maio, esta visão ganha um significado especial ao recordar o nascimento de Florence Nightingale. Esta mulher de sangue inglês, viu pela primeira vez a luz em Florença, no dia 12 de maio de 1820, sendo reconhecida anos mais tarde como a fundadora da enfermagem moderna. Embora passados mais de cento e cinquenta anos do choque bélico que a tornou célebre – a Guerra da Crimeia (já no século XIX em conflito armado), ainda hoje lhe reconhecemos a coragem e dedicação com que, cuidou de soldados feridos em condições precárias. Também ela munida de uma candeia, com a qual vigiada os doentes durante as noites, aliviando-lhes o sofrimento e a solidão.

O legado de Nightingale mudou para sempre a forma como vemos a enfermagem e a prestação de cuidados de saúde, transformando a prática de enfermagem numa atividade profissional, assente no conhecimento científico, com uma metodologia científica e voltada para a investigação, abandonando de vez, o cariz não profissional. A ênfase que colocou na higiene, na organização hospitalar e na formação de enfermeiras salvou inúmeras vidas e estabeleceu padrões seguidos até hoje. Não admira que, o dia do seu nascimento (12 de maio), tenha sido o escolhido para instituir o Dia Internacional do Enfermeiro, em sua homenagem, evocando o valor destes profissionais.

O Dia Internacional do Enfermeiro é uma oportunidade para valorizarmos quem, tal como Nightingale, se dedica ao cuidado do próximo. Em hospitais, centros de saúde e unidades de saúde familiares, lares e unidades de cuidados continuados, ou em muitos outros, os enfermeiros são candeias que iluminam “caminhos” difíceis, mesclando competências técnicas, relacionais, instrumentais, comunicacionais, científicas, e acima de tudo – humanas. É justo destacar o papel vital que desempenham nas nossas comunidades: estão na linha da frente do cuidado, desde a maior das instituições até ao mais pequeno dos serviços. Ao assinalarmos este dia, reforçamos a gratidão e o respeito por quem cuida, inspirando-nos no seu exemplo.

Mas a luz que guia não se limita à saúde. Também na esfera cívica e política precisamos de candeias que vão à frente, apontando caminhos de futuro. Portugal vive mudanças políticas significativas, com eleições legislativas que nos trará mais um ciclo governativo. Após momentos de incerteza, os portugueses irão às urnas e demonstrarão a vitalidade da nossa democracia. A forte participação e a serenidade do ato eleitoral foram sinais de maturidade, que passados cinquenta anos de voto livre (25 de abril de 1975), devem manter a chama da liberdade acesa, possibilitando ao povo escolher de forma pacífica e consciente.

Com uma nova legislatura, renova-se a esperança de que o país possa enfrentar os desafios com energia redobrada. Independentemente das cores partidárias, espera-se que prevaleça o compromisso com o bem comum. Apesar dos gigantescos desafios na saúde, educação e economia, há sempre a oportunidade de fazer melhor. As nossas populações anseiam pela promoção do desenvolvimento económico e social, e pela valorização dos serviços essenciais à comunidade.

Da enfermagem à governação, a lição é clara: a liderança pelo exemplo tem um efeito multiplicador. Florence Nightingale, com a sua “candeia”, iluminou mais do que os corredores de um hospital de campanha – abriu caminho para a dignificação do cuidar e para o desenvolvimento da saúde pública. Do mesmo modo, cada candeia que assume a dianteira – seja um enfermeiro proficiente, seja um governante comprometido – pode iluminar o porvir de todos.

“Candeia que vai à frente alumia duas vezes”: cada passo pioneiro beneficia tanto quem o dá como toda a comunidade que o segue. O futuro constrói-se com a confiança de quem leva a candeia e a determinação de quem segue essa luz.

Autor:

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

Artigo de opinião de Luís Miguel Condeço— O valor da saúde

Foi durante a criação da Organização das Nações Unidas, cedo se percebeu a necessidade de instituir um organismo internacional responsável pela saúde. De tal forma que, rapidamente o Comité Técnico nomeado pelo primeiro Secretário-Geral da ONU, o norueguês Trygve Halvdan Lie, elaborou e apresentou propostas para uma constituição, à Conferência Internacional da Saúde, que seria aprovada no ano de 1946 por 51 países membros e 10 países não membros.

Esperando cerca de dois anos pela ratificação de 26 dos países fundadores, a Constituição da Organização Mundial da Saúde entra em vigor no dia 7 de abril de 1948, sendo a data consensual para a fundação da organização.

E foi ao sétimo dia do mês de abril, em 1950, que se comemorou o primeiro Dia Mundial da Saúde, para apoiar e consciencializar prioridades à época como a malária, a saúde das mulheres e crianças, a tuberculose, as infeções sexualmente transmissíveis, a nutrição e a saúde ambiental. Com o passar dos anos, o trabalho da OMS ampliou-se para fazer face aos problemas de saúde que não eram sequer conhecidos em 1948, como as “novas” doenças – vírus da imunodeficiência humana, a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), ou o coronavírus 2 da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS-CoV-2).

Passados 75 anos da evocação deste dia, a OMS continua a destacar a importância da saúde materna e neonatal como pilares fundamentais para sociedades mais sustentáveis, prósperas e justas. No entanto, sabemos que a cada ano, aproximadamente 300 mil mulheres perdem a vida devido a complicações relacionadas com a gravidez ou o parto. E mais de 2 milhões de Recém-nascidos morrem no primeiro mês de vida, e outros milhões nascem sem ela. A cada 7 segundos contabilizamos uma morte, que poderia ser evitável.​

Os países enfrentam desafios significativos para alcançar as metas globais de sobrevivência materna até 2030, e 80% deles não conseguirão cumprir os objetivos estabelecidos. Este cenário sublinha a necessidade urgente de implementar estratégias eficazes que garantam a sobrevivência e o bem-estar de mães e recém-nascidos.​

É essencial garantir que todas as mulheres tenham acesso a cuidados de saúde de qualidade antes, durante e após o parto. E que não devem abranger apenas as complicações obstétricas, mas também as questões relativas à saúde mental, doenças não transmissíveis e planeamento familiar. Uma gravidez saudável e um parto seguro contribuem significativamente para a construção de comunidades mais saudáveis e resilientes, assegurando um futuro pleno de esperança para todos.

Em Portugal, o Dia Mundial da Saúde é uma oportunidade para reforçar as políticas e programas dedicados à saúde materna e neonatal. Iniciativas que promovem o acompanhamento pré-natal, o acesso a partos assistidos por profissionais qualificados e o apoio pós-parto são essenciais para reduzir a mortalidade materna e infantil. Além disso, a educação para a saúde reprodutiva e a promoção de estilos de vida saudáveis desempenham um papel crucial na prevenção de complicações durante a gravidez e o parto.​

Este ano, a OMS convida-nos a refletir sobre os avanços alcançados e os desafios que persistem na área da saúde reprodutiva e infantil. É um momento para renovar compromissos, mobilizar recursos e fortalecer colaborações entre instituições governamentais, organizações não-governamentais, profissionais de saúde e comunidades. Podemos trabalhar juntos, para um futuro onde cada nascimento seja um momento de comemoração e cada criança tenha a oportunidade de crescer saudável e feliz.​

A participação ativa da sociedade civil é fundamental para o sucesso das iniciativas no âmbito da saúde materna e neonatal. Ao promovermos a consciencialização sobre a importância dos cuidados pré e pós-natais, incentivamos as mulheres a procurarem os serviços de saúde disponíveis e a adotarem práticas benéficas para a sua saúde e a dos seus bebés. Comunidades informadas e envolvidas são mais capazes de apoiar as mulheres durante a gravidez e o pós-parto, criando redes de suporte que contribuem para melhores resultados de saúde.​

Ao assegurarmos “inícios saudáveis”, estamos a construir “futuros cheios de esperança”, onde cada indivíduo tem a oportunidade de alcançar o seu pleno potencial e contribuir para um mundo mais saudável e equitativo. É este o valor da Saúde!

Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu