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Artigo de opinião de Augusto Falcão—-O que eu não quero

Acabou o mês de setembro, e por lógica, a época de incêndios rurais, ficando ainda na incógnita o que o mês de outubro nos possa trazer.

Na nossa memória coletiva ficam para trás a horrível semana em que vimos parte do País a arder, em especial nas zonas de Viseu e Aveiro.

Vimos no conforto do nosso sofá as televisões a bombardear-nos com reportagens infinitas, diretos da frente de fogo.

Vimos no conforto do nosso sofá, milhares de comentadores que opinam sobre tudo e mais que possa vir, num exercício de “tudologia” e “achisimos” disfarçados na legenda de “especialista sobre …”

Depois soubemos que afinal, tudo se repetiu da mesma forma de 2017 mas graças a algum poder divino ou ao esforço de alguns, aliados à resiliência das populações afetadas, ardeu muito em pouco tempo e que houve vítimas mortais.

Tal como em 2017, morreram pessoas que até aquela data eram incógnitas, mas que por acaso do destino, a tentar proteger o que era seu, ou a fugir acabaram por sucumbir as “mãos” do fogo.

Entre essas vítimas, a quem todos nós devemos o maior respeito, estavam 4 bombeiros. E embora todas as 9 vítimas (quando escrevo estas palavras é esse o balanço oficial) mereçam o meu respeito de forma igual, sinto a morte dos 4 bombeiros de forma diferente.

Sou bombeiro com orgulho. Desde tenra idade ia pela mão do meu Pai, ao quartel de Bombeiros, que me viu nascer para esta vocação, e onde o meu pai também era bombeiro.

As pessoas que me abordam dizem que é preciso coragem para fazer o que nós fazemos todos os dias; entrar num veículo, e “correr” de encontro ao fogo, quando os outros todos fogem; a coragem, não é a ausência de medo, mas a capacidade de algo fazermos apesar desse medo.

Talvez seja essa a nossa coragem; ou talvez não… dentro de cada um de nós, brota essa coragem para na “hora H” nós ajamos apesar de estarmos cheios de medo.

A morte, dizem os mais sábios, é parte da nossa vida; sim, é verdade, mas quando essa parte da vida, acontece no cumprimento de um dever, quando pagamos o preço supremo desse dever, a morte torna-se dolorosa. Para quem, como eu, vive esse estado de coragem tão “sui generis”.

Claro que há sempre alguém, ou alguns que pode dizer que faz parte da vida dos bombeiros morrer em serviço; claro que sim, tal como faz parte da vida desses comentadeiros, levarem para casa uns desaforos.

A vida de certos profissionais torna-os mais apetecíveis à morte, mas isso não significa que eles tenham de pagar esse preço;

Durante a semana que passou, toda a gente, se desdobrou em homenagens aos bombeiros, pelo seu sacrifício, pelo seu altruísmo, pela sua abnegação. Pelo fim da vida de 4 irmãos meus na linha da frente.

Os políticos esses então, desdobraram-se em declarações imensas, sobre esses trágicos acidentes, dizendo que depois iriam pedir responsabilidades e que se tinha que fazer reflexões. Palavras ditas e reditas depois de Pedrógão, depois dos fogos de outubro de 2017.

Desde então, nós bombeiros, fizemos um sem número de serviços; de intervenções; lutamos mais uma vez contra o fogo, ano após ano…

E quando foi votado na Assembleia da República uma proposta de lei depara reconhecer os bombeiros como profissão de desgaste rápido, e para poderem ter acesso à reforma antecipada, o projeto é reprovado, com os votos contra do PS, abstenção do PSD, e os votos a favor do Chega do Bloco de Esquerda.

Não quero ser herói durante uma semana, e não quero, se eu cair em serviço, um funeral com bandas, políticos manhosos, bandeiras ou medalhas. Não quero agradecimentos de circunstância, somente porque é bonito momento.

Quero saber que um dia, se eu cair em serviço, o meu filho e a minha mulher não ficarão desamparados; quero que o meu sacrifício, não seja levado pelo vento; apenas quero ter a merecida dignidade que os políticos apregoam que eu tenho, mas depois não ma concedem…. Coisas simples de se pedir e se calhar de se ter, desde que haja vontade por parte dos manhosos que tudo apregoam, mas depois nada muda.

Sou bombeiro…

 

Augusto Falcão

 

Artigo de Augusto Falcão—O Verão está a acabar

Este mês gostaria de vos falar de duas coisas, sendo que uma é um mero apontamento que ficará ao critério de quem de direito resolver ou manter como está.

Há umas noites atrás, pernoitou em minha casa, um amiguinho de futebol do meu filho; jantamos fora de casa, e depois como as crianças precisam de perder e gastar as energias, decidimos ir dar um passeio.

A noite estava agradável, e por essa razão fomos até ao jardim municipal, onde poderia haver mais iluminação pública no interior do referido jardim.

No entanto, decidimos depois ir ao parque junto à GNR, para que os dois miúdos pudessem brincar um pouco.

Afinal nesse mesmo espaço, apenas o campo de futebol tem iluminação ficando o resto do local totalmente às escuras.

Claro que viemos embora, aproveitando a subida para casa para que os miúdos pudessem desagastar mais um pouco de energia.

Não achem que isto é uma crítica, declaradamente destrutiva; pelo contrário, há apenas um apontamento e um pedido para que a situação se possa resolver o mais depressa possível.

O Verão, está a acabar; esse tempo de calor, tempo seco e incêndios na nossa floresta, está a acabar; o setembro é esse mês a que nos habituamos a ser o final do verão.

Este foi particularmente calmo, até agora, em matéria de fogos florestais no continente; tivemos alguns incêndios, alguns no nosso concelho, mas nada que extravasasse o habitual.

Mas nestes últimos dias, estivemos a assistir ao dantesco cenário da Madeira; um incêndio que durou 12 dias, onde se falou das férias do Presidente e do Secretário da PC, da falta de meios aéreos da Madeira, de locais sem acesso, da floresta desordenada.

Mais uma vez voltamos a dizer esses chavões que é a Prevenção primeiro, mas depois acabando o evento, esquecemos os chavões que, mais uma vez, foram ditos e reditos pelos nossos dirigentes e voltamos a esquecer a prevenção estrutural, o ordenamento da floresta, e um plano de intervenção real, e acima de tudo, com o menos burocracia possível, para em caso de incidente, poder-se atuar o mais celeremente possível, de forma a que o combate, esse sim, o último pilar da defesa da nossa floresta, seja sempre o último.

Porque já foi dito, redito e mais que redito, que sem prevenção e ordenamento não nos iremos livrar desse flagelo que é são os incêndios rurais.

Um bom setembro a todas as pessoas que me leram.

Augusto Falcão

Artigo de Luís Miguel Condeço–Urge urgências

 

 

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

 

As notícias das últimas semanas têm deixado mães e pais assustados, por isso tentei perceber o que de facto significa uma urgência, mas a busca pelo étimo latino deixou-me ainda mais baralhado. Contudo, alguns famosos dicionários definem urgência como algo que é urgente (!), ou uma situação de urgência ou de emergência, ou ainda uma ação indispensável e imprescindível.

Na última segunda-feira do mês de agosto, em Portugal Continental tínhamos várias urgências, ou melhor, serviços de atendimento de pessoas com situações de doença urgente ou emergente, que se encontravam encerrados (sem resposta) ou com condicionamentos (horário reduzidos ou com necessário encaminhamento). Para as pessoas adultos que necessitavam de uma Urgência Geral, 4 destes serviços estavam condicionados. Para as mulheres grávidas que necessitavam de observação em contexto hospitalar, tinham 3 serviços encerrados e 6 condicionados. Já as crianças e adolescentes não poderiam recorrer a um dos serviços continentais (encerrado), mas poderiam fazê-lo com alguma dificuldade a 10 deles que estavam condicionados. Perspetiva assustadora!

No ano em que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) comemora os seus 45 anos de existência (já no próximo dia 15 de setembro), ao longo dos quais sempre procurou “de forma articulada e sob direcção unificada, gestão descentralizada e democrática, a prestação de cuidados de saúde globais a toda a população”, estarão os cuidados de saúde hospitalares a ficar à margem deste ideal plasmado na Lei de Bases da Saúde?

Na última década o desgaste e falta de investimento no SNS, tem sido notório mesmo para o mais distraído dos portugueses. A baixa taxa de enfermeiros per capita (segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), os milhares de cidadãos sem médico de família, a difícil redução das listas de espera cirúrgica (apesar das inúmeras cirúrgicas a pessoas com doença oncológica nos últimos meses), as precárias condições de trabalho e a fraca atratividade do setor público da saúde, tem provocado uma “migração” massiva para o setor privado.

Nos distritos do interior do “nosso” território, as unidades hospitalares privadas têm-se disseminado e crescido, quer em colaboradores como nas valências disponibilizadas aos “seus” clientes, é a economia em “tempo real” – a procura faz aumentar a oferta.

Há 45 anos, António Arnaut “sonhava” com um SNS aberto a todos e para todos, tendencialmente gratuito, que prestasse cuidados de saúde globais e ajustados a cada população e comunidade. Mas o paradigma tem mudado. Resta saber se os nossos concidadãos, parcos de recursos económicos, conseguem satisfazer as suas necessidades em cuidados de saúde.

Acredito que para a governação da tutela (da saúde), não se avistam bonanças, apenas longos meses de tempestade, com um início de inverno semelhante ao do ano passado (com greves, recusas a mais horas extraordinárias e o aumento exponencial de episódios de urgência, como é costume nesta época sazonal).

Para os menos informados, recomenda-se uma visita ao portal da internet do SNS quando necessário (e espera-se que seja pontual), para conhecerem o panorama da oferta de unidades de saúde/atendimento às situações de saúde urgentes.

Na última segunda-feira do mês de agosto, as populações das terras de D. Sancho I e de Viriato encontraram os seus serviços da saúde abertos e disponíveis, apesar das extremas dificuldades laborais que os profissionais do SNS têm vindo a superar. No futuro, se verá.

Artigo de opinião-Vítor Santos-Época desportiva 2024-2025

Levar e buscar os filhos aos treinos, acompanhar os jogos e estar sempre atento ao
comportamento do filho em campo fazem parte da rotina de um pai ou uma mãe de atleta.
Todos temos a convicção de que o envolvimento parental positivo desempenha um papel muito
importante na vida desportiva das crianças e dos jovens. O suporte familiar está relacionado
com o aumento da confiança dos atletas e até mesmo com a sua permanência na prática
desportiva. No entanto, é comum observarmos um acompanhamento negativo por parte de
alguns pais, que gritam e insultam constantemente. A pressão exercida fora do treino e da
competição é massacrante e desmotivadora. Tais comportamentos levam-nos a refletir
profundamente sobre os limites do acompanhamento que fazemos.
Os pais podem escolher se querem ser facilitadores ou obstáculos no desenvolvimento
desportivo dos seus filhos. Facilitam quando contribuem e se disponibilizam para o crescimento
e a evolução dos filhos, incentivando-os e respeitando as suas motivações, escolhas e
momentos. Contudo, tornam-se obstáculos quando impõem pressões ou não os incentivam.
O início de mais uma época desportiva é o momento certo para uma autorreflexão sobre o seu
comportamento e sobre as melhorias possíveis.
Muitos clubes já têm dificuldades em encontrar treinadores para as suas equipas. Se a estas
dificuldades acrescentarmos a falta de árbitros e de dirigentes associativos, temos de repensar
se não estaremos a afastar recursos humanos qualificados das funções, porque continuamos a
não investir no mais importante: o comportamento!
A forma como, no final de um jogo, a primeira atitude é correr na direção da equipa de
arbitragem revela muito sobre a cultura desportiva dos nossos agentes desportivos. Esta cena
teatral, tão comum em Portugal, é quase sempre um ato de transferência de responsabilidade
e de falta de compromisso da equipa perante um resultado negativo. Quando se trata de um
comportamento pontual, podemos até aceitá-lo — todos temos um dia menos bom. Mas
quando se torna um padrão já não é tolerável. Quando ganham, as equipas já não correm para
o árbitro. Porque será? A verdade é que os melhores não se desgastam com o que vai além do
jogo, focam-se nos aspetos que são da sua responsabilidade e que controlam e incentivam
quem lideram.
Temos de ser exigentes com todos os agentes desportivos e respeitar a modalidade em que
estamos inseridos. Estar constantemente a pôr tudo e todos em causa não é tratar bem a
modalidade que nos apaixona e que, para muitos, é também uma profissão.
Existem muitas ações de formação para treinadores e dirigentes, mas continua a faltar um
investimento na vertente comportamental. É esta que faz a diferença entre os excelentes e os
outros, permitindo que se foquem na sua função.
Votos de uma excelente época desportiva.

Desenho:Miguel Rebelo

Vitor Santos
Embaixador do Plano Nacional de Ética no Desporto

Observador Cetelem-Artigo-86% dos portugueses não sabem o que é o euro digital

Apenas 5 em cada 10 já ouviram falar e 12% afirmam saber o que é o euro digital.
Porém, 3 em cada 10 percecionam que esta forma de pagamento eletrónico poderá ser positiva para a sociedade. 3 em cada 4 estão disponíveis para aderir ao euro digital.

Após uma fase de investigação de dois anos, em novembro de 2023 o Banco Central Europeu deu início à fase de preparação do euro digital, que estabelecerá as bases para a potencial emissão deste método de pagamento electrónico, que se pretende que seja acessível a todos de forma gratuita. Como a moeda física atual, que continuará a existir, o objetivo é que seja utilizado em qualquer parte da zona euro, de forma segura e com privacidade, dando resposta a uma sociedade cada vez mais digital. Prevê-se que este seja armazenado numa carteira digital e permita efetuar todos os pagamentos habituais – numa loja, na Internet ou a outra pessoa – usando um computador, um telemóvel ou um cartão, online e offline.

Apesar do término da fase de preparação estar prevista apenas para 2025, altura em que se decidirá avançar ou não para uma próxima fase, o novo Observador Cetelem, marca comercial do grupo BNP Paribas Personal Finance, procurou saber até que ponto os portugueses já tomaram conhecimento sobre a possibilidade de vir a existir um euro digital. O estudo concluiu que, embora 5 em cada 10 inquiridos afirmem já ter ouvido falar sobre o tema, 42% destes não sabem exatamente do que se trata. Já 44% nunca ouviram falar sobre o tema. Quando se fala em euro digital os inquiridos associam a palavras como: dinheiro, facilidade, digitais, criptomoedas, moeda, moeda digital e dinheiro virtual.

Por outro lado, 48% dos inquiridos percepcionam que o conceito do euro digital ainda é desconhecido pela sociedade. No entanto, quando questionados, por exemplo, sobre a possibilidade de vir a tornar-se realidade a existência de um euro digital nos dispositivos móveis, 3 em cada 10 pessoas consideram que será positivo, sobretudo porque esperam que seja fácil de usar, seguro e prático. Porém, há quem perspective como potenciais pontos negativos a falta de conhecimento, algum risco de exclusão social e de ciberataques.

3 em cada 4 portugueses querem aderir ao euro digital

Perante a possibilidade de o euro digital vir a tornar-se uma realidade nos próximos anos, 3 em cada 4 dos portugueses mostram intenção de aderir à sua utilização, sendo que 16% afirmam querer fazê-lo imediatamente após a sua implementação e 58% talvez apenas depois de se informar melhor. Contudo, há uma percentagem significativa de portugueses que indicam que continuarão a dar preferência a usar dinheiro físico ou outros métodos de pagamento electrónicos.

Ainda assim, a atual percepção dos consumidores é de que euro digital possa vir a ser um dos meios de pagamento mais usados no futuro (tanto como os cartões físicos). De acordo com o inquérito, atualmente 81% afirmam já utilizar formas digitais de pagamento, sendo que a maioria utiliza regularmente estes métodos para pagar compras e despesas online.

De referir que a decisão sobre a emissão, ou não, do euro digital só será considerada quando estiver concluído o processo legislativo da União Europeia, o que deverá acontecer em outubro do próximo ano.

Por:

Artigo de opinião de Luís Miguel Condeço—-Ar Puro

 

 

Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

 

Além do início das principais festas e romarias, agosto evoca o Dia Mundial do Cancro do Pulmão (no primeiro dia do mês). Este dia procura sensibilizar a população para a principal causa de morte por cancro em Portugal (16% do total de mortes por cancro), segundo os dados de 2021 do Instituto Nacional de Estatística.

Hoje a evidência científica, resultante de diversas investigações ao longo das últimas décadas não deixam esconder a íntima relação entre o consumo ativo do tabaco (tabagismo) ou passivo (exposição ocasional ao fumo), e o risco de desenvolver cancro do pulmão (responsável por 90% de todos os cancro do pulmão), situação que poderia ser evitável.

Reconhecido como uma doença, o tabagismo carateriza-se pelo consumo de produtos resultantes do tabaco e que contêm nicotina, de uma forma continuada e dependente. O fumo do tabaco contém vários químicos (mais de 7000), dos quais cerca de 70 são cancerígenos. A Organização Mundial da Saúde considera o tabagismo como a principal causa de morte evitável no mundo (cerca de 16 mil mortes por dia), declarando-o como um problema de saúde pública, ou até como uma pandemia que deve ser combatida. Estima-se que na Europa, o consumo de tabaco é responsável por 16% de todas as mortes na população adulta com mais de 30 anos de idade.

Mas, nem sempre foi assim.

A planta do tabaco ou a Nicotiana Tabacum, como é conhecida desde o século XVI, altura em que foi introduzida na Europa mais propriamente na corte francesa, é uma planta de folhas largas e flores amarelas e rosa, que já se cultivava na região dos Andes na América do Sul há mais de cinco mil anos. E as indústrias transformadoras e comercializadoras dos produtos obtidos a partir do tabaco tiveram desde o início do século passado uma série de estratégias publicitárias e de marketing encorajando ao consumo dos cigarros.

A imagem do cigarro começou por ser associada ao luxo, ao glamour, e mais tarde à rebeldia e independência. Durante várias décadas esteve presente em anúncios, spots comerciais e cartazes, além de aparecer em vários filmes e entrevistas aos famosos atores de Hollywood, como o caso de Humphrey Bogart (o galã de Casablanca de 1942) ou de Jon Hamm (o publicitário da premiada série Mad Men já deste século). No entanto, nunca a publicidade teve tanto impacto no consumo de cigarros como o esforço feito pela Philip Morris (empresa tabaqueira norte-americana), primeiro na década de 50 do século passado com a criação do Homem da Marlboro (cowboy americano, solitário e de espírito livre no meio das pradarias, protagonizado pelo ator Robert Norris que nunca fumou e que morreu em 2019 aos 90 anos de idade), e mais tarde pela aposta no desporto automóvel, da qual resultou uma das parcerias mais duradouras e lucrativas de sempre, entre a tabaqueira e a McLaren que durou 23 anos e que nos traz à memória os “bólides” de Ayrton Senna ou de Alain Prost.

Apesar dos estudos epidemiológicos realizados na primeira metade do século XX, só na década de 60 desse século é que ficou cientificamente estabelecida a relação entre o tabaco e o cancro do pulmão, contudo as medidas de prevenção, diagnóstico e tratamento foram sendo politicamente adiadas na sequência de um movimento independente, “de vontade própria” e do “livre-arbítrio” do comum dos cidadãos.

Em 2007, com a publicação da Lei n.º 37/2007 de 14 de agosto, Portugal passou a ter legisladas orientações, recomendações e restrições quanto à venda, consumo, publicidade, promoção e patrocínio de produtos de tabaco, tornando-se efetivas algumas das medidas de prevenção do consumo desta substância.

Há regimes mundiais mais rígidos, como o Butão (reino asiático na extremidade leste dos Himalaias) onde é proibido comercializar cigarros desde 2010 ou a Nova Zelândia (na Oceânia) que proíbe a venda de cigarros a cidadãos nascidos depois de 2009.

Mais importante que restringir ou impor uma medida, é fundamental sensibilizar as crianças e jovens para os efeitos nocivos da inalação de um ar poluído com o fumo do tabaco.

Artigo de opinião de Augusto Falcão:“A coragem nunca é a ausência de medo, mas sim enfrentar a situação mesmo que se sinta medo”

“A coragem nunca é a ausência de medo, mas sim enfrentar a situação mesmo que se sinta medo”

 

Recordo-me daquele dia; sempre me irei recordar dele; 9 de julho de 2006; era um dia normal no heliporto da Guarda; estava quente; abafado até; o sol era típico de verão; vento nem uma brisa para sossegar os efeitos do calor no corpo.

A sombra pouco ajudava e a água quanto mais fresca era mais sede provocava. O dia tinha começado assim e não havia sinais de que iria refrescar ou melhorar.

Na altura, no heliporto da Guarda, 5 bombeiros estavam de serviço ao helicóptero de combate a incêndios aguardavam o fim do turno; com eles estava mais um elemento cuja função era receber as chamadas de alerta.

E esses 6 elementos, tal como referido, aguardavam o fim do turno; sim, porque aguardar o fim do turno, sem ativações é sempre um bom sinal.

Mas quis o destino naquele dia, que já durante o almoço o telefone tocasse. Era um alerta.

Rapidamente, entramos para o aparelho, rotores a trabalhar, patins no ar e aí vamos nós…

Alerta de incêndio em Valhelhas.

A caminho do local, a coluna de fumo era bem visível e não agoirava um trabalho fácil…. Negra e direita… não tombava devido a ausência de vento…

Chegados ao local, decidi que seríamos largados no fundo do vale, num terreno agrícola e iniciar o combate do incêndio de baixo para cima.

O incêndio esse progredia em encosta, a subir essa encosta, em mato e pinhal.

Subia a encosta de forma lenta ainda; começamos o combate nesse terreno difícil, a subir por entre mato cerrado…

De repente, parece que o vulcão explodiu. Um rugido, um trovão. Um barulho infernal.

O incêndio, acabou de subir de forma descontrolada a encosta. Mais alguns minutos e o mesmo barulho. Mais uma subida e o incêndio estava no topo da encosta…

Nesta segunda arrancada, apanhou 6 bombeiros, que sem chance de fuga foram apanhados pelas chamas.

Sem hipótese de fugir, o fogo foi mais forte que eles e ceifou as suas vidas.

Hoje recordo esse dia; com mágoa; 6 camaradas meus partiram e deixaram de estar entre nós; as suas famílias iniciaram uma nova vida. Mas quem ficou vai recordá-los para sempre…

E quem viveu esse dia, nunca vai esquecer-se da perda que naquele dia os bombeiros sofreram….

Em memória deles…..

Augusto Falcão

Artigo de Luís Miguel Condeço—–A Velhice é uma Dádiva

 

Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

O verão aproxima-se a passos largos e com o início das férias escolares começam as “migrações” dos mais novos para casa dos avós. Apesar de toda a azáfama com esta mudança, muitas vezes nem nos apercebemos como este contacto intergeracional é tão importante para os avós e netos.

Ciente da importância dos mais velhos na preservação e transmissão das experiências de vida aos mais jovens, o Papa Francisco estabeleceu (apenas em 2021) a celebração do Dia Mundial dos Avós e dos Idosos no quarto domingo do mês de julho. Contudo, em Portugal este dia é já comemorado desde 2003 por resolução da Assembleia da República, muito devido ao esforço e insistência de Ana Elisa Faria. Esta avó portuguesa de seis netos, lutou durante vários anos pela instituição de uma data que valorizasse o papel dos avós enquanto difusores da cultura, da história e dos valores, fazendo jus ao que o Papa Francisco considera, “a velhice é uma dádiva”.

Atualmente no dia 26 de julho, celebra-se o Dia Nacional dos Avós, escolhido pelas instituições nacionais no seguimento da decisão emanada do Concílio Vaticano II, que desde 1969 considera este Dia de São Joaquim e Santa Ana, avós de Jesus Cristo, apesar da informação se atribuir aos textos apócrifos (considerados falsos pelo Cânone da Igreja Católica).

Mas além das particularidades históricas e cristãs, esta data comemorativa relembra a importância e atenção que devemos dar ao processo de envelhecer de forma ativa, ou como define a Organização Mundial de Saúde, de otimizar as oportunidades para a saúde, participar ativamente em segurança, tendo em vista uma elevada qualidade de vida das pessoas mais velhas.

Também a Comissão Europeia, considera fundamental promover estilos de vida saudáveis e oportunidades de aprendizagem ao longo da vida, criar desafios a partir do início da aposentação (como atividades física e mentais), e satisfazer as necessidades da população em fase de envelhecimento relativamente aos cuidados de saúde, à mobilidade, à conetividade digital, ao acesso aos mais diversos serviços públicos, e a melhorar o bem-estar e a interação intergeracional.

Os últimos Censos de 2021 apresentam-nos uma evolução demográfica com um aumento muito significativo do índice de envelhecimento da nossa população, existindo mais de 178 idosos por cada 100 jovens. Valores que em muito se devem à redução da taxa de natalidade e à qualidade dos cuidados de saúde, que aumentam a esperança média de vida. Contudo, este último indicador não se faz acompanhar do bem-estar e da qualidade de vida nas populações mais idosas, tendo Portugal valores inferiores aos da média da União Europeia.

Deste modo, e já este ano, o governo português (através de uma Resolução do Conselho de Ministros n.º 14/2024) aprovou o Plano de Ação do Envelhecimento Ativo e Saudável 2023-2026. Neste plano dá-se enfâse a seis pilares essenciais de intervenção para o desenvolvimento do processo de envelhecimento ativo e saudável: a) saúde e bem-estar; b) autonomia e vida independente; c) desenvolvimento e aprendizagem ao longo da vida; d) vida laboral saudável ao longo do ciclo de vida; e) rendimentos e economia do envelhecimento; f) participação na sociedade.

Espera-se que este plano de ação possa constituir-se num impulso de transformação da sociedade portuguesa, garantindo melhores condições de vida, maximizando a longevidade e a qualidade de vida, não esquecendo ninguém. Pretende-se acima de tudo a recuperação e manutenção da autonomia, maximizando as oportunidades sociais e económicas criadas por uma sociedade atual em constante evolução.

A velhice é mesmo uma dádiva, mas a sociedade não pode deixar de investir na sua população mais velha. Os nossos avós são um “repositório vivo” dos nossos saberes e da nossa história, é fundamental investir neles.

A Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, no seu Guia Prático do Envelhecimento Ativo aponta para a intervenção nos mais velhos, em áreas como: a atividade física, a alimentação, a cognição, a sexualidade, as relações sociais, a segurança e o bem-estar. Mas a proximidade com a família, os netos e a manutenção dos contactos sociais são os verdadeiros catalisadores da atividade na velhice.

Feliz Dia dos Avós, ativos e cheios de energia.

Artigo de Augusto Falcão—A vida depois de Normandia

Era de manhã, por volta das 08:30, saía eu de casa, para ir pôr o meu filho de 8 anos, à escola; e nesse dia, 06 de junho, diz o miúdo:

“Pai, faz hoje 80 anos, que os aliados desembarcaram na Normandia e o Hitler começou a perder a guerra” …

Eu, olhei para ele, e meio espantado, disse-lhe que era verdade; mas fiquei a pensar; um miúdo de 8 anos, dizer isto, é algo do outro mundo….

Sim. E perdoem-me o orgulho, mas aos 8 anos, e a maior parte de nós queria jogar à bola ou ao berlinde, e não nos interessava o resto; apesar de termos nascido e sido criados na Guerra Fria, com o Muro de Berlim ainda em pé, sabermos que a 6 de junho algo se tinha passado, em 1944, era algo que não nos passava pela cabeça.

Mas nesse dia, de 1944, milhares de jovens, americanos, ingleses, canadianos, franceses entre outras nacionalidades, numa manhã chuvosa, entraram nuns barcos de desembarque, e do nada, invadiram as praias da Normandia; o seu objetivo era criar uma zona de segurança naquelas praias para que os Aliados, iniciassem a libertação da Europa do jugo nazi.

Perdoem-me todos os leitores deste jornal, tenham as idades que tenham, pertençam à geração que pertençam, mas foi essa geração que garantiu ao mundo, em geral, o bem mais precioso que pode haver; a liberdade.

Podemos discutir o papel de cada País nos anos seguintes à grande guerra, inclusive o que cada um fez de bem e de menos bem no mundo; mas é a essa geração que devemos a nossa liberdade;

Sim, porque hoje aqueles que se chamam os arautos do politicamente correto, somente podem aventar as suas ideias, porque um dia esses jovens morreram naquelas praias, para defender o seu direito a estarmos aqui; aliás faço esta pergunta aos leitores; se Hitler tivesse ganho a guerra, como seria o nosso mundo hoje? Teria Auschwitz sido encerrado? Haveria eleições democráticas em parte do Mundo? Teríamos as condições de vida que temos hoje?

A verdade, caro leitor é só esta; não sabemos como seria o mundo se a Normandia falhasse; mas sabemos que graças a estes jovens, hoje temos um mundo melhor em relação ao que havia. E apesar de não vivermos num mundo perfeito, tenho a certeza que o mundo onde vivemos hoje é melhor do que aquele que Hitler queria criar…

Ou acham que não?

 

Augusto Falcão

Artigo de Vítor Santos- É mãe de um atleta?

Nos dias de hoje, cada vez mais são as mães a acompanharem os filhos na prática desportiva. Nos jogos essa presença é partilhada com o pai, mas nas atividades propostas pelo clube fora do campo (ações de formação, festas, manifestações de solidariedade, etc.) são as mães quem marcam a sua presença.

Nos jogos é normal assistirmos a uma mãe dar um grito e levar as mãos à cabeça quando o filho sofre falta. A sua reação é instantânea. Muitas vezes correm imediatamente para a linha lateral tentando comunicar com o filho. Porém, não é necessário nem desejável que o façam. Naquele momento, ele tem a seu lado as pessoas que têm o dever e o direito de intervir: o massagista, o fisioterapeuta e o árbitro. Nem o treinador pode entrar no campo. Por isso, qualquer tentativa de intervenção dos familiares, neste caso da mãe, só faz ruído e transmite para dentro do campo uma fragilidade que o atleta (que é o seu filho) não tem.

Não subestime os seus filhos!

Eles são bem mais fortes do que pensa!

É seguro que o sentimento de mãe é ilimitado e este comportamento é compreensível dentro de certos limites, mas a criança/jovem que está em campo irá, em centenas de vozes que vêm da bancada, sempre reconhecer a da sua mãe.  Dependendo de cada criança/jovem, porque cada indivíduo tem sensibilidades diferentes, estes podem ficar envergonhados e condicionados quando percebem que são objeto de uma angústia descontrolada. Um atleta reconhece-se pela sua tenacidade. Ora, esta só é alcançada se ele tiver autonomia e espaço para a construir.

Às mães, apelo a que não percam essa angústia, esse instinto protetor, mas que aprendam a proteger sem exagerar, transformando o vosso comportamento num motivo de orgulho para os vossos filhos. No final do treino ou do jogo, quando lhe derem um beijo, transmitam-lhe o quanto estão orgulhosas: “Estou muito orgulhosa de ti”;És forte meu filho” ou “Os atletas são assim como tu: valentes”. Vão ver que ele já nem se lembra da dor que sentiu no jogo.

As mães colocam sempre mais a tónica na felicidade dos filhos, e bem, em vez de a colocar nos resultados imediatos. Sorriem por cada momento vivido pelo seu filho e incentivam-no a aprender com os erros e a saborear as conquistas. As mães são, entre os adultos, a melhor das fações.

As mães são de uma sensibilidade extrema e temos muito a ganhar com esse sentimento materno. Através delas podemos promover, mais e melhor, a ética e o fair play no desporto, que só trazem benefícios tanto para as crianças quanto para a sociedade como um todo. Na realidade, entendo que são as mães o principal veículo de transmissão dos valores da prática desportiva às crianças. Estes valores contribuem para o desenvolvimento de caráter e estimulam a disciplina, o trabalho em equipa, a resiliência e o respeito. Além disso, fomentam a integração social, proporcionando oportunidades de interação entre pessoas de diferentes origens e culturas.

                                                                                                                                                                                                                                                                    Desenho de Paulo Medeiros

Queridas mães, desfrutem dos jogos! Desejem que os vossos filhos sejam felizes no desporto não só quando tiverem a idade adulta, mas em todos os momentos, incluindo no presente. Usufruam de cada etapa. De cada momento. O futuro será o que tiver de ser, mas que seja construído sobre uma escadaria de experiências felizes, divertidas e enriquecedoras.

Obrigado, mãe! Todos os desportistas têm muito presente esta gratidão.

Vítor Santos

Embaixador do Plano Nacional de Ética no Desporto