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Artigo de Opinião- “A Síndrome dos Ovários Poliquísticos não é uma sentença de infertilidade”

A Síndrome dos Ovários Poliquísticos (SOP) afeta entre 10% e 15% das mulheres em idade reprodutiva e está associada a alterações no ciclo menstrual, presença de múltiplos folículos nos ovários e, em muitos casos, a dificuldades em engravidar. Em vésperas do mês de consciencialização para esta doença, que se assinala em setembro, a Dra. Catarina Godinho, ginecologista e especialista em medicina da reprodução, destaca a importância de combater a desinformação e lembra que “a SOP não é uma sentença de infertilidade”. A médica frisa que, através de um diagnóstico precoce e acompanhamento adequado, muitas mulheres conseguem engravidar e ter uma gestação saudável.
Apesar de não ter cura, a SOP pode ser controlada. Esta é uma síndrome de origem hormonal e metabólica, com manifestações que variam de caso para caso. Os sintomas incluem ciclos menstruais irregulares, acne, crescimento de pelos em zonas típicas do corpo masculino e, em muitos casos, resistência à insulina e alterações no peso corporal. “O quadro clínico tende a surgir logo após a menarca, mas pode também manifestar-se mais tarde, sobretudo após um aumento de peso significativo. A condição é mais prevalente em mulheres com excesso de peso ou obesidade”, explica a vice-diretora do IVI Lisboa.
Segundo a Dra. Catarina Godinho, o diagnóstico precoce é essencial para controlar os sintomas, melhorar a qualidade de vida e avaliar o impacto potencial na fertilidade. Refere que “o diagnóstico da SOP assenta em critérios clínicos e laboratoriais definidos internacionalmente e inclui a avaliação da história menstrual, dos níveis hormonais, da morfologia dos ovários e da presença de sinais como hirsutismo ou acne severa”. A ecografia transvaginal, por exemplo, permite identificar o aspeto típico dos ovários com múltiplos folículos pequenos dispostos na periferia.
Fertilidade: verdades e mitos
A fertilidade é uma das principais preocupações para quem recebe o diagnóstico, e está rodeada de mitos. Um dos mais persistentes é a crença de que mulheres com SOP são inférteis. “Isso não é verdade. A SOP pode dificultar a ovulação, mas não impede a gravidez”, esclarece a Dra. Catarina Godinho. Apesar de a síndrome ser uma das principais causas de anovulação crónica, não significa que a mulher não possa engravidar. Contudo, poderá necessitar de mais tempo ou, em alguns casos, de apoio médico. “Muitas engravidam naturalmente, especialmente após mudanças no estilo de vida, como perda de peso, alimentação equilibrada e exercício físico regular. A redução de apenas 5% a 10% do peso corporal já pode ser suficiente para restaurar ciclos menstruais e melhorar significativamente a fertilidade”, esclarece a especialista.
Outro mito recorrente é o de que os contracetivos orais, usados frequentemente para controlar os sintomas da SOP, comprometem a fertilidade. Para a médica, esta crença não tem fundamento. “Os contracetivos ajudam a regular os ciclos menstruais e os níveis hormonais e proteger o endométrio, sem afetar negativamente a capacidade de engravidar após a sua interrupção”, explica.
No que se refere ao tratamento, a médica destaca que nem todos os casos exigem medicação complexa ou técnicas de fertilização in vitro. A escolha terapêutica depende dos sintomas e dos objetivos de cada mulher. Ou seja, “o tratamento da SOP deve ser sempre multidisciplinar, com abordagem clínica, apoio nutricional, acompanhamento psicológico e educação sobre a doença”.
A Dra. Catarina Godinho reforça ainda que, como a SOP não é exclusivamente um problema dos ovários, mas uma condição metabólica sistémica, frequentemente associada à resistência à insulina, há um aumento do risco de a mulher desenvolver doenças como diabetes tipo 2, hipertensão arterial e dislipidemia. Daí, a relevância de uma “abordagem que vá além da saúde reprodutiva e que contemple a prevenção de outras complicações de longo prazo”.
Para apoiar as mulheres no conhecimento da doença e no acesso a informação fiável, o IVI preparou um guia informativo que ajuda a desmistificar a SOP e a promover escolhas informadas. Saber mais sobre a síndrome é o primeiro passo para enfrentá-la com confiança e para reconhecer que, com o acompanhamento certo, o diagnóstico não é um obstáculo intransponível à maternidade.

Dra. Catarina Godinho 

ginecologista e especialista em medicina da reprodução. É vice-diretora do IVI Lisboa.

Aguiar da Beira – Instalação de cabines de exterior de DAE

A morte por falência cardíaca é cada vez mais comum em todo o mundo. Desta forma, começou a ser implementado em vários locais o programa de Desfibrilhação Automática Externa (DAE), tendo-se revelado uma mais-valia na salvaguarda da saúde pública.
Assim, o Município de Aguiar da Beira pretende dotar determinados elementos, em locais mais movimentados, de formação e equipamento capazes de reverter determinadas situações.
Concluiram que seria uma mais-valia a instalação de duas cabines de exterior com o respetivo DAE: uma junto ao pavilhão e agrupamento de escolas, e outra junto das piscinas e estádio municipal. São locais de grande fluxo humano e onde é mais provável a ocorrência de acidentes do género. A par disso, ao serem de exterior, servem também a comunidade em geral, pois pretendem formar 24 elementos entre civis, funcionários municipais e elementos dos clubes desportivos.
Trata-se de uma medida concreta que promove a segurança da comunidade e aumenta significativamente a capacidade de resposta em caso de emergência.

Comunicado – USGUARDA/CGTP-IN da conferência em Seia

A DEFESA E REFORÇO DO SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE

O Programa visa aprofundar o enfraquecimento do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e a desresponsabilização do Estado, com a intensificação da promoção do negócio com a
doença que só beneficia os grupos privados da saúde – para quem é já canalizado mais de metade do orçamento do SNS -, e também da transferência de algumas competências para o chamado sector social. Esta política debilitou e debilitará ainda mais o SNS e colocará o sector privado e o sector social, que a Lei de Bases da Saúde – que o Governo pretende alterar – define como meramente supletivos, como substitutos ou pelo menos em pé de igualdade com o serviço público, naquilo que o Governo designa como “sistema de saúde”.

Ao invés de reforçar a resposta pública, o Programa prevê a reestruturação da gestão do SNS, reorganizando-o em Sistemas Locais de Saúde com a participação do sector
privado e social; um incremento sustentado das USF tipo B e alargamento das USF tipo C aos territórios com baixa cobertura de médico de família; realizar convenções com
médicos de família do sector social ou privado e contratualizar consultas de especialidade nesses sectores para cumprir tempos de espera; lançar mais novas Parcerias Público-Privadas em hospitais; um programa de saúde oral com unidades sociais e privadas de medicina dentária; reforço da rede de cuidados continuados e paliativos, incluindo através de novas Parcerias Público-Sociais.

Quanto aos investimentos que reforcem o Serviço Nacional de Saúde, verifica-se uma grande dependência do PRR, que até final de 2024 só estava executado em 20%.

Na ULS GUARDA é fundamental e urgente a requalificação do PAVILHÃO 1 DO HSM que o investimento necessário tem que ser contemplado no OE 2026, tendo em
conta o elevado valor do investimento necessário a rondar os 80 milhões na nossa apreciação comparativa com outras obras até agora realizadas. Apesar do anúncio
do CA de investimentos de mais de 8 milhões suportados no PRR, não contemplam o investimento na requalificação completa do sistema de ventilação/refrigeração no
HNSA e outros espaços físicos da ULS Guarda.

As propostas apresentadas no que diz respeito aos trabalhadores do sector falham em responder ao que é verdadeiramente essencial para garantir a sustentabilidade do SNS:
salário base digno, valorização das carreiras e melhoria efectiva das condições de trabalho. Por exemplo, a promessa de incentivos para a fixação de médicos de família em zonas carenciadas (benefícios salariais, habitação subsidiada, apoio familiar e acesso preferencial à formação) não resolve o problema central: a ausência de uma carreira médica atractiva e estável, bem como de condições estruturais adequadas em todo o país.

No ano que passou as fragilidades do SNS agravaram-se por ação e inação do Governo, mas o Programa não deixa de culpabilizar os imigrantes por essa degradação, o que,
além de ser falso, configura uma visão racista e xenófoba deste problema.

O SNS, conquista de Abril, é o instrumento que, apesar das insuficiências que urge colmatar, leva a saúde a todas as classes e camadas da população. Longe de ser um
“modelo esgotado”, o SNS precisa de mais investimento, de maior abrangência, quer de âmbito da intervenção e promoção da saúde, quer em termos territoriais, precisa de ter os seus trabalhadores valorizados.

A CGTP-IN exige e lutará pelo cumprimento da actual Lei de Bases da Saúde e pela garantia do direito à saúde liberto da lógica do lucro para a qual o Governo o quer
remeter.

Não há uma única linha sobre contratação ou de um Plano com esse objetivo de curto, médio e longo prazo.

Não apresenta medidas para a retenção de enfermeiros, médicos e outros trabalhadores.

Fala em flexibilizar horários sem qualquer concretização

Em 2024 mais de metade do orçamento do SNS foi transferido para o sector privado, num total de 8,4 mil milhões de euros. A desresponsabilização do Estado prossegue também com a transferência de facto de algumas competências para o sector social, devendo estes dois sectores ser meramente supletivos da acção do Estado – tal como define a Lei de Bases da Saúde – e não ser substitutos ou estar em concorrência e\ou igualdade com o público. A CGTP-IN defende o reforço do SNS, pelo que considera prioritário:
1. Exigência imediata de aprovação do PDO/mapa de Pessoal para 2025 que permita a contratação para as necessidades permanentes e transitórias de todos
os trabalhadores necessários na ULS Guarda;
2. A valorização dos salários e carreiras de todos os trabalhadores do SNS e o fim da precariedade e subcontratação, regularizando os vínculos que correspondam a necessidades permanentes e aplicando as 35h a todos os trabalhadores;
Mantém-se a nossa exigência de consagrar um regime de dedicação exclusiva voluntária remunerada (acréscimos de 50% sobre o salário base).
3.  Uma política de financiamento que responda às necessidades dos serviços, impedindo o seu encerramento, a eliminação de todas as taxas moderadoras e a
autonomia das unidades de saúde, totalmente públicas, que possibilite uma gestão eficaz, nomeadamente a contratação de profissionais para 2026 sem autorização prévia de autorização ministerial ou outra, ou seja fomentando uma verdadeira autonomia administrativa e financeira do CA da ULS Guarda;
4. Uma aposta clara na melhoria e na universalidade dos cuidados de saúde primários no quadro do SNS, tendo por base a promoção da saúde e prevenção
da doença;
5. O fim das parcerias público-privadas e da compra de serviços a privados (outsourcing), uma vez que tem relevada repercussão do parco orçamento da nossa ULS Guarda;

6.  O fim do processo de transferência de competências para as autarquias do qual resultará o agravamento das desigualdades regionais;
7. O alargamento da rede pública de cuidados continuados e paliativos;
8. A alteração da regulamentação do estatuto do Serviço Nacional de Saúde, de modo a reflectir os conteúdos mais progressistas da nova Lei de Bases de Saúde
e priorizar a implementação dos sistemas locais de saúde.

Cruz Vermelha reforça apelo à solidariedade de todos para fazer face ao aumento do custo dos bens essenciais

A Cruz Vermelha Portuguesa (CVP) continua até ao próximo dia 26 de julho com a campanha “Vale +”, procurando mobilizar a população para a doação de bens essenciais e donativos para apoio a famílias em situações de maior fragilidade, sobretudo considerando que o valor do cabaz alimentar aumentou significativamente (fonte DECO PROteste).
Este aumento do custo dos bens essenciais que afeta toda a população, terá ainda mais impacto em pessoas com vínculo laboral como desempregados, mas também agregados familiares em situação de maior vulnerabilidade, nomeadamente famílias monoparentais e numerosas, que não conseguem fazer face às despesas mensais.
Perante esta realidade, a CVP apela à solidariedade de todos através de donativos, pois um pequeno gesto pode representar uma diferença significativa na vida de quem mais precisa.
A Campanha “Vale +”, atualmente presente em 281 superfícies comerciais de todo o país (Pingo Doce, El Corte Inglés e Auchan), pretende dar resposta ao volume dos pedidos de apoio social, que tem vindo a aumentar, em particular no acesso a bens alimentares e de primeira necessidade, como produtos de higiene.

Artigo de opinião – Dia Mundial do Cérebro-Por Inês Laranjinha

Estimar e estimular o cérebro em todas as idades para prevenir o AVC e proteger a saúde cerebral

O cérebro é o órgão mais fascinante do nosso corpo. Controla as funções vitais, comanda o funcionamento de todos os outros órgãos e é capaz de adaptações a mudanças das condições de nós próprios e do meio à nossa volta. É também o maestro do que nos torna seres únicos e conscientes: define a nossa personalidade, comportamento, emoções e memórias.

Quando parte do cérebro sofre uma lesão, seja por uma doença aguda como o AVC, seja por uma doença crónica como a demência, perdem-se milhões de células (neurónios). As sequelas destas doenças neurológicas incluem défices de força, sensibilidade, coordenação e cognitivas. Podem ser devastadoras com repercussão importante no quotidiano dos doentes; infelizmente, nem todas estas sequelas são recuperáveis com reabilitação.

Em particular, as falhas cognitivas – de memória, raciocínio, comportamento e personalidade – têm um impacto quer no doente, quer na sua família e cuidadores, porque cursam com frequência com maior dependência no dia a dia e alteração da identidade própria. A deterioração cognitiva progressiva que caracteriza a demência leva a perda de autonomia da pessoa, com consequências sociais, emocionais e económicas.

O foco deve ser, por isso, na prevenção do dano cerebral. Para minimizar o risco de AVC, doenças como a hipertensão arterial, diabetes, colesterol elevado, tabaco e consumo excessivo de álcool devem ser evitadas e corrigidas.

Em relação à demência, sabia que quase metade do risco é modificável? Desde a infância (baixa escolaridade), à idade adulta (sedentarismo, diminuição de audição e as doenças que aumentam o risco de AVC) até à terceira idade (isolamento social e diminuição de visão), há forma de cuidar da saúde cerebral em cada faixa etária.

Assim, importa conhecer as medidas ao alcance de cada um de nós:
· Infância: incentivar a escolaridade;
· Adultos: estimular atividade física regular, corrigir falta de audição e tratar doenças cardiovasculares;
· Idosos: promover socialização e corrigir falta de visão.

Hoje, 22 de Julho, celebra-se o Dia Mundial do Cérebro, este ano com o tema “Brain Health for all Ages” – “Saúde do Cérebro para todas as idades”. Vamos, então, estimar a saúde do nosso cérebro, em todos os momentos da nossa vida, para tornar cada um deles memorável.

Dr.ª Inês Laranjinha
Neurologista na ULS Santo António
Em representação da Sociedade Portuguesa do AVC

Artigo de Luís Miguel Condeço—O lado certo da guerra

Da Guarda a Beja, dista (em linha reta) sensivelmente o mesmo, que de Gaza ao país europeu mais próximo (Chipre). Este conflito, infelizmente também é nosso, como a guerra na Ucrânia! E ainda há poucas semanas, se evidenciava a mortandade dos dois conflitos, ultrapassando o milhão e meio de vítimas (mortos e feridos). E na Europa, a história vai-se repetindo com muito frequência e amplitude.

Há pouco mais de século e meio (24 de junho de 1859), a violência das guerras atingia níveis sem precedentes. No norte de Itália, o empresário suíço Jean‑Henri Dunant acabado de chegar a Castiglione delle Stiviere, foi surpreendido pela sangrenta batalha de Solferino, confronto brutal entre exércitos austríacos e franco‑sardos que durou aproximadamente nove horas. Acredita-se que o número de feridos e mortos, ultrapassou os 40 000 soldados, que nos dias seguintes chegaram a Castiglione, transformando a localidade num hospital improvisado. Os residentes esforçavam-se por ajudar os feridos da batalha, e Dunant colaborava nesse esforço, impressionando-o os cuidados prestados pelas mulheres da vila a soldados aliados e inimigos, não olhando à farda que envergavam. Esse esforço espontâneo inspirou‑o a escrever Un souvenir de Solférino, em que sublinhou a urgente necessidade de criar uma associação permanente para cuidar dos feridos em tempos de paz e guerra.

De facto, a batalha de Solferino deu origem a um movimento global de ajuda humanitária e à regulamentação da proteção dos feridos e dos civis em guerra.

Em 1863, Dunant reuniu‑se com diversas personalidades e representantes de dezasseis estados europeus em Genebra, criando o Comité Internacional das Sociedades de Ajuda aos Feridos, antecessor do Comité Internacional da Cruz Vermelha. No ano seguinte (1864), realizou‑se a conferência diplomática que originou a Primeira Convenção de Genebra, intitulada “Sobre a melhoria do destino dos militares feridos em campanha”. Nesta convenção, assinada por doze países (incluindo Portugal), surgiu pela primeira vez o símbolo que conhecemos hoje, a cruz vermelha sobre fundo branco, que deveria ser utilizada pelos membros do Comité.

 

O símbolo da Cruz Vermelha (e, mais tarde, do Crescente Vermelho e do Cristal Vermelho) tornou‑se um farol de esperança em campos de batalha, sob a proteção jurídica das convenções. Os emblemas identificam quem está exclusivamente ao serviço da humanidade, e quem deve permanecer intocados pelo conflito.

As Convenções de Genebra estabeleceram normas básicas do Direito Internacional Humanitário, como o tratamento sem discriminação de feridos e dos doentes, a proteção dos hospitais e dos profissionais, e o respeito pela neutralidade médica. Foram adotadas mais três convenções (1906, 1929, 1949), que estenderam a proteção aos náufragos, regularam os direitos e o tratamento dos prisioneiros de guerra e introduziram proteções explícitas para civis. Os protocolos de 1977 e de 2005 adaptaram o Direito Humanitário a conflitos armados não‑internacionais e introduziram símbolos alternativos com o mesmo valor legal.

O Comité Internacional da Cruz Vermelha, formalizado em 1876, assume o papel de guardião destas convenções. Conjuntamente com o Crescente Vermelho agrupa 191 sociedades nacionais e mobiliza cerca de 80 milhões de pessoas, reafirmando-se como organismo “neutro, imparcial e independente”. Atua exclusivamente com base no Direito Humanitário, promovendo o respeito por estas normas, visitando detidos e prisioneiros, prestando cuidados médicos diretamente em zonas de conflito e instaurando diálogo diplomático quando necessárias negociações para permitir ajuda humanitária.

O impacto destas conquistas não se limitou a legislações ou a símbolos, a Cruz Vermelha foi laureada com o Prémio Nobel da Paz por três vezes (1917, 1944 e 1963), reconhecendo a sua ação vital durante as guerras mundiais e ao longo de um século de intervenção humanitária. Assim como, o seu fundador Jean-Henri Dunant (juntamente com Frédéric Passy), recebeu o primeiro Prémio Nobel da Paz em 1901.

Hoje, vemos ataques a estruturas e instalações prestadoras de cuidados de saúde, sequestros e mortes de profissionais de saúde, ou bloqueios de ajuda humanitária, e nunca é de mais referir a importância dos princípios inerentes ao Direito Internacional Humanitário. Reafirmar o legado de Dunant e das Convenções é insistir que, mesmo na guerra, há regras. E as regras existem para salvar vidas. Este é o lado certo da guerra.

Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

 

25.º Aniversário da VMER da Guarda

Foram celebrados os 25 anos de dedicação, prontidão e serviço à comunidade! A Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) da Guarda assinala um quarto de século ao serviço da vida.
A data foi marcada com a inauguração de uma mostra fotográfica no átrio da Consulta Externa, disponível até ao final do mês — um tributo visual a todos os momentos vividos por esta equipa incansável.
Durante a sessão comemorativa, a Presidente do Conselho de Administração da ULS da Guarda, Rita Figueiredo, reafirmou a urgência de reforçar os meios ao dispor da VMER, com a reivindicação junto da tutela de novas viaturas de emergência médica.
Esta necessidade foi igualmente destacada pelo Diretor Clínico, Nuno Sousa, e pelos coordenadores da VMER, Pedro Ventura e Honorato Robalo, que enalteceram o compromisso contínuo de toda a equipa em prestar cuidados de excelência.

Foto:DR

Artigo de opinião – Dia Mundial do Ritmo Cardíaco assinalado-Fibrilhação Auricular

Fibrilhação Auricular: A doença silenciosa responsável por um terço dos AVC em Portugal

O coração pode, por vezes, apresentar alterações na sua atividade elétrica, originando o que chamamos de arritmia. A mais comum e clinicamente relevante é a fibrilhação auricular (FA).

Nesta condição, o coração bate de forma irregular e descoordenada, especialmente nas aurículas (as cavidades superiores do coração), que deixam de contrair de forma eficaz. Isso favorece a formação de coágulos no interior do coração, que podem ser libertados para a circulação e causar a obstrução de uma artéria. A consequência mais grave é o acidente vascular cerebral (AVC) isquémico, causado pela interrupção do fluxo sanguíneo a uma parte do cérebro.

A FA é uma doença frequente: afeta cerca de 2,5% da população portuguesa com mais de 40 anos e mais de 6% acima dos 60 anos. Esta arritmia aumenta em cinco vezes o risco de AVC isquémico e é responsável por cerca de um terço dos AVCs em Portugal. Além disso, os AVCs associados à FA são habitualmente mais graves, com maior risco de incapacidade permanente ou morte.

A FA também está associada a outras complicações graves, como a insuficiência cardíaca e a demência.

Entre os principais fatores de risco para o desenvolvimento de FA encontram-se: envelhecimento, hipertensão arterial, diabetes, obesidade, apneia do sono, doenças cardíacas, tabagismo e consumo excessivo de álcool, entre outros.

Em muitos casos, a FA é assintomática. Quando se manifesta, pode provocar palpitações (sensação de batimento acelerado ou irregular), tonturas, cansaço ou até desmaios. O diagnóstico requer a realização de um electrocardiograma (ECG) ou Holter-ECG (registo contínuo durante 24 horas).

Após o diagnóstico, na maioria dos casos é recomendada a toma de anticoagulantes para reduzir o risco de AVC. Existem também medicamentos e procedimentos minimamente invasivos que ajudam a controlar os sintomas e a prevenir complicações.

A adoção de um estilo de vida saudável e o controlo dos fatores de risco vascular são fundamentais para prevenir o aparecimento da FA. Em caso de sintomas, procure avaliação médica. Se lhe for prescrito um anticoagulante, não interrompa a terapêutica sem indicação médica.

Prof. João Pedro Marto
Neurologista na ULS Lisboa Ocidental e membro da Sociedade Portuguesa do AVC

Composição do XXV Governo Constitucional

Foi assim divulgada a lista completa de Ministros que compõem o novo Governo de Portugal, liderado por Luís Montenegro, como Primeiro-Ministro.

Este novo organograma, surge com algumas caras novas e assim fica aqui a sua composição:

-Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros: Paulo Rangel
-Ministro de Estado e das Finanças: Joaquim Miranda Sarmento
-Ministro da Presidência: Leitão Amaro
-Ministro da Economia e da Coesão Territorial: Manuel Castro Almeida
-Ministro Adjunto e da Reforma do Estado: Gonçalo Matias
-Ministro dos Assuntos Parlamentares: Carlos Abreu Amorim
-Ministro da Defesa Nacional: Nuno Melo
-Ministro das Infraestruturas e Habitação: Miguel Pinto Luz
-Ministra da Justiça: Rita Alarcão Júdice
-Ministra da Administração Interna: Maria Lúcia da Conceição Abrantes Amaral
-Ministro da Educação, Ciência e Inovação: Fernando Alexandre
-Ministra da Saúde: Ana Paula Martins
-Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social: Maria Palma Ramalho
-Ministra do Ambiente e Energia: Maria da Graça Carvalho
-Ministra da Cultura, Juventude e Desporto: Margarida Balseiro Lopes
-Ministro da Agricultura e Mar: José Manuel Fernandes

Artigo de Luís Miguel Condeço—–Candeia que vai à frente…

Há ditados populares que carregam verdades intemporais.

Apesar do gradual desaparecimento daquela luminária, que queimava lentamente as gorduras (como o azeite) e os hidrocarbonetos (como o petróleo), através da mecha, e que de uma forma geral o povo entendia que à frente alumiava duas vezes, lembra-nos do poder transformador de quem guia o caminho, iluminando não só a sua própria rota, mas também a de quem vem atrás. Esta visão luminosa, deve convidar todos a refletir sobre liderança, progresso e esperança, uma vez que vivemos “uma mudança de época” (como diria o Papa Francisco) política, religiosa e social.

Neste mês de maio, esta visão ganha um significado especial ao recordar o nascimento de Florence Nightingale. Esta mulher de sangue inglês, viu pela primeira vez a luz em Florença, no dia 12 de maio de 1820, sendo reconhecida anos mais tarde como a fundadora da enfermagem moderna. Embora passados mais de cento e cinquenta anos do choque bélico que a tornou célebre – a Guerra da Crimeia (já no século XIX em conflito armado), ainda hoje lhe reconhecemos a coragem e dedicação com que, cuidou de soldados feridos em condições precárias. Também ela munida de uma candeia, com a qual vigiada os doentes durante as noites, aliviando-lhes o sofrimento e a solidão.

O legado de Nightingale mudou para sempre a forma como vemos a enfermagem e a prestação de cuidados de saúde, transformando a prática de enfermagem numa atividade profissional, assente no conhecimento científico, com uma metodologia científica e voltada para a investigação, abandonando de vez, o cariz não profissional. A ênfase que colocou na higiene, na organização hospitalar e na formação de enfermeiras salvou inúmeras vidas e estabeleceu padrões seguidos até hoje. Não admira que, o dia do seu nascimento (12 de maio), tenha sido o escolhido para instituir o Dia Internacional do Enfermeiro, em sua homenagem, evocando o valor destes profissionais.

O Dia Internacional do Enfermeiro é uma oportunidade para valorizarmos quem, tal como Nightingale, se dedica ao cuidado do próximo. Em hospitais, centros de saúde e unidades de saúde familiares, lares e unidades de cuidados continuados, ou em muitos outros, os enfermeiros são candeias que iluminam “caminhos” difíceis, mesclando competências técnicas, relacionais, instrumentais, comunicacionais, científicas, e acima de tudo – humanas. É justo destacar o papel vital que desempenham nas nossas comunidades: estão na linha da frente do cuidado, desde a maior das instituições até ao mais pequeno dos serviços. Ao assinalarmos este dia, reforçamos a gratidão e o respeito por quem cuida, inspirando-nos no seu exemplo.

Mas a luz que guia não se limita à saúde. Também na esfera cívica e política precisamos de candeias que vão à frente, apontando caminhos de futuro. Portugal vive mudanças políticas significativas, com eleições legislativas que nos trará mais um ciclo governativo. Após momentos de incerteza, os portugueses irão às urnas e demonstrarão a vitalidade da nossa democracia. A forte participação e a serenidade do ato eleitoral foram sinais de maturidade, que passados cinquenta anos de voto livre (25 de abril de 1975), devem manter a chama da liberdade acesa, possibilitando ao povo escolher de forma pacífica e consciente.

Com uma nova legislatura, renova-se a esperança de que o país possa enfrentar os desafios com energia redobrada. Independentemente das cores partidárias, espera-se que prevaleça o compromisso com o bem comum. Apesar dos gigantescos desafios na saúde, educação e economia, há sempre a oportunidade de fazer melhor. As nossas populações anseiam pela promoção do desenvolvimento económico e social, e pela valorização dos serviços essenciais à comunidade.

Da enfermagem à governação, a lição é clara: a liderança pelo exemplo tem um efeito multiplicador. Florence Nightingale, com a sua “candeia”, iluminou mais do que os corredores de um hospital de campanha – abriu caminho para a dignificação do cuidar e para o desenvolvimento da saúde pública. Do mesmo modo, cada candeia que assume a dianteira – seja um enfermeiro proficiente, seja um governante comprometido – pode iluminar o porvir de todos.

“Candeia que vai à frente alumia duas vezes”: cada passo pioneiro beneficia tanto quem o dá como toda a comunidade que o segue. O futuro constrói-se com a confiança de quem leva a candeia e a determinação de quem segue essa luz.

Autor:

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu