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Artigos de Opinião

Artigo de opinião de Augusto Falcão:“A coragem nunca é a ausência de medo, mas sim enfrentar a situação mesmo que se sinta medo”

“A coragem nunca é a ausência de medo, mas sim enfrentar a situação mesmo que se sinta medo”

 

Recordo-me daquele dia; sempre me irei recordar dele; 9 de julho de 2006; era um dia normal no heliporto da Guarda; estava quente; abafado até; o sol era típico de verão; vento nem uma brisa para sossegar os efeitos do calor no corpo.

A sombra pouco ajudava e a água quanto mais fresca era mais sede provocava. O dia tinha começado assim e não havia sinais de que iria refrescar ou melhorar.

Na altura, no heliporto da Guarda, 5 bombeiros estavam de serviço ao helicóptero de combate a incêndios aguardavam o fim do turno; com eles estava mais um elemento cuja função era receber as chamadas de alerta.

E esses 6 elementos, tal como referido, aguardavam o fim do turno; sim, porque aguardar o fim do turno, sem ativações é sempre um bom sinal.

Mas quis o destino naquele dia, que já durante o almoço o telefone tocasse. Era um alerta.

Rapidamente, entramos para o aparelho, rotores a trabalhar, patins no ar e aí vamos nós…

Alerta de incêndio em Valhelhas.

A caminho do local, a coluna de fumo era bem visível e não agoirava um trabalho fácil…. Negra e direita… não tombava devido a ausência de vento…

Chegados ao local, decidi que seríamos largados no fundo do vale, num terreno agrícola e iniciar o combate do incêndio de baixo para cima.

O incêndio esse progredia em encosta, a subir essa encosta, em mato e pinhal.

Subia a encosta de forma lenta ainda; começamos o combate nesse terreno difícil, a subir por entre mato cerrado…

De repente, parece que o vulcão explodiu. Um rugido, um trovão. Um barulho infernal.

O incêndio, acabou de subir de forma descontrolada a encosta. Mais alguns minutos e o mesmo barulho. Mais uma subida e o incêndio estava no topo da encosta…

Nesta segunda arrancada, apanhou 6 bombeiros, que sem chance de fuga foram apanhados pelas chamas.

Sem hipótese de fugir, o fogo foi mais forte que eles e ceifou as suas vidas.

Hoje recordo esse dia; com mágoa; 6 camaradas meus partiram e deixaram de estar entre nós; as suas famílias iniciaram uma nova vida. Mas quem ficou vai recordá-los para sempre…

E quem viveu esse dia, nunca vai esquecer-se da perda que naquele dia os bombeiros sofreram….

Em memória deles…..

Augusto Falcão

Artigo de Luís Miguel Condeço—–A Velhice é uma Dádiva

 

Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

O verão aproxima-se a passos largos e com o início das férias escolares começam as “migrações” dos mais novos para casa dos avós. Apesar de toda a azáfama com esta mudança, muitas vezes nem nos apercebemos como este contacto intergeracional é tão importante para os avós e netos.

Ciente da importância dos mais velhos na preservação e transmissão das experiências de vida aos mais jovens, o Papa Francisco estabeleceu (apenas em 2021) a celebração do Dia Mundial dos Avós e dos Idosos no quarto domingo do mês de julho. Contudo, em Portugal este dia é já comemorado desde 2003 por resolução da Assembleia da República, muito devido ao esforço e insistência de Ana Elisa Faria. Esta avó portuguesa de seis netos, lutou durante vários anos pela instituição de uma data que valorizasse o papel dos avós enquanto difusores da cultura, da história e dos valores, fazendo jus ao que o Papa Francisco considera, “a velhice é uma dádiva”.

Atualmente no dia 26 de julho, celebra-se o Dia Nacional dos Avós, escolhido pelas instituições nacionais no seguimento da decisão emanada do Concílio Vaticano II, que desde 1969 considera este Dia de São Joaquim e Santa Ana, avós de Jesus Cristo, apesar da informação se atribuir aos textos apócrifos (considerados falsos pelo Cânone da Igreja Católica).

Mas além das particularidades históricas e cristãs, esta data comemorativa relembra a importância e atenção que devemos dar ao processo de envelhecer de forma ativa, ou como define a Organização Mundial de Saúde, de otimizar as oportunidades para a saúde, participar ativamente em segurança, tendo em vista uma elevada qualidade de vida das pessoas mais velhas.

Também a Comissão Europeia, considera fundamental promover estilos de vida saudáveis e oportunidades de aprendizagem ao longo da vida, criar desafios a partir do início da aposentação (como atividades física e mentais), e satisfazer as necessidades da população em fase de envelhecimento relativamente aos cuidados de saúde, à mobilidade, à conetividade digital, ao acesso aos mais diversos serviços públicos, e a melhorar o bem-estar e a interação intergeracional.

Os últimos Censos de 2021 apresentam-nos uma evolução demográfica com um aumento muito significativo do índice de envelhecimento da nossa população, existindo mais de 178 idosos por cada 100 jovens. Valores que em muito se devem à redução da taxa de natalidade e à qualidade dos cuidados de saúde, que aumentam a esperança média de vida. Contudo, este último indicador não se faz acompanhar do bem-estar e da qualidade de vida nas populações mais idosas, tendo Portugal valores inferiores aos da média da União Europeia.

Deste modo, e já este ano, o governo português (através de uma Resolução do Conselho de Ministros n.º 14/2024) aprovou o Plano de Ação do Envelhecimento Ativo e Saudável 2023-2026. Neste plano dá-se enfâse a seis pilares essenciais de intervenção para o desenvolvimento do processo de envelhecimento ativo e saudável: a) saúde e bem-estar; b) autonomia e vida independente; c) desenvolvimento e aprendizagem ao longo da vida; d) vida laboral saudável ao longo do ciclo de vida; e) rendimentos e economia do envelhecimento; f) participação na sociedade.

Espera-se que este plano de ação possa constituir-se num impulso de transformação da sociedade portuguesa, garantindo melhores condições de vida, maximizando a longevidade e a qualidade de vida, não esquecendo ninguém. Pretende-se acima de tudo a recuperação e manutenção da autonomia, maximizando as oportunidades sociais e económicas criadas por uma sociedade atual em constante evolução.

A velhice é mesmo uma dádiva, mas a sociedade não pode deixar de investir na sua população mais velha. Os nossos avós são um “repositório vivo” dos nossos saberes e da nossa história, é fundamental investir neles.

A Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, no seu Guia Prático do Envelhecimento Ativo aponta para a intervenção nos mais velhos, em áreas como: a atividade física, a alimentação, a cognição, a sexualidade, as relações sociais, a segurança e o bem-estar. Mas a proximidade com a família, os netos e a manutenção dos contactos sociais são os verdadeiros catalisadores da atividade na velhice.

Feliz Dia dos Avós, ativos e cheios de energia.

Artigo de Augusto Falcão—A vida depois de Normandia

Era de manhã, por volta das 08:30, saía eu de casa, para ir pôr o meu filho de 8 anos, à escola; e nesse dia, 06 de junho, diz o miúdo:

“Pai, faz hoje 80 anos, que os aliados desembarcaram na Normandia e o Hitler começou a perder a guerra” …

Eu, olhei para ele, e meio espantado, disse-lhe que era verdade; mas fiquei a pensar; um miúdo de 8 anos, dizer isto, é algo do outro mundo….

Sim. E perdoem-me o orgulho, mas aos 8 anos, e a maior parte de nós queria jogar à bola ou ao berlinde, e não nos interessava o resto; apesar de termos nascido e sido criados na Guerra Fria, com o Muro de Berlim ainda em pé, sabermos que a 6 de junho algo se tinha passado, em 1944, era algo que não nos passava pela cabeça.

Mas nesse dia, de 1944, milhares de jovens, americanos, ingleses, canadianos, franceses entre outras nacionalidades, numa manhã chuvosa, entraram nuns barcos de desembarque, e do nada, invadiram as praias da Normandia; o seu objetivo era criar uma zona de segurança naquelas praias para que os Aliados, iniciassem a libertação da Europa do jugo nazi.

Perdoem-me todos os leitores deste jornal, tenham as idades que tenham, pertençam à geração que pertençam, mas foi essa geração que garantiu ao mundo, em geral, o bem mais precioso que pode haver; a liberdade.

Podemos discutir o papel de cada País nos anos seguintes à grande guerra, inclusive o que cada um fez de bem e de menos bem no mundo; mas é a essa geração que devemos a nossa liberdade;

Sim, porque hoje aqueles que se chamam os arautos do politicamente correto, somente podem aventar as suas ideias, porque um dia esses jovens morreram naquelas praias, para defender o seu direito a estarmos aqui; aliás faço esta pergunta aos leitores; se Hitler tivesse ganho a guerra, como seria o nosso mundo hoje? Teria Auschwitz sido encerrado? Haveria eleições democráticas em parte do Mundo? Teríamos as condições de vida que temos hoje?

A verdade, caro leitor é só esta; não sabemos como seria o mundo se a Normandia falhasse; mas sabemos que graças a estes jovens, hoje temos um mundo melhor em relação ao que havia. E apesar de não vivermos num mundo perfeito, tenho a certeza que o mundo onde vivemos hoje é melhor do que aquele que Hitler queria criar…

Ou acham que não?

 

Augusto Falcão

Artigo de Vítor Santos- É mãe de um atleta?

Nos dias de hoje, cada vez mais são as mães a acompanharem os filhos na prática desportiva. Nos jogos essa presença é partilhada com o pai, mas nas atividades propostas pelo clube fora do campo (ações de formação, festas, manifestações de solidariedade, etc.) são as mães quem marcam a sua presença.

Nos jogos é normal assistirmos a uma mãe dar um grito e levar as mãos à cabeça quando o filho sofre falta. A sua reação é instantânea. Muitas vezes correm imediatamente para a linha lateral tentando comunicar com o filho. Porém, não é necessário nem desejável que o façam. Naquele momento, ele tem a seu lado as pessoas que têm o dever e o direito de intervir: o massagista, o fisioterapeuta e o árbitro. Nem o treinador pode entrar no campo. Por isso, qualquer tentativa de intervenção dos familiares, neste caso da mãe, só faz ruído e transmite para dentro do campo uma fragilidade que o atleta (que é o seu filho) não tem.

Não subestime os seus filhos!

Eles são bem mais fortes do que pensa!

É seguro que o sentimento de mãe é ilimitado e este comportamento é compreensível dentro de certos limites, mas a criança/jovem que está em campo irá, em centenas de vozes que vêm da bancada, sempre reconhecer a da sua mãe.  Dependendo de cada criança/jovem, porque cada indivíduo tem sensibilidades diferentes, estes podem ficar envergonhados e condicionados quando percebem que são objeto de uma angústia descontrolada. Um atleta reconhece-se pela sua tenacidade. Ora, esta só é alcançada se ele tiver autonomia e espaço para a construir.

Às mães, apelo a que não percam essa angústia, esse instinto protetor, mas que aprendam a proteger sem exagerar, transformando o vosso comportamento num motivo de orgulho para os vossos filhos. No final do treino ou do jogo, quando lhe derem um beijo, transmitam-lhe o quanto estão orgulhosas: “Estou muito orgulhosa de ti”;És forte meu filho” ou “Os atletas são assim como tu: valentes”. Vão ver que ele já nem se lembra da dor que sentiu no jogo.

As mães colocam sempre mais a tónica na felicidade dos filhos, e bem, em vez de a colocar nos resultados imediatos. Sorriem por cada momento vivido pelo seu filho e incentivam-no a aprender com os erros e a saborear as conquistas. As mães são, entre os adultos, a melhor das fações.

As mães são de uma sensibilidade extrema e temos muito a ganhar com esse sentimento materno. Através delas podemos promover, mais e melhor, a ética e o fair play no desporto, que só trazem benefícios tanto para as crianças quanto para a sociedade como um todo. Na realidade, entendo que são as mães o principal veículo de transmissão dos valores da prática desportiva às crianças. Estes valores contribuem para o desenvolvimento de caráter e estimulam a disciplina, o trabalho em equipa, a resiliência e o respeito. Além disso, fomentam a integração social, proporcionando oportunidades de interação entre pessoas de diferentes origens e culturas.

                                                                                                                                                                                                                                                                    Desenho de Paulo Medeiros

Queridas mães, desfrutem dos jogos! Desejem que os vossos filhos sejam felizes no desporto não só quando tiverem a idade adulta, mas em todos os momentos, incluindo no presente. Usufruam de cada etapa. De cada momento. O futuro será o que tiver de ser, mas que seja construído sobre uma escadaria de experiências felizes, divertidas e enriquecedoras.

Obrigado, mãe! Todos os desportistas têm muito presente esta gratidão.

Vítor Santos

Embaixador do Plano Nacional de Ética no Desporto

 

Artigo de Luís Miguel Condeço—Bom Ambiente

 

 

Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

 

Foi em 1972, que a Organização das Nações Unidas (ONU) começou a alertar para a problemática ambiental, na sua Assembleia Geral realizada em Estocolmo sob o tema do Ambiente Humano.

Passados mais de cinquenta anos, esta temática não poderia estar mais atual. As cheias no Brasil, o calor na Índia ou o degelo glaciar são preocupações reais, da população mundial e que atribui cada vez mais significado ao Dia Mundial do Ambiente. Este ano, a ONU quer realçar as preocupações com o restauro da terra, a resiliência à seca e à desertificação.

 Hoje, nem só o Chile, a Arábia Saudita ou a Etiópia enfrentam problemas relacionados com a degradação, desertificação e seca, também na Europa há países com esse risco, e um deles é Portugal (segundo a Quercus, 36% do território nacional já está a sofrer com a desertificação). Este é um sério desafio ao desenvolvimento sustentável e à capacidade de sobrevivência de vários povos nas regiões mais remotas do planeta.

O Homem necessita de terras capazes de produzir alimento para a sua população, contudo, a crescente perda de terrenos férteis causada pela ação humana e pelas alterações climáticas têm o potencial de alterar a forma como milhares de milhões de pessoas irão viver, tanto agora como no final deste século. O aquecimento global significa que a desertificação representa um desafio não só na Europa ou em África, mas em todo o mundo, especialmente nas terras secas existentes. O crescimento exponencial da população mundial permite o aumento das áreas dedicadas à agricultura intensiva, que geralmente acaba por destruir os solos, quer pela irrigação excessiva, quer pelo desaparecimento dos aquíferos (como tem vindo a acontecer no nosso país).

A United Nations Convention to Combat Desertification (Convenção para o combate à desertificação da ONU) tem promovido a adoção de medidas que evitem, reduzam e invertam a desertificação, de acordo com os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável estabelecidos na Agenda 2030 das Nações Unidas.

Atualmente, crises climáticas e/ou ambientais como a destruição da natureza, a perda da biodiversidade, a poluição e a problemáticas dos resíduos, devem servir de mote à evocação do Dia Mundial do Ambiente. Mas não só, pois sabemos, que o restauro da natureza permite aumentar os meios de subsistência e reduzir a pobreza, além de aumentar o armazenamento de carbono, retardando as alterações climáticas. Segundo a ONU, as ações de restauro da natureza de pelo menos 15% têm a capacidade para evitar a extinção cerca de 60% de espécies ameaçadas, constituindo um apelo à proteção e revitalização de ecossistemas em todo o mundo. Podem ser restaurados milhares de milhão hectares de terras.

Perto de 500 milhões de pessoas vivem em regiões que sofrem de desertificação há mais de 40 anos, e são afetadas negativamente pelas alterações climáticas, que trazem consigo os problemas económicos, sociais e ambientais já existentes (agravamento dos problemas de saúde, escassez de água, défice alimentar, perda de biodiversidade catástrofes naturais).

O combate à desertificação delineado pela ONU, exige estratégias integradas a longo prazo que se centrem em:

– Melhorar as terras já degradadas;

– Reabilitar e conservar os terrenos férteis e onde se pratique agricultura sustentável;

– Gerir de forma sustentável os recursos terrestres e hídricos.

A degradação das terras deve ser abrandada, cabendo aos governos e instituições governamentais promover a vigilância e monitorização de práticas que podem contribuir para as alterações climáticas. Todos nós, produtores ou consumidores temos de alterar comportamentos, pois só temos um planeta.

Deve ser um desígnio conjunto, aconselhar e apoiar o desenvolvimento, a adoção e a avaliação de políticas concebidas para garantir que todos os ecossistemas terrestres do mundo não só sobrevivem, como prosperam, apoiando o bem-estar das gerações presentes e futuras.

Artigo de Opinião de Augusto Falcão—–Dia Mundial da Criança

 

No dia 1 de junho, em Portugal comemorou-se o Dia da Criança. O Dia da Criança não se celebra em todo o mundo nesse dia.

Países como Portugal, Angola e Moçambique, convencionaram que o dia seria celebrado a 1 de junho, mas o Brasil por exemplo celebra a 12 de outubro.

O Dia da Criança foi inicialmente proclamado em Genebra em 1925 durante a conferência para o bem-estar da criança, sendo celebrado então, em vários países no dia 1 de junho.

As Nações Unidas, reconhece o Dia da Criança, como sendo a 20 de novembro, por ser a data em que aprovou a Declaração Universal dos Direitos da Criança em 1959 e a Convenção dos Direitos das Crianças em 1989.

Em Portugal, a data assinalou-se pela primeira vez em 1950, em pleno Estado Novo, por iniciativa das Nações Unidas, numa tentativa de chamar a atenção para os problemas que as crianças enfrentavam na época; Decerto que muitos de vocês, da minha geração, ouviram as histórias dos nossos pais e avós em que a maior parte deles foram para a escola, até fazerem a 4.ª classe do tempo deles, e que muitos devido ao insucesso escolar, os rapazes acabaram por ir trabalhar no campo, nas fábricas e construção civil, e as meninas também a irem para o campo, outras para a casa de senhores aprender a servir e a limpar, entre outras atividades; no entanto no nosso País essa era a triste sina das nossas crianças.

Portugal ratificou essas convecções em setembro de 1990.

Mas neste dia, convencionou-se por todos os países signatários da convenção, que as crianças, independentemente da raça, cor, origem social, religião ou País têm direito a afeto, amor, compreensão, alimentação, cuidados médicos, educação gratuita, proteção contra todas as formas de exploração e a crescer num clima de paz e fraternidade.

E hoje, 74 anos depois de termos assinado essas convenções que no fundo protegem as nossas crianças, o que temos?

Em Portugal, evoluímos muito desde essa data até hoje; os direitos das crianças são protegidos quer na Lei geral, quer na nossa Constituição onde se garantem como princípios fundamentais proteção especial, para que possa desenvolver-se física, intelectual, moral, espiritual e socialmente de forma saudável e normal, assim como em condições de liberdade e dignidade.

Os castigos corporais cruéis foram criminalizados, e abolidos; a escolaridade mínima foi instituída, o trabalho infantil proibido, e criminalizado, entre outros avanços no sentido de protegermos as nossas crianças.

Mas se em Portugal, as nossas crianças gozam de uma proteção especial (e bem na generalidade dos casos) não se pode dizer que no resto no mundo, outras crianças gozem do mesmo espírito de proteção que as nossas.

Numa qualquer parte do mundo, há uma criança subnutrida; há uma criança que tem uma arma nas mãos e é um soldado numa qualquer guerra; há uma criança que tem uma doença e que não dispõe dos cuidados médicos adequados; há uma criança que em vez de estar na escola ou a brincar, está a trabalhar numa qualquer fábrica de uma marca de roupa, que depois “rasga as vestes” quando sabe isso mas nada faz ou numa fábrica que fabrica os componentes do nosso telemóvel. Ou simplesmente está escondida num qualquer abrigo por causa das bombas que caem na sua terra.

74 anos depois de terem sido assinadas estas convenções, estamos muito longe de termos os homens de amanhã devidamente protegidos das agruras da vida.

As crianças merecem brincar ser felizes enquanto são crianças.

Termino citando Eduardo de Sá, psicólogo clínico com uma frase que eu adoro e que define bem nos dias de hoje, para mim claro, o que deve ser criança: “As crianças saudáveis, e felizes, têm a vista na ponta dos dedos e a cabeça no ar, fazem uma asneira de oito em oito horas e esgotam as quotas de impertinência a que têm direito”

Deixem as crianças ser crianças….

Augusto Falcão

Artigo de Augusto Falcão—Liberdade de Abril

Escrevo isto, no dia da Liberdade; eu sei que, aos vossos olhos, pareço repetitivo, mas, nunca é demais falar da liberdade.

Esperei por hoje, pensando eu, que nos discursos de tão grandioso dia, algum destes discursos me pudesse inspirar, mas chego ao fim do dia desiludido.

Nada das palavras das elites, quer locais, quer nacionais me inspira a fazer este texto.

Desloquei-me ao jardim ao lado do município para assistir às comemorações deste dia, que pertence a todos os portugueses, sejam eles de direita ou de esquerda, novos ou velhos, e assisti apenas a uma coisa: à liberdade de nos exprimirmos conforme o que nos vai na alma; substância tinham alguns, mas de resto, pouco apropriados para a data.

Sendo assim, hoje vou falar-vos do Júlio, nome fictício…

O Júlio era um homem, casado, que tinha um emprego bom (trabalhava num escritório), e não tinha filhos ainda durante o Estado Novo. Casou-se com a mais velha de três irmãs e vivia numa casinha modesta, numa aldeia do Ribatejo; trabalhava num escritório da cidade junto à aldeia onde vivia; trabalhava de segunda a sexta, sábado e domingo era dedicado a ir à missa, e junto dos cunhados.

Mas Júlio tinha um pecado; um segredo escondido; Júlio era membro do PCP, partido que operava na clandestinidade, que lutava contra a ditadura de Salazar; Júlio ajudava os membros do PCP local, a difundir a propaganda comunista.

Júlio, um belo dia, sabe que vai ser pai; Júlio todo contente, porque vai ser pai, trabalha com afinco, para que o seu filho possa ter uma infância um pouco melhor que a grande massa das crianças; ou para que pelo menos sobreviva ao nascimento.

Estava a mulher de Júlio grávida, numa noite, já de madrugada Júlio e a mulher são acordados pelo bater furioso na porta. Ao abrir a porta, Júlio é preso e levado por inspetores da PIDE.

A mulher grávida, no dia seguinte vai à sede da PIDE à cidade, onde lhe dizem que o marido está detido para responder por crimes contra o Estado, difundir propaganda comunista e nada mais lhe dizem.

Júlio é levado para Peniche, onde fica preso…  Durante a sua estadia em Peniche, a PIDE bate-lhe, tortura-o, ameaça-o de morte, para que Júlio denuncie os camaradas. Mas Júlio resiste. Nada diz, mas as mazelas já estavam feitas.

A mulher cá fora, vê o filho nascer, com o marido preso, e sem saber onde ele estava para ao menos dar-lhe a boa nova e visitá-lo.

A mulher, com o filho recém-nascido, dirige-se à PIDE mais uma vez, onde pede para ao menos ver o marido. A PIDE nada diz, nada faz.

O filho ao fazer 3 meses, é vislumbrado pela primeira vez por ele. Júlio é libertado, de Peniche, e dirige-se a casa. As mazelas dos maus-tratos da PIDE, manter-se-ão ao longo da sua vida; o acordar em sobressalto com qualquer barulho, os problemas respiratórios devido a costelas partidas mal saradas, a ansiedade profunda… as marcas dos “chicotes” nas costas… os dedos artrosados, das fraturas que os interrogatórios provocaram…

Júlio cria o filho o melhor que pode; por sorte o antigo patrão aceita-o outra vez; Júlio regressa ao escritório onde trabalhava; anos depois, Júlio, comunista convicto, mas afastado das operações clandestinas que o levara a cadeia, vê no cais de Alcântara o seu filho partir para Moçambique para a guerra colonial. Júlio, vê o seu filho regressar, mas vê o seu afilhado partir para Angola para a mesma guerra. Júlio vê o seu afilhado regressar.

Júlio vê o 25 de abril, a liberdade, e morre na liberdade, depois de ter vivido na opressão; Júlio, comunista convicto, lutou contra a ditadura; Júlio, é um personagem, que encarna, milhares de Júlios, que lutaram contra a opressão de um estado opressivo e que os livros de história não falam.

Aos milhares de homens e mulheres que lutaram pela liberdade de um povo, triste e cinzento; Abril não é só os capitães, Mário Soares, Álvaro Cunhal entre outros; Abril é também dos Júlios… massacrados e torturados e até mortos pela liberdade de um povo e de um País…

Augusto Falcão

 

Artigo de Luís Miguel Condeço — E depois…de Abril

Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

 

Falar de Abril não nos deve remeter apenas para a imagem da revolução e dos cravos, que apesar de se apelidar de pacífica levou consigo a vida de cinco portugueses. Mas não podemos esquecer os direitos, liberdades e garantias que este acontecimento trouxe à vida de todos nós.

Gostava de enaltecer o trabalho estatístico extraordinário, que a Fundação Francisco Manuel dos Santos já nos vem habituando com o seu portal Pordata. Não poderia por isso deixar de referir alguns dados que nos permitem refletir sobre os ganhos em saúde para os portugueses nestas últimas cinco décadas.

Em 50 anos, a população portuguesa aumentou cerca de dois milhões de habitantes, contudo a “nossa” pirâmide etária inverteu-se, correspondendo hoje as pessoas com mais de 65 anos de idade a 1/4 da população residente em Portugal (dois milhões e meio). Como tal, a esperança média de vida aumentou cinco anos (ambos os géneros), representando um acréscimo no consumo de cuidados de saúde – serviços e terapêutica.

Os cuidados de saúde têm sofrido constantes reorganizações nos últimos anos, mas é importante recordar que no início do século XX, apenas os “abastados” tinham acesso a cuidados médicos privados e os muito pobres à proteção do estado, prova disso é a criação da Direção-Geral da Saúde (e Beneficência Pública) por Decreto Real em 1899 e a criação da Assistência Nacional aos Tuberculosos (no mesmo ano) pela rainha D. Amélia, que possibilitou a construção de várias instalações, como o Sanatório Sousa Martins, inaugurado em 1907. Em 1971, o denominado “Movimento das Carreiras Médicas” conseguiu que fosse legislado a regulamentação das carreiras médicas, concretizando um desejo antigo, dividindo as carreiras destes e de todos os outros profissionais de saúde em saúde pública e hospitalar.

Não podemos esquecer que antes do 25 de abril (de 1974), a saúde materna e infantil era “frágil”, muito por culpa dos partos realizados fora de instituições de saúde (apenas 39% eram realizados sob cuidados médicos e de enfermagem), e à época contabilizávamos praticamente o dobro dos nascimentos (171.979) que temos hoje. A taxa de mortalidade infantil (crianças que faleciam com menos de 1 ano de idade) atingia os 38 óbitos por cada 1.000 crianças nascidas vivas.

A “fratura” com o passado e que possibilitou que Portugal proporcionasse nestas últimas décadas cuidados de saúde abrangentes e gratuitos, deve-se a um homem – António Arnaut.

O Ministério da Saúde tinha-se autonomizado da Assistência em 1973, e cinco anos depois, movido pelo espírito da Constituição da República Portuguesa, António Arnaut elabora um Despacho (“Despacho Arnaut”) que permite “a todos os portugueses o acesso gratuito aos serviços médico-sociais e aos hospitais, bem como à comparticipação medicamentosa”, o ideal do Serviço Nacional de Saúde (SNS). No entanto, o seu nascimento só iria acontecer com a Lei de Bases da Saúde no dia 15 de setembro de 1979.

Volvidos cinquenta anos, os portugueses, mas não só, todos os residentes em território nacional têm acesso a cuidados de saúde universais e tendencialmente gratuitos. Praticamente a totalidade dos partos são realizados em instituições de saúde (públicas e privadas) com o adequado acompanhamento das equipas médicas e de enfermagem. A taxa de mortalidade infantil está entre as dez mais baixas do mundo (2,6 crianças por 1.000), tendo em 2020 atingido um mínimo histórico de 2,4.

Quanto aos recursos humanos, temos hoje em Portugal mais profissionais de saúde disponíveis para a população. O número de médicos aumentou cinco vezes e o número de enfermeiros aumentou quase quatro vezes quando comparados com 1974.

Passadas cinco décadas, num novo milénio, o nosso país tem hoje um sistema de saúde eficiente, organizado (a última reorganização este ano), e próximo das populações. Os programas em vigor, como da Diabetes, Saúde Infantil e Juvenil, Saúde Mental e muitos outros, têm melhorado a saúde das populações, refletindo um compromisso político e institucional com a saúde, permitindo melhores condições de vida dos portugueses.

Não foi só Liberdade que Abril trouxe, apesar de muitas vezes nos esquecermos disso.

Artigo de opinião: TERMALISMO: A CURA PARA NÃO ADOECER

Ao redor do modesto público que já conhece a realidade das termas, começa uma cacofonia de vozes indistinguíveis. As termas, antes envoltas de luxo, com casinos eram frequentadas pelas elites como centros de lazer e recuperação onde socializavam e “matavam a sede” de uma boa conversa. Numa névoa de silêncio e reflexão, as termas transformam-se de repente num remoinho de atividades nefastas e pejorativas. A palavra Termalismo, ainda hoje é rodeada pela reputação da sua ancestralidade. Entre momentos de glória e outros depreciativos, o termalismo persiste no tempo e é na confluência de práticas ancestrais com os avanços científicos contemporâneos que o termalismo se procura reinventar.

Curiosa e despertada pelas histórias, fui experimentar a umas termas, não importa quais…. Podem ser apenas paredes e meras banheiras ou marquesas, sendo a água a sua unicidade. Permaneço imóvel numa banheira de água parada… Receio que os detalhes do testemunho sobre as propriedades terapêuticas das águas minerais, se desvaneçam da minha mente se eu me mover. Como refere Fernando Pessoa, “Há tanta suavidade em nada se dizer e tudo se entender”. Fecho os olhos, as minhas células vibram e esqueço as horas… aqui é “um lugar com tempo para tudo”. Na sala de repouso observo as pessoas a partir apressadamente, e questiono-me como podem voltar à sua rotina com tanta facilidade? Será que compreenderam a importância do termalismo como eu? Será que perceberam que esta prática ancestral pode ser a chave para uma vida mais saudável e equilibrada? Será que sabem que o termalismo pode ser a cura para não adoecer?

A sensação de comunicar termalismo toma conta de mim. O que será do termalismo? Será que conseguimos comunicar eficazmente os seus benefícios à sociedade? Na reflexão, percebo que o futuro do termalismo e, consequentemente, da saúde e do bem- estar, parece incerto… No entanto, uma luz de esperança brilha no horizonte, alimentada pela convicção de que a união entre tradição e a ciência pode abrir novos caminhos para um futuro mais saudável e equilibrado.

Determinada em contribuir para a valorização e progresso do termalismo, mantenho viva a esperança de que o termalismo continuará a ser uma fonte de cura e bem-estar
para as gerações futuras e por isso vos escrevo. A procura pela melhoria da qualidade de vida e a tendência global do inevitável envelhecimento, contribui para o crescimento do turismo de saúde e bem-estar. Paralelamente, as áreas da saúde, do turismo e do desenvolvimento regional têm sido alvo de estudo, mas maioritariamente de forma independente e desconexa, perdendo- se a oportunidade de valorização das sinergias associadas. Numa geração em que a inteligência artificial, os medicamentos e a inovação ganham destaque, é fácil esquecer o poder regenerador que reside nas profundezas da terra, nas águas minerais naturais. É hora de lembrar, de comunicar os benefícios do termalismo. A cura para não adoecer está mais próxima do que imaginamos…

A colaboração intersectorial, unindo saúde, turismo e desenvolvimento regional numa abordagem integrada é urgente. O termalismo combina na perfeição a saúde e o bem-
estar, sendo um importante elo de ligação. Nos últimos anos, têm sido realizados vários estudos que refletem a mudança de paradigma, quer na gestão dos estabelecimentos
termais, quer no perfil do seu utilizador. A necessidade de associar à vertente médica, as dimensões de qualidade de vida e de bem-estar, na linha do que é o conceito global e
contemporâneo de saúde é evidente. Esta perspetiva interdisciplinar é essencial para abordar os diversos pilares do termalismo, desde o impacto na saúde pública e bem-
estar psicológico das comunidades até à sustentabilidade ambiental. Na vertente saúde e bem-estar, o termalismo está fortemente alinhado com as tendências globais de promoção da saúde e bem-estar, valorizando não apenas os benefícios dos tratamentos termais na cura e na prevenção, mas também o seu impacto psicológico positivo, associado ao relaxamento e à conexão com a natureza. As termas recorrem a práticas de turismo e saúde sustentáveis, alinhadas com as diretrizes dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da agenda 2030, nomeadamente no Objetivo 3 – Saúde de Qualidade.

Além disso, de acordo com o despacho 8899/2019 de 07 de outubro, o termalismo encontra-se também alinhado com o Plano Nacional de Saúde e na vertente médica e
de gestão da saúde, pode contribuir para o tratamento e prevenção de patologias crónicas, bem como para uma eventual redução da despesa para o Serviço Nacional de
Saúde e para os cidadãos, nomeadamente em termos da prestação de cuidados de saúde evitáveis e dos custos com a prescrição de meios complementares de diagnóstico
e terapêutica e de medicamentos.

Ao auscultar as pessoas envolvidas no termalismo sabemos que o termalismo faz bem, sabemos que existem utilizadores que frequentam as termas há mais de 30 anos porque
sentem melhorias na sua condição física e redução na medicação, mas não chega. A literatura científica demonstra que o termalismo pode desempenhar um papel crucial
na prevenção de doenças crónicas, visto que as águas minerais naturais possuem compostos que, ao serem absorvidos pelo corpo, podem melhorar a circulação sanguínea, reduzir processos inflamatórios e fortalecer o sistema imunológico. A existência de evidências científicas de que a água mineral natural é benéfica no tratamento de patologias associadas aos diferentes sistemas: músculo-esquelético; respiratório; gastrointestinal; cardiovascular; neurológico, incluindo o sistema neurovegetativo; dermatológico e até perturbações psiquiátricas abre novos caminhos na ciência. Estes efeitos biológicos não apenas contribuem para a manutenção da saúde, mas também auxiliam na prevenção de patologias diversas. A abordagem do termalismo não se limita aos benefícios físicos, simultaneamente, motivam ao bem- estar psicológico que é igualmente importante na prevenção de doenças. A serenidade e o relaxamento proporcionados pelo ambiente das estâncias termais são elementos chave na redução do stress e na promoção da saúde mental. Este aspeto holístico dotermalismo, que engloba tanto o corpo quanto a mente, é fundamental para uma abordagem preventiva de saúde.

Contudo, é imperativo destacar que o termalismo não deve substituir tratamentos médicos convencionais, mas sim complementá-los. A integração do termalismo em
programas de prevenção de saúde requer uma abordagem multidisciplinar e oreconhecimento da comunidade médica. Neste sentido, a colaboração entre médicos,
terapeutas e investigadores é essencial para maximizar os benefícios do termalismo.

Na vertente da sustentabilidade, é também, preciso dar a conhecer medidas que demonstram que o uso dos recursos termais é efetuado de maneira sustentável, como
são o caso dos projetos District heating das Termas de Chaves e de São Pedro do Sul. Os projetos representam uma iniciativa inovadora na gestão sustentável de recursos energéticos e no aproveitamento de fontes renováveis para aquecimento urbano. Ao utilizar as águas termais como fonte de energia térmica, estes projetos visam reduzir a dependência de combustíveis fósseis e mitigar as emissões de carbono associadas ao aquecimento de edifícios municipais e hoteleiros na área envolvente. Esta abordagem sustentável contribui, também, para a eficiência energética e para a redução dos custos de energia para os utilizadores finais.

Do ponto de vista socioeconómico, as termas no âmbito da promoção do turismo de saúde e bem-estar também têm o potencial de transformar significativamente a economia local. Este impacto inclui a criação de empregos, a atração de investimentos, o incentivo de vitalidade nas economias locais, particularmente pertinentes para as
áreas do interior que enfrentam desafios como a desertificação e a estagnação económica.

Apesar dos inúmeros benefícios do termalismo, ainda enfrenta desafios significativos.
Há a questão da perceção pública, muitas pessoas ainda veem o termalismo como um luxo indulgente, em vez de uma parte legítima, complementar e eficaz para a saúde. O
Termalismo não é para velhos! O Termalismo não é caro! O Termalismo é autêntico e precisa ser visto como uma nova forma de estar na vida. O termalismo baseia-se na
utilização das propriedades terapêuticas das águas, que são ricas em minerais e outros compostos que se acredita terem efeitos benéficos para o corpo humano. As águas que
caíram há milénios são as que hoje nos confortam nas termas, oferecendo uma conexão intemporal com os poderes terapêuticos da natureza. O que distingue positivamente o
termalismo relativamente a outros produtos é a água mineral natural, que pode ser, ainda mais, potenciado se lhe acrescentarmos outros valores.

Nas últimas décadas, a oferta tem vindo a assistir a um desenvolvimento significativo em Portugal, conseguindo atingir um público muito diversificado. Atualmente, temos
mais de 40 estâncias termais ativas pelo país, a facilidade de acesso hoje, permite que a distância deixe de ser uma barreira, mas antes uma oportunidade para as frequentar. É a unicidade das águas distribuídas pelo território que começa a atrair pessoas de todo o país e além-fronteiras. As termas começam, finalmente, a ser vistas como tratamentos naturais para uma variedade de condições de saúde, seja na prevenção, no tratamento ou simplesmente pelo lazer.

A par desta evolução, consolidam-se passos relevantes para as políticas de saúde pública, nomeadamente, na fixação da comparticipação dos tratamentos termais. A
demonstração da eficácia do termalismo como um complemento aos métodos tradicionais de tratamento e cuidados de saúde começa a ser uma realidade. Para além
disso, a integração das termas nos Conselhos Municipais de Saúde, fortalecem o sistema de saúde local, através de uma abordagem mais holística, preventiva,
descentralizada e sustentável da saúde, enquanto contribui para comunidades mais saudáveis e felizes. A tranquilidade e o ambiente sereno das estâncias termais podem
ajudar a reduzir o stress e promover o bem-estar emocional.

Em conclusão, o termalismo apresenta-se como uma abordagem promissora na prevenção de doenças. A conjugação dos seus benefícios físicos e psicológicos, aliada à
crescente evidência científica dos seus efeitos preventivos, destaca o potencial desta prática milenar. Contudo, a sua eficácia enquanto ferramenta de prevenção de saúde
depende da colaboração entre a prática tradicional, a investigação científica, o governo, bem como do compromisso com a sustentabilidade dos recursos naturais e da sua
comunicação à sociedade. O termalismo não é apenas uma cura para não adoecer, é uma ponte entre o passado e o futuro da medicina preventiva.

A intenção é voltar a colocar o termalismo na chamada “Idade de ouro”. Para o efeito é preciso pensar globalmente, agir localmente e contribuir para combater a perceção
pública. Estas não são meras frases de efeito, são apenas alguns dos princípios que têm inspirado o meu trabalho e que partilho hoje com a comunidade.

Num mundo onde a saúde é cada vez mais preciosa e o bem-estar é cada vez mais fugaz, o termalismo oferece uma luz de esperança, uma nova forma de estar na vida,
com a promessa de cura e renovação para todos aqueles que procuram uma vida mais plena, saudável e um bem-estar duradouro.

Autora Vera Antunes – Técnica Superior na Universidade da Beira Interior Investigadora nas áreas da Comunicação Estratégica e Termalismo | LabCom
Sócia da GIROHC

Artigo de Augusto Falcão—- Esperança de abril

Escrevo isto, entre o Dia do Pai, o 19 de março, e o dia em que comemoramos os 50 anos da Revolução dos Cravos, o 25 de abril.

Poderia falar das virtudes, da Revolução dos Cravos, que naquela noite e dia de 25 de abril, libertou um País pobre, triste e cinzento, da opressão e tirania de uma ditadura, de uma guerra colonial que lutava em 3 frentes, de uma Polícia política que tudo censurava, torturava e reprimia aqueles que eram contra o regime, seguindo a máxima “quem não é por mim, é contra mim”, máxima essa atribuída a António de Oliveira Salazar.

Hoje quero vos falar de um menino de 8 anos. Podemos chamar-lhe Manuel, João, Duarte… enfim pode ter o nome que quiserem.

Esse menino tem 8 anos e fará 9 este ano, depois de abril.

Como todos os meninos da sua idade, esse menino, gosta de jogar à bola, e acha que o Ronaldo é o maior do mundo; gosta de andar de bicicleta de vez em quando, mas não é a sua preferência; gosta de ver vídeos no Youtube, tal como os meninos da sua idade, quase todos em português do Brasil. Anda no 3.º ano, gosta de Português e Estudo do Meio, e nem por isso gosta de Matemática. Como quase todos os meninos da sua idade, não gosta muito de sopa, nem de legumes… e adora KFC e McDonald’s; quem diria? E é do Benfica…

Parece um menino normal, para a sua idade, com gostos normais para a sua idade.

Mas este menino, tem algo especial.

Este menino, com 8 anos, sabe que quando o hino toca, deve manter-se em silêncio por respeito e colocar a mão sobre o lado esquerdo do peito; sabe a letra do Hino, e sabe o porquê das cores da Bandeira Portuguesa.

Este menino, sabe que D. Afonso Henriques foi o primeiro rei de Portugal, e nasceu em Guimarães, e que lutou contra a mãe em S. Mamede, e contra os Mouros; e que a Nação nasceu em Guimarães; este menino sabe que Dona Inês de Castro foi morta por amor e que D. Pedro foi o seu amor; este menino sabe que D. Dinis fundou a Universidade de Coimbra e instituiu o português como língua oficial do reino de Portugal.

Este menino sabe que Portugal efetuou viagens marítimas e descobriu grande parte do Mundo, que estava por descobrir. Este menino sabe que Luís de Camões escreveu “Os Lusíadas”, o grande poema épico da língua portuguesa e já o quer começar a ler.

Este menino sabe que um dia, no século vinte, Salazar governou Portugal, em ditadura, repressão, e que transformou o nosso País em um local, cinzento e triste, dominado pela PIDE, repressiva e torturadora; este menino sabe que foi em Peniche que este ditador encarcerou muitos portugueses e portuguesas pelo crime de serem contra ele, serem comunistas… este menino tinha um familiar que um dia foi acordado pela PIDE durante a noite, levado à força e só reapareceu 6 meses depois em Peniche.

Este menino sabe que milhares de jovens portugueses lutaram na guerra colonial, em Angola, Guiné e Moçambique, e que muitos perderam lá a vida; este menino tem 2 familiares que um dia, zarparam para África em nome de um Portugal, pluricontinental e plurirracial.

Este menino sabe que numa noite de abril, Salgueiro Maia, saiu de Santarém, e conseguiu com a ajuda de muitos outros soldados, libertar este País dos grilhões da ditadura salazarista…

Este menino sabe o que foi 25 de abril, sabe o que representa, na inocência da sua idade; sabe que a Revolução dos Cravos representa a liberdade de usar um isqueiro, de beber coca-cola e até comer uma pizza, algo que nesses dias sombrios dos Estado Novo era impossível. Esse menino representa a nossa liberdade futura, alguém que entende que um dia se lutou pela liberdade, e que essa mesma liberdade deve ser defendida todos os dias, contra as ameaças que contra ela existem…

Esse menino, seja ele quem for, esteja ele onde estiver, representa a nossa esperança, da nossa sociedade, que os valores de abril, da liberdade, nunca se perderão, e serão preservados para todo o sempre, pelas gerações vindouras como bases, para sempre inegáveis da nossa sociedade….

Augusto Falcão