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Artigo de Luís Miguel Condeço—Bom Ambiente

 

 

Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

 

Foi em 1972, que a Organização das Nações Unidas (ONU) começou a alertar para a problemática ambiental, na sua Assembleia Geral realizada em Estocolmo sob o tema do Ambiente Humano.

Passados mais de cinquenta anos, esta temática não poderia estar mais atual. As cheias no Brasil, o calor na Índia ou o degelo glaciar são preocupações reais, da população mundial e que atribui cada vez mais significado ao Dia Mundial do Ambiente. Este ano, a ONU quer realçar as preocupações com o restauro da terra, a resiliência à seca e à desertificação.

 Hoje, nem só o Chile, a Arábia Saudita ou a Etiópia enfrentam problemas relacionados com a degradação, desertificação e seca, também na Europa há países com esse risco, e um deles é Portugal (segundo a Quercus, 36% do território nacional já está a sofrer com a desertificação). Este é um sério desafio ao desenvolvimento sustentável e à capacidade de sobrevivência de vários povos nas regiões mais remotas do planeta.

O Homem necessita de terras capazes de produzir alimento para a sua população, contudo, a crescente perda de terrenos férteis causada pela ação humana e pelas alterações climáticas têm o potencial de alterar a forma como milhares de milhões de pessoas irão viver, tanto agora como no final deste século. O aquecimento global significa que a desertificação representa um desafio não só na Europa ou em África, mas em todo o mundo, especialmente nas terras secas existentes. O crescimento exponencial da população mundial permite o aumento das áreas dedicadas à agricultura intensiva, que geralmente acaba por destruir os solos, quer pela irrigação excessiva, quer pelo desaparecimento dos aquíferos (como tem vindo a acontecer no nosso país).

A United Nations Convention to Combat Desertification (Convenção para o combate à desertificação da ONU) tem promovido a adoção de medidas que evitem, reduzam e invertam a desertificação, de acordo com os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável estabelecidos na Agenda 2030 das Nações Unidas.

Atualmente, crises climáticas e/ou ambientais como a destruição da natureza, a perda da biodiversidade, a poluição e a problemáticas dos resíduos, devem servir de mote à evocação do Dia Mundial do Ambiente. Mas não só, pois sabemos, que o restauro da natureza permite aumentar os meios de subsistência e reduzir a pobreza, além de aumentar o armazenamento de carbono, retardando as alterações climáticas. Segundo a ONU, as ações de restauro da natureza de pelo menos 15% têm a capacidade para evitar a extinção cerca de 60% de espécies ameaçadas, constituindo um apelo à proteção e revitalização de ecossistemas em todo o mundo. Podem ser restaurados milhares de milhão hectares de terras.

Perto de 500 milhões de pessoas vivem em regiões que sofrem de desertificação há mais de 40 anos, e são afetadas negativamente pelas alterações climáticas, que trazem consigo os problemas económicos, sociais e ambientais já existentes (agravamento dos problemas de saúde, escassez de água, défice alimentar, perda de biodiversidade catástrofes naturais).

O combate à desertificação delineado pela ONU, exige estratégias integradas a longo prazo que se centrem em:

– Melhorar as terras já degradadas;

– Reabilitar e conservar os terrenos férteis e onde se pratique agricultura sustentável;

– Gerir de forma sustentável os recursos terrestres e hídricos.

A degradação das terras deve ser abrandada, cabendo aos governos e instituições governamentais promover a vigilância e monitorização de práticas que podem contribuir para as alterações climáticas. Todos nós, produtores ou consumidores temos de alterar comportamentos, pois só temos um planeta.

Deve ser um desígnio conjunto, aconselhar e apoiar o desenvolvimento, a adoção e a avaliação de políticas concebidas para garantir que todos os ecossistemas terrestres do mundo não só sobrevivem, como prosperam, apoiando o bem-estar das gerações presentes e futuras.

Artigo opinião-Paulo Freitas do Amaral-O professor Zé, sempre em pé!

A maioria dos professores das escolas portuguesas como tem sido amplamente divulgado pela comunicação social tem uma média de idades acima dos 50 anos e são obrigados em alguns casos a ficarem de pé nos exames nacionais cerca de três horas e meia…

Nas escolas públicas, ao contrário do privado, eu arriscaria a dizer que esta média de idades dos professores é até, bastante mais elevada do que os 50 anos…

Como os meus leitores mais velhos sabem bem, a saúde vai pregando algumas partidas a partir dos 40 anos…algo que aos nossos governantes parecem desconhecer, devido a obrigarem os professores nas provas de âmbito nacional, na maior parte dos casos, a ficarem em pé, cerca de duas horas e meia sem se poderem sentar na sala de aula.

Se falarmos nas provas de Geometria descritiva ou desenho, a situação piora e este tempo em pé poderá ir parar às 3 horas ao que acresce a este período um tempo extta de mais meia hora de tolerância…

Este exame de Geometria descritiva é o exame de âmbito nacional mais temido no sorteio de vigilância por todos os professores, mesmo os que não padecem de varizes, reumático ou hérnias inguinais…

Entretanto, os radiadores, ar condicionados e pequenos parapeitos das salas de aula vão sofrendo desgaste e “maus tratos” pelos encostos dos professores que fraquejam das pernas e procuram um alívio físico desta obrigatoriedade de carácter quase militar.

Esperemos, pois, que o bom senso deste novo governo seja melhor do que o governo anterior e trate bem os mais “velhos sábios” da nossa sociedade permitindo-lhes ao menos dez minutinhos para descansarem as pernas e as maleitas do seu corpo, muitas vezes também elas adquiridas pelo muito tempo em pé a lecionar…

Paulo Freitas do Amaral
Professor de História

Artigo de Opinião de Augusto Falcão—–Dia Mundial da Criança

 

No dia 1 de junho, em Portugal comemorou-se o Dia da Criança. O Dia da Criança não se celebra em todo o mundo nesse dia.

Países como Portugal, Angola e Moçambique, convencionaram que o dia seria celebrado a 1 de junho, mas o Brasil por exemplo celebra a 12 de outubro.

O Dia da Criança foi inicialmente proclamado em Genebra em 1925 durante a conferência para o bem-estar da criança, sendo celebrado então, em vários países no dia 1 de junho.

As Nações Unidas, reconhece o Dia da Criança, como sendo a 20 de novembro, por ser a data em que aprovou a Declaração Universal dos Direitos da Criança em 1959 e a Convenção dos Direitos das Crianças em 1989.

Em Portugal, a data assinalou-se pela primeira vez em 1950, em pleno Estado Novo, por iniciativa das Nações Unidas, numa tentativa de chamar a atenção para os problemas que as crianças enfrentavam na época; Decerto que muitos de vocês, da minha geração, ouviram as histórias dos nossos pais e avós em que a maior parte deles foram para a escola, até fazerem a 4.ª classe do tempo deles, e que muitos devido ao insucesso escolar, os rapazes acabaram por ir trabalhar no campo, nas fábricas e construção civil, e as meninas também a irem para o campo, outras para a casa de senhores aprender a servir e a limpar, entre outras atividades; no entanto no nosso País essa era a triste sina das nossas crianças.

Portugal ratificou essas convecções em setembro de 1990.

Mas neste dia, convencionou-se por todos os países signatários da convenção, que as crianças, independentemente da raça, cor, origem social, religião ou País têm direito a afeto, amor, compreensão, alimentação, cuidados médicos, educação gratuita, proteção contra todas as formas de exploração e a crescer num clima de paz e fraternidade.

E hoje, 74 anos depois de termos assinado essas convenções que no fundo protegem as nossas crianças, o que temos?

Em Portugal, evoluímos muito desde essa data até hoje; os direitos das crianças são protegidos quer na Lei geral, quer na nossa Constituição onde se garantem como princípios fundamentais proteção especial, para que possa desenvolver-se física, intelectual, moral, espiritual e socialmente de forma saudável e normal, assim como em condições de liberdade e dignidade.

Os castigos corporais cruéis foram criminalizados, e abolidos; a escolaridade mínima foi instituída, o trabalho infantil proibido, e criminalizado, entre outros avanços no sentido de protegermos as nossas crianças.

Mas se em Portugal, as nossas crianças gozam de uma proteção especial (e bem na generalidade dos casos) não se pode dizer que no resto no mundo, outras crianças gozem do mesmo espírito de proteção que as nossas.

Numa qualquer parte do mundo, há uma criança subnutrida; há uma criança que tem uma arma nas mãos e é um soldado numa qualquer guerra; há uma criança que tem uma doença e que não dispõe dos cuidados médicos adequados; há uma criança que em vez de estar na escola ou a brincar, está a trabalhar numa qualquer fábrica de uma marca de roupa, que depois “rasga as vestes” quando sabe isso mas nada faz ou numa fábrica que fabrica os componentes do nosso telemóvel. Ou simplesmente está escondida num qualquer abrigo por causa das bombas que caem na sua terra.

74 anos depois de terem sido assinadas estas convenções, estamos muito longe de termos os homens de amanhã devidamente protegidos das agruras da vida.

As crianças merecem brincar ser felizes enquanto são crianças.

Termino citando Eduardo de Sá, psicólogo clínico com uma frase que eu adoro e que define bem nos dias de hoje, para mim claro, o que deve ser criança: “As crianças saudáveis, e felizes, têm a vista na ponta dos dedos e a cabeça no ar, fazem uma asneira de oito em oito horas e esgotam as quotas de impertinência a que têm direito”

Deixem as crianças ser crianças….

Augusto Falcão

Artigo opinião-Hipertensão arterial: combater o “assassino silencioso” é mais importante do que nunca

O aumento da esperança média de vida, inegavelmente uma das maiores concretizações da sociedade moderna, trouxe o inevitável preço do aumento das doenças neurológicas associadas à idade, onde se inclui o acidente vascular cerebral (AVC), uma doença que,
para além de elevada mortalidade, se associa a incapacidade funcional e dependência.

A pressão arterial pode ser definida como a força que o sangue exerce na parede das artérias. A hipertensão arterial (HTA) ocorre quando o fluxo sanguíneo exerce demasiada “força” ou pressão nas artérias. Define-se pelo registo de valores, para a pressão arterial sistólica, superiores ou iguais a 140 mmHg e/ou para a pressão arterial diastólica, superiores ou iguais a 90 mmHg, em mais do que uma avaliação. A longo prazo, pode causar pequenas lesões nas artérias resultando em zonas de maior fragilidade que podem sofrer rotura e resultar numa hemorragia intracerebral, assim
como promover a formação de placas de aterosclerose ou mesmo a formação de coágulos sanguíneos. De acordo com a Sociedade Portuguesa de Cardiologia, a HTA
afeta cerca de 40% da população adulta. Destes, menos de metade está medicada com medicamentos anti-hipertensores e estima-se que só cerca de 11% tenham a HTA
controlada. Ler Mais »

Artigo de Augusto Falcão—Liberdade de Abril

Escrevo isto, no dia da Liberdade; eu sei que, aos vossos olhos, pareço repetitivo, mas, nunca é demais falar da liberdade.

Esperei por hoje, pensando eu, que nos discursos de tão grandioso dia, algum destes discursos me pudesse inspirar, mas chego ao fim do dia desiludido.

Nada das palavras das elites, quer locais, quer nacionais me inspira a fazer este texto.

Desloquei-me ao jardim ao lado do município para assistir às comemorações deste dia, que pertence a todos os portugueses, sejam eles de direita ou de esquerda, novos ou velhos, e assisti apenas a uma coisa: à liberdade de nos exprimirmos conforme o que nos vai na alma; substância tinham alguns, mas de resto, pouco apropriados para a data.

Sendo assim, hoje vou falar-vos do Júlio, nome fictício…

O Júlio era um homem, casado, que tinha um emprego bom (trabalhava num escritório), e não tinha filhos ainda durante o Estado Novo. Casou-se com a mais velha de três irmãs e vivia numa casinha modesta, numa aldeia do Ribatejo; trabalhava num escritório da cidade junto à aldeia onde vivia; trabalhava de segunda a sexta, sábado e domingo era dedicado a ir à missa, e junto dos cunhados.

Mas Júlio tinha um pecado; um segredo escondido; Júlio era membro do PCP, partido que operava na clandestinidade, que lutava contra a ditadura de Salazar; Júlio ajudava os membros do PCP local, a difundir a propaganda comunista.

Júlio, um belo dia, sabe que vai ser pai; Júlio todo contente, porque vai ser pai, trabalha com afinco, para que o seu filho possa ter uma infância um pouco melhor que a grande massa das crianças; ou para que pelo menos sobreviva ao nascimento.

Estava a mulher de Júlio grávida, numa noite, já de madrugada Júlio e a mulher são acordados pelo bater furioso na porta. Ao abrir a porta, Júlio é preso e levado por inspetores da PIDE.

A mulher grávida, no dia seguinte vai à sede da PIDE à cidade, onde lhe dizem que o marido está detido para responder por crimes contra o Estado, difundir propaganda comunista e nada mais lhe dizem.

Júlio é levado para Peniche, onde fica preso…  Durante a sua estadia em Peniche, a PIDE bate-lhe, tortura-o, ameaça-o de morte, para que Júlio denuncie os camaradas. Mas Júlio resiste. Nada diz, mas as mazelas já estavam feitas.

A mulher cá fora, vê o filho nascer, com o marido preso, e sem saber onde ele estava para ao menos dar-lhe a boa nova e visitá-lo.

A mulher, com o filho recém-nascido, dirige-se à PIDE mais uma vez, onde pede para ao menos ver o marido. A PIDE nada diz, nada faz.

O filho ao fazer 3 meses, é vislumbrado pela primeira vez por ele. Júlio é libertado, de Peniche, e dirige-se a casa. As mazelas dos maus-tratos da PIDE, manter-se-ão ao longo da sua vida; o acordar em sobressalto com qualquer barulho, os problemas respiratórios devido a costelas partidas mal saradas, a ansiedade profunda… as marcas dos “chicotes” nas costas… os dedos artrosados, das fraturas que os interrogatórios provocaram…

Júlio cria o filho o melhor que pode; por sorte o antigo patrão aceita-o outra vez; Júlio regressa ao escritório onde trabalhava; anos depois, Júlio, comunista convicto, mas afastado das operações clandestinas que o levara a cadeia, vê no cais de Alcântara o seu filho partir para Moçambique para a guerra colonial. Júlio, vê o seu filho regressar, mas vê o seu afilhado partir para Angola para a mesma guerra. Júlio vê o seu afilhado regressar.

Júlio vê o 25 de abril, a liberdade, e morre na liberdade, depois de ter vivido na opressão; Júlio, comunista convicto, lutou contra a ditadura; Júlio, é um personagem, que encarna, milhares de Júlios, que lutaram contra a opressão de um estado opressivo e que os livros de história não falam.

Aos milhares de homens e mulheres que lutaram pela liberdade de um povo, triste e cinzento; Abril não é só os capitães, Mário Soares, Álvaro Cunhal entre outros; Abril é também dos Júlios… massacrados e torturados e até mortos pela liberdade de um povo e de um País…

Augusto Falcão

 

Artigo de Luís Miguel Condeço — E depois…de Abril

Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

 

Falar de Abril não nos deve remeter apenas para a imagem da revolução e dos cravos, que apesar de se apelidar de pacífica levou consigo a vida de cinco portugueses. Mas não podemos esquecer os direitos, liberdades e garantias que este acontecimento trouxe à vida de todos nós.

Gostava de enaltecer o trabalho estatístico extraordinário, que a Fundação Francisco Manuel dos Santos já nos vem habituando com o seu portal Pordata. Não poderia por isso deixar de referir alguns dados que nos permitem refletir sobre os ganhos em saúde para os portugueses nestas últimas cinco décadas.

Em 50 anos, a população portuguesa aumentou cerca de dois milhões de habitantes, contudo a “nossa” pirâmide etária inverteu-se, correspondendo hoje as pessoas com mais de 65 anos de idade a 1/4 da população residente em Portugal (dois milhões e meio). Como tal, a esperança média de vida aumentou cinco anos (ambos os géneros), representando um acréscimo no consumo de cuidados de saúde – serviços e terapêutica.

Os cuidados de saúde têm sofrido constantes reorganizações nos últimos anos, mas é importante recordar que no início do século XX, apenas os “abastados” tinham acesso a cuidados médicos privados e os muito pobres à proteção do estado, prova disso é a criação da Direção-Geral da Saúde (e Beneficência Pública) por Decreto Real em 1899 e a criação da Assistência Nacional aos Tuberculosos (no mesmo ano) pela rainha D. Amélia, que possibilitou a construção de várias instalações, como o Sanatório Sousa Martins, inaugurado em 1907. Em 1971, o denominado “Movimento das Carreiras Médicas” conseguiu que fosse legislado a regulamentação das carreiras médicas, concretizando um desejo antigo, dividindo as carreiras destes e de todos os outros profissionais de saúde em saúde pública e hospitalar.

Não podemos esquecer que antes do 25 de abril (de 1974), a saúde materna e infantil era “frágil”, muito por culpa dos partos realizados fora de instituições de saúde (apenas 39% eram realizados sob cuidados médicos e de enfermagem), e à época contabilizávamos praticamente o dobro dos nascimentos (171.979) que temos hoje. A taxa de mortalidade infantil (crianças que faleciam com menos de 1 ano de idade) atingia os 38 óbitos por cada 1.000 crianças nascidas vivas.

A “fratura” com o passado e que possibilitou que Portugal proporcionasse nestas últimas décadas cuidados de saúde abrangentes e gratuitos, deve-se a um homem – António Arnaut.

O Ministério da Saúde tinha-se autonomizado da Assistência em 1973, e cinco anos depois, movido pelo espírito da Constituição da República Portuguesa, António Arnaut elabora um Despacho (“Despacho Arnaut”) que permite “a todos os portugueses o acesso gratuito aos serviços médico-sociais e aos hospitais, bem como à comparticipação medicamentosa”, o ideal do Serviço Nacional de Saúde (SNS). No entanto, o seu nascimento só iria acontecer com a Lei de Bases da Saúde no dia 15 de setembro de 1979.

Volvidos cinquenta anos, os portugueses, mas não só, todos os residentes em território nacional têm acesso a cuidados de saúde universais e tendencialmente gratuitos. Praticamente a totalidade dos partos são realizados em instituições de saúde (públicas e privadas) com o adequado acompanhamento das equipas médicas e de enfermagem. A taxa de mortalidade infantil está entre as dez mais baixas do mundo (2,6 crianças por 1.000), tendo em 2020 atingido um mínimo histórico de 2,4.

Quanto aos recursos humanos, temos hoje em Portugal mais profissionais de saúde disponíveis para a população. O número de médicos aumentou cinco vezes e o número de enfermeiros aumentou quase quatro vezes quando comparados com 1974.

Passadas cinco décadas, num novo milénio, o nosso país tem hoje um sistema de saúde eficiente, organizado (a última reorganização este ano), e próximo das populações. Os programas em vigor, como da Diabetes, Saúde Infantil e Juvenil, Saúde Mental e muitos outros, têm melhorado a saúde das populações, refletindo um compromisso político e institucional com a saúde, permitindo melhores condições de vida dos portugueses.

Não foi só Liberdade que Abril trouxe, apesar de muitas vezes nos esquecermos disso.

Artigo de Luís Miguel Condeço—-Até que a Voz me doa

 

 Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

É já no mês de maio que todos podemos assistir ao sempre aguardado Festival da Eurovisão, e que tantas alegrias nos traz ao recordarmos o Salvador, o Zé, o Carlos ou a Simone. E destes extraordinários artistas há uma caraterística comum, a sua voz única e cativante.

As vozes melodiosas fazem emergir em nós sensações agradáveis e de bem-estar, independentemente de se tratar de uma soprano ou de um tenor, como o Andrea Bocelli, um dos meus preferidos.

A capacidade de vocalizar sons deve-se ao complexo aparelho que possuímos e que podemos dividir em três partes distintas: os pulmões que geram um fluxo de ar e que por ação conjunta com o diafragma, expulsam o ar que passa pela laringe (onde estão as cordas vocais), e que sai pelos lábios e fossas nasais. A vibração das cordas vocais e a ação dos músculos e estruturas da cavidade oral contribuem para articular e modelar o som (voz), conferindo a sua própria unicidade a cada um de nós.

No ser humano as cordas vocais podem vibrar entre 125 ciclos por segundo no homem (voz grave), a 250 ciclos por segundo na mulher (voz aguda). Correspondendo a uma frequência (velocidade de propagação do som) entre 100 a 200 hertz nos homens e 200 a 400 hertz nas mulheres, enquanto que nas crianças a frequência da voz não é inferior a 300 hertz. É claro, que a capacidade de absorção (audição) do som atinge frequências mais elevadas, mas nunca tanto como outros mamíferos (golfinhos).

Tal como na natureza, também o homem depende da emissão de sons para comunicar, interagir ou relacionar-se, e a má utilização do seu aparelho vocal é responsável por um diverso número de doenças. Foi pelos crescentes episódios de disfonia (alterações na emissão vocal) e com o objetivo de promover a saúde do aparelho vocal e prevenir doenças da laringe, que a Sociedade Europeia de Laringologia e principalmente pela iniciativa do seu presidente português (Professor Mário Andrea), que em 2003 se começou a comemorar o Dia Mundial da Voz, no dia 16 de abril.

Proteger a voz é possível, basta que adote alguns cuidados:

  • A hidratação é fundamental, deve beber água à temperatura ambiente com frequência;
  • Reduzir a ingestão de bebidas alcoólicas e gaseificadas, assim como, as bebidas muito quentes (café e chá);
  • Não deve fumar, e os espaços com presença de fumo devem ser evitados;
  • Evitar os ambientes onde existam partículas inaláveis (pó e/ou ar condicionado);
  • Falar de forma pausada, articulando bem as palavras;
  • Evitar os ambientes ruidosos, pois vão propiciar a elevação do tom da voz;
  • Não sussurrar, pois provoca um esforço acrescido na voz;
  • Adotar estilos de vida saudáveis.

Estes cuidados não dispensam a nossa atenção quanto a sinais de alerta, que devemos ter em conta: a rouquidão (ou alterações na voz), dificuldade em engolir, sensação de corpo estranho, perda súbita de peso, falta de ar, tosse com presença de sangue, hemorragia nasal e tumefação cervical (pescoço).

Os tumores da orofaringe, laringe e traqueia devem ser alvo de uma rápida intervenção multidisciplinar, mas para isso é fundamental evitar os fatores de risco e realizar rastreios com alguma frequência. Além da vacinação contra o Vírus do Papiloma Humano, da evicção de inalação de partículas e da realização de uma correta higiene oral, não fume nem ingira álcool, pois estes dois fatores de risco aumentam 35 vezes o risco de aparecimento deste tipo de tumores.

Apesar da Maria da Fé apelar à utilização da voz até ao extremo, hoje sabemos que é essencial preservá-la e protegê-la. Podemos cantar, mesmo que os dotes artísticos não sejam inatos para todos, mas sem que a voz nos doa.

Artigo de Luís Miguel Condeço—Borda d’Água

Confesso que a leitura atenta dos seculares almanaques que nos apresentam prognósticos, conselhos práticos baseados na sabedoria popular, previsões meteorológicas e astrológicas, assim como as informações sobre o oceano e as marés, faz parte da minha infância e acredito que de muitos que fazem da agricultura de subsistência uma prática regular. Por isso, não são alheias às “obras” do Borda d’Água e d’O Seringador.

Contudo serão previsíveis e confiáveis esses prognósticos?

Sempre foram, mas as alterações climáticas, a poluição atmosférica e marítima, o aquecimento do planeta e a emissão de gases com efeito estufa, têm transformado radicalmente o senso comum e a sabedoria popular há muito enraizados no nosso cancioneiro.

E um dos resultados mais visíveis destas mudanças climáticas no nosso Portugal é a seca! Em agosto do ano passado, e segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, 97% do território continental estava em seca e 27% em seca extrema (situação em que a precipitação é quase nula e a disponibilidade de água no solo é francamente baixa). Apesar da preciosa chuva no início do inverno, 37,6% de Portugal continental ainda se encontrava em seca (21,4% seca fraca e 16,2% seca moderada) no mês de dezembro, desta forma, não podemos esquecer a necessidade hidrológica que a agricultura, a pecuária, a indústria e também a população sentem.

Foi desde 1992, e no âmbito da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento e Ambiente, que o Dia Mundial da Água começou a ser comemorado no dia 22 de março. Este dia pretende servir de impulso à dinamização de várias atividades que alertam para a importância deste recurso natural, criando estratégias de preservação e restauração do ciclo natural da água.

Lembro que o ser humano é constituído na sua maioria (70%) por água, e esta é fundamental para os processos de digestão, absorção, metabolismo e excreção do organismo (pois é a principal constituinte do sangue, da linfa e das secreções corporais), além da sua função no controlo térmico do corpo humano. A sua ingestão diária deve ser uma prioridade, recomendando-se que os indivíduos adultos saudáveis bebam entre 1,5 e 3 litros de água. Muitas vezes o nosso organismo “pede” essa ingestão de água, através da comum sensação de sede, mas para que tal aconteça é importante criar hábitos de beber água ao longo do dia.

Algumas organizações não governamentais internacionais, apontam para uma “crise da água” atendendo ao seu papel social, político e económico. Hoje 1 em cada 10 pessoas no mundo não tem acesso a água potável e 1 em cada 4 não têm acesso a instalações sanitárias, condições que para nós parecem tão básicas e intrínsecas à nossa vida diária.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, se tivermos em linha de conta os dados relativos à mortalidade, percebemos que todos os anos morrem cerca de um milhão de pessoas devido a doenças causadas pela ingestão de água imprópria para consumo ou por falta de higiene, e se atendermos à população infantil percebemos que a cada 2 minutos morre uma criança devido aos mesmos problemas. A acessibilidade a água potável e a instalações sanitárias condignas permitem reduzir a disseminação de doenças infeciosas e as taxas de mortalidade infantil e materna, principalmente nos países em desenvolvimento.

Quase a totalidade (97%) da água disponível para consumo humano encontra-se no subsolo, e esta representa cerca de 1/3 da água doce disponível no planeta. Razão pela qual a falta de reposição de água no solo nas grandes cidades europeias, nos deve deixar muito preocupados.

A escassez de água, como as secas ou o excesso de água, como as cheias, são a principal expressão pela qual sentiremos muitos dos efeitos das alterações climáticas. Milhões de famílias vivenciam já estas situações no seu dia-a-dia, mas é responsabilidade de todos e em qualquer parte do mundo zelar por este Bem tão precioso.

 

Autor

Luís Miguel Condeço

Professor na Escola Superior de Saúde de Viseu

Artigo de opinião- Dia do Pai por Vítor Santos

                                                       O meu pai é o mais fixe
Sou um jovem de 15 anos. Pratico desporto. É a minha atividade preferida. Também gosto de
refletir sobre as coisas que vivo. Os jovens têm um sentido de justiça muito agudo. E têm
opiniões. Não sei o valor das minhas, mas mesmo assim quero partilhá-las.
Tenho dificuldades que tenho em compreender o mundo que os adultos pensaram para nós,
os jovens. Construíram-no à sua medida, à sua imagem e rechearam-no com os seus anseios e
as responsabilidades que pretendem que assumamos no futuro. Nessa azáfama, não cuidam
de outras coisas importantes, como deixar-nos viver o nosso tempo, o tempo de sermos
jovens. Nem sequer pensam em perguntar como pretendemos vivê-lo.
Felizmente o meu pai não é assim. Não se comporta como os outros que impõem, gritam,
insultam, humilham! Diz-me sempre para eu ser feliz com a idade que tenho. E que viva. Que
não tenha pressa de ser adulto.
Desde os 7 anos que jogo futebol e continua a ter a mesma postura, a mesma serenidade e o
discurso que sempre teve. Nunca me exigiu nada que eu não pudesse dar. No final de cada
treino, esperava-me no carro com um sorriso. Se eu estava triste ou angustiado, lançava uma
das suas piadas e deixava que fosse eu a iniciar a conversa, se assim quisesse. Nunca
alimentava a raiva que por vezes eu trazia do treinador, por não me convocar, ou de algum
colega, por não me ter passado a bola. Pelo contrário. Dizia-me que cada momento era uma
aprendizagem e que o facto de eu não ser convocado era uma ótima oportunidade para
fazermos um programa em família.
Depois dos jogos, a que assistia – eu bem o via, do canto do olho, a bater palmas e a dar um ou
outro sinal de apoio para a nossa equipa –, perguntava-me sempre se queria ir logo para casa
ou lanchar com ele, um programa de pai e filho”, dizia ele. Nem uma palavra sobre o
resultado e sempre várias de demonstração de apoio: “gostei do vosso jogo, da vossa entrega
e alegria”.
Quando ele, ou a minha mãe, me levavam ao treino ou ao jogo, deixavam-me “entregue” ao
clube, aos treinadores. Naquelas horas, eu era mais um dos atletas da equipa e os meus pais
sabiam que o treinador me guiava para uma experiência saudável na prática desportiva. Nem
sempre ficavam para assistir. Aproveitavam o tempo para fazer outras tarefas.
Hoje já não sou uma criança de 7 anos. Observo o mundo em meu redor e questiono-me.
Questiono-o. E vejo muitas contradições. Eu gosto de ganhar, claro que sim. Mas gosto mais de
aprender. A fazer as coisas bem, para ser melhor. Mais do que ser campeão, quero fazer
desporto. Quero integrar uma equipa com os meus companheiros e sentir-me parte dela, em
todos os momentos. Por isso, não entendo o desporto que se reduz à ideia da vitória e exclui
tudo o resto.
O meu pai ensinou-me valores, atitudes, respeito pelas pessoas e pelo desporto. Disse-me que
todos devem ter oportunidades e ninguém deve ser excluído pelo que se vê como falta de
capacidades; que o esforço e o empenhamento são mais importantes que a vitória; que
mesmo na derrota podemos sentir-nos bem, desde que saibamos que demos tudo o que nos
era possível. Tantos outros adultos têm tanto a aprender com o meu pai.
Pai, eu sou feliz e vou continuar a jogar, mas já vejo colegas meus a desistirem porque não se
sentem bem. Estão cansados e fartos de conflitos. As expetativas elevadas que tinham, e que
os pais deles alimentavam, já se esfumaram. Por causa de tudo isso vão deixar de fazer algo

que os apaixonava! Eu continuo a acreditar em tudo o que me ensinaste. Obrigado por seres o
melhor o pai do mundo.

Vitor Santos
Embaixador “Ética no Desporto”

Artigo de opinião de Sara Morais ——-Mente: A cruel e invisível prisão

A mente humana é incrível, disso não há dúvida, é um dos locais mais brilhantes que escondem, ainda, grandes mistérios e um potencial infinito. É neste “lugar” que reside toda a nossa capacidade de agir, de produzir ideias, conceitos, de raciocinar e imaginar, o que identifica a nossa singularidade perante todas as outras formas de existência na natureza. Neste sentido, o homem é, antes de tudo, livre porque detém a capacidade de agir sobre si mesmo, de propor ideais, de agir de acordo com a razão, dispondo da autodeterminação, independência e autonomia para impor limites aos impulsos do desejo e do instinto.

Embora, na prática, não seja possível aprisionar todas as conexões sinápticas cerebrais, a verdade é que, por vezes, a mente torna-se numa verdadeira prisão sem grades. A maior barreira mental afirma-se quando o leitor desenvolve em si as ideias limitantes, porque acredita na sua incapacidade, tornando-se refém e escravo de si próprio e, com isso, esgota todas as oportunidades viáveis de ser feliz.

Ao contrário do carcere físico, em que a ação libertadora poderá estar dependente de terceiros, neste caso só o leitor poderá soltar os grilhões que o prendem a uma vida de frustração plena e das mais variadas crenças limitantes. É importante assinalar que, em grande maioria das situações, o regime de crenças é desenquadrado da realidade e sustentado pela inércia do próprio leitor. E, quando há, uma tentativa real falha, o leitor cerca-se do seu fracasso inicial e investe, ainda mais, na sua ideação entorpecedora. Isto, tornar-se-á numa dificuldade em reconhecer quando está, de facto, refém dos seus próprios pensamentos, uma vez que a “verdade” que se instala parece real e absoluta.

Contudo, o fracasso não tem que ditar a sua história de vida. Até, porque, a escada do sucesso prende-se exatamente pela persistência, pelo falhar, o cair, o levantar e insistir até resultar. Exatamente, como uma pequena semente que é lançada à terra que passa pela incerteza da escuridão, pela humidade e erosão e, que no final, acaba por desenvolver as suas raízes para prosperar no seu meio envolvente. Todo processo de aprendizagem para estar bem consigo e com a vida, mora exclusivamente, dentro da sua decisão e atitude.

A Hipnose Clínica é uma ferramenta terapêutica que pode auxiliar o leitor nesta demanda. Inicialmente, são identificados os pensamentos emocionais, psicológicos e irracionais, formados através das várias experiências de interação com o meio. Seguidamente, o leitor irá desenvolver o autoconhecimento de como estas crenças afetam a sua vida. Cada pensamento tem um impacto diferenciado, por vezes, profundo na forma como exibe as suas próprias decisões e comportamentos. Esta consciencialização permite que o leitor se adapte melhor à mudança. Posteriormente, e ao adquirir este novo olhar sobre estas ideias e sensações irracionais, o leitor é convidado a mergulhar nas suas memórias para  descobrir a origem das crenças para refutar, eliminar e alterar esses padrões de pensamento. Neste seguimento, surge uma nova “programação” mental, em que consiste numa reestruturação dos significado que o leitor atribui, interpreta e aplica ao seu “eu” e ao mundo ao seu redor. Esta reorganização cognitiva pressupõe um maior auto domínio sobre a resposta emocional e, por conseguinte, permite finalmente soltar-se da mais cruel e invisível prisão: a mente.

No próximo boletim de saúde poderá verificar mais sobre as crises existenciais, os objetivos de vida e como qual a intervenção da Hipnose Clínica.

Sara Morais – Hipnoterapeuta